Por José Barbosa Junior, no site Jornalistas Livres:
“Ai de vocês que fazem leis injustas, leis para explorar o povo!” (Isaías 10.1)
E não é que na República Pornô Gospel Miliciana do Brasil a Bíblia voltou a ser tema de mais uma bravata ministerial? A já descartada pastora Iolene Lima, que seria a segunda pessoa mais poderosa no MEC, defendia um ensino todo “embasado na Bíblia”, segundo ela.
E segundo a Bíblia dela. Laranja.
A Bíblia laranja de Iolene “explica” tudo, mas não responde nada. Por ela, as meninas ainda vestem rosa e os meninos azul, homossexuais devem ser mortos, as tragédias da humanidade são “vontade de Deus”, mulheres devem ser submissas e fazer arminha com as mãos é quase um equivalente ao “erguei as mãos e dai glória a deus”.
A Bíblia laranja é a mesma de Bolsonaro, de Malafaia, de Feliciano, Valadões… é aquela que acha natural mentir para ganhar a eleição, que não vê problema algum no machismo, vê o feminismo como ameaça, acredita em kits gays e mamadeiras fálicas, quer o “cidadão de bem” armado e prega a violência como o fim de todas as coisas.
Pois a minha Bíblia, ainda que a capa seja preta, é vermelha! Sim, vermelha! Para o bem ou para o mal, vermelha.
Vermelha do sangue que jorra das páginas muitas vezes violentas, principalmente do Primeiro Testamento (ou Antigo Testamento para alguns), quando inocentes e povos “inimigos” morrem aqui e ali pela força dos povos em guerra e por conta de seus deuses sanguinários (inclusive Javé, Deus das tribos que se juntam e formam o povo hebreu). Vermelha do sangue dos profetas que se levantam contra reis tiranos, ainda que muitos desses reis fossem “ungidos do Senhor”. Vermelha do sangue de Abel, que até hoje clama da terra por conta da banalização do mal…
Mas, principalmente, vermelha por conta do sangue de Jesus, o pobre periférico não-branco, tido por muitos como um marginal, que andava rodeado por gente excluída da “sociedade”, filho de exilados políticos e, mais tarde, ele mesmo um preso nas mãos do império e morto como um qualquer. Sangue que denuncia o imperialismo. Sangue que grita contra o preconceito. Sangue vermelho, pisado pelos poderosos e acolhido pelos pobres. Sangue que salva, não por sacrifício, mas por prova contundente de que a vida que se vive para o outro, ninguém é capaz de deter. Nem a morte!
Marielle, presente, confirma isso!
A Bíblia vermelha é a que denuncia a exploração dos mais velhos e das viúvas, como os que já são e serão mais ainda maltratados caso essa Reforma maldita da Previdência seja aprovada: “Tratem os outros com justiça; socorram os que são explorados, defendam os direitos dos órfãos e protejam as viúvas.” (Isaías 1.17)
A Bíblia vermelha denuncia os juízes corruptos, que fazem do seu juízo forma de opressão e apoio aos poderosos: “Até quando dareis sentenças injustas, favorecendo os ímpios? Sede juízes para o desvalido e órfão, fazei justiça ao mísero e ao indigente; libertai o fraco e o pobre, livrai-os das garras dos ímpios!” (Salmo 82.2-4), juízes que mantém inocentes presos: “os quais com uma palavra fazem réu o inocente, no tribunal negociam e trapaceiam contra o defensor, e com testemunho falso e outras mentiras evitam que se faça justiça ao homem íntegro e sem culpa.” (Isaías 29.21)
A Bíblia vermelha condena o acúmulo de capital e a má distribuição de renda: ““Ai de vocês que adquirem casas e mais casas, propriedades e mais propriedades, até não haver mais lugar para ninguém e vocês se tornarem os senhores absolutos da terra!” (Isaías 5.8)
A Bíblia vermelha condena o lucro absurdo dos bancos em detrimento da população mais pobre, extorquida: “Você empresta a juros, visando lucro, e obtém ganhos injustos, extorquindo o próximo… Mas você me verá batendo as minhas mãos uma na outra contra os ganhos injustos que você obteve e contra o sangue que você derramou” (Ezequiel 22.12,13).
Por fim, a Bíblia vermelha aponta para Jesus, que vive com e para os pobres, tomando suas dores, lutando por seus direitos, desafiando um perverso sistema que coliga o império à religião, provocando césares e sacerdotes… e deixando vivo o seu exemplo: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (João 13.15).
As Bíblias estão aí… aos montes. A minha, jamais será laranja!
