Por Marcelo Zero
O presidente John Kennedy costumava dizer que “a política doméstica pode apenas nos derrotar, mas a política externa pode nos matar”.
De fato, pode.
Kennedy estava se referindo, é claro, à possibilidade de que estratégias erradas em política externa levassem os EUA a uma guerra nuclear.
Mas há outras maneiras de um país se matar, além da guerra.
Uma delas, talvez a mais comum, é perder de vista seus interesses próprios e passar a defender interesses de outro país, ou melhor, de um outro governo.
É o que o governo do capitão vem fazendo.
Com efeito, se havia alguma dúvida sobre o grau de vassalagem cega do governo Bolsonaro em relação a Trump, a inacreditável viagem aos EUA se encarregou de aniquilá-la em grande estilo.
Foi um espetáculo grotesco de submissão política e ideológica. Uma total falta de vergonha.
Algo que já entrou para a história como o capítulo mais constrangedor da nossa diplomacia.
O capitão, grande apreciador dos elementos centrais da cultura americana, como a Coca-Cola, as calças jeans e a Disneylândia (comentam que tem predileção pelo personagem Pateta), aparentemente não gosta muito do Brasil.
Com certeza, não gosta de nossos migrantes.
Seu filho Eduardo e ele mesmo fizeram declarações bombásticas contra nossos cidadãos que buscam uma vida melhor lá fora. O primeiro disse que sentia vergonha dos migrantes brasileiros.
Já o segundo afirmou à Fox News, mídia trumpista, que apoia a construção do muro de Trump, pois a maioria dos migrantes “não tem boa intenção”.
Não comentou, contudo, se aprovava a prisão de crianças brasileiras pela aduana de Trump, o grande humanista.
Suspeitamos que o capitão considere que China, países árabes e os Estados do Mercosul também não tenham “boa intenção”, pois decidiu comprar briga com esses grandes parceiros do Brasil para atender caprichos geopolíticos de Trump, o messias do Ocidente.
Em contrapartida, para o capitão e sua incrível armada Bolsoleone, Trump é um oceano de boas intenções, às quais o Brasil tem de se curvar ideologicamente.
Por isso, no incrível convescote bilateral da ultradireita, que reuniu expoentes do calibre intelectual de Steve Bannon e Olavo de Carvalho, nosso capitão fez anacrônico discurso contra o comunismo, no qual afirmou que o “antigo comunismo não pode mais imperar neste nosso ambiente que nós vivenciamos”.
Desconhecíamos que o capitão residisse em Pyongyang. Pensávamos que tivesse fixado residência em Brasília.
Também desconhecemos as razões que levaram o convescote da ultradireita a ser realizado na embaixada do Brasil em Washington.
Julgávamos que a nossa representação oficial só deveria ser aberta para tratativas republicanas concernentes às relações bilaterais.
Em todo caso, o reconhecimento das boas intenções do novo messias do Ocidente, que nos resgatará do comunismo e do marxismo cultural, provoca inegável frisson na armada Bolsoleone e desejo insopitável de agradar unilateralmente.
Sentimento altruísta semelhante ao que se estabelece entre um cão e seu dono.
Esse amor incondicional já redundou em atos de concessão unilateral inéditos em nossa história.
Em primeiro lugar, concedemos a isenção de vistos para norte-americanos, canadenses, australianos e japoneses, sem exigir nada em troca. De agora em diante, esses cidadãos poderão aqui entrar sem nenhuma exigência.
Já, nós, brasileiros, continuaremos a nos submeter à tradicional via crucis para obter vistos.
Afinal, como afirma o próprio presidente do Brasil, frequentemente não temos boas intenções e provocamos vergonha lá fora, além de, segundo o nosso ministro da Educação, roubarmos e pilharmos tudo durante nossas viagens ao exterior.
Outro ato que demonstra amor incondicional foi o relativo à concessão de uma cota de 750 mil toneladas/ano para que os EUA exportem para nós seu trigo com isenção tarifária.
