Por Vitor Nuzzi, na Rede Brasil Atual:
Se o mundo parecia acabar e o Brasil caminhava para o abismo em certos momentos históricos, agora, mesmo sem dados efetivos, o noticiário dá conta de uma "recuperação" em curso. A diferença estava no governo da vez. "O contrário do terrorismo econômico é a euforia econômica indevida", diz a economista Leda Paulani, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), durante debate sobre a cobertura jornalística promovido pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, ontem (18) à noite, na região central de São Paulo.
Leda e o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, fizeram críticas a práticas do jornalismo, mas também apontaram erros de governos recentes, especialmente no segundo mandato de Dilma Rousseff, na condução da política econômica. Segundo Pochmann, ela levou para a Fazenda "alguém que comprovadamente tinha quebrado o Rio de Janeiro", referindo-se a Joaquim Levy.
O economista avalia que, em grande medida, a recessão – a terceira em três décadas e meia – explica a queda do governo no ano passado. "Governo que faz recessão não dura", afirma, citando o período final da ditadura e a gestão de Fernando Collor no início dos anos 1990.
Mas Pochmann também destaca a "atitude de torcida" que segundo ele a imprensa parece adotar. "O debate acerca da economia empobreceu muito. Não temos pluralidade", diz. Para ele, a abordagem no noticiário reflete, basicamente, a visão do mercado financeiro.
Leda e o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, fizeram críticas a práticas do jornalismo, mas também apontaram erros de governos recentes, especialmente no segundo mandato de Dilma Rousseff, na condução da política econômica. Segundo Pochmann, ela levou para a Fazenda "alguém que comprovadamente tinha quebrado o Rio de Janeiro", referindo-se a Joaquim Levy.
O economista avalia que, em grande medida, a recessão – a terceira em três décadas e meia – explica a queda do governo no ano passado. "Governo que faz recessão não dura", afirma, citando o período final da ditadura e a gestão de Fernando Collor no início dos anos 1990.
Mas Pochmann também destaca a "atitude de torcida" que segundo ele a imprensa parece adotar. "O debate acerca da economia empobreceu muito. Não temos pluralidade", diz. Para ele, a abordagem no noticiário reflete, basicamente, a visão do mercado financeiro.
"Outro lado"
Isso também se observa nas fontes escolhidas para comentar as notícias de economia: em geral, são analistas de mercado, economistas de bancos. "Nos anos 80, professores universitários eram muito consultados. Hoje, é difícil ver um professor universitário se posicionando", constata Pochmann, que também nota ausência de visões diferentes. "O 'outro lado' não existe", afirma.
Segundo ele, o Brasil atravessa uma fase de um capitalismo sem "força dinâmica de expansão" e com predomínio crescente do chamado rentismo. "A indústria vai sair da recessão pesando menos que 10% do PIB", diz o economista, que identifica ainda falta de debate, na imprensa, sobre as perspectivas do país, ainda mais depois da Emenda Constitucional 95, que limite gastos públicos. "Estamos numa recessão comprometendo o país pelos próximos 20 anos."
Leda critica, por exemplo, o noticiário a respeito dos resultados mais recentes do Produto Interno Bruto, que caiu 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, e teve resultados relativamente positivos nos dois últimos trimestres, sempre em relação ao imediatamente anterior: 1% no primeiro e 0,2% no segundo, o que indica, na prática, estabilidade.
O crescimento nos primeiros três meses deve-se ao crescimento da agropecuária, aponta Leda – ou seja, algo localizado e pontual. Os 0,2% foram puxados pelo consumo das famílias. "Mas uma parte substantiva desse crescimento se explica pela recuperação das contas inativas do FGTS", observa. Parte dos recursos foi usada para pagamento de dívidas, mas uma parcela foi destinada ao consumo, que estava deprimido.
