Ilustração do site Cuba Debate |
A escalada da crise na Nicarágua tem atraído redobrada atenção das forças populares e da paz na América Latina e Caribe e em todo o mundo. Já se evidenciam os contornos da ingerência externa, em particular, estadunidense, na disputa política doméstica que, de reivindicações legítimas no plano econômico, escalou para a violência que hoje se verifica nas ruas, apesar dos apelos do governo do presidente Daniel Ortega pelo diálogo e dos compromissos que fez.
Há muito tempo temos rechaçado a ingerência estadunidense nas disputas domésticas em diversos países em todo o mundo, cujo motivo amplamente conhecido é a tentativa de impor a mudança de governos, promovendo a tomada do poder por grupos mais favoráveis e subservientes à sua agenda, direta ou indiretamente. Parte de uma jogada geopolítica de maior abrangência, estão evidentes os contornos dessa ingerência na América Latina e Caribe, onde esta política ofensiva tem se fortalecido.
Como no caso da Venezuela, de Honduras, do Paraguai, do Brasil e outros, a Nicarágua, cenário de um processo emancipador histórico liderado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), sempre esteve na mira do imperialismo estadunidense, que não poupou esforços para patrocinar e armar forças contrarrevolucionárias na década de 1980 e, mais recentemente, conservadoras e reacionárias. Estas por sua vez têm se valido até mesmo de grupos paramilitares e de segurança privada.
O objetivo é derrubar um governo legitimamente reeleito há apenas dois anos, com massivo apoio popular, chantageando-o e demandando a antecipação das eleições previstas para 2021.
Inflamar tensões nas ruas e alimentar alegações de que os governos alvo são autocráticos ou corruptos são algumas das mais evidentes táticas do imperialismo estadunidense e das fundações que cumprem sua agenda, financiando e promovendo determinadas forças nacionais em inúmeros países, com o propósito de desestabilizar as nações.
Também são envolvidas nessa trama outras forças que se rendem ao calor do momento e se esquecem da análise estratégica necessária para a preservação da soberania nacional e popular diante de tais crises.
Devemos saudar a iniciativa do governo de Ortega de fazer compromissos diante das reivindicações da oposição e a sua insistência no apelo ao diálogo nacional, sem pré-condições que violem a soberania popular do voto para o progresso das conversações.
Ao tempo em que expressamos nosso profundo pesar pelas vítimas da violência, apoiando a investigação dos episódios, devemos manifestar repúdio às forças provocadoras da desestabilização do país, rechaçando nos mais firmes termos o que se evidencia como mais uma tentativa de golpe de estado na região. Esta tentativa é parte da caçada às forças progressistas ou defensoras das soberanias de suas nações em toda a América Latina e o Caribe.
A solidariedade ao povo nicaraguense, em defesa do diálogo nacional soberano, traduz-se ainda no reforço da luta pela paz na Nicarágua e em toda a América Latina.
* Socorro Gomes é a Presidenta do Conselho Mundial da Paz.
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