Por Eduardo Salomão Condé, no blog Viomundo:
O que tem o Bolsonaro, ora presidente, com todo o escândalo do Judiciário?
Absolutamente tudo. Basta se afastar da cena imediata e observar o panorama em seu conjunto.
O que o governo inapetente, entreguista e destruidor de direitos sociais tem com as revelações do The Intercept, que parece operar em outra esfera?
Absolutamente tudo. O movimento de longa duração, desde 2013 até o presente, vincula a parte indecente e midiática do poder judiciário, a ação deletéria e destrutiva da denominada “grande imprensa” e a ascensão de um “poder conservador” que permanecia subterrâneo e ascendeu, e que pode chegar perto de 30% do eleitorado (o que é alarmante, não por ser liberal, o que não é, mas por suas inclinações ao comportamento fascista).
Ombro a ombro a estes fatores, a operação associada à virada conservadora e reativa que envolve a inversão das prioridades em política social e a entrega das riquezas nacionais ao capital internacional (com implicações na política externa desde Temer), o comportamento crescentemente anti-democrático e golpista que tomou conta do conluio burguesia rentista/judiciário indecente/imprensa de pensamento único e com a ajuda dela, sempre ela, a classe média oscilante e eventualmente com mentalidade udenista.
A destruição da política como atividade essencial para a vida democrática e, por cima de tudo, a desmontagem de um projeto nacional de desenvolvimento, envolvendo, algo surpreendente para quem o vê com binóculo e não de perto, os militares identificados aos interesses externos e liberais de ocasião.
Para tudo dar certo era preciso:
1 – criminalizar a esquerda e desmontar a política democrática – isto vai do impeachment até a desconstrução partidária, arrastando inclusive o centro;
2 – transformar a parcela midiática do judiciário em ator decisivo para “limpar” o Brasil “a qualquer preço”;
3 – garantir reformas estruturais que mantenham intocáveis privilégios seculares e a rota rentista, longe da economia real que mostra fome, desemprego, desordem produtiva,salários comprometidos e mercado de trabalho colonizado pela “liberdade do indivíduo”;
4 – a imprensa ser o veículo demonstrativo das reformas e da glorificação do judiciário midiático, para o controle da narrativa.
Este conjunto produziu esse senhor que desonra a cadeira presidencial.
Em uma metáfora enxadrística, os peões do jogo são a matilha em camisa da CBF, deputados sem noção do PSL e alhures e os ingênuos crédulos de que Moro e Paulo Guedes são a salvação do governo medíocre.
As torres são a justiça midiática e a imprensa, os bispos, movendo-se diagonalmente, são os políticos e religiosos oportunistas e os cavalos são as forças armadas, uma guarda que salta sobre os ombros de todos e oscilam em proteção à rainha e ao rei.
A rainha é Bolsonaro e seus movimentos por todos os lados. O rei? Ora, a economia, o alfa e o ômega onde tudo se realiza, onde a burguesia nacional se locupleta e mata a própria indústria e as empresas nacionais.
Resta saber quem joga com as peças brancas. Este cenário indica que eles começaram o jogo com as brancas e acuaram as pretas. Esta semana as pretas encontraram um caminho de defesa e, quem sabe, estarão a armar um contra-ataque.
O caráter do ora presidente é visivelmente distorcido. Recentemente praticou o mais baixo e elementar populismo, no pior sentido do termo (e fora do sentido sociológico), e levou o enfraquecido e conhecido ex-juiz parcial e golpista, o Moro, a um jogo do Flamengo.
Foi testar sua popularidade e do ministro em um estádio mais da metade vazio e não sei bem se há algo a comemorar. Ele faz o ministro de um peãozinho reles que ele manipula. E o sujeito merece, dado conjunto da obra.
Quem não merece é o país, com este conluio mídia, direita proto-fascista, justiça midiática e burguesia rentista dando as cartas, um território destroçado em sua economia real.
Graças ao The Intercept uma bolha furou. Que venha mais.
Afinal, dizem inclusive os ingênuos apoiadores de Moro e Guedes e todo o conluio golpista, o pais não precisa “ser passado a limpo” e “não temos político de estimação”? Pois vamos, é a tarefa do momento.
Ah sim, e “Lula livre”, porque um processo fraudulento não pode manter nenhum cidadão condenado. Além de Lula trata-se de mim, de você , de todos nós. E dos nossos direitos.
A primavera sempre chega. Seus sinais começam dentro do inverno.
* Eduardo Salomão Condé é professor do departamento de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mestre em ciência política e doutor em economia aplicada pela Unicamp.
