Por Victória Damasceno, na revista CartaCapital:
Perplexidade. Foi este o sentimento que tomou conta do advogado Marco Antonio André na segunda-feira, 24, quando se deparou com um cartaz com os dizeres “Negro, comunista, antifa e macumbeiro” em frente ao seu escritório de advocacia em Blumenau (SC). Um símbolo da Ku Klux Klan (KKK), seita racista norte-americana, acompanhava os dizeres e dirigia a palavra diretamente a ele.
Diante da descrença ao ver o cartaz, o advogado recorreu às redes sociais para divulgar o ataque. A ideia inicial, no entanto, era não dar nenhuma visibilidade a ação, mas ao ver que a discussão estava tomando rumos incertos, preferiu comentar o episódio. “Tenho encarado a situação com uma oportunidade de trazer este assunto à tona e poder agregar cada vez mais pessoas nesta discussão”, conta em entrevista à CartaCapital.
Os próximos passos vão em direção à esfera criminal. Marco acredita ser importante realizar de um boletim de ocorrência, apesar de não acreditar que de fato alguém será punido. “Eu até tenho alguma esperança de penalização, mas é muito mais para registro criminal e monitoramento do que para identificar o autor em si”.
Militante do movimento negro, candomblecista e umbandista, Marco não ficou surpreso com os dizerem do cartaz. Em tom de brincadeira, afirma só ter lido verdades. Apesar de não conseguir identificar ou ao menos imaginar quem pode ter feito a ofensa, ele imagina o perfil do autor. Para ele, depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a “caixa de pandora” que acolhia os conservadores foi aberta.
“Antes tínhamos um governo que permitia o acesso de classes menos favorecidas, de minorias que lutam contra o preconceito, e por isso essas outras opiniões eram menos divulgadas. Depois do impeachment, a caixa de pandora se abriu e esses discursos que estavam engavetados afloraram”, explica, buscando entender a ascensão de uma direita extremista no Brasil. “Não sabemos seu rosto, mas sabemos em quem votam e quem apoiam.”
Os dizeres que acusam sua posição política fazem sentido. Paulista de origem e criação, o advogado fez parte do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8) durante a juventude. Para ele, as pessoas não entendem o significado do comunismo, mas não se importa em ser colocado como comunista se isso significar ser humanista, solidário e se preocupar com o bem estar do outro.
Neto de uma escrava, Marco conta que no momento do nascimento de seu pai sua avó ainda não havia conquistado a alforria. Apesar da forte ancestralidade, foi somente quando se mudou para Blumenau teve seu encontro com as religiões de matriz africana.
Na Casa de Pai Pepe de Otòlú é filho do candomblé a umbanda. Para ele, o ódio em torno da sua religião é resultado do ato de resistência negra que ela representa, por cultuar a fé de seus ancestrais. “É uma religião que prega o amor, que não prega valores materiais e isso incomoda muita gente”, afirma.
No Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), onde é pesquisador, debate constantemente qual o tipo de racismo que os brasileiros negros sofrem. No seu caso, afirma ser a vítima constante do tipo institucional. “O negro de terno é segurança, nunca é advogado.” Apesar da discriminação da profissão, Marco luta pela criação da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra na OAB de Blumenau.
Sobre ser classificado como antifascista, agradece ao termo. Participa de discussões a respeito da violência urbana e entende que somente com uma polícia pacificadora, preventiva ao invés de repressiva, além de um Estado com atuação menos agressiva o problema de segurança pública poderá ser resolvido.
Apesar dos ataques, Marco não se intimida. Entende seu papel na sociedade e para a sociedade, por isso, se comporta de forma serena perante estas situações. “Sei da responsabilidade que tenho como umbandista, e isso me indica o que devo fazer. Mas se uma pessoa aponta o dedo pra mim por conta de um problema que não está nele, “o problema está no outro”.
Para ele o problema também não está na atual cidade, marcada pela imigração italiana e alemã. “É um problema estrutural, que não se concentra apenas em Blumenau”. Apesar disso, pondera que mesmo lá os negros são marginalizados. “O público não olha pra essa população da mesma forma que olha para os outros”, completa.
