Acabou a brincadeira: a campanha eleitoral começou para valer. Ontem à noite, o Jornal Nacional divulgou uma nova pesquisa do Ibope, de intenções de voto, mas os mercados financeiros sentiram o golpe hora antes. O dólar subiu mais 1,07% e atingiu R$ 3,96 – o valor mais alto em dois anos. Os investidores reagem aos sinais de que Lula mantém enorme popularidade e de que Geraldo Alckmin estacionou num patamar muito baixo – próximo aos 5%. Temem, em especial, uma outra pesquisa, da Confederação Nacional dos Transportes e do instituto MDA, segundo a qual Fernando Haddad já chega a 15%, quando se aponta aos eleitores que é o candidato de Lula.
Os sinais de que o programa de contrarreformas do golpe, muito favoráveis ao poder econômico, é antipopular e pode ser derrotado estão provocando um forte movimento entre os banqueiros e empresários. É algo que pode alterar profundamente o cenário eleitoral. Uma parte dos mais ricos começou a bandear claramente para o lado do ex-capitão Jair Bolsonaro, e a abandonar seu candidato natural, Geraldo Alckmin, do PSDB. A este movimento corresponde uma mudança de planos do deputado, que se aproxima das elites e adota posições cada vez mais distantes do nacionalismo, que ele fingia expressar.
Alguns fatos marcam a virada. Em 10 de agosto – um sábado, logo após o primeiro debate eleitoral – 62 mega-empresários paulistas reuniram-se com o candidato que defende a tortura e a ditadura. Quase nenhum deles quis identificar-se. Mas a Folha e o Estado de São Paulo revelaram que o encontro foi amistoso e cúmplice. Ao lado de Bolsonaro, sentou-se o dono da Riachuelo, ex-candidato Flávio Rocha, cujo partido (o PRB), em teoria, apoia Alckmin. Sebastião Bonfim, dono da rede de varejo Centauro, e um dos poucos que não optou pelo anonimato, afirmou, entusiasmado: “Vou de Bolsonaro”.
Agora, novo sintoma. A edição mais recente da revista Veja traz na capa longa entrevista com o economista e banqueiro Paulo Guedes, apontado como “a cabeça” do candidato de ultradireita. Guedes formou-se na PUC do Rio, a faculdade de Economia mais identificada com o pensamento elitista. Nos anos 1970, em plena ditadura do Chile, mudou-se para aquele país, para assessorar o general Pinochet. Pessoalmente, é considerado, segundo a revista, um homem truculento – inclusive no futebol.
Bolsonaro admite claramente que nada entende de Economia. Chegou a falar em unificar todos os ministérios econômicos, e entregá-los a alguém como Paulo Guedes. E o que defende este ex-assessor da ditadura chilena para hoje? A entrevista é clara. Ele fala em privatização total – inclusive da Petrobrás e do Banco do Brasil. Em abertura de todos os setores para o capital estrangeiro. Em fim de todas as leis que destinam recursos públicos, obrigatoriamente, para áreas sociais.
É na nave de Bolsonaro que embarcarão os grandes banqueiros e empresários? Ainda é cedo para dizer. Alckmin tem uma estrutura partidária muito mais ampla e ramificada, palanque em todos os Estados, 11 minutos diários de TV, contra apenas 18 segundos do ex-militar. Em condições normais toda esta estrutura pode exercer enorme peso, e mudar o cenário.
Mas Bolsonaro parece apostar mesmo numa eleição totalmente atípica. Há dias, seu filho Flávio anunciou que a campanha do pai terá o apoio de Steve Bannon, o grande estrategista da eleição de Donald Trump. Bannon é conhecido por ter sido o comunicador que bolou o esquema de manipulação eleitoral aplicado pela Cambridge Analítica. Consiste em dois pilares. Primeiro, o uso muito intenso de fake news. Segundo um marketing inteiramente movido pela internet e microdestinado a cada grupo de eleitores. Esta tática expressa o oposto da democracia. Leva o candidato a não expressar suas posições reais, preferindo dirigir a cada grupo de eleitor uma mensagem simpática. Evidentemente, elas não poderão ser cumpridas, como acontece nos Estados Unidos de Trump – mas disso, os eleitores só ficarão sabendo muito depois.
