O estrago causado pelas delações da Odebrecht domina o noticiário desde que em março a Justiça recebeu o pedido de abertura de mais de 80 investigações contra políticos. Melhor para Henrique Meirelles. O ministro da Fazenda desperta críticas crescentes em Brasília entre partidos aliados do governo, devido à falta de resultados e às medidas impopulares, um fenômeno não muito notado. No “mercado”, reduto de seus fãs, inclusive despontam previsões de mais recessão em 2017.
Nas contas de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o Brasil encolherá 0,2%, embora a estimativa oficial do governo seja de uma expansão de 0,5%. O ritmo negativo do PIB no último trimestre de 2016, diz Perfeito, apontava uma retração potencial de até 1% este ano. A certeza de que tal destino se confirmará vem da falta generalizada de demanda.
O governo corta gastos aos bilhões, as famílias compram menos diante do desemprego em alta e da renda em baixa, as empresas não investem devido ao excesso de ociosidade, as exportações contribuem menos do que poderiam graças ao preço do dólar, mais barato do que deveria.
“O plano [Michel] Temer-Meirelles é calcado na percepção de que o controle da dívida diminuiria o risco Brasil e os juros de longo prazo, e então as empresas investiriam. Não vai acontecer [esse investimento]. Empresário não investe por que o juro é baixo, mas se há consumo”, diz o economista.
Líder no Senado do PMDB, o partido de Temer, Renan Calheiros discursou dia desses no plenário que o presidente “não tem para onde ir com essa política recessiva”, “essa política econômica de arrocho, de juro alto, de aumento de imposto, de recessão, de desemprego”.
Na véspera, 4 de abril, participara de um jantar peemedebista na casa da senadora Kátia Abreu, do Tocantins, em que a fritada de aratu, especialidade da anfitriã, embalou queixas contra a política econômica e as medidas impopulares do governo, como a reforma da Previdência. “Se eu tivesse feito tudo o que o ‘mercado’ queria, teria sido deposto”, comentou o ex-presidente José Sarney.
Temer vive um paradoxo que Sarney não viveu. Se insistir na agenda impopular, perde apoio no Congresso. Do contrário, perde o do “mercado” e da mídia, daí estará vulnerável à cassação na Justiça Eleitoral.
A saída de Temer deveria acontecer já, com a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer na Justiça Eleitoral, na opinião do deputado gaúcho Onix Lorenzoni. Posição surpreendente para quem é do DEM, o partido do ministro da Educação, Mendonça Filho.
Em entrevista, Lorenzoni teorizou que a cassação faria bem ao país “do ponto de vista político, institucional e econômico” e em seguida cobriu Meirelles de "elogios". “Já foi incompetente no governo da Dilma e do Lula” e graças a ele “está todo mundo parado, empresas grandes fazem um predinho aqui, ninguém tá comprando máquina, tem um monte de agricultor vendendo máquina”.
O ministro tem tentado vender otimismo à praça. Ao anunciar no dia 7 mudanças em parâmetros do futuro orçamento de 2018, em preparação, apontou uma recuperação “sólida” do PIB. “Já estamos saindo da maior crise, da maior recessão da história do Brasil”, afirmou, “a atividade econômica claramente dá sinais de crescimento”.
Entre os indícios encorajadores, está o aumento do consumo de energia, do transporte de cargas e da produção de embalagens, alguns dos chamados sinais antecedentes, aqueles capazes de dar pistas sobre o rumo das coisas. A venda de veículos e a safra agrícola acima do esperado também animam a Fazenda.
Meirelles acha que o PIB subirá a algo em torno de 2,5% no último trimestre e por aí permanecerá no eleitoral ano de 2018.
Cálculos eleitorais também motivam queixas contra a dupla Temer-Meirelles. Eleger-se em 2018 colado a um governo que não produz crescimento e ainda porta uma agenda impopular será missão para James Bond. “O governo quer que sua base parlamentar cometa harakiri”, afirma o senador Roberto Requião, do Paraná, peemedebista como Temer, mas opositor dele desde o início.