Perplexidade. Foi este o sentimento que tomou conta do advogado Marco Antonio André na segunda-feira, 24, quando se deparou com um cartaz com os dizeres “Negro, comunista, antifa e macumbeiro” em frente ao seu escritório de advocacia em Blumenau (SC). Um símbolo da Ku Klux Klan (KKK), seita racista norte-americana, acompanhava os dizeres e dirigia a palavra diretamente a ele.
Diante da descrença ao ver o cartaz, o advogado recorreu às redes sociais para divulgar o ataque. A ideia inicial, no entanto, era não dar nenhuma visibilidade a ação, mas ao ver que a discussão estava tomando rumos incertos, preferiu comentar o episódio. “Tenho encarado a situação com uma oportunidade de trazer este assunto à tona e poder agregar cada vez mais pessoas nesta discussão”, conta em entrevista à CartaCapital.
Os próximos passos vão em direção à esfera criminal. Marco acredita ser importante realizar de um boletim de ocorrência, apesar de não acreditar que de fato alguém será punido. “Eu até tenho alguma esperança de penalização, mas é muito mais para registro criminal e monitoramento do que para identificar o autor em si”.
Militante do movimento negro, candomblecista e umbandista, Marco não ficou surpreso com os dizerem do cartaz. Em tom de brincadeira, afirma só ter lido verdades. Apesar de não conseguir identificar ou ao menos imaginar quem pode ter feito a ofensa, ele imagina o perfil do autor. Para ele, depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a “caixa de pandora” que acolhia os conservadores foi aberta.
“Antes tínhamos um governo que permitia o acesso de classes menos favorecidas, de minorias que lutam contra o preconceito, e por isso essas outras opiniões eram menos divulgadas. Depois do impeachment, a caixa de pandora se abriu e esses discursos que estavam engavetados afloraram”, explica, buscando entender a ascensão de uma direita extremista no Brasil. “Não sabemos seu rosto, mas sabemos em quem votam e quem apoiam.”
Os dizeres que acusam sua posição política fazem sentido. Paulista de origem e criação, o advogado fez parte do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8) durante a juventude. Para ele, as pessoas não entendem o significado do comunismo, mas não se importa em ser colocado como comunista se isso significar ser humanista, solidário e se preocupar com o bem estar do outro.
Neto de uma escrava, Marco conta que no momento do nascimento de seu pai sua avó ainda não havia conquistado a alforria. Apesar da forte ancestralidade, foi somente quando se mudou para Blumenau teve seu encontro com as religiões de matriz africana.
Na Casa de Pai Pepe de Otòlú é filho do candomblé a umbanda. Para ele, o ódio em torno da sua religião é resultado do ato de resistência negra que ela representa, por cultuar a fé de seus ancestrais. “É uma religião que prega o amor, que não prega valores materiais e isso incomoda muita gente”, afirma.
No Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), onde é pesquisador, debate constantemente qual o tipo de racismo que os brasileiros negros sofrem. No seu caso, afirma ser a vítima constante do tipo institucional. “O negro de terno é segurança, nunca é advogado.” Apesar da discriminação da profissão, Marco luta pela criação da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra na OAB de Blumenau.
Sobre ser classificado como antifascista, agradece ao termo. Participa de discussões a respeito da violência urbana e entende que somente com uma polícia pacificadora, preventiva ao invés de repressiva, além de um Estado com atuação menos agressiva o problema de segurança pública poderá ser resolvido.
Apesar dos ataques, Marco não se intimida. Entende seu papel na sociedade e para a sociedade, por isso, se comporta de forma serena perante estas situações. “Sei da responsabilidade que tenho como umbandista, e isso me indica o que devo fazer. Mas se uma pessoa aponta o dedo pra mim por conta de um problema que não está nele, “o problema está no outro”.
Para ele o problema também não está na atual cidade, marcada pela imigração italiana e alemã. “É um problema estrutural, que não se concentra apenas em Blumenau”. Apesar disso, pondera que mesmo lá os negros são marginalizados. “O público não olha pra essa população da mesma forma que olha para os outros”, completa.
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