Por Antônio Escosteguy Castro, no site Sul-21:
O leitor talvez nem tenha se dado conta que neste último domingo, dia 15 de novembro, houve mais um destes “atos espontâneos convocados pelas redes sociais” contra Dilma e pelo impeachment. Foi o quarto deste ano, depois de atos semelhantes em março, abril e agosto. Foi um fracasso retumbante, reunindo meia dúzia de gatos pingados. O que houve? Por que não reuniu alguns milhares de pessoas como nas vezes anteriores, embora o número já viesse decrescendo desde março?
Na verdade, não fracassou uma simples manifestação, mas terminou miseravelmente uma elaborada tentativa de golpe à paraguaia. Eis roteiro: O TCU rejeita as contas de Dilma, conferindo um caráter técnico ao pedido de impeachment que a Oposição, com Hélio Bicudo à frente, propõe logo depois. As investigações da Lava-jato se lançam para cima da família Lula da Silva, para onde uma providencial juíza manda também os cães farejadores da Zelotes, abandonando a pauta da sonegação fiscal. Com base nisto, Sérgio Moro manda prender Lula e seus dois filhos; com a família Lula da Silva na cadeia, os caminhoneiros entram em greve, paralisando as estradas e causando um profundo desabastecimento no país, enfurecendo a classe média. No dia 15 de novembro, atos massivos de centenas de milhares de pessoas pedem a queda do governo e no dia 16, o novo herói do povo, Eduardo Cunha, põe em votação o impeachment na Câmara e Dilma cai. Este era o plano. Falhou rotundamente. E por várias razões.
A primeira delas é que boa parte do empresariado que apoiava e financiava o golpe abandonou o barco. Desde agosto, quando algo semelhante também foi tentado, igualmente sem sucesso, os empresários vêm se afastando dos movimentos pró-impeachment, que perturbam em demasia o cenário político e econômico do país, aprofundando uma crise que por si só já não será de fácil solução. Estas “ manifestações espontâneas” custam milhões de reais em convocação no Facebook, robôs no Twitter e outros atos de mobilização, despejados antes fartamente nos Revoltados on Line e outros grupos do gênero. Sem o financiamento fácil dos empresários, e sem a cobertura direta e intensa da Globo, os atos de domingo expressaram a real representatividade que tem estes movimentos. O recuo empresarial explica, também, o completo fracasso do lockout dos caminhoneiros, que se destinava a repetir uma estratégia que ajudou a derrubar Allende, no Chile, em 1973. Parte significativa do empresariado entendeu que a agitação política que cercaria um processo de impeachment tornaria mais grave a situação econômica e que isto simplesmente não vale a pena.
O front judicial do golpe também foi fragilizado. O STF quebrou o império de Sérgio Moro, tirando-lhe os poderes de Inquisidor Geral da Nação. A juíza que mandou investigar um dos filhos de Lula provou-se irmã de um político do PSDB e sua ordem foi sustada com um forte despacho de uma desembargadora carioca sobre a “desproporcionalidade” dos atos autorizados. Com a sanção da lei do Direito de Resposta, as denúncias sobre o outro filho de Lula foram “retiradas” e a imprensa pediu desculpas pelo “erro”. Não há mais clima para Sérgio Moro prender Lula e sua família e incendiar a classe média coxinha.
Três atores centrais do golpe derreteram muito rápida e intensamente neste período. Augusto Nardes, o autor da condenação “técnica” contra Dilma, aprovada em 19 minutos de julgamento pelo TCU, está sendo investigado por corrupção e envolvimento na Operação Zelotes. O antes todo-poderoso Eduardo Cunha, que impunha sua pauta à nação e ao governo, terá sorte se não passar o Natal na cadeia ou se não tiver de viver na África vendendo carne enlatada, um negócio que parece dar muito dinheiro. Aécio, o beneficiário direto de todo o golpe, sofreu mais um desgaste com a denúncia de que colocou o avião do governo de Minas Gerais à disposição do jet-set carioca. Ficou difícil tocar um processo de impeachment patrocinado e protagonizado por políticos com tal grau de fragilidade.
E por último, o Governo e o PT reagiram desde agosto. Estabeleceu-se um núcleo político mais forte no Planalto; houve uma aproximação dos movimentos sociais; Lula voltou a mobilizar a base social do governo; abriu-se mais espaço para o PMDB na Esplanada. Embora ainda titubeante em muitos movimentos, o Governo e o PT conseguiram sair do canto do ringue, como mostram as recentes votações dos vetos de Dilma no Congresso.
O fato alentador, portanto, é que o golpe fracassou não porque falhou esta ou aquela peça. Afundou em todas as suas dimensões, o que prenuncia tempos menos instáveis para a República. Mas o golpe não saiu do radar. Eduardo Cunha ainda não caiu; Sérgio Moro continua perseguindo o PT; a Oposição não consegue elaborar um programa para vencer uma eleição. Infelizmente, para uma parte da elite brasileira, a única forma de chegar ao poder é liquidando a Democracia. Alguém já disse que o preço da liberdade é a eterna vigilância…
O leitor talvez nem tenha se dado conta que neste último domingo, dia 15 de novembro, houve mais um destes “atos espontâneos convocados pelas redes sociais” contra Dilma e pelo impeachment. Foi o quarto deste ano, depois de atos semelhantes em março, abril e agosto. Foi um fracasso retumbante, reunindo meia dúzia de gatos pingados. O que houve? Por que não reuniu alguns milhares de pessoas como nas vezes anteriores, embora o número já viesse decrescendo desde março?
