Por Flavio Aguiar, na Rede Brasil Atual:
Estamos correndo o risco de ter, em vez de a era FHC ou da era Lula, a era Cunha no Brasil.
Chamar um futuro "governo Temer" com este nome é uma piada.
Em primeiro lugar, porque se o golpe triunfar - e é bom lembrar que para isto não basta ganhar na Câmara no domingo, tem que ganhar depois em duas votações no Senado também e talvez em uma no STF, no meio do caminho - a direita vai partir para o massacre. Massacre de quem e do quê? Da esquerda, e de todos os programas sociais que puseram o Brasil num novo patamar histórico nos últimos anos.
Vai haver a tentativa de fazer o país regredir aos tempos da República Velha, quando a questão social era questão de polícia. Até aí, inclusive, não haveria surpresas, uma vez que a República Velha, quando a política pairava acima das massas e os candidatos à presidência lançavam seu programa em recinto fechado ao povo, sempre foi o ideal de FHC e de boa parte do PSDB.
O aspecto "novo" – que na verdade não tem nada de novo – será o de que este conluio da direita introduzirá o país numa era de corrupção desenfreada. Num artigo ("Dilma versus Temer, a origem") publicado no Jornal GGN, do Luis Nassif, Sergio Medeiros mostra que a desavença entre Cunha e Dilma começou quatro anos atrás, quando esta teve a coragem de começar a limpeza na diretoria de Furnas e também na Petrobras, livrando-as do aparelhamento partidário.
Gente ligada a Cunha foi defenestrada, o que o deixou insatisfeito e açulou seu espírito vingativo. A partir daí foi uma questão de tempo e de oportunidade, que veio com a ameaça de cassação – até prisão – de Cunha a partir da decisão do Conselho de Ética. Se Cunha for cassado, ele perde qualquer foro privilegiado.
Acreditar que Temer, se chegar à presidência, vai destituir o general que, comandando a tropa mais sem vergonha na cara que já pisou no Congresso Nacional – pelo menos desde aquela que declarou a presidência "vaga" em abril de 1964 – abriu o caminho para sua ascensão.
O mais certo é que haja algum acordo para que Cunha se safe. Mas Cunha não é alguém que vai se satisfazer com um mero "se safar". Para ele é indispensável continuar na cabeça do império que montou no Congresso e arredores. A turma que navega com ele vai exigir também o pagamento de sua "lealdade" em comissões, prebendas e sinecuras.
Ou seja, ao contrário do que prega a mídia e o empresariado golpistas e a parte babaca da classe média engole, a eventual queda da presidenta corajosa que combateu a corrupção vai abrir a porteira para a camarilha se locupletar como nunca se viu.
Estará, assim, inaugurada a era Cunha.
Outras consequências virão: uma repressão digna dos tempos da ditadura para conter e desarticular os movimentos sociais; uma perseguição implacável da esquerda, nas ruas, pela horda que incensa o Bolsonaro, e nos tribunais, pela caterva que incensa o juiz Moro; o saque do pré-sal e dos fundos públicos destinados à saúde e educação; o esbulho dos direitos trabalhistas, sob a égide uma "passagem para o futuro".
Um neo-obscurantismo tomará conta das asnos governamentais no campo da cultura. E para completar, periga terminarmos com Janaína Paschoal no Supremo.
Diante de um quadro destes, só restaria, além de uma resistência encarniçada, algo como pedir asilo ao Vaticano, onde há um governo progressista que está, também, combatendo a corrupção.
Chamar um futuro "governo Temer" com este nome é uma piada.
Em primeiro lugar, porque se o golpe triunfar - e é bom lembrar que para isto não basta ganhar na Câmara no domingo, tem que ganhar depois em duas votações no Senado também e talvez em uma no STF, no meio do caminho - a direita vai partir para o massacre. Massacre de quem e do quê? Da esquerda, e de todos os programas sociais que puseram o Brasil num novo patamar histórico nos últimos anos.
Vai haver a tentativa de fazer o país regredir aos tempos da República Velha, quando a questão social era questão de polícia. Até aí, inclusive, não haveria surpresas, uma vez que a República Velha, quando a política pairava acima das massas e os candidatos à presidência lançavam seu programa em recinto fechado ao povo, sempre foi o ideal de FHC e de boa parte do PSDB.
O aspecto "novo" – que na verdade não tem nada de novo – será o de que este conluio da direita introduzirá o país numa era de corrupção desenfreada. Num artigo ("Dilma versus Temer, a origem") publicado no Jornal GGN, do Luis Nassif, Sergio Medeiros mostra que a desavença entre Cunha e Dilma começou quatro anos atrás, quando esta teve a coragem de começar a limpeza na diretoria de Furnas e também na Petrobras, livrando-as do aparelhamento partidário.
Gente ligada a Cunha foi defenestrada, o que o deixou insatisfeito e açulou seu espírito vingativo. A partir daí foi uma questão de tempo e de oportunidade, que veio com a ameaça de cassação – até prisão – de Cunha a partir da decisão do Conselho de Ética. Se Cunha for cassado, ele perde qualquer foro privilegiado.
Acreditar que Temer, se chegar à presidência, vai destituir o general que, comandando a tropa mais sem vergonha na cara que já pisou no Congresso Nacional – pelo menos desde aquela que declarou a presidência "vaga" em abril de 1964 – abriu o caminho para sua ascensão.
