Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Durante muito tempo parte da esquerda queria uma burguesia para chamar de sua. Que fosse nacionalista, desenvolvimentista, ligada ao progresso industrial. Mesmo que fosse para ser descartada depois, a burguesia nacional era uma etapa importante para a autonomia do país frente a interesses internacionais e uma fonte de modernidade para enfrentar o passado tacanho e conservador em termos econômicos e de valores.
Hoje a situação parece ter se invertido e é a burguesia que quer um fascista para chamar de seu. A recente aproximação do setor empresarial a Jair Bolsonaro deixa claro que o candidato da extrema direita é tudo que eles precisam. Os representantes do capital brasileiro decidiram furar o bloqueio da política e tomar conta diretamente de seus interesses. Para isso, separaram bem as coisas. A economia fica com eles, o resto é entregue como caução aos conservadores mirins que se acham no comando e se agitam nas redes sociais.
Para a burguesia, agora, tanto faz se o candidato defende a ditadura civil-militar, a tortura, o fascismo e toda sorte de enormidades. Não o querem para genro. Isolados da vida real da maioria dos brasileiros, os empresários brasileiros não se aferram a valores morais ou de comportamento. Seu negócio sempre foi a grana. Escola sem partido, Exército nas ruas, LGBTfobia, cultura do estupro e censura não fazem parte de suas preocupações. Essa pauta sempre foi da pequena burguesia e dos trabalhadores.
Uma vez que a candidatura dita “de centro” não decolou e que o custo do apoio dos partidos de balcão – MDB e Centrão – está cada vez mais alto, Jair Bolsonaro passa a servir. No duplo sentido. Atende aos anseios eleitorais, bastando para isso levar adiante a inviabilização da candidatura de Lula (o que tem seu preço, mas é negociável fora da política, com a estrutura judicial e a mídia). E tem se mostrado de serventia quando o assunto é economia. Ele confessa orgulhosa ignorância e submissão aos papas do liberalismo de cátedra e banca.
Depois de entregar a economia a um leão-de-chácara do mercado, o ex-capitão passou a ser ovacionado em eventos empresariais e elogiado por lideranças patronais. O roteiro entregue a ele é tão singelo que mesmo com suas reconhecidas limitações intelectuais e de caráter, ele tem dado conta. Basta defender a radicalização da reforma trabalhista, a reforma previdenciária que tira dos pobres para garantir a pensão dos militares e filhas, a privatização sem limites. E repetir, como um papagaio, o discurso da corrupção sistêmica e da incompetência geral do Estado. Feito isso, fica liberado para vomitar suas asneiras.
Os empresários perderam até mesmo a vergonha de defender a aberração moral que o candidato do PSL representa. Se antes se mantinham discretos esperando a decolagem do Santo, agora saíram do armário de seus preconceitos. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse não temer a eventual vitória de Bolsonaro. Para ele, o importante é um presidente que faça o país crescer. “Pode ser de direita, ou quem quer que seja”. Pelo visto, até um fascista.
Quando se trata de um defensor da tortura e do assassinato como política de governo na área da segurança e das questões fundiárias (os exemplos de boca própria do ex-capitão estão ao alcance de um google), a casual aceitação da vitória é um ato no mínimo irresponsável para a maior liderança do setor produtivo. Não se trata apenas de não temer, mas de rechaçar com veemência.
Robson não está sozinho nem adiante de sua camarilha. Mesmo que não lhe prometa o voto, o presidente do Sindicato da Indústria de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar de São Paulo confessou sobre o candidato: “Diz aquilo que nós ansiamos ouvir todos os dias”. Ele pode se defender dizendo que abre seus ouvidos para palavras ligadas à economia, mas não deve se esquecer que partem da mesma boca que ataca valores humanos e de civilização.
