Por Marcelo Auler, em seu blog:
Sem dúvida, é Fantástico. Talvez nem tanto o programa em si, mas a reportagem apresentada na noite deste domingo (29/05) mostrando que o presidente Michel Temer, ao nomear Fabiano Silveira para o ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, não fez nada mais do que colocar a raposa para cuidar do galinheiro.
Se antes era difícil entender os motivos que levaram o governo a acabar com o que dava certo, a Controladoria Geral da União (CGU), agora tudo se clareia. Na verdade, quiseram apenas tumultuar, com mudanças desnecessárias que serviram de provocações junto aos servidores – os quais, no domingo, segundo o jornal O Globo, anunciaram uma paralisação, nesta segunda-feira (30/05) para forçar a saída da raposa, ops, de Fabiano. Certamente, o novo governo imaginava que tumultuando conseguiria tirar o foco do objetivo principal que já não consegue esconder: evitar punições dos atuais governistas que frequentam as listas sujas da Lava Jato.
Curioso é que todos da oposição ao governo Dilma Rousseff, inclusive e principalmente os meios de comunicação das Organizações Globo e seus jornalistas, sempre acusaram o governo legitimamente eleito de querer melar as apurações de corrupção. Mas, não só não conseguiram provar nada contra a presidente e seus ministros, como ainda souberam, através das muitas conversas vazadas, publicadas pela Folha de S. Paulo, na semana que passou, que ela rejeitou qualquer tipo de interferência.
Agora, por meio da Rede Globo, descobrimos que antes mesmo de ser governo, ministros do presidente interino que chegou ao cargo pelo golpe, já tentavam interferir nas investigações. Imagine-se o que não pretendem fazer nos postos em que se encontram?
Quem quer melar?
Nas três reproduções acima, os conselhos da “raposa” Fabiano Silveira, a quem Temer encarregou de combater à corrupção, para seu padrinho político, Renan Calheiros, acusado de corrupção por delatores da Lava jato. Fotos: Reprodução da TV Globo
Crime cometido
Sem dúvida, é Fantástico. Talvez nem tanto o programa em si, mas a reportagem apresentada na noite deste domingo (29/05) mostrando que o presidente Michel Temer, ao nomear Fabiano Silveira para o ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, não fez nada mais do que colocar a raposa para cuidar do galinheiro.
Se antes era difícil entender os motivos que levaram o governo a acabar com o que dava certo, a Controladoria Geral da União (CGU), agora tudo se clareia. Na verdade, quiseram apenas tumultuar, com mudanças desnecessárias que serviram de provocações junto aos servidores – os quais, no domingo, segundo o jornal O Globo, anunciaram uma paralisação, nesta segunda-feira (30/05) para forçar a saída da raposa, ops, de Fabiano. Certamente, o novo governo imaginava que tumultuando conseguiria tirar o foco do objetivo principal que já não consegue esconder: evitar punições dos atuais governistas que frequentam as listas sujas da Lava Jato.
Curioso é que todos da oposição ao governo Dilma Rousseff, inclusive e principalmente os meios de comunicação das Organizações Globo e seus jornalistas, sempre acusaram o governo legitimamente eleito de querer melar as apurações de corrupção. Mas, não só não conseguiram provar nada contra a presidente e seus ministros, como ainda souberam, através das muitas conversas vazadas, publicadas pela Folha de S. Paulo, na semana que passou, que ela rejeitou qualquer tipo de interferência.
Agora, por meio da Rede Globo, descobrimos que antes mesmo de ser governo, ministros do presidente interino que chegou ao cargo pelo golpe, já tentavam interferir nas investigações. Imagine-se o que não pretendem fazer nos postos em que se encontram?
Quem quer melar?
Lembro, por exemplo, que ao assumir, em março, o ministério da Justiça, o sub-procurador da República, Eugênio Aragão, de maneira infeliz mandou um recado para a Polícia Federal de que trocaria a equipe de investigação se sentisse “cheiro” de vazamento, sem precisar de provas. Os protestos foram gerais.