O mais certo é que haja algum acordo para que Cunha se safe. Mas Cunha não é alguém que vai se satisfazer com um mero "se safar". Para ele é indispensável continuar na cabeça do império que montou no Congresso e arredores. A turma que navega com ele vai exigir também o pagamento de sua "lealdade" em comissões, prebendas e sinecuras.
Ou seja, ao contrário do que prega a mídia e o empresariado golpistas e a parte babaca da classe média engole, a eventual queda da presidenta corajosa que combateu a corrupção vai abrir a porteira para a camarilha se locupletar como nunca se viu.
Estará, assim, inaugurada a era Cunha.
Outras consequências virão: uma repressão digna dos tempos da ditadura para conter e desarticular os movimentos sociais; uma perseguição implacável da esquerda, nas ruas, pela horda que incensa o Bolsonaro, e nos tribunais, pela caterva que incensa o juiz Moro; o saque do pré-sal e dos fundos públicos destinados à saúde e educação; o esbulho dos direitos trabalhistas, sob a égide uma "passagem para o futuro".
Um neo-obscurantismo tomará conta das asnos governamentais no campo da cultura. E para completar, periga terminarmos com Janaína Paschoal no Supremo.
Diante de um quadro destes, só restaria, além de uma resistência encarniçada, algo como pedir asilo ao Vaticano, onde há um governo progressista que está, também, combatendo a corrupção.
1 comentários:
O mapa do impeachment está desenhado. Ele tem dois lados:
— num lado, Michel Temer, personagem sorumbático e traidor que passa as horas vagas de vice “decorativo” conspirando para derrubar a Presidente que lhe fez vice-presidente sem que ele tenha recebido um único voto popular; e
— noutro lado, Dilma, Presidente eleita com 54.501.118 votos que jamais participou de conspiração ou traição, mesmo quando foi torturada pelos fascistas que deram o golpe de 1964.
Num lado, está Eduardo Cunha, sócio de Michel Temer no golpe e multi-réu por corrupção, lavagem de dinheiro, fraude de licitações, contas milionárias na Suíça e dono de uma bancada de mais de uma centena de réus-deputados que ostentam currículos não menos criminosos; e
— noutro lado, está Dilma, sobre quem não há nenhuma acusação de ter cometido um único crime sequer — nem pelo roubo de um alfinete — e que, assim mesmo, é vítima do julgamento de exceção arquitetado por Temer e Cunha.
Num lado, está a Rede Globo estimulando o golpe e o fascismo; e
— noutro lado, estão aqueles que aprenderam com Leonel Brizola que, “se a Globo for a favor, somos contra. Se a Globo for contra, somos a favor”.
Num lado, estão os justiceiros fascios de camisa preta, os procuradores jacobinos de cabelo engomado, os policiais federais com uniforme tucano e um juiz do STF de plumagem azul e amarela: estão aqueles que partidarizam e aparelham o Estado para aniquilar desafetos, adversários e inimigos ideológicos; e
— noutro lado, estão aqueles que vestem a camiseta da justiça, da Constituição, da verdade: todos aqueles que lutaram para derrubar a ditadura e ajudaram a construir a democracia que permite que até fascistas tenham o direito de expressar suas idéias feias.
Num lado, está a FIESP enganchada com a burguesia comercial, industrial e financeira e com as oligarquias agrária, imobiliária e financeira: estão os mesmos que em 1964, junto com a Globo, promoveram o golpe para implantar a ditadura que durou 21 anos; e
— noutro lado, estão os trabalhadores do campo e da cidade, as juventudes, as mulheres, os negros, as LGBTs, os sem-teto, os sem-terra, o povo pobre e trabalhador e todas as pessoas de bem que defendem a continuidade do projeto de desenvolvimento com igualdade social inaugurado por Lula em 2003.
Num lado, estão os caciques do PSB que associam esse histórico Partido a Cunha, Temer, FHC, Aécio, FHC, Serra, PSDB, DEM, PPS, PTB, PP, SD para a empreitada golpista; e
— noutro lado, está a memória de Sérgio Buarque de Hollanda, Antonio Cândido, Antonio Houaiss, Miguel Arraes, Evandro Lins e Silva, Barbosa Lima Sobrinho, João Mangabeira e de outros socialistas ilustres que saberiam o lado da história que o PSB deveria estar hoje.
No lado do golpe estão peemedebistas como Cunha, Temer, Padilha, Jucá e outras figuras lastimáveis que mancham a história da resistência democrática da qual o MDB fez parte; e
— no lado oposto a eles estariam Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela.
No lado do golpe predomina o ódio, a intolerância, a raiva; é o lado cheio de gente carrancuda e agressiva; e
— no lado da legalidade e da democracia prevalece a alegria, tolerância, pluralidade, diversidade, respeito; este é o lado do Chico Buarque, da Letícia Sabatella, Anna Muylaert, Fernando Morais, Gregório Duvivier, Wagner Moura, Camila Pitanga...
O impeachment é um golpe de Estado contra um governo que promoveu as maiores mudanças na vida da maioria da população brasileira. Os que apóiam o golpe ferem a democracia e a Constituição para fazer o país andar para trás; para destruir direitos sociais e trabalhistas, para privatizar a saúde e a educação, entregar as riquezas do país ao capital estrangeiro e hipotecar a soberania nacional.
Proteger e defender a democracia e a Constituição da ameaça golpista é, por isso, um requisito fundamental para salvaguardar os avanços, as conquistas e os direitos do povo brasileiro.
Jeferson Miola
Postar um comentário