Integralistas em fuga do conflito na Praça da Sé, em São Paulo |
No dia 7 de outubro de 1934, uma ação conjunta das organizações da esquerda brasileira desbaratou uma grande manifestação promovida pelos integralistas no centro de São Paulo. O que aconteceu naquela tarde de domingo na Praça da Sé serviu de exemplo a todo o país. Os conflitos se multiplicaram e as forças democráticas e populares não permitiram que os fascistas tupiniquins assaltassem as ruas das grandes cidades e intimidassem os trabalhadores. Impediram que ocorresse aqui o que aconteceu na Itália e na Alemanha.
O Integralismo: o ovo da serpente no Brasil
Estávamos em 1934 e na cabeça dos militantes antifascistas brasileiros ainda estavam vivas as lembranças de dois sombrios acontecimentos ocorridos na Europa alguns anos antes. O primeiro deles foi a marcha triunfal que os fascistas realizaram sobre Roma no dia 28 de outubro de 1922, depois da qual Benito Mussolini acabou sendo chamado pelo rei Victor Emmanuel III para formar o novo gabinete italiano. Emergia assim o primeiro governo tipicamente fascista da Europa Ocidental. Aquela marcha havia sido precedida por inúmeros atentados contra organizações operárias e populares. O segundo fato ocorreu alguns anos depois, em 30 de janeiro de 1933. Nesta data Adolf Hitler assumiu o comando do governo alemão. A vitória nazista também foi precedida e sucedida por marchas e manifestações.
Nos dois casos, a ascensão da extrema-direita nacionalista ao poder se deu através da conquista das ruas e da intimidação, através da violência, das organizações democráticas e socialistas. A ousadia fascista e suas pomposas manifestações encantaram amplos setores da pequena e da média burguesia conservadoras, temerosos do possível avanço comunista. Os nazi-fascistas demonstraram, na prática e no porrete, que podiam impor ordem à “anarquia operária”. A grande burguesia e os latifundiários agradeceram pelos serviços (sujos) prestados por eles, concedendo-lhes o poder.
Contudo, outro fator determinante ao rápido sucesso do fascismo naqueles dois países foi a profunda divisão existente no interior da esquerda. Mesmo diante do incontestável crescimento das forças de extrema-direita, os comunistas e os socialdemocratas continuaram se engalfinhando. Não conseguiram distinguir aquele que era o seu principal inimigo.
Tudo isso deve ter vindo à tona quando chegaram notícias de que os integralistas, uma versão tropical do nazi-fascismo, pretendiam realizar uma demonstração de força no centro de São Paulo. Diante da instabilidade política vivida pelo Brasil, aquela manifestação não deixava de representar um grave perigo à nossa frágil democracia. Muitos membros do governo Vargas, particularmente na cúpula das forças armadas, não escondiam suas simpatias pelos regimes de Mussolini e Hitler. Portanto, era preciso impedir a realização daquela marcha. Os antifascistas sabiam que o próximo passo seria o ataque às sedes e aos militantes dos movimentos populares, com apoio das forças repressivas do Estado getulista.
A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi criada num ato realizado no Teatro Municipal de São Paulo em 7 de outubro de 1932. Nasceu a partir da unificação de várias organizações fascistas regionais e logo passou a ser dirigida por Plínio Salgado. Foi, justamente, para comemorar os dois anos de sua fundação que se planejou realizar uma marcha envolvendo dez mil de seus adeptos no centro da capital paulista. Os símbolos do movimento eram o sigma e a camisa verde – por isso seus adeptos eram ironicamente chamados de “galinhas verdes”. Calcula-se que, naquele momento, o integralismo possuía cerca de 180 mil adeptos, a maioria concentrada nos estados no Sul e Sudeste do país.
A resistência antifascista em São Paulo
Depois da ascensão de Hitler ao poder, foi criado, com o apoio da Internacional Comunista (IC), o Comitê Mundial de Luta Contra o Fascismo, a Reação e as Guerras Imperialistas. Entre seus dirigentes estavam personalidades como Máximo Gorki, Romain Rolland e Henri Barbusse. Rapidamente criaram-se ramificações por vários países, inclusive no Brasil.