Na verdade, não fracassou uma simples manifestação, mas terminou miseravelmente uma elaborada tentativa de golpe à paraguaia. Eis roteiro: O TCU rejeita as contas de Dilma, conferindo um caráter técnico ao pedido de impeachment que a Oposição, com Hélio Bicudo à frente, propõe logo depois. As investigações da Lava-jato se lançam para cima da família Lula da Silva, para onde uma providencial juíza manda também os cães farejadores da Zelotes, abandonando a pauta da sonegação fiscal. Com base nisto, Sérgio Moro manda prender Lula e seus dois filhos; com a família Lula da Silva na cadeia, os caminhoneiros entram em greve, paralisando as estradas e causando um profundo desabastecimento no país, enfurecendo a classe média. No dia 15 de novembro, atos massivos de centenas de milhares de pessoas pedem a queda do governo e no dia 16, o novo herói do povo, Eduardo Cunha, põe em votação o impeachment na Câmara e Dilma cai. Este era o plano. Falhou rotundamente. E por várias razões.
A primeira delas é que boa parte do empresariado que apoiava e financiava o golpe abandonou o barco. Desde agosto, quando algo semelhante também foi tentado, igualmente sem sucesso, os empresários vêm se afastando dos movimentos pró-impeachment, que perturbam em demasia o cenário político e econômico do país, aprofundando uma crise que por si só já não será de fácil solução. Estas “ manifestações espontâneas” custam milhões de reais em convocação no Facebook, robôs no Twitter e outros atos de mobilização, despejados antes fartamente nos Revoltados on Line e outros grupos do gênero. Sem o financiamento fácil dos empresários, e sem a cobertura direta e intensa da Globo, os atos de domingo expressaram a real representatividade que tem estes movimentos. O recuo empresarial explica, também, o completo fracasso do lockout dos caminhoneiros, que se destinava a repetir uma estratégia que ajudou a derrubar Allende, no Chile, em 1973. Parte significativa do empresariado entendeu que a agitação política que cercaria um processo de impeachment tornaria mais grave a situação econômica e que isto simplesmente não vale a pena.
O front judicial do golpe também foi fragilizado. O STF quebrou o império de Sérgio Moro, tirando-lhe os poderes de Inquisidor Geral da Nação. A juíza que mandou investigar um dos filhos de Lula provou-se irmã de um político do PSDB e sua ordem foi sustada com um forte despacho de uma desembargadora carioca sobre a “desproporcionalidade” dos atos autorizados. Com a sanção da lei do Direito de Resposta, as denúncias sobre o outro filho de Lula foram “retiradas” e a imprensa pediu desculpas pelo “erro”. Não há mais clima para Sérgio Moro prender Lula e sua família e incendiar a classe média coxinha.
Três atores centrais do golpe derreteram muito rápida e intensamente neste período. Augusto Nardes, o autor da condenação “técnica” contra Dilma, aprovada em 19 minutos de julgamento pelo TCU, está sendo investigado por corrupção e envolvimento na Operação Zelotes. O antes todo-poderoso Eduardo Cunha, que impunha sua pauta à nação e ao governo, terá sorte se não passar o Natal na cadeia ou se não tiver de viver na África vendendo carne enlatada, um negócio que parece dar muito dinheiro. Aécio, o beneficiário direto de todo o golpe, sofreu mais um desgaste com a denúncia de que colocou o avião do governo de Minas Gerais à disposição do jet-set carioca. Ficou difícil tocar um processo de impeachment patrocinado e protagonizado por políticos com tal grau de fragilidade.
E por último, o Governo e o PT reagiram desde agosto. Estabeleceu-se um núcleo político mais forte no Planalto; houve uma aproximação dos movimentos sociais; Lula voltou a mobilizar a base social do governo; abriu-se mais espaço para o PMDB na Esplanada. Embora ainda titubeante em muitos movimentos, o Governo e o PT conseguiram sair do canto do ringue, como mostram as recentes votações dos vetos de Dilma no Congresso.
O fato alentador, portanto, é que o golpe fracassou não porque falhou esta ou aquela peça. Afundou em todas as suas dimensões, o que prenuncia tempos menos instáveis para a República. Mas o golpe não saiu do radar. Eduardo Cunha ainda não caiu; Sérgio Moro continua perseguindo o PT; a Oposição não consegue elaborar um programa para vencer uma eleição. Infelizmente, para uma parte da elite brasileira, a única forma de chegar ao poder é liquidando a Democracia. Alguém já disse que o preço da liberdade é a eterna vigilância…
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