Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Os tucanos morreram. O aviso não veio dos adversários, mas foi sendo construído, passo a passo, pelos próprios comandantes do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. Até o epitáfio definitivo, anunciado pelo intelectual de maior destaque da agremiação, o filósofo José Arthur Gianotti, em entrevista na Folha de S. Paulo do dia 4 deste mês, o partido vinha se aproximando do óbito por meio de manifestações que aprofundavam sua decrepitude.
O primeiro sinal veio da própria executiva do partido, que levou ao ar um programa em horário político gratuito, em rede nacional, em que reiterava que “o PSDB errou” a cada 15 segundos. A mensagem, lida por uns como autocrítica e por outros como suicídio político, serviu para aprofundar a cisão interna entre os cabeças de prata e os cabeças pretas. Entre os fisiológicos de hoje e os oportunistas do amanhã.
Na verdade, o que estava em jogo era a permanência ou desembarque do governo Temer. O PSDB conspirou, participou do golpe e se fez representar com ministros. Foi arquiteto, executor e sócio de um crime. A mescla de incompetência e corrupção de um governo de ladrões, que passou a receber quase unânime recusa por parte da população, criou uma dissonância cognitiva sutil. Os tucanos aprovam a tese, mas renegam a forma. Com o “em-cima-do-murismo” ontológico, abonam as medidas neoliberais e privatistas, ao mesmo tempo em que lançam desconfiança sobre sua condução.
O caminho da dissidência interna foi aberto pelo então presidente do partido, Aécio Neves. Um dos responsáveis pelo golpe contra a democracia brasileira, que aprofundou ainda mais com a cruzada moralista que quebrou a economia e dividiu o país entre torcidas de ódio, Aécio se viu no centro de um processo de corrupção que trazia ainda elementos de violência, ameaça e prepotência.
O senador mineiro arrastou para o lixo da história, além do futuro político, a mitologia de seu passado de administrador e negociador competente. Viu revelada sua fonte originária, a política miúda fundada na corrupção, e levou de enfiada para o ostracismo a credibilidade de sua ideologia socialdemocrata. Midas ao avesso, viu o monturo moral se avolumar em torno de tudo que tocava com seu dedo podre, a família, os amigos e o PSDB incluído.
Entre o ser e o não ser, os tucanos sempre ficaram com os dois. O dilema de Hamlet não alcança a dialética tíbia do partido. No domingo, um dia antes da entrevista de Gianotti, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo para o jornal O Estado de S. Paulo, exibe essa ambivalência, ao condenar os erros do governo, mas manter seu apoio com às medidas que estão sendo tomadas, sobretudo as que mais afrontam direitos sociais. E ainda tem a cara de pau de falar em candidatura agregadora.
Recapitulando. O PSDB é sócio fundador do golpe e do governo que a ele se segue, com quatro ministros de plantão.
O presidente do PSDB recebeu uma mala de dinheiro, provam gravações incontestáveis.
O PSDB errou, confessa sua executiva em cadeia nacional.
O PSDB vai continuar errando, assevera seu maior líder político, FHC em artigo que exala realismo cínico.
O PSDB morreu, crava seu pensador mais sofisticado, que chora a saudade de jantares em restaurantes caros como espaço mais adequado para decisões partidárias.
Não se pode dizer que se trata de uma história atípica na política tradicional brasileira: a conspiração antipopular, a irresponsabilidade dos dirigentes seguros da impunidade dada pelo poder; a empáfia das lideranças em retorcer a realidade para justificar suas biografias; a reflexão arrogante de seus ideólogos sem vínculos com a sociedade. Os tucanos não morrem pelos seus erros, mas por sua pertinácia em desafiar a história.
Certamente não é um acaso a emergência de nomes como João Dória no que deve brotar do galho partidário que ora fenece, merecidamente. O prefeito de São Paulo transforma tudo que um dia foi mérito no PSDB, em atalho para reforçar seu desvio de rota. Projeto liberal de centro-direita, estabilidade econômica, programas sociais compensatórios e aposta numa burocracia eficiente deixam de definir os tucanos em nome de um cenário de pós-política. De agora em diante, tudo é gestão e diminuição do Estado. É um epitáfio triste para a socialdemocracia. Mas há muito os tucanos já não voam por esses ares.
A hora é de atenção. Entre os vários sinais emitidos pelo ocaso de um partido está a regra número um da política: o poder tem horror ao vazio.