Mas os analistas não falam, por exemplo, que a indústria seguiu tendo resultados negativos e, especialmente, que a Formação Bruta de Capital Fixo, um indicador de investimentos, continua caindo. Recuou, por exemplo, 6,5% no segundo trimestre em relação a igual período de 2016. Os gastos do governo também se mantêm em queda. "Como é que, com esses dados, você vai dizer que a economia está se recuperando?", questiona Leda.
Isso também se observa nas fontes escolhidas para comentar as notícias de economia: em geral, são analistas de mercado, economistas de bancos. "Nos anos 80, professores universitários eram muito consultados. Hoje, é difícil ver um professor universitário se posicionando", constata Pochmann, que também nota ausência de visões diferentes. "O 'outro lado' não existe", afirma.
Segundo ele, o Brasil atravessa uma fase de um capitalismo sem "força dinâmica de expansão" e com predomínio crescente do chamado rentismo. "A indústria vai sair da recessão pesando menos que 10% do PIB", diz o economista, que identifica ainda falta de debate, na imprensa, sobre as perspectivas do país, ainda mais depois da Emenda Constitucional 95, que limite gastos públicos. "Estamos numa recessão comprometendo o país pelos próximos 20 anos."
Leda critica, por exemplo, o noticiário a respeito dos resultados mais recentes do Produto Interno Bruto, que caiu 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, e teve resultados relativamente positivos nos dois últimos trimestres, sempre em relação ao imediatamente anterior: 1% no primeiro e 0,2% no segundo, o que indica, na prática, estabilidade.
O crescimento nos primeiros três meses deve-se ao crescimento da agropecuária, aponta Leda – ou seja, algo localizado e pontual. Os 0,2% foram puxados pelo consumo das famílias. "Mas uma parte substantiva desse crescimento se explica pela recuperação das contas inativas do FGTS", observa. Parte dos recursos foi usada para pagamento de dívidas, mas uma parcela foi destinada ao consumo, que estava deprimido.
Mas os analistas não falam, por exemplo, que a indústria seguiu tendo resultados negativos e, especialmente, que a Formação Bruta de Capital Fixo, um indicador de investimentos, continua caindo. Recuou, por exemplo, 6,5% no segundo trimestre em relação a igual período de 2016. Os gastos do governo também se mantêm em queda. "Como é que, com esses dados, você vai dizer que a economia está se recuperando?", questiona Leda.
Estado de emergência
Ela também se espanta com previsões revisadas para o PIB deste ano. Algumas consultorias, por exemplo, passaram a falar em crescimento de 1%, algo que, para ser concretizar, exigiria aumentos de 2% e 2,5% nos dois últimos trimestres. "Eu queria saber onde esses economistas foram formados", afirma Leda, para quem a economia crescerá no máximo 0,5% em 2017.
A economista também aponta um "estado de emergência econômica" latente, que seria uma característica do neoliberalismo. Isso aconteceria quando se afirma, repetidamente, que o país irá "quebrar" se não adotar esta ou aquela medida – como a reforma da Previdência. "A grande mídia faz o jogo do mercado financeiro."
O "terrorismo", diz Leda, se manifestou no segundo semestre de 2002, quando se evidenciava a vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições presidenciais, o que acabou se confirmando. Dizia-se, por exemplo, que não haveria mais estabilidade econômica. "Isso levou a uma especulação brutal da taxa de câmbio", recorda. O Brasil voltou a ficar "à beira do abismo" novamente em 2014, outro ano eleitoral. Com o atual governo, "em vez de terrorismo, se faz uma louvação econômica".
Também para ela, o capitalismo se torna "cada vez mais rentista", subordinado aos interesses do mercado financeiro. O que poderia ser feito?, pergunta um espectador do debate. Leda aponta a complexidade da situação, mas destaca que, para começar, seria necessário aumentar o investimento público, universalizar direitos e retomar políticas anticíclicas."Na crise, o Estado tem de gastar mais", afirma, observando que no Brasil "o crescimento sempre foi puxado por investimento público".
