Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Imagino que poucos tenham sido os que perderam tempo de sono assistindo à encenação barata levada a cabo no Senado da República na madrugada desta quinta-feira, 12 de maio de 2016. Este blogueiro não esteve entre esse bando de crédulos, por óbvio. Pouco importou o que disse este ou aquele senador. As cartas estavam marcadas.
Não aconteceu nada de relevante no Plenário do Senado. Todos sabiam que nada havia a esperar. Nenhuma defesa de Dilma, por mais brilhante que fosse, mudaria o rumo das coisas. Nenhuma acusação que coonestasse o que lá ocorria veio nos salvar da confirmação de que a democracia estava sendo violentada com requintes de crueldade – pela capa torturante de “legalidade” (mal) estendida sobre o processo de impeachment de Dilma Vana Rousseff.
O impeachment, pode-se dizer, ocorreu sob amplo constrangimento dos seus autores, dos seus executores e da assistência no entorno.
Residente no coração do tucanistão (a região da avenida Paulista), esperava ser infernizado por panelaços, rojões, enfim, por toda aquela parafernália golpista que a direita vinha usando para perpetrar o crime de lesa-pátria que acaba de ser cometido pela maioria esmagadora dos senadores da República. Mas qual nada, um silêncio sepulcral se estendeu sobre o país.
A repercussão internacional extremamente negativa estabelecida contra o golpe no Brasil finalmente foi percebida pelos golpistas e, desse modo, eles trataram de se comportar com um pouco mais de pudor – para consumo externo, claro, porque, na intimidade, engalfinham-se em uma fétida suruba político-institucional pela divisão do butim (Houaiss, substantivo masculino, 1836, acepção 2: produto de roubo ou de pilhagem).
Mas há um outro fator que explica o maior comedimento do show golpista. Um fator que atende por nome pronunciado aos sussurros e com voz trêmula por todos os mistificadores, manipuladores, mentirosos, enganadores, falsários, estelionatários da fé alheia que já pisaram neste mundo: REALIDADE!
Matérias jornalísticas sobre o ânimo beligerante que se apoderou das vítimas do golpe paraguaio desfechado nesta quinta-feira cinzenta não explicam o motivo da preocupação que se estabeleceu na seara golpista.
Alguns golpistas creem na repressão como solução do descontentamento popular – e descobrirão que até a força bruta tem limite de eficácia –, mas os mais cerebrais sabem que essa é uma ilusão, que não haverá repressão que dê conta se a maioria entender que foi vítima de um conto do vigário.
A maioria esmagadora deste povo – tragicamente, uma maioria pobre, inculta e despolitizada, mas que, na década passada, melhorou drasticamente de vida – assistiu a crise política se desenrolar nos últimos anos tomada por um misto de desalento, decepção, medo e insegurança quanto ao que fazer.
Desorientada, com medo do desemprego e da volta ao passado anterior à chegada do PT ao poder, essa maioria cedeu aos “doutores” que ignorara ao longo de quatro eleições presidenciais seguidas – movida pelos ganhos que auferia sem parar – e, finalmente, aceitou declarar que queria Dilma fora do cargo.
Enquanto para a turminha fascistinha de camisetinha da Seleção e para os anônimos que representam essa turminha na internet a decisão que o Legislativo e o Judiciário tomaram se basta, para o povo brasileiro mesmo essa decisão não representou nada além da possibilidade de virar esse jogo, de reverter a ameaça de desemprego e de perda de poder aquisitivo.
Ao contrário do que pensam os golpistas, porém, a sociedade não irá se contentar com migalhas. A ideia deles era a de que fariam a situação piorar tanto que depois que soltassem o garrote que puseram na economia qualquer melhora tênue já contentaria as massas.
Dançaram. O povo experimentou por mais de uma década o que é melhorar mesmo de vida, adquirir propriedades, bens culturais (escolaridade), enfim, o povo experimentou o direito e a possibilidade de sonhar muito além do que tantos jamais haviam sonhado.
Eis a situação que ainda vige no Brasil, mas que começou a mudar com a chegada do PT ao poder.
