Por Tatiana Carlotti, no site Carta Maior:
O ex-presidente José Mujica, do Uruguai, concedeu duas horas de entrevista coletiva a jornalistas e blogueiros progressistas que lotaram o auditório do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, na manhã desta quarta-feira (27.04), em São Paulo.
Na pauta, o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, o Brasil e o papel da esquerda no continente. Sem meias palavras, Pepe Mujica passou um recado claro aos brasileiros: “não é hora de fazer balanços, precisamos da distância do tempo para fazer balanços. Agora é hora de lutar”.
Ele também destacou a importância dos partidos políticos e a necessidade de um partido progressista menos piramidal e mais horizontal no país. “Creio que os partidos são insubstituíveis. Eles têm defeitos porque nós temos defeitos”.
E complementou: “Quem faz a história não são os homens fenomenais, mas as correntes de ideias representadas pelos partidos (...) É preciso ter coragem de voltar a pensar, aprender com os erros e recomeçar”.
O ex-presidente José Mujica, do Uruguai, concedeu duas horas de entrevista coletiva a jornalistas e blogueiros progressistas que lotaram o auditório do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, na manhã desta quarta-feira (27.04), em São Paulo.
Na pauta, o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, o Brasil e o papel da esquerda no continente. Sem meias palavras, Pepe Mujica passou um recado claro aos brasileiros: “não é hora de fazer balanços, precisamos da distância do tempo para fazer balanços. Agora é hora de lutar”.
Ele também destacou a importância dos partidos políticos e a necessidade de um partido progressista menos piramidal e mais horizontal no país. “Creio que os partidos são insubstituíveis. Eles têm defeitos porque nós temos defeitos”.
E complementou: “Quem faz a história não são os homens fenomenais, mas as correntes de ideias representadas pelos partidos (...) É preciso ter coragem de voltar a pensar, aprender com os erros e recomeçar”.
Brasil no mundo
Ressaltando o papel estratégico do Brasil no continente, ele salientou a importância da integração latino-americana em um mundo “que se apresenta cada vez mais poderoso”. Também avaliou o avanço do poder econômico no contexto global.
“Há uma crise econômica de caráter mundial muito forte. Um crescimento muito lento da economia no mundo inteiro, sob o terror do capital financeiro que está condenando o capital produtivo. A burguesia financeira se equiparou à especulação”.
Em relação à repercussão internacional da transmissão da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, Mujica foi taxativo: “rebaixaram a categoria do Brasil na consideração do mundo”. Ele destacou, também, que “o problema da corrupção no Brasil não é um problema do PT, mas alcança todo o sistema político, todos os partidos”.
Na avaliação do ex-presidente uruguaio, o sistema de alianças partidárias brasileiro revela a prevalência dos interesses econômicos sobre os ideológicos. “Quantos projetos políticos existem para o Brasil?”, ironizou, ao questionar a existência de mais de trinta partidos políticos registrados no país.
E complementou: “Como fazer alianças assim? Como se garante a maioria? (...) Um dia, o Brasil se dará conta de que precisa mudar o seu contrato social, pois tudo isso, hoje, ajuda a agravar a corrupção”.
Aumentar poder aquisitivo não significa multiplicar consciência
Em relação ao comportamento da classe média brasileira e dos que ascenderam socialmente nos últimos anos de governos Lula e Dilma, Mujica ressaltou o medo da classe média de ser tragada pela crise. Também destacou que “aumentar o poder aquisitivo não necessariamente significa multiplicar a consciência”.
Em sua avaliação, boa parte dessa classe não sabe por que emergiu socialmente. “Foi o ´Espírito Santo, não foi a política´”, provocou. “Mas, isso não foi perdido. Se a pessoas vivem um pouco melhor, mesmo que elas não entendam, isso feito e preciso fazê-lo”, complementou.
Mujica também avaliou a direita brasileira, destacando que enquanto a economia crescia, ela fazia os seus negócios, “contemplando as aventuras da esquerda”, tolerando as políticas sociais porque estava vivendo bem. Diante da crise, porém, a tolerância da direita acabou. “Essas sãos as ameaças agora”, apontou.
