Por Pedro Breier, no blog Cafezinho:
Saí para almoçar no último domingo e deparei-me com uma pequena fila de espera no restaurante escolhido. Um camarada que tomava uma cerveja enquanto aguardava o seu prato ofereceu, generosamente, um lugar na sua mesa. Aceitei.
A conversa descambou, como não poderia deixar de ser, para a política. O camarada, que é diretor de cinema, tinha uma visão claramente de esquerda das coisas. Ele falou o óbvio ululante que os direitistas não percebem (ou não querem perceber):
– O cara que mora na favela, que cresce na miséria, no meio do tráfico, vai pra uma escola caindo aos pedaços, como esse cara vai ser alguém na vida?
Concordamos que não haverá melhora no país sem educação pública de qualidade para todo mundo e sem que haja o mínimo de estrutura para os pobres progredirem na vida.
Então ele falou que estava pensando em votar no João Amoedo, do partido Novo, ou no Ciro Gomes.
Argumentei que os projetos de ambos são antagônicos. Que o partido Novo defende o Estado mínimo, ou seja, nada de educação pública de qualidade ou qualquer outro investimento estatal voltado para a inclusão social ou o fomento da economia. Para eles o mercado resolve tudo e isso, obviamente, é história pra boi dormir.
Ele concordou sobre a necessidade de investimento estatal e disse que iria estudar melhor as propostas do Novo.
Corta para hoje, terça-feira, 24 de julho, dia do calouro, segundo a Wikipedia.
O Globo estampa em seu site a manchete “Renda menor e desemprego tiram alunos das faculdades privadas”, como que a ironizar o dia dos novatos das faculdades. Uma triste e cruel consequência da queda da renda da população, provocada pelo desemprego galopante, e do esvaziamento do Fies obrado pelo governo sem voto de Temer.
A notícia é seguida de uma entrevista: “‘Instituições precisam parar de chorar e cair na realidade’, diz especialista”.
Carlos Monteiro, o tal especialista, não fala uma vírgula sobre a culpa do governo nessa situação – no que é ajudado pela entrevista amiga – e culpa as instituições de ensino, “que ficaram mal acostumadas com o dinheiro que vinha fácil do Fies”. Para ele, “dar descontos não é a saída” e a solução é “criar modelos de financiamento de longo prazo”.
Ou seja, sem Fies e sem descontos, os pobres que se danem e vão trabalhar de pedreiro ou faxineira.
A escolha do especialista mostra que permanece a postura histórica da Globo: lutar ferozmente para que a educação no Brasil permaneça restrita às classes mais abastadas. Quando Brizola perguntou a Roberto Marinho sua opinião sobre os CIEPs, projeto revolucionário de educação pública e de qualidade, este respondeu:
Olha, governador, se o senhor quer construir escolas, está muito bem. Mas não precisa disso tudo. Faça umas escolinhas… Pode até fazê-las bonitinhas, tipo uns chalezinhos…
Pobre se contenta com qualquer coisa, não é, dr. Marinho?
Globo, governo Temer e, em um nível mais bárbaro ainda, João Amoedo têm o mesmo projeto para o Brasil: manutenção do status quo. E o impedimento do acesso dos pobres a uma educação de qualidade é peça fulcral nesse objetivo.
“A crise na educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”, dizia Darcy Ribeiro. A direita e seus representantes são os responsáveis por este projeto macabro.
Eles não podem, contudo, defender abertamente tal coisa, porque educação pública e de qualidade parece ser uma quase unanimidade na população, mesmo entre os que adotam a ideologia dominante por osmose.
Cabe a mim e a você que está lendo estas mal traçadas, portanto, esclarecermos as pessoas, a cada conversa ou debate, seja online ou offline, sobre essa verdadeira monstruosidade que a direita defende mas tenta esconder.
Bora?
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