Por Leonardo Wexell Severo, de Assunção
“Vamos à greve no próximo dia 18 de dezembro para acabar com a política neoliberal de arrocho salarial, privatização do patrimônio público e criminalização das lutas sociais implementada pelo desgoverno do presidente Horacio Cartes”, afirmou o secretário-geral da Central Unitária de Trabalhadores Autêntica (CUT-A) Paraguai, Victor Ferreira, durante coletiva realizada em Assunção. Na oportunidade, as centrais lançaram a convocatória “por um modelo de desenvolvimento inclusivo”.
Na avaliação de Ferreira, “as crescentes manifestações de apoio ao movimento mostram que o povo paraguaio diz não à entrega das riquezas do país e ao desmanche dos seus direitos para atender o capital estrangeiro”.
Bandeiras como o reajuste salarial de 25%, valorização das aposentadorias, redução da passagem do transporte, ampliação do investimento na educação para 7% do PIB (contra os 3,9% atuais), ampliação do crédito e redução dos juros para a construção de moradias e a defesa de uma saúde pública, gratuita e de qualidade têm mobilizado o país. A pauta propõe a aplicação de um imposto para a soja – principal produto de exportação, atualmente inexistente – o fim do uso de agrotóxicos – que vem disseminando inúmeras doenças, particularmente na região Norte – e “um efetivo controle dos preços da cesta básica” – para fazer frente à crescente inflação.
Além das centrais sindicais, a paralisação está sendo convocada pelos movimentos camponês, estudantil, feminino e comunitário, que também têm sido duramente golpeados pela política de ameaças, perseguições e prisões de lideranças e militantes. “Cartes se aferra à herança de Alfredo Stroessner, ditador que governou o país de 1954 até 1989, para impor um clima de medo à população. Enquanto 2,6% dos proprietários ficam com 86% das terras, muita gente vai tendo de abandonar o campo e se dirigir para as grandes cidades. Nos banhados da capital, áreas miseráveis e completamente insalubres, já são mais de 40 mil famílias”, denuncia Hernán Altamirano, vice-presidente da Coordenadora de Organizações Sociais e Comunitárias do Bairro Tekojoaju. Para Altamirano, “é um governo medieval, que se utiliza de um cerco midiático muito forte para impor a lógica dos bancos, dos grandes latifundiários e das multinacionais a quem serve”.
Concentração midiática
Com o objetivo de fazer valer os interesses desta minúscula e parasitária elite, condenou o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Paraguai, Santiago Ortiz, “o oficialismo tem ampliado a sua campanha de propaganda, aprofundando a concentração de meios de comunicação, o que é muito grave e preocupante”. “Nos últimos cinco meses o grupo de Cartes comprou mais sete meios de comunicação: o grupo Nación, que são as rádios 9.70 e Monte Carlo e os jornais Crónica e La Nación; depois adquiriu o Diário Popular, o diário digital Hoy e a rádio digital Laser. Além disso, tem o controle da rádio ADN, facilmente notado pelo nível de propaganda oficialista, e alguns canais de cabo, o que é completamente inconstitucional”, denunciou.
Ao mesmo tempo em que investe nos grandes conglomerados midiáticos, o governo se empenha para calar a dissidência, tendo fechado recentemente mais de 200 rádios comunitárias, destacou Cony Oviedo, representante da Organização de Mulheres Camponesas e Indígenas (Conamuri). “O negócio de Cartes é produzir para exportar, sem se importar com o salário e o emprego, sem dar a mínima para a vida das pessoas que acabam não podendo viver nem no campo nem na cidade. Este é um modelo que privilegia o agronegócio, a soja transgênica, concentrando renda enquanto aumenta a pobreza extrema. De tudo o que se produz, só 6% é para o consumo interno. Dos 5,6 milhões de hectares, 5,2 milhões são para exportação. É uma política de devastação que não nos deixa alternativa”, acrescentou Cony Oviedo.
Dirigente da Federação Nacional dos Camponeses, Marcial Gomez reitera a importância da reforma agrária e ressalta que além de recuperar as “tierras malhabidas” - entregues pelo ditador Stroessner para familiares e apaniguados - “o Estado necessita transformar a estrutura fundiária e mudar o falido modelo agroexportador que tem na soja 70% da sua produção”. “Grande parte desta produção é exportada sem qualquer valor agregado. Apenas uma pequena parte da soja é triturada para fazer azeite, é algo absurdo”, protestou.
