Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Aos que me perguntam se, 50 anos depois, corremos o risco de ter um novo Ato Institucional Nº 5, o golpe dentro do golpe da ditadura militar, respondo com convicção: não, não há perigo.
Nem precisa.
As circunstâncias hoje são completamente diferentes daquela época.
A nova ordem que se instala no dia 1º de janeiro de 2019 já começa legitimada pelas urnas, com todos os instrumentos para impor seus projetos de poder, um governo ultraliberal na economia e ultraconservador nos costumes.
Tem controle sobre o Congresso e o Judiciário, leis para criminalizar os movimentos sociais e o apoio de 57 milhões de brasileiros que o elegeram.
Ao contrário de 1968, não há grupos armados contra o regime, a oposição está em frangalhos e Lula, o único líder nacional que sobrou, encontra-se preso em Curitiba, sem prazo para sair da cadeia.
Também não se vê nenhum sinal de contestação nos veículos de imprensa, com raras exceções.
Ao contrário, amplos setores da grande mídia estão, se não apoiando abertamente, pelo menos dóceis e conformados com os novos donos do poder.
A chamada sociedade civil, tal como existia na luta pela redemocratização do país, sumiu do mapa. Guarda obsequioso silêncio.
Nem se fala mais em OAB, CNBB, ABI, UNE, as siglas que denunciavam as atrocidades praticadas sob o alto-comando dos generais-presidentes.
E, além de tudo, há hoje mais generais no governo civil do que havia em 68 no governo militar do marechal Costa e Silva, que decretou o AI-5.
Só para se ter uma ideia da brutal diferença: o vice era Pedro Aleixo, um democrata de respeito, que se recusou a assinar o AI-5, e deixou o governo.
O vice de agora é um general, Hamilton Mourão, tão radical quando o capitão reformado Jair Bolsonaro, o presidente eleito.
Não há mais centenas de líderes políticos, sindicais, religiosos ou estudantis para serem cassados e presos, como em 68.
No máximo, sobrevivem hoje meia dúzia de lideranças dos movimentos sociais, que serão isoladas e combatidas a ferro e fogo, tudo “dentro da lei ” e da nova ordem, com as instituições em “pleno funcionamento”.
Dispensam-se tanques para fechar o Congresso, por inúteis, já que também foi formado na onda conservadora que varreu o país em outubro.
Como se diz no popular, está tudo dominado,
Os censores não precisarão voltar às redações, pois não haverá o que cortar.
Da mesma forma, não terão trabalho com o meio artístico, tão contestador nos anos 60 e 70, agora dominado pelo breganejo, que faz festa para o novo presidente.
Foi o que restou do Brasil, 50 anos depois, que serão comemorados, nesta quinta-feira, pela grande aliança civil-militar, de volta ao poder - agora, pelas urnas.
Em tempo: para quem quiser saber mais sobre esta trágica efeméride de amanhã, acabei de dar agora uma entrevista sobre o AI-5 à repórter Adriana Cimino, da TV Cultura.
Vai passar na quinta, ao meio dia no Jornal da Cultura – 1ª Edição.
Vida que segue.
Nem precisa.
As circunstâncias hoje são completamente diferentes daquela época.
A nova ordem que se instala no dia 1º de janeiro de 2019 já começa legitimada pelas urnas, com todos os instrumentos para impor seus projetos de poder, um governo ultraliberal na economia e ultraconservador nos costumes.
Tem controle sobre o Congresso e o Judiciário, leis para criminalizar os movimentos sociais e o apoio de 57 milhões de brasileiros que o elegeram.
Ao contrário de 1968, não há grupos armados contra o regime, a oposição está em frangalhos e Lula, o único líder nacional que sobrou, encontra-se preso em Curitiba, sem prazo para sair da cadeia.
Também não se vê nenhum sinal de contestação nos veículos de imprensa, com raras exceções.
Ao contrário, amplos setores da grande mídia estão, se não apoiando abertamente, pelo menos dóceis e conformados com os novos donos do poder.
A chamada sociedade civil, tal como existia na luta pela redemocratização do país, sumiu do mapa. Guarda obsequioso silêncio.
Nem se fala mais em OAB, CNBB, ABI, UNE, as siglas que denunciavam as atrocidades praticadas sob o alto-comando dos generais-presidentes.
E, além de tudo, há hoje mais generais no governo civil do que havia em 68 no governo militar do marechal Costa e Silva, que decretou o AI-5.
Só para se ter uma ideia da brutal diferença: o vice era Pedro Aleixo, um democrata de respeito, que se recusou a assinar o AI-5, e deixou o governo.
O vice de agora é um general, Hamilton Mourão, tão radical quando o capitão reformado Jair Bolsonaro, o presidente eleito.
Não há mais centenas de líderes políticos, sindicais, religiosos ou estudantis para serem cassados e presos, como em 68.
No máximo, sobrevivem hoje meia dúzia de lideranças dos movimentos sociais, que serão isoladas e combatidas a ferro e fogo, tudo “dentro da lei ” e da nova ordem, com as instituições em “pleno funcionamento”.
Dispensam-se tanques para fechar o Congresso, por inúteis, já que também foi formado na onda conservadora que varreu o país em outubro.
Como se diz no popular, está tudo dominado,
Os censores não precisarão voltar às redações, pois não haverá o que cortar.
Da mesma forma, não terão trabalho com o meio artístico, tão contestador nos anos 60 e 70, agora dominado pelo breganejo, que faz festa para o novo presidente.
Foi o que restou do Brasil, 50 anos depois, que serão comemorados, nesta quinta-feira, pela grande aliança civil-militar, de volta ao poder - agora, pelas urnas.
Em tempo: para quem quiser saber mais sobre esta trágica efeméride de amanhã, acabei de dar agora uma entrevista sobre o AI-5 à repórter Adriana Cimino, da TV Cultura.
Vai passar na quinta, ao meio dia no Jornal da Cultura – 1ª Edição.
Vida que segue.
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