Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
A proibição de doações de pessoas jurídicas a campanhas, que passará pelo seu primeiro teste nas eleições municipais deste ano, tem potencial para contribuir com a mudança no cenário político brasileiro, diminuindo a influência de grandes empresas que, na prática, “contratavam'' políticos através de polpudos financiamentos. Boa parte dos escândalos de corrupção no país nasceram dessa relação de luxúria e lascívia, sem medo de dar beijo na boca e deixar marcas no pescoço, entre corporações e seus candidatos. Ou seja, há uma boa expectativa para a medida decidida pelo Supremo Tribunal Federal no ano passado.
Mas há um efeito colateral que não vem sendo discutido, mas poderá ter uma influência central. Com a proibição de financiamento direto, candidaturas devem combinar com empresas interessadas em apoia-las para que arquem com serviços digitais de construção e desconstrução de reputações via internet. Esses serviços tiveram um papel importante nas últimas eleições gerais de 2014 com a transformação da rede em palco de batalha em que a “verdade'' caiu morta.
Há empresas que atuam na construção de reputações que devem continuar sendo contratadas diretamente pelas campanhas. De acordo com o proprietário de uma delas com quem conversei, o custo benefício de sua atuação é maior que o de propagandas na TV. Vale lembrar que o teto para gastos eleitorais será de 70% da campanha mais cara para o mesmo cargo em 2012 ou de 50% – no caso das cidades com segundo turno.
Mas doadores pessoa jurídica também podem vir a bancar os custos de empresas que façam esse trabalho de construção e também o de desconstrução da reputação de um candidato adversário. Por ser feito nas sombras, não ter custos expressivos e nem passar pela campanha e seus representantes, esse financiamento pode ser invisível à análise das contas de campanha pelo poder público. Seria uma espécie de “Caixa 3″.
Mesmo que o Ministério Público e a polícia tivessem aumentada sua capacidade de investigação em crimes cibernéticos para que “fazendas'' de perfis falsos que cometam crimes digitais possam ser identificadas e, com elas, punir o financiamento indireto de campanha, os grupos profissionais que prestam esse tipo de serviço estão sempre na vanguarda tecnológica e não são pegos facilmente.
O rastreamento de um perfil falso nem sempre é simples. Muitas vezes, atuam via acesso remoto – através de seus computadores, eles se conectam a uma máquina virtual que está em outro país (normalmente que não possui legislação para liberação de informações compatível com as leis brasileiras). Nada fica registrado no terminal por aqui, garantindo segurança e anonimato. Opta-se também por utilizar sistemas que interpõem dezenas de roteadores ao servidor de origem. Ou seja, mesmo que consigam descobrir o servidor de postagem, ele não é o que foi utilizado realmente pelo operador.
Ao contrário do que se pensa, os trolls raivosos que babam e cometem ignomínias são uma parte pequena e boba desse processo. Os profissionais não ficam atacando loucamente o adversário, mas são guiados por pesquisas comportamentais e pela análise da estratificação da população, desenvolvem equipes de “semeadores de ideias'' para atingir os eleitores e usam softwares capazes de detectar a difusão de opinião na web, para agir imediatamente, barrando o que é ruim e promovendo o que é bom.
Atuando com base em mapeamentos digitais das páginas que tratam de política, sejam elas de veículos jornalísticos, pessoas ou instituições, e do comportamento delas, os profissionais dessas empresas se conectam a essas páginas e a listas de discussão, debatendo – de forma racional ou emotiva – e influenciando o voto.
Desde as eleições de 2014, tenho acompanhado esse tema e conversado com profissionais dessa área. É um mundo à parte, ao qual a maioria de nós nem imagina existir.
Há todo tipo de empresa de consultoria digital que presta esse tipo de serviço, das que não difamam ou caluniam e apenas usam informações reais para desconstruir adversários, até aquelas que inventam o tipo de armamento.
Em uma entrevista que diz com o diretor de uma empresa especializada na construção de reputações na internet, ele explicou que fora dos períodos eleitorais, trabalha para grandes marcas que querem construir a reputação de seus produtos junto ao público na rede usando esses perfis falsos. Ou seja, as corporações já possuem acesso a algumas dessas empresas. Basta um aditivo ao contrato para que “serviços de outra natureza'' sejam prestados no segundo semestre deste ano.
E, falo por experiência própria de quem já sofreu difamações dessa natureza, que a atuação de algumas “consultorias digitais'' contratadas por grandes grupos empresariais fazem um serviço sujo e de difícil detecção.
