Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Pode parecer que a apatia tomou conta da sociedade brasileira, escaldada em tanto retrocesso. Muitos reclamam da ausência das pessoas na rua, da diminuição dos protestos, da escalada conservadora em vários campos, da economia ao comportamento. Há uma tristeza no ar, que não pode ser traduzida apressadamente como sentimento de derrota.
Essa situação pode até ter certo fundamento na realidade, mas precisa ser compreendida na nova dinâmica assumida pelo projeto conservador. O desmonte da democracia, que domina a vida institucional nos três poderes da república e que tem na imprensa hegemônica seu fiador de todas as horas, não se dá no vazio.
Sem perder o foco da política tradicional, talvez seja o momento de recuperar a força de resistência que vem marcando presença a todo momento, nas mais diferentes perspectivas de luta. Sem deixar enfraquecer as grandes frentes, o movimento das forças progressistas mantém sua estratégia de não ceder e disputar cada palmo de terreno.
Uma boa forma de recuperar o otimismo da vontade, frente ao pessimismo da paisagem política mais ampla, é perceber os avanços que se somam na batalha das ideias. Tão importante quando as questões estruturais, o território do dia a dia tem mostrado sua relevância e poder na geração e transmissão da energia política.
Os exemplos são muitos e, na aparente dimensão pontual, mostram como podem irrigar grandes questões. São movimentos que têm feito avançar o combate ao racismo que ainda estrutura as relações sociais, sobre a questão LGBT e acerca dos direitos humanos. De mobilização da juventude em defesa da educação, sobre novas formas de produção agrícola socialmente relevante e ambientalmente avançada. De ocupação urbana, em torno da comunicação popular e na defesa de maior respeito à diversidade cultural. Sobre a vida real.
No entanto, é sempre importante insistir na radicalidade. Na importância de ir à raiz das coisas. Duas atitudes recentes do governo Temer foram alvo de críticas por parte da sociedade: a privatização do sistema elétrico (entre outros setores) e a extinção da Reserva de Cobre e Associados, na Amazônia. Nos dois casos, não basta estar do lado certo.
O governo não privatizou ou liberou geral apenas para fazer caixa ou cumprir compromissos com a banca. Há nesse duplo crime de lesa-pátria as dimensões da economia, da política e da ideologia privatista. Mas não apenas. Um projeto mais amplo se desenha com clareza, e é contra ele que é preciso reunir forças.
Não adianta apenas contestar a privatização da Eletrobras com argumentos nacionalistas estritos, sem entrar no debate acerca da soberania dos recursos estratégicos e do projeto de desenvolvimento que se aponta para a economia. A desarticulação do setor tem um sentido claro de redefinir a posição do país na ordem internacional, retirando o controle sobre alguns dos mais valiosos insumos do nosso tempo: a energia, a água e a terra.
Sem falar na destruição dos mecanismos de controle popular, de modo a barrar a histórica dependência do setor aos acordos de interesses econômicos e políticos. Furnas, por exemplo, gerou, sob os tucanos e mesmo depois deles, numa entropia vergonhosa, tanto energia como corrupção.
No caso da Renca, objeto de protesto quase universal capitaneado por celebridades e artistas, é preciso atenção no foco. Não se pode delegar uma frente tão significativa a argumentos ecológicos superficiais, que enxergam a árvore e voltam as costas para a floresta, mesmo com ganhos táticos momentâneos.
Não se trata apenas de entregar a área a três das mais destrutivas atividades de exploração conhecidas (garimpo, madeireiras e mineração), mas de validar uma cultura historicamente perniciosa. Além da destruição do meio ambiente, se abre o cenário para a violência e a retirada do Estado, em meio a conflitos de toda a natureza, do trabalho escravo à ameaça à segurança nacional.