Minha colega e ex-chefe, Miriam Leitão, por exemplo, escreveu a coluna “O homem amigo“, em O Globo, acusando o então novo ministro de “buscar um pretexto para intervir na equipe da Lava-Jato. Mesmo sem ter tido sequer cheiro de vazamento, ele continuou. Circulam rumores de que ele tem uma lista das cabeças que cortará. O “Valor” ontem falou de duas dessas cabeças: Rosalvo Ferreira, superintende da Polícia Federal no Paraná, e Igor Romário de Paula, diretor de combate ao crime organizado no Paraná. Além, claro, do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello”.
Na época, respaldado na nossa antiga amizade, mandei-lhe uma mensagem dizendo que não era bem isto, ou seja, acabar com a Lava Jato. Mas, sim, botar ordem na casa. Dela recebi uma delicada e gentil resposta, na qual, após confessar ser leitora do blog, insistiu na sua tese:
“Não posso no entanto tapar o sol com a peneira, o que o ministro quer é o que foi dito explicitamente pelo Lula. Não é corrigir eventuais erros, mas interferir no processo de investigação. Neste caso nós estamos vendo os acontecimentos por ângulos inteiramente diferentes. Mas discordância é normal.”
Quem fez pelo DPF
Minha colega e ex-chefe, Miriam Leitão, por exemplo, escreveu a coluna “O homem amigo“, em O Globo, acusando o então novo ministro de “buscar um pretexto para intervir na equipe da Lava-Jato. Mesmo sem ter tido sequer cheiro de vazamento, ele continuou. Circulam rumores de que ele tem uma lista das cabeças que cortará. O “Valor” ontem falou de duas dessas cabeças: Rosalvo Ferreira, superintende da Polícia Federal no Paraná, e Igor Romário de Paula, diretor de combate ao crime organizado no Paraná. Além, claro, do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello”.
Na época, respaldado na nossa antiga amizade, mandei-lhe uma mensagem dizendo que não era bem isto, ou seja, acabar com a Lava Jato. Mas, sim, botar ordem na casa. Dela recebi uma delicada e gentil resposta, na qual, após confessar ser leitora do blog, insistiu na sua tese:
“Não posso no entanto tapar o sol com a peneira, o que o ministro quer é o que foi dito explicitamente pelo Lula. Não é corrigir eventuais erros, mas interferir no processo de investigação. Neste caso nós estamos vendo os acontecimentos por ângulos inteiramente diferentes. Mas discordância é normal.”
Quem fez pelo DPF
O tempo passou e mostrou quem tinha razão. Pode-se até alegar que a permanência de Aragão foi por um prazo pequeno. Mas, era suficiente para ele, por exemplo, cobrar explicações dos muitos desmandos que foram denunciados por toda imprensa, inclusive, por este blog. Certamente, não teve condições políticas de fazê-lo. Nem tempo para mudar a estrutura.
Os dois meses e pouco em que ele foi ministro, porém, foram suficientes para tomar iniciativas que demonstram justamente o contrário. Em uma delas, antecipou todo o orçamento do Departamento de Polícia Federal (DPF), de 2016, para evitar que reclamassem da falta de recursos para as investigações. Foi capaz ainda de convencer o ministério do Planejamento a fechar um acordo de aumento salarial com os representantes de todas as categorias do DPF, previsto para começar a ser pago no início de 2017. Isto é, se Temer e Henrique Meireles cumprirem o que foi combinado com o governo Dilma. Pessoalmente, tenho minhas dúvidas.
Os dois meses e pouco em que ele foi ministro, porém, foram suficientes para tomar iniciativas que demonstram justamente o contrário. Em uma delas, antecipou todo o orçamento do Departamento de Polícia Federal (DPF), de 2016, para evitar que reclamassem da falta de recursos para as investigações. Foi capaz ainda de convencer o ministério do Planejamento a fechar um acordo de aumento salarial com os representantes de todas as categorias do DPF, previsto para começar a ser pago no início de 2017. Isto é, se Temer e Henrique Meireles cumprirem o que foi combinado com o governo Dilma. Pessoalmente, tenho minhas dúvidas.