O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe Nogueira, chegou a declarar que a aprovação do candidato pelos empresários “é uma reação natural”. Ele se referia à manifestação pública do ex-militar em defesa da reforma trabalhista. Que ele achou até mesmo “tímida”. Roscoe ainda elogiou o despreparo do militar, transformando em mérito a ignorância confessa: “Não precisa disso (entender de economia) para ocupar o cargo”.
Conforme divulgado pelos próprios empresários ou pelo comando de campanha, Bolsonaro tem mantido conversas com Abílio Diniz, sócios e executivos de grandes grupos e bancos, como Itaú, Unibanco, Votorantim, Cosan, Suzano e Ultra. Disciplinado, chegou a deixar claro que segue o manual da caserna e que é bom em matéria de obedecer ordens: “Não faremos nada da nossa cabeça. Os senhores que estão na ponta das empresas serão nossos patrões”. Divisão de tarefas: os empresários serão chefes na economia; o capitão colocará ordem na casa.
Pode parecer que é tudo jogo de cena dos dois lados. O capital dá linha – e grana – para garantir o controle dos negócios, mesmo tendo que tapar o nariz. Sabe bem que a corda do atraso vai se romper longe de seus domínios e interesses. Já os conservadores de maré baixa rifam as conquistas sociais e trabalhistas em nome da pauta da reação. Bolsonaro é a consagração do pior dos dois mundos, a se nutrir dos maiores defeitos de seus apoiadores: a ganância da burguesia e o ressentimento da classe média.
O candidato iniciou a campanha como um peão para marcar posição e permitir a expressão da fatia mais radical do ódio reacionário, que poderia ser manipulado contra a esquerda. Está se tornando uma peça mais estratégica no jogo, surfando no vazio não previsto da centro-direita e se tornando um interlocutor valorizado pelo setor produtivo e especulativo.
O saldo, em razão desse processo, tem sido negativo para a burguesia sempre ciosa de sua posição de destaque na sociedade brasileira. Bolsonaro, de quem pouco se espera, nada perdeu ao assumir o ultraliberalismo dos representantes do capital, deixando de lado o nacionalismo rasteiro do militarismo. Já os empresários veem desmanchar a cada dia o discreto charme do manto de classe que sempre ostentaram. Aos poucos, vão ganhando a segunda pele da serpente da barbárie.
Hoje a situação parece ter se invertido e é a burguesia que quer um fascista para chamar de seu. A recente aproximação do setor empresarial a Jair Bolsonaro deixa claro que o candidato da extrema direita é tudo que eles precisam. Os representantes do capital brasileiro decidiram furar o bloqueio da política e tomar conta diretamente de seus interesses. Para isso, separaram bem as coisas. A economia fica com eles, o resto é entregue como caução aos conservadores mirins que se acham no comando e se agitam nas redes sociais.
Para a burguesia, agora, tanto faz se o candidato defende a ditadura civil-militar, a tortura, o fascismo e toda sorte de enormidades. Não o querem para genro. Isolados da vida real da maioria dos brasileiros, os empresários brasileiros não se aferram a valores morais ou de comportamento. Seu negócio sempre foi a grana. Escola sem partido, Exército nas ruas, LGBTfobia, cultura do estupro e censura não fazem parte de suas preocupações. Essa pauta sempre foi da pequena burguesia e dos trabalhadores.
Uma vez que a candidatura dita “de centro” não decolou e que o custo do apoio dos partidos de balcão – MDB e Centrão – está cada vez mais alto, Jair Bolsonaro passa a servir. No duplo sentido. Atende aos anseios eleitorais, bastando para isso levar adiante a inviabilização da candidatura de Lula (o que tem seu preço, mas é negociável fora da política, com a estrutura judicial e a mídia). E tem se mostrado de serventia quando o assunto é economia. Ele confessa orgulhosa ignorância e submissão aos papas do liberalismo de cátedra e banca.