É bom ficar atento: patriotas podem ser patifes; amantes da natureza são muitas vezes ingênuos. O programa emergencial da batalha de ideias talvez esteja resumido nesses dois perigos reais e imediatos: combater a ignorância com informação e enfrentar os canalhas com coragem. Os movimentos sociais podem indicar os caminhos.
Essa situação pode até ter certo fundamento na realidade, mas precisa ser compreendida na nova dinâmica assumida pelo projeto conservador. O desmonte da democracia, que domina a vida institucional nos três poderes da república e que tem na imprensa hegemônica seu fiador de todas as horas, não se dá no vazio.
Sem perder o foco da política tradicional, talvez seja o momento de recuperar a força de resistência que vem marcando presença a todo momento, nas mais diferentes perspectivas de luta. Sem deixar enfraquecer as grandes frentes, o movimento das forças progressistas mantém sua estratégia de não ceder e disputar cada palmo de terreno.
Uma boa forma de recuperar o otimismo da vontade, frente ao pessimismo da paisagem política mais ampla, é perceber os avanços que se somam na batalha das ideias. Tão importante quando as questões estruturais, o território do dia a dia tem mostrado sua relevância e poder na geração e transmissão da energia política.
Os exemplos são muitos e, na aparente dimensão pontual, mostram como podem irrigar grandes questões. São movimentos que têm feito avançar o combate ao racismo que ainda estrutura as relações sociais, sobre a questão LGBT e acerca dos direitos humanos. De mobilização da juventude em defesa da educação, sobre novas formas de produção agrícola socialmente relevante e ambientalmente avançada. De ocupação urbana, em torno da comunicação popular e na defesa de maior respeito à diversidade cultural. Sobre a vida real.
No entanto, é sempre importante insistir na radicalidade. Na importância de ir à raiz das coisas. Duas atitudes recentes do governo Temer foram alvo de críticas por parte da sociedade: a privatização do sistema elétrico (entre outros setores) e a extinção da Reserva de Cobre e Associados, na Amazônia. Nos dois casos, não basta estar do lado certo.
O governo não privatizou ou liberou geral apenas para fazer caixa ou cumprir compromissos com a banca. Há nesse duplo crime de lesa-pátria as dimensões da economia, da política e da ideologia privatista. Mas não apenas. Um projeto mais amplo se desenha com clareza, e é contra ele que é preciso reunir forças.
Não adianta apenas contestar a privatização da Eletrobras com argumentos nacionalistas estritos, sem entrar no debate acerca da soberania dos recursos estratégicos e do projeto de desenvolvimento que se aponta para a economia. A desarticulação do setor tem um sentido claro de redefinir a posição do país na ordem internacional, retirando o controle sobre alguns dos mais valiosos insumos do nosso tempo: a energia, a água e a terra.
Sem falar na destruição dos mecanismos de controle popular, de modo a barrar a histórica dependência do setor aos acordos de interesses econômicos e políticos. Furnas, por exemplo, gerou, sob os tucanos e mesmo depois deles, numa entropia vergonhosa, tanto energia como corrupção.
No caso da Renca, objeto de protesto quase universal capitaneado por celebridades e artistas, é preciso atenção no foco. Não se pode delegar uma frente tão significativa a argumentos ecológicos superficiais, que enxergam a árvore e voltam as costas para a floresta, mesmo com ganhos táticos momentâneos.
Não se trata apenas de entregar a área a três das mais destrutivas atividades de exploração conhecidas (garimpo, madeireiras e mineração), mas de validar uma cultura historicamente perniciosa. Além da destruição do meio ambiente, se abre o cenário para a violência e a retirada do Estado, em meio a conflitos de toda a natureza, do trabalho escravo à ameaça à segurança nacional.
É bom ficar atento: patriotas podem ser patifes; amantes da natureza são muitas vezes ingênuos. O programa emergencial da batalha de ideias talvez esteja resumido nesses dois perigos reais e imediatos: combater a ignorância com informação e enfrentar os canalhas com coragem. Os movimentos sociais podem indicar os caminhos.
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