Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
O pior jornalista de 2015 foi Merval Pereira. Merval bateu concorrentes fortes, a maior parte dos quais na sua própria empresa, a Globo.
Ali Kamel, diretor de telejornalismo da Globo, foi um dos derrotados por Merval. Kamel, num ano marcado por tantas manifestações de racismo, tem sido lembrado por um livro que lançou em 2008. O título é: “Não somos Racistas.”
Kamel dedicou o livro – na verdade uma coleção de artigos – a seus patrões, e eis aí uma característica que o une ao vencedor Merval: eles são mais Marinhos que os próprios Marinhos.
Para ganhar o prêmio de Pior Jornalista de 2015, Merval fez coisas como afirmar, categórico, que imperaria o voto de Fachin na sessão decisiva do STF sobre o roteiro do processo de impeachment.
Fachin, relator do caso, deu um voto, como se lembram todos, mata-Dilma. Se ele fosse seguido, Dilma estaria virtualmente liquidada.
Merval afirmou que Fachin teria uma quase unanimidade entre seus colegas no STF, e deu a seu texto o sugestivo título de “Caminho Livre”. (Caminho livre para o golpe, naturalmente.)
O voto de Fachin foi destroçado graças ao brilho da divergência do ministro Luís Roberto Barroso, num dos momentos capitais dos destinos da República em 2015.
Como um jornalista experiente como Merval comete um disparate de principiante ao afirmar, na véspera, o resultado de algo tão incerto?
É sabido que um erro leva a outro. O equívoco inicial foi Merval infringir a regra básica do jornalismo, criada pelo grande editor Joseph Pulitzer: “Jornalista não tem amigo.”
Mas Merval tem. Um deles é Gilmar Mendes, provavelmente o juiz mais partidário da história do STF. Tudo sugere que Gilmar passou a Merval sua visão sobre o que decidiria o STF.
E Merval a comprou. A suspeita é reforçada pelo comportamento de Gilmar na sessão que definiu o caminho do impeachment. Ao ver ir para o lixo o voto de Fachin, e com ele o seu próprio, Gilmar levantou-se abruptamente e deixou o plenário.
Merval jamais trabalharia com Pulitzer, mas é o ideal para os Marinhos. É a voz dos donos. Para usar uma clássica imagem bíblica, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que encontrar um texto de Merval que vá contra as opiniões dos Marinhos.
Em 2015, além de profeta fracassado, Merval foi também um torcedor apaixonado, outra agressão ao bom jornalismo.
Ele torceu sempre pelo impeachment, pela crise política e pela catástrofe econômica. Jamais se comportou como jornalista. É como se estivesse numa arquibancada do Maracanã, embrulhado a uma bandeira com inflamadas palavras reprovatórias contra o petismo, o lulopetismo e qualquer coisa ligada ao PT.
Merval hoje é o símbolo do jornalismo patronal, em que o papel dos jornalistas é, simplesmente, defender os interesses dos donos.
Num passado não tão distante, jornalistas eram majoritariamente progressistas, e disso resultava um certo equilíbrio nas publicações. Os donos, previsivelmente conservadores, puxavam para um lado e os editores progressistas para o outro, e a síntese era frequentemente um conteúdo rico e plural.
Dois exemplos notáveis foram a Folha sob Claudio Abramo e a Veja sob Mino Carta.
Hoje, o estilo Merval se espalhou. Espécie de decano do jornalismo patronal, Merval é uma triste referência para jornalistas jovens.
Todas essas coisas somadas, é dele, merecidamente, o título de Pior Jornalista do Ano.
Ali Kamel, diretor de telejornalismo da Globo, foi um dos derrotados por Merval. Kamel, num ano marcado por tantas manifestações de racismo, tem sido lembrado por um livro que lançou em 2008. O título é: “Não somos Racistas.”
Kamel dedicou o livro – na verdade uma coleção de artigos – a seus patrões, e eis aí uma característica que o une ao vencedor Merval: eles são mais Marinhos que os próprios Marinhos.
Para ganhar o prêmio de Pior Jornalista de 2015, Merval fez coisas como afirmar, categórico, que imperaria o voto de Fachin na sessão decisiva do STF sobre o roteiro do processo de impeachment.
Fachin, relator do caso, deu um voto, como se lembram todos, mata-Dilma. Se ele fosse seguido, Dilma estaria virtualmente liquidada.
Merval afirmou que Fachin teria uma quase unanimidade entre seus colegas no STF, e deu a seu texto o sugestivo título de “Caminho Livre”. (Caminho livre para o golpe, naturalmente.)
O voto de Fachin foi destroçado graças ao brilho da divergência do ministro Luís Roberto Barroso, num dos momentos capitais dos destinos da República em 2015.
Como um jornalista experiente como Merval comete um disparate de principiante ao afirmar, na véspera, o resultado de algo tão incerto?
É sabido que um erro leva a outro. O equívoco inicial foi Merval infringir a regra básica do jornalismo, criada pelo grande editor Joseph Pulitzer: “Jornalista não tem amigo.”
Mas Merval tem. Um deles é Gilmar Mendes, provavelmente o juiz mais partidário da história do STF. Tudo sugere que Gilmar passou a Merval sua visão sobre o que decidiria o STF.
E Merval a comprou. A suspeita é reforçada pelo comportamento de Gilmar na sessão que definiu o caminho do impeachment. Ao ver ir para o lixo o voto de Fachin, e com ele o seu próprio, Gilmar levantou-se abruptamente e deixou o plenário.
Merval jamais trabalharia com Pulitzer, mas é o ideal para os Marinhos. É a voz dos donos. Para usar uma clássica imagem bíblica, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que encontrar um texto de Merval que vá contra as opiniões dos Marinhos.
Em 2015, além de profeta fracassado, Merval foi também um torcedor apaixonado, outra agressão ao bom jornalismo.
Ele torceu sempre pelo impeachment, pela crise política e pela catástrofe econômica. Jamais se comportou como jornalista. É como se estivesse numa arquibancada do Maracanã, embrulhado a uma bandeira com inflamadas palavras reprovatórias contra o petismo, o lulopetismo e qualquer coisa ligada ao PT.
Merval hoje é o símbolo do jornalismo patronal, em que o papel dos jornalistas é, simplesmente, defender os interesses dos donos.
Num passado não tão distante, jornalistas eram majoritariamente progressistas, e disso resultava um certo equilíbrio nas publicações. Os donos, previsivelmente conservadores, puxavam para um lado e os editores progressistas para o outro, e a síntese era frequentemente um conteúdo rico e plural.
Dois exemplos notáveis foram a Folha sob Claudio Abramo e a Veja sob Mino Carta.
Hoje, o estilo Merval se espalhou. Espécie de decano do jornalismo patronal, Merval é uma triste referência para jornalistas jovens.
Todas essas coisas somadas, é dele, merecidamente, o título de Pior Jornalista do Ano.
1 comentários:
Merval merece o premio com meritos. E esta fazendo escola, afinal as contas precisam ser pagas. E dane-se os escrupulos.
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