* José Barbosa Junior é teólogo e pastor da Comunidade Batista do Caminho (Belo Horizonte).
E não é que na República Pornô Gospel Miliciana do Brasil a Bíblia voltou a ser tema de mais uma bravata ministerial? A já descartada pastora Iolene Lima, que seria a segunda pessoa mais poderosa no MEC, defendia um ensino todo “embasado na Bíblia”, segundo ela.
E segundo a Bíblia dela. Laranja.
A Bíblia laranja de Iolene “explica” tudo, mas não responde nada. Por ela, as meninas ainda vestem rosa e os meninos azul, homossexuais devem ser mortos, as tragédias da humanidade são “vontade de Deus”, mulheres devem ser submissas e fazer arminha com as mãos é quase um equivalente ao “erguei as mãos e dai glória a deus”.
A Bíblia laranja é a mesma de Bolsonaro, de Malafaia, de Feliciano, Valadões… é aquela que acha natural mentir para ganhar a eleição, que não vê problema algum no machismo, vê o feminismo como ameaça, acredita em kits gays e mamadeiras fálicas, quer o “cidadão de bem” armado e prega a violência como o fim de todas as coisas.
Pois a minha Bíblia, ainda que a capa seja preta, é vermelha! Sim, vermelha! Para o bem ou para o mal, vermelha.
Vermelha do sangue que jorra das páginas muitas vezes violentas, principalmente do Primeiro Testamento (ou Antigo Testamento para alguns), quando inocentes e povos “inimigos” morrem aqui e ali pela força dos povos em guerra e por conta de seus deuses sanguinários (inclusive Javé, Deus das tribos que se juntam e formam o povo hebreu). Vermelha do sangue dos profetas que se levantam contra reis tiranos, ainda que muitos desses reis fossem “ungidos do Senhor”. Vermelha do sangue de Abel, que até hoje clama da terra por conta da banalização do mal…
Mas, principalmente, vermelha por conta do sangue de Jesus, o pobre periférico não-branco, tido por muitos como um marginal, que andava rodeado por gente excluída da “sociedade”, filho de exilados políticos e, mais tarde, ele mesmo um preso nas mãos do império e morto como um qualquer. Sangue que denuncia o imperialismo. Sangue que grita contra o preconceito. Sangue vermelho, pisado pelos poderosos e acolhido pelos pobres. Sangue que salva, não por sacrifício, mas por prova contundente de que a vida que se vive para o outro, ninguém é capaz de deter. Nem a morte!
Marielle, presente, confirma isso!
A Bíblia vermelha é a que denuncia a exploração dos mais velhos e das viúvas, como os que já são e serão mais ainda maltratados caso essa Reforma maldita da Previdência seja aprovada: “Tratem os outros com justiça; socorram os que são explorados, defendam os direitos dos órfãos e protejam as viúvas.” (Isaías 1.17)
A Bíblia vermelha denuncia os juízes corruptos, que fazem do seu juízo forma de opressão e apoio aos poderosos: “Até quando dareis sentenças injustas, favorecendo os ímpios? Sede juízes para o desvalido e órfão, fazei justiça ao mísero e ao indigente; libertai o fraco e o pobre, livrai-os das garras dos ímpios!” (Salmo 82.2-4), juízes que mantém inocentes presos: “os quais com uma palavra fazem réu o inocente, no tribunal negociam e trapaceiam contra o defensor, e com testemunho falso e outras mentiras evitam que se faça justiça ao homem íntegro e sem culpa.” (Isaías 29.21)
A Bíblia vermelha condena o acúmulo de capital e a má distribuição de renda: ““Ai de vocês que adquirem casas e mais casas, propriedades e mais propriedades, até não haver mais lugar para ninguém e vocês se tornarem os senhores absolutos da terra!” (Isaías 5.8)
A Bíblia vermelha condena o lucro absurdo dos bancos em detrimento da população mais pobre, extorquida: “Você empresta a juros, visando lucro, e obtém ganhos injustos, extorquindo o próximo… Mas você me verá batendo as minhas mãos uma na outra contra os ganhos injustos que você obteve e contra o sangue que você derramou” (Ezequiel 22.12,13).
Por fim, a Bíblia vermelha aponta para Jesus, que vive com e para os pobres, tomando suas dores, lutando por seus direitos, desafiando um perverso sistema que coliga o império à religião, provocando césares e sacerdotes… e deixando vivo o seu exemplo: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (João 13.15).
As Bíblias estão aí… aos montes. A minha, jamais será laranja!
* José Barbosa Junior é teólogo e pastor da Comunidade Batista do Caminho (Belo Horizonte).
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