No entanto, os avanços nos últimos anos no Brasil dizem respeito à “maturação das lutas sociais no país”. “Provavelmente, o povo brasileiro terá de viver uma conjuntura em que perca alguns bens sociais, conquistados nesses últimos tempos, mas não vai perder tudo. Não se pode perder tudo. A própria direita terá que ceder”.
Daí a importância de “uma frente comum de luta, com capacidade de resistência, unida e erguida”. “Não é possível um mesmo catecismo [em toda a esquerda], mas há interesses comuns, em defesa das conquistas dos trabalhadores, no momento em que a economia da direita avançar”.
Empresas de comunicação são empresas
Ele também abordou o papel da mídia contra o governo e a esquerda no Brasil, avaliando que os defeitos incensados por ela, “não são da esquerda ou do PT, mas da sociedade brasileira”. Citando o monopólio dessas “multinacionais de comunicação”, nas mãos de “poderosas famílias”, ele destacou: “as empresas de comunicação são empresas”.
“Do que elas vivem? Elas vivem da venda. Quem são seus grandes clientes? Obviamente, a maioria deles não é de esquerda. Não temos que nos impressionar com a fatalidade de que os meios de comunicação vão para a direita. É quase uma consequência”.
Ponderando que “todos olhamos a realidade através dos nossos olhos ideológicos”, Mujica foi taxativo quanto ao que podemos esperar da mídia: “Nós podemos contar, no máximo, com uma atitude honrada de quem maneja [a informação]”. E mais: “Quando os meios [de comunicação] estiverem ao nosso favor, é porque nós mudamos de lado. Não se confundam”.
Mujica destacou a necessidade de se encontrar caminhos alternativos, ampliando as formas de informar a inteligência do país. “A soma dos pequenos meios [de comunicação], locais e alternativos, tem uma importância de caráter estratégico”.
Derrotados são os que deixam de lutar
Ele também abordou a importância da política, destacando seu papel transcendente de administrar e dar limites aos conflitos inerentes da vida em sociedade. “Se fôssemos deuses não precisaríamos da política. O problema é quando a política é reduzida apenas ao plano econômico”.
Defendendo que a política não deve compor com a minoria, mas com a maioria: “a política diz respeito a como vive a maioria e não a minoria”, Mujica destacou que “não se trata de ter bronca dos ricos, mas de ter rumo na vida”. “É preciso uma causa para se viver. A causa é se preocupar com a sorte dos outros. Toda derrota e todo triunfo são passageiros”.
“O devir humano sempre teve uma cara conservadora e uma cara justiceira, igualitária, solidária”, afirmou, citando vários “companheiros de esquerda no devir humano”, como Sócrates, Epaminondas, Spartacus, Jesus, São Francisco, entre outros. E lembrando que “a maioria dos progressos sociais consagrados como avanços da humanidade vieram da esquerda”.
Destacando que “a esquerda é uma concepção filosófica onde prima a solidariedade sobre o egoísmo”, Pepe Mujica passou sua mensagem à esquerda brasileira e latino-americana:
“Acima da terra, os únicos derrotados são os que deixam de lutar, porque derrota é se sentir impotente. Não estamos derrotados, mas temos que entender que nunca triunfamos definitivamente. Temos que ter humildade estratégica”.
Ressaltando o papel estratégico do Brasil no continente, ele salientou a importância da integração latino-americana em um mundo “que se apresenta cada vez mais poderoso”. Também avaliou o avanço do poder econômico no contexto global.
“Há uma crise econômica de caráter mundial muito forte. Um crescimento muito lento da economia no mundo inteiro, sob o terror do capital financeiro que está condenando o capital produtivo. A burguesia financeira se equiparou à especulação”.
Em relação à repercussão internacional da transmissão da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, Mujica foi taxativo: “rebaixaram a categoria do Brasil na consideração do mundo”. Ele destacou, também, que “o problema da corrupção no Brasil não é um problema do PT, mas alcança todo o sistema político, todos os partidos”.
Na avaliação do ex-presidente uruguaio, o sistema de alianças partidárias brasileiro revela a prevalência dos interesses econômicos sobre os ideológicos. “Quantos projetos políticos existem para o Brasil?”, ironizou, ao questionar a existência de mais de trinta partidos políticos registrados no país.
E complementou: “Como fazer alianças assim? Como se garante a maioria? (...) Um dia, o Brasil se dará conta de que precisa mudar o seu contrato social, pois tudo isso, hoje, ajuda a agravar a corrupção”.
