Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Em outras circunstâncias, o presidente Michel Temer já teria sido alvo da terceira denúncia por corrupção passiva ou já teria sofrido impeachment.
O inquérito sobre o decreto dos portos reúne uma fartura de indícios de que o coronel João Batista Lima recebeu propinas que, de alguma forma, foram usadas para atender a necessidades da vida “pública e privada” de Temer.
Foi o que disse o delegado responsável, Cleyber Malta Lopes, no relatório em que pediu ontem a prorrogação do inquérito por mais 60 dias. O ministro do STF Roberto Barroso o autorizou a continuar investigando até agosto, quando receberá o parecer da Procuradoria Geral da República sobre o pedido.
Se novos 60 dias forem concedidos, na terceira prorrogação do prazo para conclusão do inquérito, ele só estará pronto em 10 de setembro, já que o prazo atual expira em 10 de julho.
Estará faltando menos de um mês para o primeiro turno da eleição.
Recebendo as conclusões, a procuradora-geral Raquel Dodge, precisaria de pelo menos 15 dias para examiná-lo, decidindo por seu arquivamento ou pela apresentação da denúncia. Já estaríamos nas vésperas do pleito.
É pouco provável que ela decida atiçar o fogaréu da campanha.
Por outro lado, pelo que já foi apurado, pedir o arquivamento seria um suicídio biográfico.
Sabe-se que a empresa do coronel, a Argeplan, fez pagamentos de R$ 950 mil em dinheiro vivo, relativos à reforma da casa da filha de Temer em 2014, ano em que os delatores da JBS disseram ter entregado R$ 1 milhão ao coronel, destinados ao presidente. Surgiu agora uma offshore que recebeu muito dinheiro de empresas que atuam no porto de Santos, o feudo histórico de Temer. Para o delegado, pura triangulação.
Por estas circunstâncias temporais e políticas, Barroso vai assando lentamente a batata de Temer com prorrogações, até que o mandato acabe. É melancólico, mas muito possivelmente a maioria dos brasileiros também ache que não vale mais a pena pagar o custo por seu afastamento.
Lembo, Lula, minoria branca...
Cláudio Lembo é um liberal-conservador que já pertenceu à Arena, ao PDS e ao PFL, hoje Democratas.
Como vice de Geraldo Alckmin, herdou o governo de São Paulo quando o tucano deixou o cargo, em 2006, para disputar a Presidência com Lula.
Desde então, tem demonstrado que franqueza e coragem para dizer verdades são virtudes sem cor ideológica.
Naquele ano, a organização criminosa PCC deflagrou uma onda de ataques violentos na capital paulista, que deixou o saldo de 145 mortos. Lembo segurou o rojão mas foi abandonado pelos tucanos que o colocaram na cadeira, como vice da coligação PSDB-PFL. Alckmin telefonou duas vezes. José Serra, que disputava o governo, nem isso.
Dias depois Lembo deu uma entrevista histórica a Mônica Bérgamo, na Folha de S. Paulo, em que disse coisas assim: “Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa”.
Foi a primeira vez que alguém da própria elite falou de sua brancura e reconheceu seu cinismo: “A casa-grande tinha tudo e a senzala não tinha nada. Mas quando os escravos foram libertados, quem recebeu indenização foi o senhor e não os libertos, como nos EUA. O cinismo nacional mata o Brasil. Este país tem que deixar de ser cínico”.
Ontem, participando de um debate entre juristas, em São Paulo, ele voltou a falar da elite branca, chamando-a, com mais precisão, de minoria branca: “Lula salvou o Brasil em determinado momento e a inveja da minoria branca é imensa. Ele vai ficar preso. Não há como tirá-lo de Curitiba”, profetizou, criticando as prisões após condenação em segunda instância e os superpoderes do Supremo.
Para ele, o momento atual não tem precedentes.
“Já vivi momentos difíceis, como o regime militar, a ditadura. Mas nunca vi nada tão imoral”.
Num tempo em que a hipocrisia impera, é confortador que ainda existam políticos que não correm da verdade.
Raros, é claro.
