quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Lava-Jato empobrece empresas brasileiras

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

O problema é que eles, os donos, querem se salvar. Eles não querem salvar a empresa. Eles querem salvar a sua propriedade sobre a empresa. Por que eles não vendem?

(Carlos Fernando dos Santos Lima, procurador da República, na Folha).

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Faz sentido a pergunta feita pelo procurador, um dos expoentes da tropa de choque da Lava Jato.

Quase quatro anos após a deflagração da “maior operação de combate à corrupção da história da humanidade”, eixo central das eleições de 2018 no Brasil e em outros países, um breve balanço dos resultados dá plena razão a Santos Lima, que conhece bem a história.

Basta pegar o exemplo da Odebrecht, a empresa mais atingida pela Lava Jato. Neste período, a empresa demitiu 100 mil funcionários, a metade do que tinha em 2014, e viu a receita diminuir em 32%, caindo de R$ 132 bilhões em 2015 para R$ 90 bilhões em 2016.

No Brasil da Lava Jato, as empresas empobrecem, perdendo faturamento e valor de mercado, multiplica-se o contingente de desempregados, mas os empresários continuam ricos, muito ricos, já que aqui não se costuma taxar as grandes fortunas.

Depois de passar dois anos e meio na cadeia em Curitiba, o capo da empresa, Marcelo Odebrechet já está em casa, ou melhor, na sua belíssima mansão no Morumbi, desfrutando de todas as mordomias que tinha antes. Não se tem notícia de que sua fortuna pessoal tenha perdido um único centavo.

Para justificar a demolição das maiores empreiteiras brasileiras, a Lava Jato promove eventos para devolver à Petrobras o dinheiro roubado, mas é bom dar uma olhada nestes números.

No total, já foram recuperados R$ 11,5 bilhões, mas a Petrobras anunciou, nesta quarta-feira, que vai propor o pagamento de uma multa de US$ 2,95 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões) para encerrar as ações movidas contra a empresa nos Estados Unidos.

Ou seja, quase a totalidade do dinheiro pago nos acordos de leniência no Brasil vai agora para para os americanos que processaram a empresa.

E estes números vêm caindo: de R$ 8 bilhões recuperados em 2016, o total caiu para R$ 839 milhões este ano (uma queda de 90%) - a mesma quantia gasta anualmente pelo governo federal só para custear a Controladoria Geral da União, um dos órgãos que cuida destes acordos.

Os tribunais de Contas da União e dos Estados, que deveriam zelar para evitar o desvio de bilhões de reais no esquema de corrupção público-privado montado há mais de 30 anos no Brasil, segundo o patriarca da maior empreiteira do país, Emílio Odebrecht, consomem outros R$ 10,8 bilhões por ano, pouco menos que o total recuperado pela operação e o que a Petrobras agora vai pagar de multa nos Estados Unidos.

Nada disso é citado nas festivas entrevistas coletivas da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, nem contestado pelos repórteres, na apresentação dos frequentes balanços da operação. Certamente, não vem ao caso.

É o caso de perguntar que fim levaram as delações do fim do mundo, que até hoje não mereceram um único julgamento de político com mandato denunciado no Supremo Tribunal Federal, com a honrosa exceção de Eduardo Cunha.

Só os 77 executivos da Odebrecht delataram 415 políticos de 26 partidos.

Os irmãos Batista da JBS confessaram que pagaram propina a 1829 políticos de 29 partidos.

Sobrou alguém? O que foi feito dos rigorosos inquéritos da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e do Supremo Tribunal Federal para punir os delatados? Por que ninguém mais fala destas delações e não se tem notícia sobre o andamento dos processos?

Empreiteiros e agentes públicos delatores já estão em sua grande maioria cumprindo penas domiciliares em locais aprazíveis incomodados apenas pelas tornozeleiras.

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Numa das crises do programa Casseta & Planeta Urgente, o diretor José Lavigne, ameaçado de demissão, entrou na sala de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, criador e mentor do Padrão Globo de Qualidade, e foi logo reconhecendo o erro que havia cometido.

- Eu vim aqui só pra te dizer uma coisa: fiz merda.

Boni não o chutou da sala, como conta Guilherme Fiuza, o autor da alentada biografia de Bussunda, que li agora nos dias de folga do fim de ano. E sacou um “inusitado raciocínio contábil”:

- Olha, na verdade, eu não te demiti. Vi aqui que você acabou de renovar contrato. Se te demito, você recebe uma boa grana pra ficar à toa e ainda periga voltar pra cá. Vamos fazer uma coisa melhor: assina aí um cheque de 5 mil reais nominal à Casa dos Artistas. Se não doer no bolso, você não vai aprender.

Bem que os nossos heróis justiceiros da Lava Jato poderiam seguir esta lição do Boni: tem que doer no bolso.

Leitores aqui do Balaio sugeriram a mesma coisa neste rocambolesco episódio da prisão de Paulo Maluf, vinte anos após o crime cometido.

Em vez de prendê-lo na Papuda, aos 86 anos, alquebrado e doente, por que não o obrigam a devolver toda a grana que malufou dos cofres públicos? _ não com o dinheiro das suas empresas, mas do seu próprio bolso.

Os heróis justiceiros da Lava Jato deveriam pensar nisso. Em vez de gastar dinheiro público com réus presos, poderiam incrementar a arrecadação para combater o rombo fiscal. O Brasil só ganharia com isso.

Vida que segue.

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