Conforme crescia a ameaça fascista e a decisão popular de enfrentá-la, foram se constituindo movimentos de frente única. Pouco a pouco, e não sem dificuldades, quebravam-se as desconfianças existentes entre comunistas, trotskistas, socialistas e anarquistas. As primeiras reuniões para discutir a organização de atos unitários ainda foram marcadas pelo sectarismo que impregnava todas as tendências da esquerda mundial, e consequentemente a brasileira.
Eduardo Maffei, em seu livro Batalha da Praça da Sé, descreveu como foram esses primeiros encontros. “Desde a primeira reunião”, escreveu ele, “atritaram-se stalinistas e trotskistas (...). Esse bate-boca extemporâneo e vazio continuou perturbando todas as reuniões, causando um mal-estar geral (...). Durante uma disputa irritante entre líderes comunistas e trotskistas, Carmelo Crispino (...) pediu a expulsão dos camaradas de Stálin e Trotsky da reunião para que se pudesse combater o fascismo (...). Ristori emendou que (...), enquanto os integralistas preparavam a ocupação das ruas, nós os antifascistas, estávamos nos perdendo em pendências nem sequer ideológicas”. Suspenderam-se, assim, as pendengas e partiram para a discussão da contramanifestação em São Paulo.
Ainda segundo Maffei, participaram daquelas reuniões preparatórias, entre outros, os comunistas Joaquim Câmara Ferreira, Arnaldo Pedroso d’Horta, Hermínio Sachetta, Miguel Costa Jr., Noé Gertel, Eneida Moraes e Eduardo Maffei; os trotskistas, Mário Pedrosa e Fúlvio Abramo; os socialistas Francisco Giralde Filho, Zoroastro Gouvêa e João Cabanas e, por fim, os anarquistas Edgard Leuenroth e Pedro Catalo. Muitos militantes ligados ao liberalismo de esquerda também se envolveram. Nunca algo assim tinha acontecido na história do movimento socialista brasileiro.
Foram formadas duas comissões: uma de mobilização popular e outra militar. Da segunda faziam parte João Cabanas, Roberto Sisson e Euclydes Krebs. Todos vindos do tenentismo. Ela organizou a estratégia de ataque à manifestação integralista. Cada área da Praça da Sé, para onde deveria convergir a marcha dos “camisas verdes”, deveria ser guarnecida por uma das tendências políticas participantes do movimento: comunista, trotskista, socialista, tenentista e anarquista.
Elaborou-se uma convocação conjunta para a contramanifestação na Praça da Sé. Em 4 de outubro A Plateia estampava na primeira página: O PCB convida todos os partidos da esquerda e sindicatos operários para uma Frente Única antifascista. Dois dias depois, a manchete era: Pela primeira vez, em São Paulo, um comício monstro contra o fascismo. Havia muita eletricidade no ar.
O Integralismo: o ovo da serpente no Brasil
Estávamos em 1934 e na cabeça dos militantes antifascistas brasileiros ainda estavam vivas as lembranças de dois sombrios acontecimentos ocorridos na Europa alguns anos antes. O primeiro deles foi a marcha triunfal que os fascistas realizaram sobre Roma no dia 28 de outubro de 1922, depois da qual Benito Mussolini acabou sendo chamado pelo rei Victor Emmanuel III para formar o novo gabinete italiano. Emergia assim o primeiro governo tipicamente fascista da Europa Ocidental. Aquela marcha havia sido precedida por inúmeros atentados contra organizações operárias e populares. O segundo fato ocorreu alguns anos depois, em 30 de janeiro de 1933. Nesta data Adolf Hitler assumiu o comando do governo alemão. A vitória nazista também foi precedida e sucedida por marchas e manifestações.
Nos dois casos, a ascensão da extrema-direita nacionalista ao poder se deu através da conquista das ruas e da intimidação, através da violência, das organizações democráticas e socialistas. A ousadia fascista e suas pomposas manifestações encantaram amplos setores da pequena e da média burguesia conservadoras, temerosos do possível avanço comunista. Os nazi-fascistas demonstraram, na prática e no porrete, que podiam impor ordem à “anarquia operária”. A grande burguesia e os latifundiários agradeceram pelos serviços (sujos) prestados por eles, concedendo-lhes o poder.
Contudo, outro fator determinante ao rápido sucesso do fascismo naqueles dois países foi a profunda divisão existente no interior da esquerda. Mesmo diante do incontestável crescimento das forças de extrema-direita, os comunistas e os socialdemocratas continuaram se engalfinhando. Não conseguiram distinguir aquele que era o seu principal inimigo.