Depois da Belíndia, termo cunhado nos anos 1970 para definir a situação do Brasil, com indicadores de Primeiro Mundo e pobreza crescente ao mesmo tempo, Pochmann acredita que o país caminha para se tornar uma mistura de Bahrein ("Um país basicamente exportador de produtos primário") e Haiti, um dos países mais pobres do planeta. Um lugar com democracia apenas aparente, com dependência externa e onde "o povo não cabe no orçamento".
"Não temos mais uma hegemonia industrial. O processo não é de privatização, é de desnacionalização", afirma Pochmann. Ele observa que a venda de patrimônio ocorre em grande parte para o capital externo – e, em boa medida, estatal. As mudanças no mundo do trabalho, com terceirização e "reforma" da legislação, podem baixar a taxa de desemprego, mas por meio da fragmentação dos contratos, fazendo com que o IBGE, em muitos casos, mnão consiga identificar aquele trabalhador como desempregado.
O debate fez parte da Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, promovida pelo Barão de Itararé. Nesta sexta (20), a partir das 19h, o tema será "Os efeitos da midiática Operação Lava Jato", com o procurador e ex-ministro Eugênio Aragão, o jornalista Paulo Moreira Leite e Vaneska Teixeira Zanin Martins, advogada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela também se espanta com previsões revisadas para o PIB deste ano. Algumas consultorias, por exemplo, passaram a falar em crescimento de 1%, algo que, para ser concretizar, exigiria aumentos de 2% e 2,5% nos dois últimos trimestres. "Eu queria saber onde esses economistas foram formados", afirma Leda, para quem a economia crescerá no máximo 0,5% em 2017.
A economista também aponta um "estado de emergência econômica" latente, que seria uma característica do neoliberalismo. Isso aconteceria quando se afirma, repetidamente, que o país irá "quebrar" se não adotar esta ou aquela medida – como a reforma da Previdência. "A grande mídia faz o jogo do mercado financeiro."
O "terrorismo", diz Leda, se manifestou no segundo semestre de 2002, quando se evidenciava a vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições presidenciais, o que acabou se confirmando. Dizia-se, por exemplo, que não haveria mais estabilidade econômica. "Isso levou a uma especulação brutal da taxa de câmbio", recorda. O Brasil voltou a ficar "à beira do abismo" novamente em 2014, outro ano eleitoral. Com o atual governo, "em vez de terrorismo, se faz uma louvação econômica".
Também para ela, o capitalismo se torna "cada vez mais rentista", subordinado aos interesses do mercado financeiro. O que poderia ser feito?, pergunta um espectador do debate. Leda aponta a complexidade da situação, mas destaca que, para começar, seria necessário aumentar o investimento público, universalizar direitos e retomar políticas anticíclicas."Na crise, o Estado tem de gastar mais", afirma, observando que no Brasil "o crescimento sempre foi puxado por investimento público".
Depois da Belíndia, termo cunhado nos anos 1970 para definir a situação do Brasil, com indicadores de Primeiro Mundo e pobreza crescente ao mesmo tempo, Pochmann acredita que o país caminha para se tornar uma mistura de Bahrein ("Um país basicamente exportador de produtos primário") e Haiti, um dos países mais pobres do planeta. Um lugar com democracia apenas aparente, com dependência externa e onde "o povo não cabe no orçamento".
"Não temos mais uma hegemonia industrial. O processo não é de privatização, é de desnacionalização", afirma Pochmann. Ele observa que a venda de patrimônio ocorre em grande parte para o capital externo – e, em boa medida, estatal. As mudanças no mundo do trabalho, com terceirização e "reforma" da legislação, podem baixar a taxa de desemprego, mas por meio da fragmentação dos contratos, fazendo com que o IBGE, em muitos casos, mnão consiga identificar aquele trabalhador como desempregado.
O debate fez parte da Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, promovida pelo Barão de Itararé. Nesta sexta (20), a partir das 19h, o tema será "Os efeitos da midiática Operação Lava Jato", com o procurador e ex-ministro Eugênio Aragão, o jornalista Paulo Moreira Leite e Vaneska Teixeira Zanin Martins, advogada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
0 comentários:
Postar um comentário