Seria uma impensável discriminação ter falado aqui do Doutor Gaveta, que advoga para os tucanos, fazendo serem esquecidas as investigações sobre o explosivo Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, e não fazer o registro que há gavetas superiores que ameaçam desbancar os mais lendários adormecedores de processo que já tiveram assento no Supremo Tribunal Federal.
A sua presidente, Cármen Lúcia, contra a vontade manifesta de vários ministros, sinaliza que não colocará o pedido de habeas-corpus do ex-presidente Lula em pauta, embora o próprio relator, Edson Fachin, tenha colocado o caso como pronto para ser julgado em plenário.
Chega, como registra o Painel da Folha, hoje, à grosseria de protelar, sem resposta, um pedido de audiência do advogado Sepúlveda Pertence – um direito explicitado na Lei 8.906/94: que lhe garante “dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de horário previamente marcado ou outra condição” -, ao qual se acresce a suprema descortesia de ser um ex-presidente daquela Corte.
A coisa é tão evidente que é provável que, esta semana, acabe sendo cobrada de viva voz, em sessão do STF, infelizmente uma situação que já não é impensável numa corte antes marcada pela sobriedade de seus integrantes.
Infelizmente, a Dra. Cármen não parece estar só na seletividade de seu rigor.
A Procuradora Raquel Dodge também opinou contrariamente à quebra do sigilo bancário e fiscal de Michel Temer, no caso do suposto favorecimento no Porto de Santos. Alega que não há indícios para isso, embora os diálogos de Rocha Loures – aquele sobre o qual o chefe da PF diz que “uma mala de dinheiro só não é indício de crime” – sejam bastante claros e haja planilhas cheias de evidências em casos anteriores, com os mesmos personagem e cenário.
“Ainda não há elementos que justifiquem a medida”, diz ela, contrastando com a postura de quem, por muito menos, pede a prisão de alguém.
Chega a ser irônico que ela peça que o Diretor Geral da PF, Fernando Segóvia, não se intrometa no inquérito. Parece um “deixa que eu resolvo”, quando se soma isso à anulação da delação dos Batista, que, apesar do mise en scène, provavelmente levará à anulação das provas colhidas através dela.
As excelentíssimas gavetas estão a pleno vapor.
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