“Entre as propostas da greve geral estão a liberdade sindical, a contratação coletiva, o respeito aos direitos humanos e a não criminalização das lutas sociais, o reconhecimento imediato de todas as centrais sindicais e sindicatos no Ministério do Trabalho e a demissão do ministro da pasta, Guillermo Sosa”, explicou Reinaldo Barreto, presidente da Central Sindical de Trabalhadores do Paraguai (Cesitp).
Na tentativa de calar as vozes dissonantes, condenou Julio Lopes, dirigente da Confederação da Classe Trabalhadora (CCT), já temos mais de 50 companheiros imputados pelo governo por organizar greves em defesa dos seus direitos. “E a perseguição vale para todos: estudantes secundários e universitários, professores, camponeses, sem teto, para qualquer um que lute”, assegurou.
Vitórias parciais
Conforme o presidente do Comitê de Organização das Cooperativas do Paraguai, Milco Vera Martinez, a somatória de forças tem empreendido algumas pequenas derrotas ao governo “como na luta contra a lei que queria aniquilar as cooperativas”. “A linha do governo é antipopular, é de favorecimento a alguns poucos empresários. Por isso estaremos mobilizando nossos mais de um 1,6 milhão de cooperativados para impedir qualquer retrocesso”, frisou.
O presidente da Federação Paraguaia de Trabalhadores de Transporte (Fepatrat), Juan Villalba, comemorou a “vitória parcial” do movimento com o reconhecimento provisório do Sindicato da Linha 49 pelo Ministério do Trabalho, ainda que não tenha sido garantida a recontratação dos 51 trabalhadores que haviam tentado formar a organização. Propriedade do deputado Celso Maldonado, da base governista e parceiro do ministro Guillermo Sosa, a empresa havia demitido todos os que haviam se alinhado com o sindicato e denunciado a série de abusos, como jornadas de até 18 horas e não pagamento de salários e direitos sociais. “Ficamos agradecidos pelo apoio de todos vocês aos 145 dias de luta em que mais de 20 companheiros se mantiveram crucificados em frente ao Ministério do Trabalho. Não só vamos manter a unidade, como ampliar a pressão e a mobilização. Este é o nosso compromisso e o caminho para a derrota desta política anti-trabalhador”, concluiu Villalba.
Na próxima quarta-feira, informaram as centrais, será realizado um Congresso Geral Extraordinário para fortalecer ainda mais os comitês de greve e a articulação com o conjunto das entidades populares.
“Vamos à greve no próximo dia 18 de dezembro para acabar com a política neoliberal de arrocho salarial, privatização do patrimônio público e criminalização das lutas sociais implementada pelo desgoverno do presidente Horacio Cartes”, afirmou o secretário-geral da Central Unitária de Trabalhadores Autêntica (CUT-A) Paraguai, Victor Ferreira, durante coletiva realizada em Assunção. Na oportunidade, as centrais lançaram a convocatória “por um modelo de desenvolvimento inclusivo”.
Na avaliação de Ferreira, “as crescentes manifestações de apoio ao movimento mostram que o povo paraguaio diz não à entrega das riquezas do país e ao desmanche dos seus direitos para atender o capital estrangeiro”.
Bandeiras como o reajuste salarial de 25%, valorização das aposentadorias, redução da passagem do transporte, ampliação do investimento na educação para 7% do PIB (contra os 3,9% atuais), ampliação do crédito e redução dos juros para a construção de moradias e a defesa de uma saúde pública, gratuita e de qualidade têm mobilizado o país. A pauta propõe a aplicação de um imposto para a soja – principal produto de exportação, atualmente inexistente – o fim do uso de agrotóxicos – que vem disseminando inúmeras doenças, particularmente na região Norte – e “um efetivo controle dos preços da cesta básica” – para fazer frente à crescente inflação.
Além das centrais sindicais, a paralisação está sendo convocada pelos movimentos camponês, estudantil, feminino e comunitário, que também têm sido duramente golpeados pela política de ameaças, perseguições e prisões de lideranças e militantes. “Cartes se aferra à herança de Alfredo Stroessner, ditador que governou o país de 1954 até 1989, para impor um clima de medo à população. Enquanto 2,6% dos proprietários ficam com 86% das terras, muita gente vai tendo de abandonar o campo e se dirigir para as grandes cidades. Nos banhados da capital, áreas miseráveis e completamente insalubres, já são mais de 40 mil famílias”, denuncia Hernán Altamirano, vice-presidente da Coordenadora de Organizações Sociais e Comunitárias do Bairro Tekojoaju. Para Altamirano, “é um governo medieval, que se utiliza de um cerco midiático muito forte para impor a lógica dos bancos, dos grandes latifundiários e das multinacionais a quem serve”.
