Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Na eleição de 1989, não se falava nesse deus oculto chamado mercado.
Quem representava o olimpo econômico eram os “empresários”. E estes, inicialmente, evitavam explicitar apoio a Fernando Collor de Mello, embora vendo nele quem poderia evitar a eleição de Brizola ou de Lula, fantasmas da esquerda. Collor era útil mas tinha seus poréns.
Até que, em algum momento, surgiu o verbo collorir.
E dizer que ‘fulano colloriu’ deixou de ter sentido negativo, passando a significar escolha natural e até ousada.
Pode estar ocorrendo, neste momento, algo parecido em relação ao pré-candidato Jair Bolsonaro, dez vezes aplaudido anteontem por empresários, na CNI, sem apresentar uma só proposta para as crises do Brasil.
Ontem a agência Infomoney divulgou pesquisa da consultoria XP que mostra o avanço das apostas do mercado em Bolsonaro.
Segundo a pesquisa, realizada junto a investidores entre os dias 2 e 3 passados, 49% acreditam que ele será o próximo presidente do Brasil. Eles eram apenas 26% em abril.
O capitão já estava em segundo lugar, mas a grande aposta (48%) ainda era na eleição de Geraldo Alckmin, crença que hoje só anima 26% neste universo.
Em junho, 45% dos investidores consultados acreditavam que o segundo turno seria entre Bolsonaro e Ciro Gomes.
Agora, a dupla em que mais apostam é Bolsonaro e Marina (32%), seguida de Bolsonaro e Alckmin (21%) e de Bolsonaro e Fernando Haddad (16%).
É quase certo dizer que uma das vagas do segundo turno será de Bolsonaro, estando a outra em disputa.
Mas apostar hoje em sua vitória não parece derivar de uma análise, mas de uma torcida, uma fé, ou algo mais que isso.
Na medida em que nem o tucano nem os outros candidatos de centro-direita deslancharam, ganhou força a hipótese de que a segunda vaga do segundo turno será da esquerda (do candidato do PT ou de Ciro Gomes).
Diante dela, a elite econômica (investidores e empresários produtivos também) parece estar ensaiando um abraço no candidato da extrema-direita. Não pelo que ele diz, pois só diz chistes ideológicos, mas pelo que ouvem de seu assessor econômico Paulo Guedes.
A Bolsonaro, basta dizer que concorda em tudo com o economista.
Tal como em 1989, a elite parece estar fazendo um movimento pragmático. Bolsonaro é troglodita, misógino, homofóbico, xenófobo, defensor da tortura e da ditadura.
Confessa sua ignorância em economia e sua escassa compreensão dos problemas nacionais.
“Não gosto de falar sobre assuntos que não domino”, disse algumas vezes na CNI.
Mas e daí, podem estar se dizendo os senhores do mercado e da produção. Se ele ganhar e fizer o que é preciso, monitorado por Guedes, é com ele que vamos.
E temos que começar a tratar isso com naturalidade.
Os aplausos no evento da CNI foram precedidos de um encontro de Bolsonaro com pesos-pesados do PIB na terça-feira. Organizado pelo empresário Abílio Diniz reuniu nomes como Cândido Bracher (Itaú), David Feffer (Suzano), José Roberto Ermírio de Morais (Votorantim), Marcelo Martins (Cosan), entre outros.
Ali também o candidato fez promessas genéricas, como cortar o gasto público, privatizar, reduzir impostos, sem detalhamento e sem receita para a maioria parlamentar.
Só o pragmatismo eleitoral mais rasteiro pode levar empresários da indústria, bem formados e informados, a aplaudir com entusiasmo um candidato que confessa suas vastas ignorâncias e não apresenta propostas.
Ciro Gomes foi incivilizadamente vaiado por dizer que, se eleito, e não tendo poderes imperiais, proporá sim, ao Congresso, a revisão dos aspectos mais selvagens da reforma trabalhista.
Já Bolsonaro disse que em seu governo os trabalhadores terão que aceitar menos direitos para ter emprego, e isso deve ter soado como música.
Em 1989, Collor prometia matar a inflação com um tiro só.
O tiro acertou a própria economia, que entrou em recessão.
Pragmatismo, como a esperteza, quando é demais pode engolir o dono.