Tudo isso deve ter vindo à tona quando chegaram notícias de que os integralistas, uma versão tropical do nazi-fascismo, pretendiam realizar uma demonstração de força no centro de São Paulo. Diante da instabilidade política vivida pelo Brasil, aquela manifestação não deixava de representar um grave perigo à nossa frágil democracia. Muitos membros do governo Vargas, particularmente na cúpula das forças armadas, não escondiam suas simpatias pelos regimes de Mussolini e Hitler. Portanto, era preciso impedir a realização daquela marcha. Os antifascistas sabiam que o próximo passo seria o ataque às sedes e aos militantes dos movimentos populares, com apoio das forças repressivas do Estado getulista.
A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi criada num ato realizado no Teatro Municipal de São Paulo em 7 de outubro de 1932. Nasceu a partir da unificação de várias organizações fascistas regionais e logo passou a ser dirigida por Plínio Salgado. Foi, justamente, para comemorar os dois anos de sua fundação que se planejou realizar uma marcha envolvendo dez mil de seus adeptos no centro da capital paulista. Os símbolos do movimento eram o sigma e a camisa verde – por isso seus adeptos eram ironicamente chamados de “galinhas verdes”. Calcula-se que, naquele momento, o integralismo possuía cerca de 180 mil adeptos, a maioria concentrada nos estados no Sul e Sudeste do país.
A resistência antifascista em São Paulo
Depois da ascensão de Hitler ao poder, foi criado, com o apoio da Internacional Comunista (IC), o Comitê Mundial de Luta Contra o Fascismo, a Reação e as Guerras Imperialistas. Entre seus dirigentes estavam personalidades como Máximo Gorki, Romain Rolland e Henri Barbusse. Rapidamente criaram-se ramificações por vários países, inclusive no Brasil.
Conforme crescia a ameaça fascista e a decisão popular de enfrentá-la, foram se constituindo movimentos de frente única. Pouco a pouco, e não sem dificuldades, quebravam-se as desconfianças existentes entre comunistas, trotskistas, socialistas e anarquistas. As primeiras reuniões para discutir a organização de atos unitários ainda foram marcadas pelo sectarismo que impregnava todas as tendências da esquerda mundial, e consequentemente a brasileira.
Eduardo Maffei, em seu livro Batalha da Praça da Sé, descreveu como foram esses primeiros encontros. “Desde a primeira reunião”, escreveu ele, “atritaram-se stalinistas e trotskistas (...). Esse bate-boca extemporâneo e vazio continuou perturbando todas as reuniões, causando um mal-estar geral (...). Durante uma disputa irritante entre líderes comunistas e trotskistas, Carmelo Crispino (...) pediu a expulsão dos camaradas de Stálin e Trotsky da reunião para que se pudesse combater o fascismo (...). Ristori emendou que (...), enquanto os integralistas preparavam a ocupação das ruas, nós os antifascistas, estávamos nos perdendo em pendências nem sequer ideológicas”. Suspenderam-se, assim, as pendengas e partiram para a discussão da contramanifestação em São Paulo.
Ainda segundo Maffei, participaram daquelas reuniões preparatórias, entre outros, os comunistas Joaquim Câmara Ferreira, Arnaldo Pedroso d’Horta, Hermínio Sachetta, Miguel Costa Jr., Noé Gertel, Eneida Moraes e Eduardo Maffei; os trotskistas, Mário Pedrosa e Fúlvio Abramo; os socialistas Francisco Giralde Filho, Zoroastro Gouvêa e João Cabanas e, por fim, os anarquistas Edgard Leuenroth e Pedro Catalo. Muitos militantes ligados ao liberalismo de esquerda também se envolveram. Nunca algo assim tinha acontecido na história do movimento socialista brasileiro.
Foram formadas duas comissões: uma de mobilização popular e outra militar. Da segunda faziam parte João Cabanas, Roberto Sisson e Euclydes Krebs. Todos vindos do tenentismo. Ela organizou a estratégia de ataque à manifestação integralista. Cada área da Praça da Sé, para onde deveria convergir a marcha dos “camisas verdes”, deveria ser guarnecida por uma das tendências políticas participantes do movimento: comunista, trotskista, socialista, tenentista e anarquista.