De novo, não exigimos nada em troca, mesmo tendo Trump nos imposto sobretarifas em aço e alumínio e barreiras não-tarifárias contra nossa carne e vários outros bens agrícolas. Fizemos por amor.
O problema é que essa decisão amorosa e desinteressada pode prejudicar a Argentina, nosso principal parceiro do Mercosul, e do qual importamos a maior parte do trigo que consumimos.
Em 2017, importamos apenas 333 mil toneladas de trigo dos EUA. Assim, essa quota tenderá a mais que duplicar as nossas importações dos EUA.
Também a concessão da Base de Alcântara para ser usada por empresas norte-americanas é outra demonstração de afeto incondicional.
Na realidade, o acordo antigo, rejeitado pelo Congresso não tão amoroso, impunha ao Brasil, na prática, a extinção de seu programa de desenvolvimento de foguetes como contrapartida para que os EUA “deixassem” suas empresas usar nossa base.
Dizem, agora, que o novo acordo respeitará nossa soberania. Mas, ante tanto amor canino demonstrado pela armada Bolsoleone, duvidamos que isso aconteça.
Demonstração maior de fidelidade canina foi a promessa de Bolsonaro de empenhar-se mais na desestabilização da Venezuela, nossa vizinha.
O capitão afirmou que todas as opções estão na mesa para alcançar esse nobre objetivo. Ou seja, admitiu participar de uma guerra para benefício de seu ídolo político.
Quantos brasileiros e venezuelanos morreriam? Pouco importa. Somos latinos. Gente sem boas intenções.
Outra concessão amorosa nossa ao messias do Ocidente foi a promessa da extensão da jurisdição da OTAN ao Atlântico Sul, que os EUA vêm tentando estabelecer, coincidentemente, desde a descoberta do pré-sal.
Lula e seu ministro da Defesa, Nélson Jobim, negaram.
Agora, a generosidade bolsonariana abre a possibilidade de submeter a Amazônia Azul aos desígnios do messias. No mesmo diapasão afetivo, Guedes, o chicago boy mais rápido do meio oeste, prometeu vender o pré-sal em 3 meses.
O pré-sal e tudo mais. O corpo esquartejado do Brasil está à venda.
Já do outro lado da mesa, o novo dono do Brasil, bem mais pragmático e racional, não demonstrou tanto afeto assim.
Ao pedido de apoiar o Brasil em seu pleito de ingressar na OCDE, o clube dos ricos, respondeu que só o fará se o nosso país renunciar ao tratamento diferenciado que temos na OMC, por sermos país em desenvolvimento.
Com isso, perderíamos mercado em muitos países. Os EUA, nosso concorrente em várias áreas, aproveitariam.
Também não conseguimos êxito algum na reversão ou revisão de medidas protecionistas que os EUA aplicam a nossos produtos. Afinal, lá, como no Brasil, vigora o America First.
O amor é lindo, mas, como se vê, pode ser também bastante cruel.
Em compensação, Bolsonaro e seu ministro da Justiça conseguiram permissão para visitar a CIA, agência americana especializada na desestabilização de regimes, em tortura e em espionagem.
O que foi lá tratado é difícil dizer, pois nenhum chefe de estado que se preze visitaria Langley, mas pode-se imaginar que não tenha sida nada de edificante.
Combater crime organizado e narcotráfico, como alegado, é que não foi. Crime organizado é com o FBI e narcotráfico é com a DEA.
O certo é que nessa viagem aos EUA promoveu-se a morte do Brasil. Não a morte física em uma guerra nuclear, como imaginava Kennedy, mas a morte geopolítica de um país outrora respeitado e soberano.
Reverter o que está sendo feito será muito difícil, talvez impossível.
A política externa da armada Bolsoleone está matando o Brasil.
Em política externa, a burrice é uma bomba atômica. Mata o presente e o futuro do país.
