Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Minha experiência como correspondente em Washington da Gazeta Mercantil, entre 1999-2001, me ensinou uma verdade que a maioria dos brasileiros desconhece.
Toda vez que o Fundo Monetário Internacional, o FMI, divulga uma nota sobre um país-membro, com avaliações e perspectivas que terão consequências diretas sobre os governos de plantão, ocorre uma última avaliação antes que ela seja divulgada.
As autoridades do país examinado não apenas são informadas sobre seu conteúdo mas têm direito a dar palpites e até tentar negociar alterações em pontos que consideram delicados demais. Essa revelação me foi feita por um dos porta-vozes do próprio FMI, quando uma nota sobre o desempenho do Brasil, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, estava demorando muito para sair, estimulando um ambiente de crítica e mal-estar entre correspondentes e enviados especiais.
“Brasília ainda não aprovou”, me disse, numa referência direta ao ministro da Fazenda Pedro Malan.
Para quem se lembra do ambiente de incerteza que costumava ser criado no país nos dias que antecediam a “nota do FMI”, como se dizia nos tempos da ditadura, essa revelação foi especialmente instrutiva, por envolver um lado desconhecido das relações entre Washington e países que na época eram chamados emergentes, como o Brasil.
Deixa claro que, muitas vezes, autoridades do governo brasileiro não só batalhavam nos bastidores pela aprovação dos dirigentes do FMI mas também usavam notas e pronunciamentos da entidade para mandar recados ao próprio país, em mensagens que seria mais complicado defender de cara limpa, com a própria voz.
Lembro dessa informação diante das referências ao Brasil num relatório sobre América Latina divulgado anteontem em Washington. A mensagem não poderia ser mais direta.
A parte que interessa aos brasileiros é a seguinte: “Nossa previsão de crescimento do Brasil em 2018 foi revisada para cima em outubro de 2017 “.
A seguir, lê-se o mais importante, uma advertência: “No entanto, a incerteza sobre o resultado da eleição pode jogar o crescimento para baixo. Para assegurar o quadro fiscal, as autoridades brasileiras planejam assumir uma prolongada consolidação, que inclui um ambicioso projeto de reforma da Previdência Social.”
Em conversa com jornalistas, o economista Alejandro Werner, que assina o estudo e é responsável pela região na estrutura do Fundo, foi um pouco mais explícito sobre o Brasil: “Um processo eleitoral com maior nível de conflito gera mais incerteza, obviamente”.
A correspondente da Folha Estelita Hass Carazzai registrou que Werner não fez referências diretas a Lula Não era preciso, até porque o relatório do FMI foi divulgado um dia depois do julgamento no TRF-4, celebrado com operações em nível recorde nos centros financeiros.
Nesta conjuntura, todos sabem qual é o nome e o sobrenome de quem deve ser apontado como espantalho que só atrapalha o crescimento, aquele que produz “mais incerteza” em função do “processo eleitoral”.
Werner se alongou em explicações sobre a Reforma da Previdência, a grande batalha do início do ano entre os interesses dos trabalhadores e maioria dos brasileiros contra os patrocinadores do golpe que afastou Dilma e agora pretende estrangular a candidatura de Lula -- com a benção do FMI.
O diretor do FMI ainda disse: “é mais importante que se faça bem do que se faça rápido”, um eufemismo para admitir as imensas dificuldades que o governo está encontrando para avançar nas mudanças, o que pode até levar a um novo adiamento de uma votação que, no calendário original, seria a primeira das reformas a serem no Congresso, ainda em 2016.
Ao dizer que é melhor fazer “bem” do que “rápido”, Werner deixou clara a exigência de um corte fundo nos benefícios que protegem a velhice da maioria dos brasileiros, ainda que o projeto Temer-Meirelles preserve privilégios de militares, do Judiciário e da alta burocracia.
Nos dois mandatos no Planalto, Lula abandonou uma fase inicial de lua-de-mel com os mercados financeiros, que implicava num tratamento mais do que cerimonioso em direção ao FMI, para comandar uma mudança na política econômica que trouxe benefícios inegáveis ao país. A virada que levou ao PAC e outros programas de investimentos públicos rebaixou o papel dos dirigentes do FMI, outrora personagens influentes nos debates econômicos de Brasília.
Por muitos anos, nunca se ouviu falar deles. O último que saiu do anonimato, o espanhol Rodrigo Rato, acabou preso em seu país, por fraude.
A volta das notas e palpites do FMI é um péssimo sinal sobre a soberania do país e uma advertência óbvia para as ameaças em nosso futuro.