Imagem no exterior
A coincidência maior é que coube ao jornalista Vladimir Neto, filho de Míriam, apresentar o “furo” de reportagem da TV Globo na noite de domingo. Verdade que a reportagem é fruto de mais um dos vazamentos seletivos que ocorrem com frequência na Lava Jato. Desta vez, provavelmente, um vazamento pela turma do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Confesso, como jornalista, receberia de bom grado informação como esta.
Certamente, se o governo interino quiser se passar por sério, hoje ele trocará mais um ministro. O segundo em menos de um mês. Um bom recorde para uma nova administração.
Certamente, se o governo interino quiser se passar por sério, hoje ele trocará mais um ministro. O segundo em menos de um mês. Um bom recorde para uma nova administração.
Nas três reproduções acima, os conselhos da “raposa” Fabiano Silveira, a quem Temer encarregou de combater à corrupção, para seu padrinho político, Renan Calheiros, acusado de corrupção por delatores da Lava jato. Fotos: Reprodução da TV Globo
Crime cometido
Vai ser curioso ver o que a equipe do ministro das Relações Exteriores, José Serra, repassará aos diplomatas brasileiros no exterior, tal como mostramos na reportagem A ideologização do Itamaraty para tentar reverter imagem do governo Temer, para que expliquem mais esta contradição, na tentativa de melhorar a imagem de um governo que é tido como golpista.
Há ainda um outro aspecto de toda esta história que precisa ser lembrado, para depois ser cobrado. Fabiano, quando tentou ajudar seu “padrinho político”, o presidente do Senado, Renan Calheiros, ocupava uma cadeira no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição criada para justamente zelar pelo bom andamento do Judiciário.
O que ele fez, salvo melhor juízo dos que operam o Direito, tem nome e pena previstos no Código Penal: advocacia administrativa.
Trata-se do Art. 321 do Código Penal: Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena – detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único – Se o interesse é ilegítimo: Pena – detenção, de três meses a um ano, além da multa.
É um assunto para o atual presidente do CNJ, o ministro Ricardo Lewandowski deter-se sobre ele. Teoricamente, o crime foi cometido, pois Fabiano, como diz a reportagem, andou atrás da Força Tarefa da Lava Jato em busca de informações sobre a situação de Calheiros. Mas será que o procurador-geral, Janot, se preocupará em apurar e denunciar se tudo se confirmar? Ou deixará de lado, como tem sido habitual com todas as irregularidades que foram cometidas pela chamada Força Tarefa da Lava Jato, insistentemente denunciadas?
A propósito: no horário do Fantástico, no domingo (29/05) eu viajava de carro do Rio para São Paulo. Por todas as cidades onde passei – é verdade que algumas à distância – não ouvi baterem panelas reclamando da tentativa de melarem a Lava Jato. Foi uma falha de audição minha?
Há ainda um outro aspecto de toda esta história que precisa ser lembrado, para depois ser cobrado. Fabiano, quando tentou ajudar seu “padrinho político”, o presidente do Senado, Renan Calheiros, ocupava uma cadeira no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição criada para justamente zelar pelo bom andamento do Judiciário.
O que ele fez, salvo melhor juízo dos que operam o Direito, tem nome e pena previstos no Código Penal: advocacia administrativa.
Trata-se do Art. 321 do Código Penal: Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena – detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único – Se o interesse é ilegítimo: Pena – detenção, de três meses a um ano, além da multa.
É um assunto para o atual presidente do CNJ, o ministro Ricardo Lewandowski deter-se sobre ele. Teoricamente, o crime foi cometido, pois Fabiano, como diz a reportagem, andou atrás da Força Tarefa da Lava Jato em busca de informações sobre a situação de Calheiros. Mas será que o procurador-geral, Janot, se preocupará em apurar e denunciar se tudo se confirmar? Ou deixará de lado, como tem sido habitual com todas as irregularidades que foram cometidas pela chamada Força Tarefa da Lava Jato, insistentemente denunciadas?
A propósito: no horário do Fantástico, no domingo (29/05) eu viajava de carro do Rio para São Paulo. Por todas as cidades onde passei – é verdade que algumas à distância – não ouvi baterem panelas reclamando da tentativa de melarem a Lava Jato. Foi uma falha de audição minha?
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