Por Eric Nepomuceno, no site Carta Maior:
A maré de más notícias para o clã presidencial cresceu: na véspera do aniversário de um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram detidos ontem (12/3), no Rio de Janeiro, os acusados Ronnie Lessa, sargento reformado da Polícia Militar fluminense, e Élcio Vieira de Queiroz, expulso da mesma corporação em 2016. Ambos integram uma “milícia”, como são conhecidos os grupos de extermínio paramilitares no Brasil, muitos deles formados policiais ativos, ex-policiais e bombeiros.
Qual a relação do clã Bolsonaro – tanto o presidente Jair quanto seus filhos Carlos, Eduardo e Flávio – com o caso?
Primeiro, os quatro passaram a vida elogiando a atuação das “milícias”. Quando era deputado nacional, por volta de 2008, o atual presidente chegou a cogitar que o Rio de Janeiro “exportasse milicianos para a Bahia” quando esse Estado enfrentava uma crise de violência e criminalidade, em declaração entre risos e grosserias.
Na mesma época, seu filho Flávio, então deputado estadual e hoje senador, concedeu ao ex-capitão da Polícia Militar, Adriano da Nóbrega, o reconhecimento máximo da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nóbrega, hoje foragido da Justiça, é acusado de encabeçar o chamado “Escritório do Crime”, a milícia que controla uma das maiores favelas do Rio. E mais: o filho mais velho de Bolsonaro, também quando deputado, empregou a mãe e a mulher do miliciano em seu gabinete legislativo.
Mas não acabou aí: o também ex-policial militar Fabrício Queiróz, que por décadas funcionou como uma espécie de gerente-geral da família – amigo do papai, era tratado pelo trio de cães raivosos como um tio querido – está envolvido até o pescoço com desvio de dinheiro público, e possui uma intimidade absoluta com o fugitivo Nóbrega. Queiróz foi flagrado fazendo generosos depósitos na conta bancária não só do filho Flávio como também na da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Em dois anos, passaram por uma das contas de Queiróz pouco menos de 2 milhões de dólares. Sua aposentadoria, somada ao salário de “assessor” de Flávio na Assembleia de Legislativa do Rio, jamais superou os cinco mil e poucos dólares mensais. Para justificar o inexplicável fluxo milionário em sua conta, Queiróz assegurou que comprava e vendia carros usados.
Em todo caso, durante muito tempo, nenhuma dessas evidências foi suficiente para que a clara proximidade – e admiração mútua – entre o clã Bolsonaro e os grupos de extermínio que operam no Rio ganhasse a devida repercussão nos meios.
Mas agora o fato ganhou um novo impulso: o assassinato de Marielle Franco e seu motorista é um tema cujo interesse vai além das fronteiras brasileiras, e o homem apontado como seu executor é vizinho de Bolsonaro pai, morador do mesmo condomínio de novos ricos na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Outro milagre da multiplicação dos recursos: com uma aposentadoria de pouco mais de 2 mil dólares, ele vive em uma casa que vale mais de um milhão.
Claro que ser vizinho está longe de significar algum vínculo mais próximo. Mas neste caso específico, as ligações são incontestáveis.
Sobram fotos de Bolsonaro pai com os dois detidos (especialmente com Élcio Vieira de Queiroz, que é apontado como motorista do carro que perseguiu o de Marielle e Anderson, enquanto Lessa efetuava os disparos). Ademais, uma das filhas de Ronnie Lessa teria sido namorada do filho mais novo do mandatário, e Lessa reiterava sempre – e jamais foi desmentido – que o fim desse namoro foi o que afastou as famílias.
Várias dessas pistas sobre o vínculo do clã Bolsonaro com os grupos de extermínio ficaram muito tempo escondidas nas sombras, para não fazer balançar ainda mais um governo sem rumo, encabeçado por um desequilibrado e seus filhos hidrófobos. Agora, porém, alguém acendeu a luz.
* Publicado originalmente no jornal argentino Página-12. Tradução de Victor Farinelli.