Depois de entregar a economia a um leão-de-chácara do mercado, o ex-capitão passou a ser ovacionado em eventos empresariais e elogiado por lideranças patronais. O roteiro entregue a ele é tão singelo que mesmo com suas reconhecidas limitações intelectuais e de caráter, ele tem dado conta. Basta defender a radicalização da reforma trabalhista, a reforma previdenciária que tira dos pobres para garantir a pensão dos militares e filhas, a privatização sem limites. E repetir, como um papagaio, o discurso da corrupção sistêmica e da incompetência geral do Estado. Feito isso, fica liberado para vomitar suas asneiras.
Os empresários perderam até mesmo a vergonha de defender a aberração moral que o candidato do PSL representa. Se antes se mantinham discretos esperando a decolagem do Santo, agora saíram do armário de seus preconceitos. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse não temer a eventual vitória de Bolsonaro. Para ele, o importante é um presidente que faça o país crescer. “Pode ser de direita, ou quem quer que seja”. Pelo visto, até um fascista.
Quando se trata de um defensor da tortura e do assassinato como política de governo na área da segurança e das questões fundiárias (os exemplos de boca própria do ex-capitão estão ao alcance de um google), a casual aceitação da vitória é um ato no mínimo irresponsável para a maior liderança do setor produtivo. Não se trata apenas de não temer, mas de rechaçar com veemência.
Robson não está sozinho nem adiante de sua camarilha. Mesmo que não lhe prometa o voto, o presidente do Sindicato da Indústria de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar de São Paulo confessou sobre o candidato: “Diz aquilo que nós ansiamos ouvir todos os dias”. Ele pode se defender dizendo que abre seus ouvidos para palavras ligadas à economia, mas não deve se esquecer que partem da mesma boca que ataca valores humanos e de civilização.
O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe Nogueira, chegou a declarar que a aprovação do candidato pelos empresários “é uma reação natural”. Ele se referia à manifestação pública do ex-militar em defesa da reforma trabalhista. Que ele achou até mesmo “tímida”. Roscoe ainda elogiou o despreparo do militar, transformando em mérito a ignorância confessa: “Não precisa disso (entender de economia) para ocupar o cargo”.
Conforme divulgado pelos próprios empresários ou pelo comando de campanha, Bolsonaro tem mantido conversas com Abílio Diniz, sócios e executivos de grandes grupos e bancos, como Itaú, Unibanco, Votorantim, Cosan, Suzano e Ultra. Disciplinado, chegou a deixar claro que segue o manual da caserna e que é bom em matéria de obedecer ordens: “Não faremos nada da nossa cabeça. Os senhores que estão na ponta das empresas serão nossos patrões”. Divisão de tarefas: os empresários serão chefes na economia; o capitão colocará ordem na casa.
Pode parecer que é tudo jogo de cena dos dois lados. O capital dá linha – e grana – para garantir o controle dos negócios, mesmo tendo que tapar o nariz. Sabe bem que a corda do atraso vai se romper longe de seus domínios e interesses. Já os conservadores de maré baixa rifam as conquistas sociais e trabalhistas em nome da pauta da reação. Bolsonaro é a consagração do pior dos dois mundos, a se nutrir dos maiores defeitos de seus apoiadores: a ganância da burguesia e o ressentimento da classe média.
O candidato iniciou a campanha como um peão para marcar posição e permitir a expressão da fatia mais radical do ódio reacionário, que poderia ser manipulado contra a esquerda. Está se tornando uma peça mais estratégica no jogo, surfando no vazio não previsto da centro-direita e se tornando um interlocutor valorizado pelo setor produtivo e especulativo.
O saldo, em razão desse processo, tem sido negativo para a burguesia sempre ciosa de sua posição de destaque na sociedade brasileira. Bolsonaro, de quem pouco se espera, nada perdeu ao assumir o ultraliberalismo dos representantes do capital, deixando de lado o nacionalismo rasteiro do militarismo. Já os empresários veem desmanchar a cada dia o discreto charme do manto de classe que sempre ostentaram. Aos poucos, vão ganhando a segunda pele da serpente da barbárie.
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