O que tem o Bolsonaro, ora presidente, com todo o escândalo do Judiciário?
Absolutamente tudo. Basta se afastar da cena imediata e observar o panorama em seu conjunto.
O que o governo inapetente, entreguista e destruidor de direitos sociais tem com as revelações do The Intercept, que parece operar em outra esfera?
Absolutamente tudo. O movimento de longa duração, desde 2013 até o presente, vincula a parte indecente e midiática do poder judiciário, a ação deletéria e destrutiva da denominada “grande imprensa” e a ascensão de um “poder conservador” que permanecia subterrâneo e ascendeu, e que pode chegar perto de 30% do eleitorado (o que é alarmante, não por ser liberal, o que não é, mas por suas inclinações ao comportamento fascista).
Ombro a ombro a estes fatores, a operação associada à virada conservadora e reativa que envolve a inversão das prioridades em política social e a entrega das riquezas nacionais ao capital internacional (com implicações na política externa desde Temer), o comportamento crescentemente anti-democrático e golpista que tomou conta do conluio burguesia rentista/judiciário indecente/imprensa de pensamento único e com a ajuda dela, sempre ela, a classe média oscilante e eventualmente com mentalidade udenista.
A destruição da política como atividade essencial para a vida democrática e, por cima de tudo, a desmontagem de um projeto nacional de desenvolvimento, envolvendo, algo surpreendente para quem o vê com binóculo e não de perto, os militares identificados aos interesses externos e liberais de ocasião.
Para tudo dar certo era preciso:
1 – criminalizar a esquerda e desmontar a política democrática – isto vai do impeachment até a desconstrução partidária, arrastando inclusive o centro;
2 – transformar a parcela midiática do judiciário em ator decisivo para “limpar” o Brasil “a qualquer preço”;
3 – garantir reformas estruturais que mantenham intocáveis privilégios seculares e a rota rentista, longe da economia real que mostra fome, desemprego, desordem produtiva,salários comprometidos e mercado de trabalho colonizado pela “liberdade do indivíduo”;
4 – a imprensa ser o veículo demonstrativo das reformas e da glorificação do judiciário midiático, para o controle da narrativa.
Este conjunto produziu esse senhor que desonra a cadeira presidencial.
Em uma metáfora enxadrística, os peões do jogo são a matilha em camisa da CBF, deputados sem noção do PSL e alhures e os ingênuos crédulos de que Moro e Paulo Guedes são a salvação do governo medíocre.
As torres são a justiça midiática e a imprensa, os bispos, movendo-se diagonalmente, são os políticos e religiosos oportunistas e os cavalos são as forças armadas, uma guarda que salta sobre os ombros de todos e oscilam em proteção à rainha e ao rei.
A rainha é Bolsonaro e seus movimentos por todos os lados. O rei? Ora, a economia, o alfa e o ômega onde tudo se realiza, onde a burguesia nacional se locupleta e mata a própria indústria e as empresas nacionais.
Resta saber quem joga com as peças brancas. Este cenário indica que eles começaram o jogo com as brancas e acuaram as pretas. Esta semana as pretas encontraram um caminho de defesa e, quem sabe, estarão a armar um contra-ataque.
O caráter do ora presidente é visivelmente distorcido. Recentemente praticou o mais baixo e elementar populismo, no pior sentido do termo (e fora do sentido sociológico), e levou o enfraquecido e conhecido ex-juiz parcial e golpista, o Moro, a um jogo do Flamengo.
Foi testar sua popularidade e do ministro em um estádio mais da metade vazio e não sei bem se há algo a comemorar. Ele faz o ministro de um peãozinho reles que ele manipula. E o sujeito merece, dado conjunto da obra.
Quem não merece é o país, com este conluio mídia, direita proto-fascista, justiça midiática e burguesia rentista dando as cartas, um território destroçado em sua economia real.
Graças ao The Intercept uma bolha furou. Que venha mais.
Afinal, dizem inclusive os ingênuos apoiadores de Moro e Guedes e todo o conluio golpista, o pais não precisa “ser passado a limpo” e “não temos político de estimação”? Pois vamos, é a tarefa do momento.
Ah sim, e “Lula livre”, porque um processo fraudulento não pode manter nenhum cidadão condenado. Além de Lula trata-se de mim, de você , de todos nós. E dos nossos direitos.
A primavera sempre chega. Seus sinais começam dentro do inverno.
* Eduardo Salomão Condé é professor do departamento de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mestre em ciência política e doutor em economia aplicada pela Unicamp.
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