Aumentar poder aquisitivo não significa multiplicar consciência
Em relação ao comportamento da classe média brasileira e dos que ascenderam socialmente nos últimos anos de governos Lula e Dilma, Mujica ressaltou o medo da classe média de ser tragada pela crise. Também destacou que “aumentar o poder aquisitivo não necessariamente significa multiplicar a consciência”.
Em sua avaliação, boa parte dessa classe não sabe por que emergiu socialmente. “Foi o ´Espírito Santo, não foi a política´”, provocou. “Mas, isso não foi perdido. Se a pessoas vivem um pouco melhor, mesmo que elas não entendam, isso feito e preciso fazê-lo”, complementou.
Mujica também avaliou a direita brasileira, destacando que enquanto a economia crescia, ela fazia os seus negócios, “contemplando as aventuras da esquerda”, tolerando as políticas sociais porque estava vivendo bem. Diante da crise, porém, a tolerância da direita acabou. “Essas sãos as ameaças agora”, apontou.
No entanto, os avanços nos últimos anos no Brasil dizem respeito à “maturação das lutas sociais no país”. “Provavelmente, o povo brasileiro terá de viver uma conjuntura em que perca alguns bens sociais, conquistados nesses últimos tempos, mas não vai perder tudo. Não se pode perder tudo. A própria direita terá que ceder”.
Daí a importância de “uma frente comum de luta, com capacidade de resistência, unida e erguida”. “Não é possível um mesmo catecismo [em toda a esquerda], mas há interesses comuns, em defesa das conquistas dos trabalhadores, no momento em que a economia da direita avançar”.
Empresas de comunicação são empresas
Ele também abordou o papel da mídia contra o governo e a esquerda no Brasil, avaliando que os defeitos incensados por ela, “não são da esquerda ou do PT, mas da sociedade brasileira”. Citando o monopólio dessas “multinacionais de comunicação”, nas mãos de “poderosas famílias”, ele destacou: “as empresas de comunicação são empresas”.
“Do que elas vivem? Elas vivem da venda. Quem são seus grandes clientes? Obviamente, a maioria deles não é de esquerda. Não temos que nos impressionar com a fatalidade de que os meios de comunicação vão para a direita. É quase uma consequência”.
Ponderando que “todos olhamos a realidade através dos nossos olhos ideológicos”, Mujica foi taxativo quanto ao que podemos esperar da mídia: “Nós podemos contar, no máximo, com uma atitude honrada de quem maneja [a informação]”. E mais: “Quando os meios [de comunicação] estiverem ao nosso favor, é porque nós mudamos de lado. Não se confundam”.
Mujica destacou a necessidade de se encontrar caminhos alternativos, ampliando as formas de informar a inteligência do país. “A soma dos pequenos meios [de comunicação], locais e alternativos, tem uma importância de caráter estratégico”.
Derrotados são os que deixam de lutar
Ele também abordou a importância da política, destacando seu papel transcendente de administrar e dar limites aos conflitos inerentes da vida em sociedade. “Se fôssemos deuses não precisaríamos da política. O problema é quando a política é reduzida apenas ao plano econômico”.
Defendendo que a política não deve compor com a minoria, mas com a maioria: “a política diz respeito a como vive a maioria e não a minoria”, Mujica destacou que “não se trata de ter bronca dos ricos, mas de ter rumo na vida”. “É preciso uma causa para se viver. A causa é se preocupar com a sorte dos outros. Toda derrota e todo triunfo são passageiros”.
“O devir humano sempre teve uma cara conservadora e uma cara justiceira, igualitária, solidária”, afirmou, citando vários “companheiros de esquerda no devir humano”, como Sócrates, Epaminondas, Spartacus, Jesus, São Francisco, entre outros. E lembrando que “a maioria dos progressos sociais consagrados como avanços da humanidade vieram da esquerda”.
Destacando que “a esquerda é uma concepção filosófica onde prima a solidariedade sobre o egoísmo”, Pepe Mujica passou sua mensagem à esquerda brasileira e latino-americana:
“Acima da terra, os únicos derrotados são os que deixam de lutar, porque derrota é se sentir impotente. Não estamos derrotados, mas temos que entender que nunca triunfamos definitivamente. Temos que ter humildade estratégica”.
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