Os tucanos morreram. O aviso não veio dos adversários, mas foi sendo construído, passo a passo, pelos próprios comandantes do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. Até o epitáfio definitivo, anunciado pelo intelectual de maior destaque da agremiação, o filósofo José Arthur Gianotti, em entrevista na Folha de S. Paulo do dia 4 deste mês, o partido vinha se aproximando do óbito por meio de manifestações que aprofundavam sua decrepitude.
O primeiro sinal veio da própria executiva do partido, que levou ao ar um programa em horário político gratuito, em rede nacional, em que reiterava que “o PSDB errou” a cada 15 segundos. A mensagem, lida por uns como autocrítica e por outros como suicídio político, serviu para aprofundar a cisão interna entre os cabeças de prata e os cabeças pretas. Entre os fisiológicos de hoje e os oportunistas do amanhã.
Na verdade, o que estava em jogo era a permanência ou desembarque do governo Temer. O PSDB conspirou, participou do golpe e se fez representar com ministros. Foi arquiteto, executor e sócio de um crime. A mescla de incompetência e corrupção de um governo de ladrões, que passou a receber quase unânime recusa por parte da população, criou uma dissonância cognitiva sutil. Os tucanos aprovam a tese, mas renegam a forma. Com o “em-cima-do-murismo” ontológico, abonam as medidas neoliberais e privatistas, ao mesmo tempo em que lançam desconfiança sobre sua condução.
O caminho da dissidência interna foi aberto pelo então presidente do partido, Aécio Neves. Um dos responsáveis pelo golpe contra a democracia brasileira, que aprofundou ainda mais com a cruzada moralista que quebrou a economia e dividiu o país entre torcidas de ódio, Aécio se viu no centro de um processo de corrupção que trazia ainda elementos de violência, ameaça e prepotência.
O senador mineiro arrastou para o lixo da história, além do futuro político, a mitologia de seu passado de administrador e negociador competente. Viu revelada sua fonte originária, a política miúda fundada na corrupção, e levou de enfiada para o ostracismo a credibilidade de sua ideologia socialdemocrata. Midas ao avesso, viu o monturo moral se avolumar em torno de tudo que tocava com seu dedo podre, a família, os amigos e o PSDB incluído.
Entre o ser e o não ser, os tucanos sempre ficaram com os dois. O dilema de Hamlet não alcança a dialética tíbia do partido. No domingo, um dia antes da entrevista de Gianotti, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo para o jornal O Estado de S. Paulo, exibe essa ambivalência, ao condenar os erros do governo, mas manter seu apoio com às medidas que estão sendo tomadas, sobretudo as que mais afrontam direitos sociais. E ainda tem a cara de pau de falar em candidatura agregadora.
Recapitulando. O PSDB é sócio fundador do golpe e do governo que a ele se segue, com quatro ministros de plantão.
O presidente do PSDB recebeu uma mala de dinheiro, provam gravações incontestáveis.
O PSDB errou, confessa sua executiva em cadeia nacional.
O PSDB vai continuar errando, assevera seu maior líder político, FHC em artigo que exala realismo cínico.
O PSDB morreu, crava seu pensador mais sofisticado, que chora a saudade de jantares em restaurantes caros como espaço mais adequado para decisões partidárias.
Não se pode dizer que se trata de uma história atípica na política tradicional brasileira: a conspiração antipopular, a irresponsabilidade dos dirigentes seguros da impunidade dada pelo poder; a empáfia das lideranças em retorcer a realidade para justificar suas biografias; a reflexão arrogante de seus ideólogos sem vínculos com a sociedade. Os tucanos não morrem pelos seus erros, mas por sua pertinácia em desafiar a história.
Certamente não é um acaso a emergência de nomes como João Dória no que deve brotar do galho partidário que ora fenece, merecidamente. O prefeito de São Paulo transforma tudo que um dia foi mérito no PSDB, em atalho para reforçar seu desvio de rota. Projeto liberal de centro-direita, estabilidade econômica, programas sociais compensatórios e aposta numa burocracia eficiente deixam de definir os tucanos em nome de um cenário de pós-política. De agora em diante, tudo é gestão e diminuição do Estado. É um epitáfio triste para a socialdemocracia. Mas há muito os tucanos já não voam por esses ares.
A hora é de atenção. Entre os vários sinais emitidos pelo ocaso de um partido está a regra número um da política: o poder tem horror ao vazio.
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