Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
No país que Jean Wyllys está deixando, defender direitos humanos virou razão para ser assassinado. Defender direitos dos sem-terra, dos sem-teto, dos negros, das mulheres, das crianças infratoras, dos indígenas, das vítimas da violência policial, dos gays, agora é risco de vida. Se você se dedicar a alguma dessas causas, pode ser ameaçado de morte ou de prisão e forçado a ir embora do Brasil. Pode ser executada no meio da rua como a vereadora Marielle Franco, que defendia os direitos dos moradores das favelas cariocas ameaçados por maus policiais.
(É importante lembrar que este mesmo fenômeno aconteceu em outro lugar da América Latina onde a direita e a mídia, com apoio velado ou descarado dos Estados Unidos, engendraram um golpe, em 2009: em Honduras. O país se tornou campeão em assassinatos de defensores de direitos humanos e hoje os hondurenhos têm a maior população de migrantes tentando entrar nos EUA, o patrocinador dos golpes que agora se recusa a receber suas vítimas.)
Se você não for morto por defender os direitos humanos, pode ter sua reputação assassinada com uma velocidade e ferocidade assustadoras. Com a extrema-direita controlando as redes sociais com robôs, qualquer um pode ser facilmente transformado em inimigo público graças à proliferação de calúnias que vão fazer de sua existência um inferno. Contra Marielle, mesmo depois de morta, os criadores de fake news, com o auxílio de (pasmem!) uma desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, espalharam que era casada com um traficante. A mesma desembargadora, aliás, sugeriu a execução de Jean Wyllys em uma postagem de rede social.
Contra Jean, inventaram todo tipo de mentira desde que entrou para a política, a maior e mais prejudicial delas, e a que lhe causa mais dor por adorar crianças: a de que “defende a pedofilia”, absurdo que levou a Justiça, em dezembro, a condenar o dublê de ator pornô e deputado federal Alexandre Frota por disseminar a calúnia. Mas o estrago já estava feito. Quando, nesta quinta-feira, Jean Wyllys comunicou ao país que iria desistir do mandato de deputado federal para o qual foi reeleito e que iria sair do país, muitos bolsonaristas repetiram a mentira como um mantra. Não satisfeitos, lançaram uma nova: Jean teria sido o mandante da “facada” em Bolsonaro, seu arqui-inimigo no Congresso. Quem acreditou em mamadeiras de piroca é capaz de acreditar em tudo.
A saída de cena de Jean Wyllys me entristece particularmente porque nos tornamos amigos; sou sua admiradora incondicional, como ser humano e parlamentar. Nos identificamos imediatamente porque temos a mesma origem: sou baiana do interior como ele e ambos somos jornalistas. Sei do seu sofrimento, até físico, ao se colocar, muitas vezes sozinho, contra o despreparo e a tosquidão de Bolsonaro e sua claque de descerebrados. Quem aguentaria? Entendo perfeitamente a decisão dele de literalmente sair fora para viver um pouco sem estar no holofote de tanta gente ruim. Um olho gouro desses, Jean? Vai embora, meu querido. Namorar, se divertir, andar pela rua livremente num bom país, e de lá denunciar o que acontece por aqui.
Mas para quem fica é desolador demais. É como se o Brasil tivesse chegado ao fundo do poço. Um sinal, uma repetição. Já houve um tempo horrendo neste país, do qual só psicopatas sentem saudade, em que foi preciso que os melhores de nós tivessem que deixar sua pátria para sobreviver. Em que parlamentares eleitos pelo povo eram perseguidos e perdiam seus mandatos. Rubens Paiva, deputado federal, viveu nove meses no exílio antes de decidir voltar; acabou torturado e morto pelos gorilas que os atuais ocupantes do poder admiram.
Eu não consigo imaginar o Congresso Nacional sem aquele guerreiro que é Jean Wyllys, dizendo na cara dos fundamentalistas o que tem de ser dito, desafiando a ignorância dos reacionários com sua cultura, defendendo os direitos de quem tem o direito de existir, como ele próprio. Bravo, Jean! Obrigada por tudo que você fez estes anos todos. Por seu sacrifício.
O Brasil fica mais triste e sombrio sem Jean Wyllys. Que os orixás tenham pena de nós.