O presidente John Kennedy costumava dizer que “a política doméstica pode apenas nos derrotar, mas a política externa pode nos matar”.
De fato, pode.
Kennedy estava se referindo, é claro, à possibilidade de que estratégias erradas em política externa levassem os EUA a uma guerra nuclear.
Mas há outras maneiras de um país se matar, além da guerra.
Uma delas, talvez a mais comum, é perder de vista seus interesses próprios e passar a defender interesses de outro país, ou melhor, de um outro governo.
É o que o governo do capitão vem fazendo.
Com efeito, se havia alguma dúvida sobre o grau de vassalagem cega do governo Bolsonaro em relação a Trump, a inacreditável viagem aos EUA se encarregou de aniquilá-la em grande estilo.
Foi um espetáculo grotesco de submissão política e ideológica. Uma total falta de vergonha.
Algo que já entrou para a história como o capítulo mais constrangedor da nossa diplomacia.
O capitão, grande apreciador dos elementos centrais da cultura americana, como a Coca-Cola, as calças jeans e a Disneylândia (comentam que tem predileção pelo personagem Pateta), aparentemente não gosta muito do Brasil.
Com certeza, não gosta de nossos migrantes.
Seu filho Eduardo e ele mesmo fizeram declarações bombásticas contra nossos cidadãos que buscam uma vida melhor lá fora. O primeiro disse que sentia vergonha dos migrantes brasileiros.
Já o segundo afirmou à Fox News, mídia trumpista, que apoia a construção do muro de Trump, pois a maioria dos migrantes “não tem boa intenção”.
Não comentou, contudo, se aprovava a prisão de crianças brasileiras pela aduana de Trump, o grande humanista.
Suspeitamos que o capitão considere que China, países árabes e os Estados do Mercosul também não tenham “boa intenção”, pois decidiu comprar briga com esses grandes parceiros do Brasil para atender caprichos geopolíticos de Trump, o messias do Ocidente.
Em contrapartida, para o capitão e sua incrível armada Bolsoleone, Trump é um oceano de boas intenções, às quais o Brasil tem de se curvar ideologicamente.
Por isso, no incrível convescote bilateral da ultradireita, que reuniu expoentes do calibre intelectual de Steve Bannon e Olavo de Carvalho, nosso capitão fez anacrônico discurso contra o comunismo, no qual afirmou que o “antigo comunismo não pode mais imperar neste nosso ambiente que nós vivenciamos”.
Desconhecíamos que o capitão residisse em Pyongyang. Pensávamos que tivesse fixado residência em Brasília.
Também desconhecemos as razões que levaram o convescote da ultradireita a ser realizado na embaixada do Brasil em Washington.
Julgávamos que a nossa representação oficial só deveria ser aberta para tratativas republicanas concernentes às relações bilaterais.
Em todo caso, o reconhecimento das boas intenções do novo messias do Ocidente, que nos resgatará do comunismo e do marxismo cultural, provoca inegável frisson na armada Bolsoleone e desejo insopitável de agradar unilateralmente.
Sentimento altruísta semelhante ao que se estabelece entre um cão e seu dono.
Esse amor incondicional já redundou em atos de concessão unilateral inéditos em nossa história.
Em primeiro lugar, concedemos a isenção de vistos para norte-americanos, canadenses, australianos e japoneses, sem exigir nada em troca. De agora em diante, esses cidadãos poderão aqui entrar sem nenhuma exigência.
Já, nós, brasileiros, continuaremos a nos submeter à tradicional via crucis para obter vistos.
Afinal, como afirma o próprio presidente do Brasil, frequentemente não temos boas intenções e provocamos vergonha lá fora, além de, segundo o nosso ministro da Educação, roubarmos e pilharmos tudo durante nossas viagens ao exterior.
Outro ato que demonstra amor incondicional foi o relativo à concessão de uma cota de 750 mil toneladas/ano para que os EUA exportem para nós seu trigo com isenção tarifária.
