Por Luís Nassif, no Jornal GGN:
Há uma busca do candidato de um centro democrático, seja lá o que se entenda por isso.
Teoricamente, seria uma área de convivência entre liberais e sociais-democratas, que visasse preservar o país da radicalização que se anuncia e, especialmente, de um maluco de ultradireita.
O posto de candidato do centro democrático está vago.
São curiosos, aliás, os movimentos oportunistas que se formam em tempos de desconserto geral. Qualquer um se julga com oportunidade, do economista liberal aos velhos nacionalistas, passando por antigas apresentadoras de TV, apresentadores atuais. Teve 15 minutos de fama? Já pode se candidatar a presidenciável. Nem a Loto desperta tantas fantasias.
A prova dos 9 se dá quando se colocam à campo. E, aí, é ilustrativa a experiência João Doria Júnior.
Dória é um outsider que se tornou prefeito por várias razões, nenhuma ligada ao seu mérito próprio.
A primeira, ao fato do governador Geraldo Alckmin não ter um substituto à altura. Assim como outros coronéis do PSDB, Alckmin não aceita um Exército com oficiais, só sargentos que não possam questionar seu comando. Na hora das batalhas secundárias, não há oficiais disponíveis e, aí, toca a apostar em outsiders. O último político paulista desprendido foi Franco Montoro, que acabou devorado por Orestes Quércia.
A segunda, o antipetismo dos paulistas, que daria a vitória para qualquer poste. Pularam de um poste a outro até se fixar na samambaia Dória, aquela que vai se enroscando em todos os pontos, até ganhar raízes próprias e sufocar o criador.
Os figurinos de Dória
Os mais velhos devem se lembrar de um quadro hilário do humorista Serginho Leite em que ele imitava, ao mesmo tempo, Agnaldo Rayol e Agnaldo Timóteo. Para tanto, pintava metade da cara de preto e a outra de branco e ficava com o perfil correspondente a cada Agnaldo, quando soltava a imitação.
Lembra Dória hoje.
Havia dois figurinos para o antipetismo. O mais legítimo era o da figura do gestor, divorciado da velha política, atuando cientificamente. O segundo, a do caçador de petistas, raivoso, iracundo, hidrófobo. Ambos, como antíteses do político tradicional, aquele que não se rende às facilidades das alianças ilegítimas, ao pragmatismo malandro da realpolitik.
Grandes políticos, Brizola, Covas ou Maluf, cada qual no seu campo, seguiam um conjunto de valores quase imutáveis, porque a incoerência e/ou a deslealdade, quando percebidas pelo eleitor, são veneno na veia da imagem do político. O marketing, para eles, era apenas uma maneira de projetar sua personalidade pública.
No caso de Dória, não. Ele é um androide, totalmente desenhado pelo marketing, não o marketing planejado, mas o do improviso.
O primeiro engano foi o ataque de prepotência que acomete todo espírito vaidoso, quando assume um cargo não previsto e se deslumbra. Acaba acreditando que todo mérito é seu. Lembro-me até hoje da ex-governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, me telefonando – a respeito de críticas que fiz ao seu açodamento, quando Ministra do Planejamento de Itamar – e dizendo: que culpa eu tenho de ser alta, bonita e inteligente?
Dória pegou vento a favor e passou a achar que ele conduzia o vento. Depois, assumiu e, no período de carência – que todo político eleito tem – praticou duas ou três jogadas de marketing que foram bem recebidas, justamente porque se estava no período de carência. Aí, passou a se considerar dono de uma intuição fulminante. Todos seus passos seguintes não obedeceram a nenhum planejamento. Qualquer problema poderia ser resolvido com uma desculpa criativa e um factoide qualquer.
Como alertamos várias vezes, trata-se de uma estratégia suicida. A facilidade atual em disseminar imagens exige um cuidado adicional com a superexposição. Doria passou a se comportar com mais assanhamento de uma adolescente vidrada em selfies.
E aí, apareceu o lado mais sombrio de sua personalidade: a grosseria, o oportunismo, a deslealdade, a ambição explícita. Mas, principalmente, o perfil contraditório, do sujeito que muda de opinião ao sabor das circunstâncias.