Concentração midiática
Com o objetivo de fazer valer os interesses desta minúscula e parasitária elite, condenou o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Paraguai, Santiago Ortiz, “o oficialismo tem ampliado a sua campanha de propaganda, aprofundando a concentração de meios de comunicação, o que é muito grave e preocupante”. “Nos últimos cinco meses o grupo de Cartes comprou mais sete meios de comunicação: o grupo Nación, que são as rádios 9.70 e Monte Carlo e os jornais Crónica e La Nación; depois adquiriu o Diário Popular, o diário digital Hoy e a rádio digital Laser. Além disso, tem o controle da rádio ADN, facilmente notado pelo nível de propaganda oficialista, e alguns canais de cabo, o que é completamente inconstitucional”, denunciou.
Ao mesmo tempo em que investe nos grandes conglomerados midiáticos, o governo se empenha para calar a dissidência, tendo fechado recentemente mais de 200 rádios comunitárias, destacou Cony Oviedo, representante da Organização de Mulheres Camponesas e Indígenas (Conamuri). “O negócio de Cartes é produzir para exportar, sem se importar com o salário e o emprego, sem dar a mínima para a vida das pessoas que acabam não podendo viver nem no campo nem na cidade. Este é um modelo que privilegia o agronegócio, a soja transgênica, concentrando renda enquanto aumenta a pobreza extrema. De tudo o que se produz, só 6% é para o consumo interno. Dos 5,6 milhões de hectares, 5,2 milhões são para exportação. É uma política de devastação que não nos deixa alternativa”, acrescentou Cony Oviedo.
Dirigente da Federação Nacional dos Camponeses, Marcial Gomez reitera a importância da reforma agrária e ressalta que além de recuperar as “tierras malhabidas” - entregues pelo ditador Stroessner para familiares e apaniguados - “o Estado necessita transformar a estrutura fundiária e mudar o falido modelo agroexportador que tem na soja 70% da sua produção”. “Grande parte desta produção é exportada sem qualquer valor agregado. Apenas uma pequena parte da soja é triturada para fazer azeite, é algo absurdo”, protestou.
“Entre as propostas da greve geral estão a liberdade sindical, a contratação coletiva, o respeito aos direitos humanos e a não criminalização das lutas sociais, o reconhecimento imediato de todas as centrais sindicais e sindicatos no Ministério do Trabalho e a demissão do ministro da pasta, Guillermo Sosa”, explicou Reinaldo Barreto, presidente da Central Sindical de Trabalhadores do Paraguai (Cesitp).
Na tentativa de calar as vozes dissonantes, condenou Julio Lopes, dirigente da Confederação da Classe Trabalhadora (CCT), já temos mais de 50 companheiros imputados pelo governo por organizar greves em defesa dos seus direitos. “E a perseguição vale para todos: estudantes secundários e universitários, professores, camponeses, sem teto, para qualquer um que lute”, assegurou.
Vitórias parciais
Conforme o presidente do Comitê de Organização das Cooperativas do Paraguai, Milco Vera Martinez, a somatória de forças tem empreendido algumas pequenas derrotas ao governo “como na luta contra a lei que queria aniquilar as cooperativas”. “A linha do governo é antipopular, é de favorecimento a alguns poucos empresários. Por isso estaremos mobilizando nossos mais de um 1,6 milhão de cooperativados para impedir qualquer retrocesso”, frisou.
O presidente da Federação Paraguaia de Trabalhadores de Transporte (Fepatrat), Juan Villalba, comemorou a “vitória parcial” do movimento com o reconhecimento provisório do Sindicato da Linha 49 pelo Ministério do Trabalho, ainda que não tenha sido garantida a recontratação dos 51 trabalhadores que haviam tentado formar a organização. Propriedade do deputado Celso Maldonado, da base governista e parceiro do ministro Guillermo Sosa, a empresa havia demitido todos os que haviam se alinhado com o sindicato e denunciado a série de abusos, como jornadas de até 18 horas e não pagamento de salários e direitos sociais. “Ficamos agradecidos pelo apoio de todos vocês aos 145 dias de luta em que mais de 20 companheiros se mantiveram crucificados em frente ao Ministério do Trabalho. Não só vamos manter a unidade, como ampliar a pressão e a mobilização. Este é o nosso compromisso e o caminho para a derrota desta política anti-trabalhador”, concluiu Villalba.
Na próxima quarta-feira, informaram as centrais, será realizado um Congresso Geral Extraordinário para fortalecer ainda mais os comitês de greve e a articulação com o conjunto das entidades populares.
0 comentários:
Postar um comentário