Se eu tivesse que escolher um símbolo para a era petista, pois, escolheria a adoção pelos governos Lula e Dilma da política de cotas “raciais” nas universidades federais e em várias universidades estaduais pelo Brasil afora.
Nos próximos anos, o país irá se acostumar com imagem como essa, abaixo.
Uma geração de médicos negros brasileiros – coisa que não existia no Brasil antes da chegada de médicos cubanos, mas eles são estrangeiros – será vista nos próximos anos, mesmo que os golpistas cumpram a promessa de acabar com cotas para negros nas universidades. A revogação dessa importante política pública não impedirá que os que conseguiram estudar ao longo dos governos do PT exerçam sua profissão, afrontando e espantando uma elite étnica que não concebe ou aceita que negros possam chegar tão longe.
Eis a realidade que os golpistas não querem ver. Eles estão se esquecendo desse fator vital que lhes permitiu estabelecer tal fúria popular contra Dilma Rousseff: o desejo de continuar sonhando.
Eis que chega a realidade para os golpistas. Eles vão ter que devolver a esse povo o que ele tinha até um par de anos atrás e que quer a todo custo voltar a ter: condições de sonhar.
Os golpistas vão tentar, sim, fazer o povo sonhar, mas o sonho que os governos do PT ensinaram o povo a sonhar não é aquele que os novos donos do poder sempre tentaram empurrar às massas empobrecidas, o sonho virtual. O povo quer sonhar por ter começado a melhorar, não por promessas de que irá melhorar.
Em resumo: o povo quer ver coisas acontecendo para voltar a sonhar. E o que verá acontecendo, a partir deste 12 de maio de 2016, será bem diferente do que pensou que veria quando acreditou que, expurgando Dilma Rousseff do cargo, teria de volta o que ela e Lula haviam dado aos brasileiros.
Eu não gostaria de estar na vossa pele, golpistas, quando o povo descobrir que vocês o enganaram. Divirtam-se com o produto do assalto à democracia. Enquanto podem.
Imagino que poucos tenham sido os que perderam tempo de sono assistindo à encenação barata levada a cabo no Senado da República na madrugada desta quinta-feira, 12 de maio de 2016. Este blogueiro não esteve entre esse bando de crédulos, por óbvio. Pouco importou o que disse este ou aquele senador. As cartas estavam marcadas.
Não aconteceu nada de relevante no Plenário do Senado. Todos sabiam que nada havia a esperar. Nenhuma defesa de Dilma, por mais brilhante que fosse, mudaria o rumo das coisas. Nenhuma acusação que coonestasse o que lá ocorria veio nos salvar da confirmação de que a democracia estava sendo violentada com requintes de crueldade – pela capa torturante de “legalidade” (mal) estendida sobre o processo de impeachment de Dilma Vana Rousseff.
O impeachment, pode-se dizer, ocorreu sob amplo constrangimento dos seus autores, dos seus executores e da assistência no entorno.
Residente no coração do tucanistão (a região da avenida Paulista), esperava ser infernizado por panelaços, rojões, enfim, por toda aquela parafernália golpista que a direita vinha usando para perpetrar o crime de lesa-pátria que acaba de ser cometido pela maioria esmagadora dos senadores da República. Mas qual nada, um silêncio sepulcral se estendeu sobre o país.
A repercussão internacional extremamente negativa estabelecida contra o golpe no Brasil finalmente foi percebida pelos golpistas e, desse modo, eles trataram de se comportar com um pouco mais de pudor – para consumo externo, claro, porque, na intimidade, engalfinham-se em uma fétida suruba político-institucional pela divisão do butim (Houaiss, substantivo masculino, 1836, acepção 2: produto de roubo ou de pilhagem).
Mas há um outro fator que explica o maior comedimento do show golpista. Um fator que atende por nome pronunciado aos sussurros e com voz trêmula por todos os mistificadores, manipuladores, mentirosos, enganadores, falsários, estelionatários da fé alheia que já pisaram neste mundo: REALIDADE!