Na eleição de 1989, não se falava nesse deus oculto chamado mercado.
Quem representava o olimpo econômico eram os “empresários”. E estes, inicialmente, evitavam explicitar apoio a Fernando Collor de Mello, embora vendo nele quem poderia evitar a eleição de Brizola ou de Lula, fantasmas da esquerda. Collor era útil mas tinha seus poréns.
Até que, em algum momento, surgiu o verbo collorir.
E dizer que ‘fulano colloriu’ deixou de ter sentido negativo, passando a significar escolha natural e até ousada.
Pode estar ocorrendo, neste momento, algo parecido em relação ao pré-candidato Jair Bolsonaro, dez vezes aplaudido anteontem por empresários, na CNI, sem apresentar uma só proposta para as crises do Brasil.
Ontem a agência Infomoney divulgou pesquisa da consultoria XP que mostra o avanço das apostas do mercado em Bolsonaro.
Segundo a pesquisa, realizada junto a investidores entre os dias 2 e 3 passados, 49% acreditam que ele será o próximo presidente do Brasil. Eles eram apenas 26% em abril.
O capitão já estava em segundo lugar, mas a grande aposta (48%) ainda era na eleição de Geraldo Alckmin, crença que hoje só anima 26% neste universo.
Em junho, 45% dos investidores consultados acreditavam que o segundo turno seria entre Bolsonaro e Ciro Gomes.
Agora, a dupla em que mais apostam é Bolsonaro e Marina (32%), seguida de Bolsonaro e Alckmin (21%) e de Bolsonaro e Fernando Haddad (16%).
É quase certo dizer que uma das vagas do segundo turno será de Bolsonaro, estando a outra em disputa.
Mas apostar hoje em sua vitória não parece derivar de uma análise, mas de uma torcida, uma fé, ou algo mais que isso.
Na medida em que nem o tucano nem os outros candidatos de centro-direita deslancharam, ganhou força a hipótese de que a segunda vaga do segundo turno será da esquerda (do candidato do PT ou de Ciro Gomes).
Diante dela, a elite econômica (investidores e empresários produtivos também) parece estar ensaiando um abraço no candidato da extrema-direita. Não pelo que ele diz, pois só diz chistes ideológicos, mas pelo que ouvem de seu assessor econômico Paulo Guedes.
A Bolsonaro, basta dizer que concorda em tudo com o economista.
Tal como em 1989, a elite parece estar fazendo um movimento pragmático. Bolsonaro é troglodita, misógino, homofóbico, xenófobo, defensor da tortura e da ditadura.
Confessa sua ignorância em economia e sua escassa compreensão dos problemas nacionais.
“Não gosto de falar sobre assuntos que não domino”, disse algumas vezes na CNI.
Mas e daí, podem estar se dizendo os senhores do mercado e da produção. Se ele ganhar e fizer o que é preciso, monitorado por Guedes, é com ele que vamos.
E temos que começar a tratar isso com naturalidade.
Os aplausos no evento da CNI foram precedidos de um encontro de Bolsonaro com pesos-pesados do PIB na terça-feira. Organizado pelo empresário Abílio Diniz reuniu nomes como Cândido Bracher (Itaú), David Feffer (Suzano), José Roberto Ermírio de Morais (Votorantim), Marcelo Martins (Cosan), entre outros.
Ali também o candidato fez promessas genéricas, como cortar o gasto público, privatizar, reduzir impostos, sem detalhamento e sem receita para a maioria parlamentar.
Só o pragmatismo eleitoral mais rasteiro pode levar empresários da indústria, bem formados e informados, a aplaudir com entusiasmo um candidato que confessa suas vastas ignorâncias e não apresenta propostas.
Ciro Gomes foi incivilizadamente vaiado por dizer que, se eleito, e não tendo poderes imperiais, proporá sim, ao Congresso, a revisão dos aspectos mais selvagens da reforma trabalhista.
Já Bolsonaro disse que em seu governo os trabalhadores terão que aceitar menos direitos para ter emprego, e isso deve ter soado como música.
Em 1989, Collor prometia matar a inflação com um tiro só.
O tiro acertou a própria economia, que entrou em recessão.
Pragmatismo, como a esperteza, quando é demais pode engolir o dono.
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