Filho de lavadeira e pintor de carros, Jean Wyllys nasceu há 44 anos na pequena Alagoinhas, no leste da Bahia. Formou-se em Jornalismo na UFBA, exerceu a profissão na imprensa baiana, se tornou professor universitário e ganhou um reality show. Foi eleito deputado federal por três mandatos consecutivos, sempre escolhido anualmente entre os melhores parlamentares brasileiros. Sob qualquer ponto de vista que se olhe, é um vencedor. Pois este homem brilhante está sendo impedido de viver em sua própria terra porque ameaçam matá-lo apenas por defender os direitos dos cidadãos LGBTs.
No país que Jean Wyllys está deixando, defender direitos humanos virou razão para ser assassinado. Defender direitos dos sem-terra, dos sem-teto, dos negros, das mulheres, das crianças infratoras, dos indígenas, das vítimas da violência policial, dos gays, agora é risco de vida. Se você se dedicar a alguma dessas causas, pode ser ameaçado de morte ou de prisão e forçado a ir embora do Brasil. Pode ser executada no meio da rua como a vereadora Marielle Franco, que defendia os direitos dos moradores das favelas cariocas ameaçados por maus policiais.
(É importante lembrar que este mesmo fenômeno aconteceu em outro lugar da América Latina onde a direita e a mídia, com apoio velado ou descarado dos Estados Unidos, engendraram um golpe, em 2009: em Honduras. O país se tornou campeão em assassinatos de defensores de direitos humanos e hoje os hondurenhos têm a maior população de migrantes tentando entrar nos EUA, o patrocinador dos golpes que agora se recusa a receber suas vítimas.)
Se você não for morto por defender os direitos humanos, pode ter sua reputação assassinada com uma velocidade e ferocidade assustadoras. Com a extrema-direita controlando as redes sociais com robôs, qualquer um pode ser facilmente transformado em inimigo público graças à proliferação de calúnias que vão fazer de sua existência um inferno. Contra Marielle, mesmo depois de morta, os criadores de fake news, com o auxílio de (pasmem!) uma desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, espalharam que era casada com um traficante. A mesma desembargadora, aliás, sugeriu a execução de Jean Wyllys em uma postagem de rede social.
Contra Jean, inventaram todo tipo de mentira desde que entrou para a política, a maior e mais prejudicial delas, e a que lhe causa mais dor por adorar crianças: a de que “defende a pedofilia”, absurdo que levou a Justiça, em dezembro, a condenar o dublê de ator pornô e deputado federal Alexandre Frota por disseminar a calúnia. Mas o estrago já estava feito. Quando, nesta quinta-feira, Jean Wyllys comunicou ao país que iria desistir do mandato de deputado federal para o qual foi reeleito e que iria sair do país, muitos bolsonaristas repetiram a mentira como um mantra. Não satisfeitos, lançaram uma nova: Jean teria sido o mandante da “facada” em Bolsonaro, seu arqui-inimigo no Congresso. Quem acreditou em mamadeiras de piroca é capaz de acreditar em tudo.
A saída de cena de Jean Wyllys me entristece particularmente porque nos tornamos amigos; sou sua admiradora incondicional, como ser humano e parlamentar. Nos identificamos imediatamente porque temos a mesma origem: sou baiana do interior como ele e ambos somos jornalistas. Sei do seu sofrimento, até físico, ao se colocar, muitas vezes sozinho, contra o despreparo e a tosquidão de Bolsonaro e sua claque de descerebrados. Quem aguentaria? Entendo perfeitamente a decisão dele de literalmente sair fora para viver um pouco sem estar no holofote de tanta gente ruim. Um olho gouro desses, Jean? Vai embora, meu querido. Namorar, se divertir, andar pela rua livremente num bom país, e de lá denunciar o que acontece por aqui.
Mas para quem fica é desolador demais. É como se o Brasil tivesse chegado ao fundo do poço. Um sinal, uma repetição. Já houve um tempo horrendo neste país, do qual só psicopatas sentem saudade, em que foi preciso que os melhores de nós tivessem que deixar sua pátria para sobreviver. Em que parlamentares eleitos pelo povo eram perseguidos e perdiam seus mandatos. Rubens Paiva, deputado federal, viveu nove meses no exílio antes de decidir voltar; acabou torturado e morto pelos gorilas que os atuais ocupantes do poder admiram.
Eu não consigo imaginar o Congresso Nacional sem aquele guerreiro que é Jean Wyllys, dizendo na cara dos fundamentalistas o que tem de ser dito, desafiando a ignorância dos reacionários com sua cultura, defendendo os direitos de quem tem o direito de existir, como ele próprio. Bravo, Jean! Obrigada por tudo que você fez estes anos todos. Por seu sacrifício.
O Brasil fica mais triste e sombrio sem Jean Wyllys. Que os orixás tenham pena de nós.
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