A reforma da Previdência é a medida impopular que mais assusta partidos governistas. A resistência no Congresso subiu à medida que o assunto tornou-se conhecido do povão. Hoje a reforma é a notícia mais lembrada pelas pessoas quando se fala em governo, informa o Ibope.
Não à toa o Planalto quer gastar 180 milhões de reais em publicidade para convencer a população de que a reforma é boa.
No sábado pós-Carnaval, Temer jantou no Palácio do Jaburu com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e teve um termômetro cru do espírito parlamentar em relação à Previdência. Siqueira comanda um partido que está à frente do ministério de Minas e Energia, mas é dividido no apoio ao Planalto. Após o Carnaval, ele ouviu muitos relatos de congressistas do PSB sobre o sentimento nas bases quanto à tentativa de mexer nas aposentadorias.
“Fui claro com o presidente. Não dá para votar essa reforma, é um ataque ao sistema de proteção social que ele mesmo ajudou a aprovar na Constituição de 1988”, diz Siqueira. “Falei mais: que era um erro deixar esse assunto com o Meirelles, que não entende de política e menos ainda de social.”
Com um ambiente hostil ao tema no Congresso, o governo teve de ceder e reescrever sua proposta. Temer anunciou o passo atrás no dia 6, em entrevista a uma rádio, e mais tarde, após almoçar com a realeza sueca, apelou à novilíngua para explicar, feito professora de magistério, que, veja bem, derrota não é derrota. “Vamos aprender isso: prestar obediência ao que o Congresso Nacional sugere, Congresso Nacional que é o centro das aspirações populares, não pode ser considerado recuo.”
Meirelles copiou o patrão. Em entrevista coletiva no dia seguinte, comentou que as mudanças eram imaginadas desde o início, “estão dentro das nossas expectativas” e vão reduzir no máximo em 20% a poupança esperada em uma década.
Não era bem isso que pregava um mês antes, ao ir à Câmara no Dia Internacional da Mulher tentar convencer governistas hesitantes. “Uma reforma da Previdência muito diluída para não criar resistências não resolve o problema. Se não for para fazer uma reforma completa, é melhor não fazer nada.”
Na base parlamentar de Temer, há quem prefira deixar tudo como está. E ver o ministro da Fazenda pelas costas.
Nas contas de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o Brasil encolherá 0,2%, embora a estimativa oficial do governo seja de uma expansão de 0,5%. O ritmo negativo do PIB no último trimestre de 2016, diz Perfeito, apontava uma retração potencial de até 1% este ano. A certeza de que tal destino se confirmará vem da falta generalizada de demanda.
O governo corta gastos aos bilhões, as famílias compram menos diante do desemprego em alta e da renda em baixa, as empresas não investem devido ao excesso de ociosidade, as exportações contribuem menos do que poderiam graças ao preço do dólar, mais barato do que deveria.
“O plano [Michel] Temer-Meirelles é calcado na percepção de que o controle da dívida diminuiria o risco Brasil e os juros de longo prazo, e então as empresas investiriam. Não vai acontecer [esse investimento]. Empresário não investe por que o juro é baixo, mas se há consumo”, diz o economista.
Líder no Senado do PMDB, o partido de Temer, Renan Calheiros discursou dia desses no plenário que o presidente “não tem para onde ir com essa política recessiva”, “essa política econômica de arrocho, de juro alto, de aumento de imposto, de recessão, de desemprego”.
Na véspera, 4 de abril, participara de um jantar peemedebista na casa da senadora Kátia Abreu, do Tocantins, em que a fritada de aratu, especialidade da anfitriã, embalou queixas contra a política econômica e as medidas impopulares do governo, como a reforma da Previdência. “Se eu tivesse feito tudo o que o ‘mercado’ queria, teria sido deposto”, comentou o ex-presidente José Sarney.
Temer vive um paradoxo que Sarney não viveu. Se insistir na agenda impopular, perde apoio no Congresso. Do contrário, perde o do “mercado” e da mídia, daí estará vulnerável à cassação na Justiça Eleitoral.