Em outras circunstâncias, o presidente Michel Temer já teria sido alvo da terceira denúncia por corrupção passiva ou já teria sofrido impeachment.
O inquérito sobre o decreto dos portos reúne uma fartura de indícios de que o coronel João Batista Lima recebeu propinas que, de alguma forma, foram usadas para atender a necessidades da vida “pública e privada” de Temer.
Foi o que disse o delegado responsável, Cleyber Malta Lopes, no relatório em que pediu ontem a prorrogação do inquérito por mais 60 dias. O ministro do STF Roberto Barroso o autorizou a continuar investigando até agosto, quando receberá o parecer da Procuradoria Geral da República sobre o pedido.
Se novos 60 dias forem concedidos, na terceira prorrogação do prazo para conclusão do inquérito, ele só estará pronto em 10 de setembro, já que o prazo atual expira em 10 de julho.
Estará faltando menos de um mês para o primeiro turno da eleição.
Recebendo as conclusões, a procuradora-geral Raquel Dodge, precisaria de pelo menos 15 dias para examiná-lo, decidindo por seu arquivamento ou pela apresentação da denúncia. Já estaríamos nas vésperas do pleito.
É pouco provável que ela decida atiçar o fogaréu da campanha.
Por outro lado, pelo que já foi apurado, pedir o arquivamento seria um suicídio biográfico.
Sabe-se que a empresa do coronel, a Argeplan, fez pagamentos de R$ 950 mil em dinheiro vivo, relativos à reforma da casa da filha de Temer em 2014, ano em que os delatores da JBS disseram ter entregado R$ 1 milhão ao coronel, destinados ao presidente. Surgiu agora uma offshore que recebeu muito dinheiro de empresas que atuam no porto de Santos, o feudo histórico de Temer. Para o delegado, pura triangulação.
Por estas circunstâncias temporais e políticas, Barroso vai assando lentamente a batata de Temer com prorrogações, até que o mandato acabe. É melancólico, mas muito possivelmente a maioria dos brasileiros também ache que não vale mais a pena pagar o custo por seu afastamento.
Lembo, Lula, minoria branca...
Cláudio Lembo é um liberal-conservador que já pertenceu à Arena, ao PDS e ao PFL, hoje Democratas.
Como vice de Geraldo Alckmin, herdou o governo de São Paulo quando o tucano deixou o cargo, em 2006, para disputar a Presidência com Lula.
Desde então, tem demonstrado que franqueza e coragem para dizer verdades são virtudes sem cor ideológica.
Naquele ano, a organização criminosa PCC deflagrou uma onda de ataques violentos na capital paulista, que deixou o saldo de 145 mortos. Lembo segurou o rojão mas foi abandonado pelos tucanos que o colocaram na cadeira, como vice da coligação PSDB-PFL. Alckmin telefonou duas vezes. José Serra, que disputava o governo, nem isso.
Dias depois Lembo deu uma entrevista histórica a Mônica Bérgamo, na Folha de S. Paulo, em que disse coisas assim: “Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa”.
Foi a primeira vez que alguém da própria elite falou de sua brancura e reconheceu seu cinismo: “A casa-grande tinha tudo e a senzala não tinha nada. Mas quando os escravos foram libertados, quem recebeu indenização foi o senhor e não os libertos, como nos EUA. O cinismo nacional mata o Brasil. Este país tem que deixar de ser cínico”.
Ontem, participando de um debate entre juristas, em São Paulo, ele voltou a falar da elite branca, chamando-a, com mais precisão, de minoria branca: “Lula salvou o Brasil em determinado momento e a inveja da minoria branca é imensa. Ele vai ficar preso. Não há como tirá-lo de Curitiba”, profetizou, criticando as prisões após condenação em segunda instância e os superpoderes do Supremo.
Para ele, o momento atual não tem precedentes.
“Já vivi momentos difíceis, como o regime militar, a ditadura. Mas nunca vi nada tão imoral”.
Num tempo em que a hipocrisia impera, é confortador que ainda existam políticos que não correm da verdade.
Raros, é claro.
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