A primeira experiência de eleições sem doações corporativas e institucionais também pode ser marcada pelo estabelecimento de uma guerra campal sem nome ou rosto na rede. Talvez financiada, em parte, pelas mesmas corporações e instituições com o objetivo de manterem seu vínculo com determinado candidato. E o controle sobre a coisa pública.
Mas há um efeito colateral que não vem sendo discutido, mas poderá ter uma influência central. Com a proibição de financiamento direto, candidaturas devem combinar com empresas interessadas em apoia-las para que arquem com serviços digitais de construção e desconstrução de reputações via internet. Esses serviços tiveram um papel importante nas últimas eleições gerais de 2014 com a transformação da rede em palco de batalha em que a “verdade'' caiu morta.
Há empresas que atuam na construção de reputações que devem continuar sendo contratadas diretamente pelas campanhas. De acordo com o proprietário de uma delas com quem conversei, o custo benefício de sua atuação é maior que o de propagandas na TV. Vale lembrar que o teto para gastos eleitorais será de 70% da campanha mais cara para o mesmo cargo em 2012 ou de 50% – no caso das cidades com segundo turno.
Mas doadores pessoa jurídica também podem vir a bancar os custos de empresas que façam esse trabalho de construção e também o de desconstrução da reputação de um candidato adversário. Por ser feito nas sombras, não ter custos expressivos e nem passar pela campanha e seus representantes, esse financiamento pode ser invisível à análise das contas de campanha pelo poder público. Seria uma espécie de “Caixa 3″.
Mesmo que o Ministério Público e a polícia tivessem aumentada sua capacidade de investigação em crimes cibernéticos para que “fazendas'' de perfis falsos que cometam crimes digitais possam ser identificadas e, com elas, punir o financiamento indireto de campanha, os grupos profissionais que prestam esse tipo de serviço estão sempre na vanguarda tecnológica e não são pegos facilmente.
O rastreamento de um perfil falso nem sempre é simples. Muitas vezes, atuam via acesso remoto – através de seus computadores, eles se conectam a uma máquina virtual que está em outro país (normalmente que não possui legislação para liberação de informações compatível com as leis brasileiras). Nada fica registrado no terminal por aqui, garantindo segurança e anonimato. Opta-se também por utilizar sistemas que interpõem dezenas de roteadores ao servidor de origem. Ou seja, mesmo que consigam descobrir o servidor de postagem, ele não é o que foi utilizado realmente pelo operador.
Ao contrário do que se pensa, os trolls raivosos que babam e cometem ignomínias são uma parte pequena e boba desse processo. Os profissionais não ficam atacando loucamente o adversário, mas são guiados por pesquisas comportamentais e pela análise da estratificação da população, desenvolvem equipes de “semeadores de ideias'' para atingir os eleitores e usam softwares capazes de detectar a difusão de opinião na web, para agir imediatamente, barrando o que é ruim e promovendo o que é bom.
Atuando com base em mapeamentos digitais das páginas que tratam de política, sejam elas de veículos jornalísticos, pessoas ou instituições, e do comportamento delas, os profissionais dessas empresas se conectam a essas páginas e a listas de discussão, debatendo – de forma racional ou emotiva – e influenciando o voto.
Desde as eleições de 2014, tenho acompanhado esse tema e conversado com profissionais dessa área. É um mundo à parte, ao qual a maioria de nós nem imagina existir.
Há todo tipo de empresa de consultoria digital que presta esse tipo de serviço, das que não difamam ou caluniam e apenas usam informações reais para desconstruir adversários, até aquelas que inventam o tipo de armamento.
Em uma entrevista que diz com o diretor de uma empresa especializada na construção de reputações na internet, ele explicou que fora dos períodos eleitorais, trabalha para grandes marcas que querem construir a reputação de seus produtos junto ao público na rede usando esses perfis falsos. Ou seja, as corporações já possuem acesso a algumas dessas empresas. Basta um aditivo ao contrato para que “serviços de outra natureza'' sejam prestados no segundo semestre deste ano.
E, falo por experiência própria de quem já sofreu difamações dessa natureza, que a atuação de algumas “consultorias digitais'' contratadas por grandes grupos empresariais fazem um serviço sujo e de difícil detecção.
A primeira experiência de eleições sem doações corporativas e institucionais também pode ser marcada pelo estabelecimento de uma guerra campal sem nome ou rosto na rede. Talvez financiada, em parte, pelas mesmas corporações e instituições com o objetivo de manterem seu vínculo com determinado candidato. E o controle sobre a coisa pública.
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