Elaborou-se uma convocação conjunta para a contramanifestação na Praça da Sé. Em 4 de outubro A Plateia estampava na primeira página: O PCB convida todos os partidos da esquerda e sindicatos operários para uma Frente Única antifascista. Dois dias depois, a manchete era: Pela primeira vez, em São Paulo, um comício monstro contra o fascismo. Havia muita eletricidade no ar.
A marcha fascista, como esperado, foi protegida pela polícia paulista e chegou a tomar quase dois quilômetros da Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Quando começaram a gritar as suas palavras de ordem, os militantes de esquerda respondiam em coro: “Abaixo o integralismo!” Estes primeiros protestos foram reprimidos violentamente.
Num determinado momento, tiros foram efetuados visando a limpar a Praça da Sé dos militantes de esquerda que a ocupavam. Mas isto apenas acirrou os ânimos. No momento em que se reiniciou a contramanifestação, estourou um tiroteio entre as forças de segurança, ao lado dos integralistas, e os antifascistas. Realizaram-se, então, minicomícios em cada canto da praça. Neles falaram Fúlvio Abramo, Hermínio Sachetta, entre outros.
O grosso dos integralistas fugiu logo no início do conflito. Uma testemunha descreveu a cena: “Despiam as camisas mesmo correndo. Naquela capital do inferno em que se transformara a Praça da Sé, desabusada e corajosamente, rindo, um antifascista, Vitalino, carroceiro, dono de um ferro-velho, divertia-se, ajudando-os a despi-las. Tempos depois se vangloriava de possuir, como recordação, em sua casa, mais de uma dúzia delas, guardadas como troféus de um momento histórico”. Diante desta fuga desorganizada, ironizou o humorista Barão de Itararé: “Um integralista não corre, voa”.
Contudo, as coisas não foram fáceis para os antifascistas. Um grupo de choque integralista, com apoio da polícia, sustentou cerca de meia hora de pesado tiroteio. Entre os que resistiram de armas nas mãos estavam as garotas Lélia Abramo, trotskista, e Luisa Marcelino Branco, comunista. O saldo do dia, segundo a imprensa, foi de seis mortos e 34 feridos. Entre as vítimas fatais estava o jovem estudante comunista Décio Pinto de Oliveira, alvejado na cabeça quando discursava. Ele passou a ser um dos símbolos do movimento antifascista brasileiro naqueles anos. Do lado da repressão tombaram dois inspetores de polícia, Hernani Dias de Oliveira e José Rodrigues dos Santos Bonfim. Estes eram conhecidos por sua truculência contra o movimento operário e popular paulista.
No conflito também foram feridos Cipriano Cruz e o trotskista Mário Pedrosa. Este último levou um tiro quando ajudava um militante do Partido Comunista. Protestando corajosamente em meio ao tiroteio, estava o histórico líder anarquista Edgard Leuenroth. Como afirmou Eduardo Maffei: “Nesse momento, de mãos dadas, trabalhadores, intelectuais e estudantes, stalinistas e trotskistas, só objetivavam o inimigo principal”.
Durante o entrevero, muitos soldados, sargentos e cabos da Força Pública de São Paulo se posicionaram a favor dos antifascistas. Nessa corporação, que havia participado do levante de 1924, era forte a influência de Miguel Costa e João Cabanas. Deles teriam ouvido a diretiva: “não atirar contra o povo; atirar contra os ‘camisas verdes’”.
O ocorrido naquela tarde de domingo na Praça da Sé serviu de exemplo a todo o país. Os conflitos se multiplicaram e as forças democráticas e populares não permitiram que os fascistas brasileiros assaltassem as ruas das grandes cidades e intimidassem os trabalhadores. Impediram que ocorresse aqui o que aconteceu na Itália e na Alemanha. A Batalha da Praça da Sé representou, também, o momento de virada no sentido da constituição da ampla Frente Antifascista no Brasil e que teria sua principal expressão política na Aliança Nacional Libertadora (ANL), fundada no ano seguinte.
* Este artigo escrito em 2004, quando dos 70 anos daquele acontecimento, utilizou como fonte privilegiada o livro A Batalha da Praça da Sé escrito pelo veterano militante comunista Eduardo Maffei e publicado em 1984 pela Editora Philobiblion, do Rio de Janeiro.
