Quando da descoberta das falcatruas do Queiroz nos gabinetes dos Bolsonaro, o filho Flávio se esforçou para aparentar tranquilidade e mostrar-se convincente.
Ele disse que as explicações do Queiroz, que foram prestadas exclusivamente a ele em algum esconderijo onde o laranja da família continua escondido da polícia, da justiça e da mídia, seriam “bastante plausíveis” [sic].
Por razões que são óbvias, no intervalo entre o 1º e o 2º turno eleitoral, Flávio teve o privilégio de ser protegido pela Lava Jato quando foi executada a Furna da Onça; operação que levou à prisão 10 deputados colegas dele e vários assessores da Assembléia Legislativa do RJ que exerciam funções idênticas à exercida por Queiroz.
O motivo para a prisão dos outros deputados e assessores foram os mesmos daqueles encontrados nos gabinetes dos Bolsonaro: movimentação milionária atípica, funcionários fantasmas, lavagem de dinheiro etc.
Mas o procedimento da Lava Jato, coordenada no país pelo pastor fanático, investidor do Minha Casa Minha Vida e beneficiário de auxílio-moradia Deltan Dallagnol, e presidida no RJ pelo juiz bolsonarista e beneficiário de auxílio-moradia Marcelo Bretas, foi providencial.
Eles safaram Flávio Bolsonaro e Queiroz da investigação, livraram-nos da prisão e, assim, asseguraram o transcurso da eleição sem incidentes prejudiciais ao chefe do clã, o Jair.
O assunto só veio à tona mais tarde, graças ao vazamento não controlado do COAF. Não fosse isso, esse seria mais 1 escândalo seletivamente não-vazado pela Lava Jato, e os Bolsonaro se veriam livres desta encrenca para sempre.
Quando a ilicitude fugiu ao controle do Moro e da Lava Jato e foi descoberta, ato contínuo Curitiba lavou as mãos e transferiu a investigação para o Ministério Público do RJ, numa evidente manobra para proteger os amigos aboletados no poder e deixar tudo por isso mesmo.
Agora, ao pedir ao STF a suspensão da investigação, Flávio reconheceu não só ter conhecimento das ilicitudes nos gabinetes dele e do pai, como se assumiu na condição de réu.
Fossem seus inimigos os implicados no escândalo, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e os justiceiros da Lava Jato não hesitariam em chamar isso de uma organização criminosa – uma ORCRIM, como costumam dizer.
O vice-presidente do STF Luiz Fux, sempre em dobradinha funcional com o titular Toffoli no servilismo para o bom desenvolvimento do golpe, do Estado de Exceção e do governo militar, “matou no peito” o pedido de suspensão da investigação.
Numa decisão teratológica, bizarra e surreal – considerada por juristas sérios e honestos como uma gambiarra jurídica de 5ª categoria –, e na ânsia de bem servir aos donos do poder, Fux pode ter produzido o efeito contrário ao que desejava com sua bajulação.
Nesses tempos de liberação da posse de armas, é irônico usar a linguagem de que, no afã de safar os Bolsonaro, o Fux [o tiro] pode ter saído pela culatra.
Ainda que, no íntimo, Fux almejasse facilitar a vida dos Bolsonaro, seu despacho errático acabou complicando a situação da família.
Com a decisão dele, o caso Queiroz pode passar a ser investigado pelo STF. Com isso, a PGR será obrigada a ampliar o espectro da investigação e abranger não só Queiroz e todo o laranjal formado por funcionários fantasmas dos Bolsonaro, mas também Flávio, Jair e Michele Bolsonaro, quem foi beneficiada com depósito de pelo menos R$ 24 mil na sua conta bancária.
Este episódio mostra que até é possível se enganar muita gente durante algum tempo, mas ninguém consegue enganar todo mundo o tempo inteiro.
Mais uma máscara que cai.
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