Semanas atrás, escrevi um artigo sobre a imagem tortuosa que Dória estava criando de si mesmo, do sujeito rancoroso, agressivo, desleal, de índole ruim. Dias depois, em encontro com artistas e jornalistas em sua casa, em um trecho gravado pelo Estadão, ele como que respondeu ao artigo, dizendo da impressão falsa que estava construindo sobre ele, que no fundo era um bom rapaz, coração bom, generoso etc.
Mas não adianta.
A biruta de aeroporto
Agora está em plena procela e o barco não obedece mais ao comando do piloto.
Dória precisa consolidar alianças políticas pelo país e não para de viajar. Aí, saem duas pesquisas mostrando queda na aprovação do gestor. Ele volta correndo e cria mais dois factoides. Mas, aí, percebe que Alckmin pode estar se fortalecendo em outras regiões e sai correndo atrás do prejuízo.
Nesse ínterim, sofre uma crítica de Alberto Goldman, e responde com uma agressividade sem limites, tratando Goldman como um fracassado porque velho e aposentado. Nesses tempos de insegurança generalizada com o desemprego, imagine-se como tal afirmação irá cair para os eleitores.
Nessa ânsia de agarrar todas as oportunidades, vai se ampliando a falta de coerência do seu discurso.
Confiram suas entrevistas dos últimos dias. É uma biruta de aeroporto. Diz que respeita Bolsonaro, mas seus métodos de gestão são diferentes. Que mané gestão? Entra em divididas, das quais deveria se poupar – como a questão da censura à exposição de arte – e, no momento seguinte, tem que se explicar para o público mais esclarecido. Depois, faz campanha contra a corrupção e, ao mesmo tempo, apoia Temer. Dá declarações sobre a importância de acordos políticos, para ganhar tempo de TV e, depois, faz um malabarismo incompreensível para explicar como joga de acordo com as regras do jogo da velha política, e pretende se apresentar como o novo na política.
Alckmin não é sabido, mas é esperto. Conhece suas próprias carências e se poupou ao máximo. Dória tem a imprudência dos megalômanos. E, com isso, deixou o centro democrático à procura do seu sir Galahad.
Há uma busca do candidato de um centro democrático, seja lá o que se entenda por isso.
Teoricamente, seria uma área de convivência entre liberais e sociais-democratas, que visasse preservar o país da radicalização que se anuncia e, especialmente, de um maluco de ultradireita.
O posto de candidato do centro democrático está vago.
São curiosos, aliás, os movimentos oportunistas que se formam em tempos de desconserto geral. Qualquer um se julga com oportunidade, do economista liberal aos velhos nacionalistas, passando por antigas apresentadoras de TV, apresentadores atuais. Teve 15 minutos de fama? Já pode se candidatar a presidenciável. Nem a Loto desperta tantas fantasias.
A prova dos 9 se dá quando se colocam à campo. E, aí, é ilustrativa a experiência João Doria Júnior.
Dória é um outsider que se tornou prefeito por várias razões, nenhuma ligada ao seu mérito próprio.
A primeira, ao fato do governador Geraldo Alckmin não ter um substituto à altura. Assim como outros coronéis do PSDB, Alckmin não aceita um Exército com oficiais, só sargentos que não possam questionar seu comando. Na hora das batalhas secundárias, não há oficiais disponíveis e, aí, toca a apostar em outsiders. O último político paulista desprendido foi Franco Montoro, que acabou devorado por Orestes Quércia.
A segunda, o antipetismo dos paulistas, que daria a vitória para qualquer poste. Pularam de um poste a outro até se fixar na samambaia Dória, aquela que vai se enroscando em todos os pontos, até ganhar raízes próprias e sufocar o criador.
Os figurinos de Dória
Os mais velhos devem se lembrar de um quadro hilário do humorista Serginho Leite em que ele imitava, ao mesmo tempo, Agnaldo Rayol e Agnaldo Timóteo. Para tanto, pintava metade da cara de preto e a outra de branco e ficava com o perfil correspondente a cada Agnaldo, quando soltava a imitação.
Lembra Dória hoje.