Minha experiência como correspondente em Washington da Gazeta Mercantil, entre 1999-2001, me ensinou uma verdade que a maioria dos brasileiros desconhece.
Toda vez que o Fundo Monetário Internacional, o FMI, divulga uma nota sobre um país-membro, com avaliações e perspectivas que terão consequências diretas sobre os governos de plantão, ocorre uma última avaliação antes que ela seja divulgada.
As autoridades do país examinado não apenas são informadas sobre seu conteúdo mas têm direito a dar palpites e até tentar negociar alterações em pontos que consideram delicados demais. Essa revelação me foi feita por um dos porta-vozes do próprio FMI, quando uma nota sobre o desempenho do Brasil, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, estava demorando muito para sair, estimulando um ambiente de crítica e mal-estar entre correspondentes e enviados especiais.
“Brasília ainda não aprovou”, me disse, numa referência direta ao ministro da Fazenda Pedro Malan.
Para quem se lembra do ambiente de incerteza que costumava ser criado no país nos dias que antecediam a “nota do FMI”, como se dizia nos tempos da ditadura, essa revelação foi especialmente instrutiva, por envolver um lado desconhecido das relações entre Washington e países que na época eram chamados emergentes, como o Brasil.
Deixa claro que, muitas vezes, autoridades do governo brasileiro não só batalhavam nos bastidores pela aprovação dos dirigentes do FMI mas também usavam notas e pronunciamentos da entidade para mandar recados ao próprio país, em mensagens que seria mais complicado defender de cara limpa, com a própria voz.
Lembro dessa informação diante das referências ao Brasil num relatório sobre América Latina divulgado anteontem em Washington. A mensagem não poderia ser mais direta.
A parte que interessa aos brasileiros é a seguinte: “Nossa previsão de crescimento do Brasil em 2018 foi revisada para cima em outubro de 2017 “.
A seguir, lê-se o mais importante, uma advertência: “No entanto, a incerteza sobre o resultado da eleição pode jogar o crescimento para baixo. Para assegurar o quadro fiscal, as autoridades brasileiras planejam assumir uma prolongada consolidação, que inclui um ambicioso projeto de reforma da Previdência Social.”
Em conversa com jornalistas, o economista Alejandro Werner, que assina o estudo e é responsável pela região na estrutura do Fundo, foi um pouco mais explícito sobre o Brasil: “Um processo eleitoral com maior nível de conflito gera mais incerteza, obviamente”.
A correspondente da Folha Estelita Hass Carazzai registrou que Werner não fez referências diretas a Lula Não era preciso, até porque o relatório do FMI foi divulgado um dia depois do julgamento no TRF-4, celebrado com operações em nível recorde nos centros financeiros.
Nesta conjuntura, todos sabem qual é o nome e o sobrenome de quem deve ser apontado como espantalho que só atrapalha o crescimento, aquele que produz “mais incerteza” em função do “processo eleitoral”.
Werner se alongou em explicações sobre a Reforma da Previdência, a grande batalha do início do ano entre os interesses dos trabalhadores e maioria dos brasileiros contra os patrocinadores do golpe que afastou Dilma e agora pretende estrangular a candidatura de Lula -- com a benção do FMI.
O diretor do FMI ainda disse: “é mais importante que se faça bem do que se faça rápido”, um eufemismo para admitir as imensas dificuldades que o governo está encontrando para avançar nas mudanças, o que pode até levar a um novo adiamento de uma votação que, no calendário original, seria a primeira das reformas a serem no Congresso, ainda em 2016.
Ao dizer que é melhor fazer “bem” do que “rápido”, Werner deixou clara a exigência de um corte fundo nos benefícios que protegem a velhice da maioria dos brasileiros, ainda que o projeto Temer-Meirelles preserve privilégios de militares, do Judiciário e da alta burocracia.
Nos dois mandatos no Planalto, Lula abandonou uma fase inicial de lua-de-mel com os mercados financeiros, que implicava num tratamento mais do que cerimonioso em direção ao FMI, para comandar uma mudança na política econômica que trouxe benefícios inegáveis ao país. A virada que levou ao PAC e outros programas de investimentos públicos rebaixou o papel dos dirigentes do FMI, outrora personagens influentes nos debates econômicos de Brasília.
Por muitos anos, nunca se ouviu falar deles. O último que saiu do anonimato, o espanhol Rodrigo Rato, acabou preso em seu país, por fraude.
A volta das notas e palpites do FMI é um péssimo sinal sobre a soberania do país e uma advertência óbvia para as ameaças em nosso futuro.
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