A estratégia Bolsonaro tem um enorme furo, uma brecha que pode ser aproveitada pelos candidatos de esquerda. Ela expõe a clara vinculação do ex-militar com o poder econômico, com os barões que estão ganhando fortunas na crise, e com o que há de mais tradicional na política brasileira. Ela permite que, em face do país em desmonte, Lula, Ciro, Boulos e Haddad apresentem-se como os verdadeiros candidatos antissistema, os que desafiam os milionários, os que querem revogar os retrocessos. A questão é: Lula, Ciro, Boulos ou Haddad toparão este papel?
Os sinais de que o programa de contrarreformas do golpe, muito favoráveis ao poder econômico, é antipopular e pode ser derrotado estão provocando um forte movimento entre os banqueiros e empresários. É algo que pode alterar profundamente o cenário eleitoral. Uma parte dos mais ricos começou a bandear claramente para o lado do ex-capitão Jair Bolsonaro, e a abandonar seu candidato natural, Geraldo Alckmin, do PSDB. A este movimento corresponde uma mudança de planos do deputado, que se aproxima das elites e adota posições cada vez mais distantes do nacionalismo, que ele fingia expressar.
Alguns fatos marcam a virada. Em 10 de agosto – um sábado, logo após o primeiro debate eleitoral – 62 mega-empresários paulistas reuniram-se com o candidato que defende a tortura e a ditadura. Quase nenhum deles quis identificar-se. Mas a Folha e o Estado de São Paulo revelaram que o encontro foi amistoso e cúmplice. Ao lado de Bolsonaro, sentou-se o dono da Riachuelo, ex-candidato Flávio Rocha, cujo partido (o PRB), em teoria, apoia Alckmin. Sebastião Bonfim, dono da rede de varejo Centauro, e um dos poucos que não optou pelo anonimato, afirmou, entusiasmado: “Vou de Bolsonaro”.
Agora, novo sintoma. A edição mais recente da revista Veja traz na capa longa entrevista com o economista e banqueiro Paulo Guedes, apontado como “a cabeça” do candidato de ultradireita. Guedes formou-se na PUC do Rio, a faculdade de Economia mais identificada com o pensamento elitista. Nos anos 1970, em plena ditadura do Chile, mudou-se para aquele país, para assessorar o general Pinochet. Pessoalmente, é considerado, segundo a revista, um homem truculento – inclusive no futebol.
Bolsonaro admite claramente que nada entende de Economia. Chegou a falar em unificar todos os ministérios econômicos, e entregá-los a alguém como Paulo Guedes. E o que defende este ex-assessor da ditadura chilena para hoje? A entrevista é clara. Ele fala em privatização total – inclusive da Petrobrás e do Banco do Brasil. Em abertura de todos os setores para o capital estrangeiro. Em fim de todas as leis que destinam recursos públicos, obrigatoriamente, para áreas sociais.
É na nave de Bolsonaro que embarcarão os grandes banqueiros e empresários? Ainda é cedo para dizer. Alckmin tem uma estrutura partidária muito mais ampla e ramificada, palanque em todos os Estados, 11 minutos diários de TV, contra apenas 18 segundos do ex-militar. Em condições normais toda esta estrutura pode exercer enorme peso, e mudar o cenário.
Mas Bolsonaro parece apostar mesmo numa eleição totalmente atípica. Há dias, seu filho Flávio anunciou que a campanha do pai terá o apoio de Steve Bannon, o grande estrategista da eleição de Donald Trump. Bannon é conhecido por ter sido o comunicador que bolou o esquema de manipulação eleitoral aplicado pela Cambridge Analítica. Consiste em dois pilares. Primeiro, o uso muito intenso de fake news. Segundo um marketing inteiramente movido pela internet e microdestinado a cada grupo de eleitores. Esta tática expressa o oposto da democracia. Leva o candidato a não expressar suas posições reais, preferindo dirigir a cada grupo de eleitor uma mensagem simpática. Evidentemente, elas não poderão ser cumpridas, como acontece nos Estados Unidos de Trump – mas disso, os eleitores só ficarão sabendo muito depois.
A estratégia Bolsonaro tem um enorme furo, uma brecha que pode ser aproveitada pelos candidatos de esquerda. Ela expõe a clara vinculação do ex-militar com o poder econômico, com os barões que estão ganhando fortunas na crise, e com o que há de mais tradicional na política brasileira. Ela permite que, em face do país em desmonte, Lula, Ciro, Boulos e Haddad apresentem-se como os verdadeiros candidatos antissistema, os que desafiam os milionários, os que querem revogar os retrocessos. A questão é: Lula, Ciro, Boulos ou Haddad toparão este papel?
0 comentários:
Postar um comentário