Havia dois figurinos para o antipetismo. O mais legítimo era o da figura do gestor, divorciado da velha política, atuando cientificamente. O segundo, a do caçador de petistas, raivoso, iracundo, hidrófobo. Ambos, como antíteses do político tradicional, aquele que não se rende às facilidades das alianças ilegítimas, ao pragmatismo malandro da realpolitik.
Grandes políticos, Brizola, Covas ou Maluf, cada qual no seu campo, seguiam um conjunto de valores quase imutáveis, porque a incoerência e/ou a deslealdade, quando percebidas pelo eleitor, são veneno na veia da imagem do político. O marketing, para eles, era apenas uma maneira de projetar sua personalidade pública.
No caso de Dória, não. Ele é um androide, totalmente desenhado pelo marketing, não o marketing planejado, mas o do improviso.
O primeiro engano foi o ataque de prepotência que acomete todo espírito vaidoso, quando assume um cargo não previsto e se deslumbra. Acaba acreditando que todo mérito é seu. Lembro-me até hoje da ex-governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, me telefonando – a respeito de críticas que fiz ao seu açodamento, quando Ministra do Planejamento de Itamar – e dizendo: que culpa eu tenho de ser alta, bonita e inteligente?
Dória pegou vento a favor e passou a achar que ele conduzia o vento. Depois, assumiu e, no período de carência – que todo político eleito tem – praticou duas ou três jogadas de marketing que foram bem recebidas, justamente porque se estava no período de carência. Aí, passou a se considerar dono de uma intuição fulminante. Todos seus passos seguintes não obedeceram a nenhum planejamento. Qualquer problema poderia ser resolvido com uma desculpa criativa e um factoide qualquer.
Como alertamos várias vezes, trata-se de uma estratégia suicida. A facilidade atual em disseminar imagens exige um cuidado adicional com a superexposição. Doria passou a se comportar com mais assanhamento de uma adolescente vidrada em selfies.
E aí, apareceu o lado mais sombrio de sua personalidade: a grosseria, o oportunismo, a deslealdade, a ambição explícita. Mas, principalmente, o perfil contraditório, do sujeito que muda de opinião ao sabor das circunstâncias.
Semanas atrás, escrevi um artigo sobre a imagem tortuosa que Dória estava criando de si mesmo, do sujeito rancoroso, agressivo, desleal, de índole ruim. Dias depois, em encontro com artistas e jornalistas em sua casa, em um trecho gravado pelo Estadão, ele como que respondeu ao artigo, dizendo da impressão falsa que estava construindo sobre ele, que no fundo era um bom rapaz, coração bom, generoso etc.
Mas não adianta.
A biruta de aeroporto
Agora está em plena procela e o barco não obedece mais ao comando do piloto.
Dória precisa consolidar alianças políticas pelo país e não para de viajar. Aí, saem duas pesquisas mostrando queda na aprovação do gestor. Ele volta correndo e cria mais dois factoides. Mas, aí, percebe que Alckmin pode estar se fortalecendo em outras regiões e sai correndo atrás do prejuízo.
Nesse ínterim, sofre uma crítica de Alberto Goldman, e responde com uma agressividade sem limites, tratando Goldman como um fracassado porque velho e aposentado. Nesses tempos de insegurança generalizada com o desemprego, imagine-se como tal afirmação irá cair para os eleitores.
Nessa ânsia de agarrar todas as oportunidades, vai se ampliando a falta de coerência do seu discurso.
Confiram suas entrevistas dos últimos dias. É uma biruta de aeroporto. Diz que respeita Bolsonaro, mas seus métodos de gestão são diferentes. Que mané gestão? Entra em divididas, das quais deveria se poupar – como a questão da censura à exposição de arte – e, no momento seguinte, tem que se explicar para o público mais esclarecido. Depois, faz campanha contra a corrupção e, ao mesmo tempo, apoia Temer. Dá declarações sobre a importância de acordos políticos, para ganhar tempo de TV e, depois, faz um malabarismo incompreensível para explicar como joga de acordo com as regras do jogo da velha política, e pretende se apresentar como o novo na política.
Alckmin não é sabido, mas é esperto. Conhece suas próprias carências e se poupou ao máximo. Dória tem a imprudência dos megalômanos. E, com isso, deixou o centro democrático à procura do seu sir Galahad.
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