** Augusto Buonicore é historiador, mestre em Ciência Política pela Unicamp e diretor de publicações da Fundação Maurício Grabois. E autor dos livros Marxismo, história e a revolução brasileira; Meu Verbo é Lutar: a vida e o pensamento de João Amazonas; e Linhas Vermelhas: marxismo e os dilemas da revolução, publicados pela Fundação Maurício Grabois e Editora Anita Garibaldi.
Num determinado momento, tiros foram efetuados visando a limpar a Praça da Sé dos militantes de esquerda que a ocupavam. Mas isto apenas acirrou os ânimos. No momento em que se reiniciou a contramanifestação, estourou um tiroteio entre as forças de segurança, ao lado dos integralistas, e os antifascistas. Realizaram-se, então, minicomícios em cada canto da praça. Neles falaram Fúlvio Abramo, Hermínio Sachetta, entre outros.
O grosso dos integralistas fugiu logo no início do conflito. Uma testemunha descreveu a cena: “Despiam as camisas mesmo correndo. Naquela capital do inferno em que se transformara a Praça da Sé, desabusada e corajosamente, rindo, um antifascista, Vitalino, carroceiro, dono de um ferro-velho, divertia-se, ajudando-os a despi-las. Tempos depois se vangloriava de possuir, como recordação, em sua casa, mais de uma dúzia delas, guardadas como troféus de um momento histórico”. Diante desta fuga desorganizada, ironizou o humorista Barão de Itararé: “Um integralista não corre, voa”.
Contudo, as coisas não foram fáceis para os antifascistas. Um grupo de choque integralista, com apoio da polícia, sustentou cerca de meia hora de pesado tiroteio. Entre os que resistiram de armas nas mãos estavam as garotas Lélia Abramo, trotskista, e Luisa Marcelino Branco, comunista. O saldo do dia, segundo a imprensa, foi de seis mortos e 34 feridos. Entre as vítimas fatais estava o jovem estudante comunista Décio Pinto de Oliveira, alvejado na cabeça quando discursava. Ele passou a ser um dos símbolos do movimento antifascista brasileiro naqueles anos. Do lado da repressão tombaram dois inspetores de polícia, Hernani Dias de Oliveira e José Rodrigues dos Santos Bonfim. Estes eram conhecidos por sua truculência contra o movimento operário e popular paulista.
No conflito também foram feridos Cipriano Cruz e o trotskista Mário Pedrosa. Este último levou um tiro quando ajudava um militante do Partido Comunista. Protestando corajosamente em meio ao tiroteio, estava o histórico líder anarquista Edgard Leuenroth. Como afirmou Eduardo Maffei: “Nesse momento, de mãos dadas, trabalhadores, intelectuais e estudantes, stalinistas e trotskistas, só objetivavam o inimigo principal”.
Durante o entrevero, muitos soldados, sargentos e cabos da Força Pública de São Paulo se posicionaram a favor dos antifascistas. Nessa corporação, que havia participado do levante de 1924, era forte a influência de Miguel Costa e João Cabanas. Deles teriam ouvido a diretiva: “não atirar contra o povo; atirar contra os ‘camisas verdes’”.
O ocorrido naquela tarde de domingo na Praça da Sé serviu de exemplo a todo o país. Os conflitos se multiplicaram e as forças democráticas e populares não permitiram que os fascistas brasileiros assaltassem as ruas das grandes cidades e intimidassem os trabalhadores. Impediram que ocorresse aqui o que aconteceu na Itália e na Alemanha. A Batalha da Praça da Sé representou, também, o momento de virada no sentido da constituição da ampla Frente Antifascista no Brasil e que teria sua principal expressão política na Aliança Nacional Libertadora (ANL), fundada no ano seguinte.
* Este artigo escrito em 2004, quando dos 70 anos daquele acontecimento, utilizou como fonte privilegiada o livro A Batalha da Praça da Sé escrito pelo veterano militante comunista Eduardo Maffei e publicado em 1984 pela Editora Philobiblion, do Rio de Janeiro.
** Augusto Buonicore é historiador, mestre em Ciência Política pela Unicamp e diretor de publicações da Fundação Maurício Grabois. E autor dos livros Marxismo, história e a revolução brasileira; Meu Verbo é Lutar: a vida e o pensamento de João Amazonas; e Linhas Vermelhas: marxismo e os dilemas da revolução, publicados pela Fundação Maurício Grabois e Editora Anita Garibaldi.
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