De novo, não exigimos nada em troca, mesmo tendo Trump nos imposto sobretarifas em aço e alumínio e barreiras não-tarifárias contra nossa carne e vários outros bens agrícolas. Fizemos por amor.
O problema é que essa decisão amorosa e desinteressada pode prejudicar a Argentina, nosso principal parceiro do Mercosul, e do qual importamos a maior parte do trigo que consumimos.
Em 2017, importamos apenas 333 mil toneladas de trigo dos EUA. Assim, essa quota tenderá a mais que duplicar as nossas importações dos EUA.
Também a concessão da Base de Alcântara para ser usada por empresas norte-americanas é outra demonstração de afeto incondicional.
Na realidade, o acordo antigo, rejeitado pelo Congresso não tão amoroso, impunha ao Brasil, na prática, a extinção de seu programa de desenvolvimento de foguetes como contrapartida para que os EUA “deixassem” suas empresas usar nossa base.
Dizem, agora, que o novo acordo respeitará nossa soberania. Mas, ante tanto amor canino demonstrado pela armada Bolsoleone, duvidamos que isso aconteça.
Demonstração maior de fidelidade canina foi a promessa de Bolsonaro de empenhar-se mais na desestabilização da Venezuela, nossa vizinha.
O capitão afirmou que todas as opções estão na mesa para alcançar esse nobre objetivo. Ou seja, admitiu participar de uma guerra para benefício de seu ídolo político.
Quantos brasileiros e venezuelanos morreriam? Pouco importa. Somos latinos. Gente sem boas intenções.
Outra concessão amorosa nossa ao messias do Ocidente foi a promessa da extensão da jurisdição da OTAN ao Atlântico Sul, que os EUA vêm tentando estabelecer, coincidentemente, desde a descoberta do pré-sal.
Lula e seu ministro da Defesa, Nélson Jobim, negaram.
Agora, a generosidade bolsonariana abre a possibilidade de submeter a Amazônia Azul aos desígnios do messias. No mesmo diapasão afetivo, Guedes, o chicago boy mais rápido do meio oeste, prometeu vender o pré-sal em 3 meses.
O pré-sal e tudo mais. O corpo esquartejado do Brasil está à venda.
Já do outro lado da mesa, o novo dono do Brasil, bem mais pragmático e racional, não demonstrou tanto afeto assim.
Ao pedido de apoiar o Brasil em seu pleito de ingressar na OCDE, o clube dos ricos, respondeu que só o fará se o nosso país renunciar ao tratamento diferenciado que temos na OMC, por sermos país em desenvolvimento.
Com isso, perderíamos mercado em muitos países. Os EUA, nosso concorrente em várias áreas, aproveitariam.
Também não conseguimos êxito algum na reversão ou revisão de medidas protecionistas que os EUA aplicam a nossos produtos. Afinal, lá, como no Brasil, vigora o America First.
O amor é lindo, mas, como se vê, pode ser também bastante cruel.
Em compensação, Bolsonaro e seu ministro da Justiça conseguiram permissão para visitar a CIA, agência americana especializada na desestabilização de regimes, em tortura e em espionagem.
O que foi lá tratado é difícil dizer, pois nenhum chefe de estado que se preze visitaria Langley, mas pode-se imaginar que não tenha sida nada de edificante.
Combater crime organizado e narcotráfico, como alegado, é que não foi. Crime organizado é com o FBI e narcotráfico é com a DEA.
O certo é que nessa viagem aos EUA promoveu-se a morte do Brasil. Não a morte física em uma guerra nuclear, como imaginava Kennedy, mas a morte geopolítica de um país outrora respeitado e soberano.
Reverter o que está sendo feito será muito difícil, talvez impossível.
A política externa da armada Bolsoleone está matando o Brasil.
Em política externa, a burrice é uma bomba atômica. Mata o presente e o futuro do país.
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