Tão rápido como entrou na semana passada, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, denunciado como o homem da mala dos governos do PSDB em São Paulo, desapareceu do noticiário.
Como as novas ações da Polícia Federal na caça aos corruptos deflagradas nos últimos dias passaram ao largo de tucanos, com exceção do governo do Paraná, o nome de Paulo Preto não surgiu em nenhuma operação da Lava Jato até agora.
O inquérito sobre peculato aberto pelo Ministério Público Federal para investigar Paulo Preto tramita na 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, estado controlado pelo PSDB há mais de vinte anos, onde a Justiça parece não ter pressa para julgar e punir corruptos de alto calibre.
Vários delatores da Lava Jato apontaram o ex-diretor da Dersa nos governos tucanos como operador de propinas para o partido, acusação que ele nega, mas não há risco do processo ir para o juiz Sergio Moro em Curitiba. Ele prefere Brasília.
Só na noite desta terça-feira encontrei um registro sobre o destino das investigações que envolvem Paulo Preto.
“Destino de investigação sobre Paulo Preto está nas mãos de Gilmar Mendes”, informa o repórter André Guilherme Vieira, do jornal Valor. Ah, bom…
A defesa dele, liderada pelo ex-subprocurador Geral da República José Roberto Santoro, joga todas as fichas numa decisão favorável do ministro Gilmar Mendes para levar o processo ao Supremo Tribunal Federal, por conexão dos fatos com os inquéritos das delações da Odebrecht em que os senadores José Serra e Aloysio Nunes Ferreira, atual ministro de Relações Exteriores, são investigados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Paulo Preto também quer ter direito ao foro privilegiado, assim como Serra e Aloysio, no caso em que se apura suposto recebimento de vantagem indevida envolvendo contrato celebrado entre o governo de São Paulo e um consórcio de empreiteiras para a construção do trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo, acusação que ambos negam.
Gilmar Mendes é o relator do processo. Raquel Dodge, a procuradora-geral da República, já se manifestou contrária ao envio das investigações sobre Paulo Preto para o STF e defende que o processo continue com o MPF de São Paulo.
Dodge alega que o “requerente parece possuir um variado portfólio criminoso, mas com ações não necessariamente entrelaçadas”.
Neste vai-não-vai, o tempo passa e, como a investigação se refere a fatos ocorridos entre 2009 e 2012, nos governos de Geraldo Alckmin e José Serra, logo, logo tudo estará prescrito.
O nome de Paulo Preto só reapareceu no noticiário graças a uma “comunicação espontânea” feita por autoridades da Suíça informando que, em 2006, quatro contas bancárias no nome dele tinham um saldo de 35 milhões de dólares, cerca de R$ 113 milhões, ou seja, mais do que o dobro do total encontrado em malas num apartamento de Geddel Vieira Lima, em Salvador.
A investigação corria sob sigilo em São Paulo e só depois disso tornou-se pública, quando o MPF anexou as informações da Suíça no processo remetido a Brasília.
Antes disso, Paulo Preto só virou notícia em 2010, quando foi citado por Dilma Rousseff no último debate com José Serra na campanha presidencial, após o ex-diretor ser acusado pela revista IstoÉ de ter sumido com R$ 4 milhões do “caixa dois” da campanha do PSDB.
Estamos já em 2018, e tudo indica que ainda vai levar muito tempo até o denunciado ir a julgamento, se é que isso um dia vá acontecer.
Basta lembrar que Paulo Maluf só foi preso após julgamento no STF, no final do ano passado, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro ocorridos vinte anos atrás, quando era prefeito de São Paulo.
Até hoje, nenhum político denunciado na Operação Lava Jato, deflagrada há quatro anos, foi levado a julgamento no STF.
E vida que segue.
0 comentários:
Postar um comentário