A maré de más notícias para o clã presidencial cresceu: na véspera do aniversário de um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram detidos ontem (12/3), no Rio de Janeiro, os acusados Ronnie Lessa, sargento reformado da Polícia Militar fluminense, e Élcio Vieira de Queiroz, expulso da mesma corporação em 2016. Ambos integram uma “milícia”, como são conhecidos os grupos de extermínio paramilitares no Brasil, muitos deles formados policiais ativos, ex-policiais e bombeiros.
Qual a relação do clã Bolsonaro – tanto o presidente Jair quanto seus filhos Carlos, Eduardo e Flávio – com o caso?
Primeiro, os quatro passaram a vida elogiando a atuação das “milícias”. Quando era deputado nacional, por volta de 2008, o atual presidente chegou a cogitar que o Rio de Janeiro “exportasse milicianos para a Bahia” quando esse Estado enfrentava uma crise de violência e criminalidade, em declaração entre risos e grosserias.
Na mesma época, seu filho Flávio, então deputado estadual e hoje senador, concedeu ao ex-capitão da Polícia Militar, Adriano da Nóbrega, o reconhecimento máximo da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nóbrega, hoje foragido da Justiça, é acusado de encabeçar o chamado “Escritório do Crime”, a milícia que controla uma das maiores favelas do Rio. E mais: o filho mais velho de Bolsonaro, também quando deputado, empregou a mãe e a mulher do miliciano em seu gabinete legislativo.
Mas não acabou aí: o também ex-policial militar Fabrício Queiróz, que por décadas funcionou como uma espécie de gerente-geral da família – amigo do papai, era tratado pelo trio de cães raivosos como um tio querido – está envolvido até o pescoço com desvio de dinheiro público, e possui uma intimidade absoluta com o fugitivo Nóbrega. Queiróz foi flagrado fazendo generosos depósitos na conta bancária não só do filho Flávio como também na da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Em dois anos, passaram por uma das contas de Queiróz pouco menos de 2 milhões de dólares. Sua aposentadoria, somada ao salário de “assessor” de Flávio na Assembleia de Legislativa do Rio, jamais superou os cinco mil e poucos dólares mensais. Para justificar o inexplicável fluxo milionário em sua conta, Queiróz assegurou que comprava e vendia carros usados.
Em todo caso, durante muito tempo, nenhuma dessas evidências foi suficiente para que a clara proximidade – e admiração mútua – entre o clã Bolsonaro e os grupos de extermínio que operam no Rio ganhasse a devida repercussão nos meios.
Mas agora o fato ganhou um novo impulso: o assassinato de Marielle Franco e seu motorista é um tema cujo interesse vai além das fronteiras brasileiras, e o homem apontado como seu executor é vizinho de Bolsonaro pai, morador do mesmo condomínio de novos ricos na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Outro milagre da multiplicação dos recursos: com uma aposentadoria de pouco mais de 2 mil dólares, ele vive em uma casa que vale mais de um milhão.
Claro que ser vizinho está longe de significar algum vínculo mais próximo. Mas neste caso específico, as ligações são incontestáveis.
Sobram fotos de Bolsonaro pai com os dois detidos (especialmente com Élcio Vieira de Queiroz, que é apontado como motorista do carro que perseguiu o de Marielle e Anderson, enquanto Lessa efetuava os disparos). Ademais, uma das filhas de Ronnie Lessa teria sido namorada do filho mais novo do mandatário, e Lessa reiterava sempre – e jamais foi desmentido – que o fim desse namoro foi o que afastou as famílias.
Várias dessas pistas sobre o vínculo do clã Bolsonaro com os grupos de extermínio ficaram muito tempo escondidas nas sombras, para não fazer balançar ainda mais um governo sem rumo, encabeçado por um desequilibrado e seus filhos hidrófobos. Agora, porém, alguém acendeu a luz.
* Publicado originalmente no jornal argentino Página-12. Tradução de Victor Farinelli.
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