Matérias jornalísticas sobre o ânimo beligerante que se apoderou das vítimas do golpe paraguaio desfechado nesta quinta-feira cinzenta não explicam o motivo da preocupação que se estabeleceu na seara golpista.
Alguns golpistas creem na repressão como solução do descontentamento popular – e descobrirão que até a força bruta tem limite de eficácia –, mas os mais cerebrais sabem que essa é uma ilusão, que não haverá repressão que dê conta se a maioria entender que foi vítima de um conto do vigário.
A maioria esmagadora deste povo – tragicamente, uma maioria pobre, inculta e despolitizada, mas que, na década passada, melhorou drasticamente de vida – assistiu a crise política se desenrolar nos últimos anos tomada por um misto de desalento, decepção, medo e insegurança quanto ao que fazer.
Desorientada, com medo do desemprego e da volta ao passado anterior à chegada do PT ao poder, essa maioria cedeu aos “doutores” que ignorara ao longo de quatro eleições presidenciais seguidas – movida pelos ganhos que auferia sem parar – e, finalmente, aceitou declarar que queria Dilma fora do cargo.
Enquanto para a turminha fascistinha de camisetinha da Seleção e para os anônimos que representam essa turminha na internet a decisão que o Legislativo e o Judiciário tomaram se basta, para o povo brasileiro mesmo essa decisão não representou nada além da possibilidade de virar esse jogo, de reverter a ameaça de desemprego e de perda de poder aquisitivo.
Ao contrário do que pensam os golpistas, porém, a sociedade não irá se contentar com migalhas. A ideia deles era a de que fariam a situação piorar tanto que depois que soltassem o garrote que puseram na economia qualquer melhora tênue já contentaria as massas.
Dançaram. O povo experimentou por mais de uma década o que é melhorar mesmo de vida, adquirir propriedades, bens culturais (escolaridade), enfim, o povo experimentou o direito e a possibilidade de sonhar muito além do que tantos jamais haviam sonhado.
Eis a situação que ainda vige no Brasil, mas que começou a mudar com a chegada do PT ao poder.
Se eu tivesse que escolher um símbolo para a era petista, pois, escolheria a adoção pelos governos Lula e Dilma da política de cotas “raciais” nas universidades federais e em várias universidades estaduais pelo Brasil afora.
Nos próximos anos, o país irá se acostumar com imagem como essa, abaixo.
Uma geração de médicos negros brasileiros – coisa que não existia no Brasil antes da chegada de médicos cubanos, mas eles são estrangeiros – será vista nos próximos anos, mesmo que os golpistas cumpram a promessa de acabar com cotas para negros nas universidades. A revogação dessa importante política pública não impedirá que os que conseguiram estudar ao longo dos governos do PT exerçam sua profissão, afrontando e espantando uma elite étnica que não concebe ou aceita que negros possam chegar tão longe.
Eis a realidade que os golpistas não querem ver. Eles estão se esquecendo desse fator vital que lhes permitiu estabelecer tal fúria popular contra Dilma Rousseff: o desejo de continuar sonhando.
Eis que chega a realidade para os golpistas. Eles vão ter que devolver a esse povo o que ele tinha até um par de anos atrás e que quer a todo custo voltar a ter: condições de sonhar.
Os golpistas vão tentar, sim, fazer o povo sonhar, mas o sonho que os governos do PT ensinaram o povo a sonhar não é aquele que os novos donos do poder sempre tentaram empurrar às massas empobrecidas, o sonho virtual. O povo quer sonhar por ter começado a melhorar, não por promessas de que irá melhorar.
Em resumo: o povo quer ver coisas acontecendo para voltar a sonhar. E o que verá acontecendo, a partir deste 12 de maio de 2016, será bem diferente do que pensou que veria quando acreditou que, expurgando Dilma Rousseff do cargo, teria de volta o que ela e Lula haviam dado aos brasileiros.
Eu não gostaria de estar na vossa pele, golpistas, quando o povo descobrir que vocês o enganaram. Divirtam-se com o produto do assalto à democracia. Enquanto podem.
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