A saída de Temer deveria acontecer já, com a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer na Justiça Eleitoral, na opinião do deputado gaúcho Onix Lorenzoni. Posição surpreendente para quem é do DEM, o partido do ministro da Educação, Mendonça Filho.
Em entrevista, Lorenzoni teorizou que a cassação faria bem ao país “do ponto de vista político, institucional e econômico” e em seguida cobriu Meirelles de "elogios". “Já foi incompetente no governo da Dilma e do Lula” e graças a ele “está todo mundo parado, empresas grandes fazem um predinho aqui, ninguém tá comprando máquina, tem um monte de agricultor vendendo máquina”.
O ministro tem tentado vender otimismo à praça. Ao anunciar no dia 7 mudanças em parâmetros do futuro orçamento de 2018, em preparação, apontou uma recuperação “sólida” do PIB. “Já estamos saindo da maior crise, da maior recessão da história do Brasil”, afirmou, “a atividade econômica claramente dá sinais de crescimento”.
Entre os indícios encorajadores, está o aumento do consumo de energia, do transporte de cargas e da produção de embalagens, alguns dos chamados sinais antecedentes, aqueles capazes de dar pistas sobre o rumo das coisas. A venda de veículos e a safra agrícola acima do esperado também animam a Fazenda.
Meirelles acha que o PIB subirá a algo em torno de 2,5% no último trimestre e por aí permanecerá no eleitoral ano de 2018.
Cálculos eleitorais também motivam queixas contra a dupla Temer-Meirelles. Eleger-se em 2018 colado a um governo que não produz crescimento e ainda porta uma agenda impopular será missão para James Bond. “O governo quer que sua base parlamentar cometa harakiri”, afirma o senador Roberto Requião, do Paraná, peemedebista como Temer, mas opositor dele desde o início.
A reforma da Previdência é a medida impopular que mais assusta partidos governistas. A resistência no Congresso subiu à medida que o assunto tornou-se conhecido do povão. Hoje a reforma é a notícia mais lembrada pelas pessoas quando se fala em governo, informa o Ibope.
Não à toa o Planalto quer gastar 180 milhões de reais em publicidade para convencer a população de que a reforma é boa.
No sábado pós-Carnaval, Temer jantou no Palácio do Jaburu com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e teve um termômetro cru do espírito parlamentar em relação à Previdência. Siqueira comanda um partido que está à frente do ministério de Minas e Energia, mas é dividido no apoio ao Planalto. Após o Carnaval, ele ouviu muitos relatos de congressistas do PSB sobre o sentimento nas bases quanto à tentativa de mexer nas aposentadorias.
“Fui claro com o presidente. Não dá para votar essa reforma, é um ataque ao sistema de proteção social que ele mesmo ajudou a aprovar na Constituição de 1988”, diz Siqueira. “Falei mais: que era um erro deixar esse assunto com o Meirelles, que não entende de política e menos ainda de social.”
Com um ambiente hostil ao tema no Congresso, o governo teve de ceder e reescrever sua proposta. Temer anunciou o passo atrás no dia 6, em entrevista a uma rádio, e mais tarde, após almoçar com a realeza sueca, apelou à novilíngua para explicar, feito professora de magistério, que, veja bem, derrota não é derrota. “Vamos aprender isso: prestar obediência ao que o Congresso Nacional sugere, Congresso Nacional que é o centro das aspirações populares, não pode ser considerado recuo.”
Meirelles copiou o patrão. Em entrevista coletiva no dia seguinte, comentou que as mudanças eram imaginadas desde o início, “estão dentro das nossas expectativas” e vão reduzir no máximo em 20% a poupança esperada em uma década.
Não era bem isso que pregava um mês antes, ao ir à Câmara no Dia Internacional da Mulher tentar convencer governistas hesitantes. “Uma reforma da Previdência muito diluída para não criar resistências não resolve o problema. Se não for para fazer uma reforma completa, é melhor não fazer nada.”
Na base parlamentar de Temer, há quem prefira deixar tudo como está. E ver o ministro da Fazenda pelas costas.
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