Brasil 2014: dói e revolta pensar que, apenas cinco anos atrás, o Brasil vivia num regime de pleno emprego e era admirado e respeitado no mundo inteiro.
Muita gente se esquece disso. Naquele ano, teve início a Operação Lava Jato.
Brasil 2019: ruas inteiras em São Paulo e no Rio, as maiores cidades do país com lojas fechadas, fábricas e armazéns abandonados, filas intermináveis de brasileiros desesperados que madrugam em busca de uma vaga de emprego, calçadas tomadas por camelôs e vendedores de comida, a uberização avançando em todos os setores da economia.
Neste cenário de fim de feira, o mais assustador retrato da grande tragédia brasileira após o golpe de 2016 foi divulgado pelo IBGE, sem muito destaque na mídia, como se fosse algo normal, coisas da vida.
Num país de 208 milhões de habitantes, apenas a metade da população brasileira tem ainda algum tipo de trabalho remunerado.
Com carteira assinada e direitos trabalhistas, restaram somente 33 milhões.
Quase 40 milhões vivem hoje de bicos, ou seja, são enquadrados como “trabalhadores por conta própria” ou “informais”, sem nenhum direito, sem férias, sem 13º, sem plano de saúde, sem nenhuma segurança.
No último trimestre, houve recorde de trabalhadores subutilizados, que fazem menos horas do que gostariam: 7,2 milhões de pessoas.
E outros 12,6 milhões continuam sem trabalho nenhum, desempregados crônicos, os desalentados que sobrevivem da caridade ou puxando carrocinhas de ferro-velho pelas ruas onde dormem.
Diante deste quadro tétrico, não houve nenhuma reação do governo federal ou do Congresso Nacional, onde as excelências e os maganos vivem em outra realidade, com todas as mordomias e privilégios assegurados.
É esse o resultado em branco e preto, nu e cru, sem fantasias, da Reforma Trabalhista, implantada pelo governo Michel Temer, e que prossegue no atual governo para retirar os direitos que ainda restavam.
Elaborada nos gabinetes dos patrões da Confederação Nacional da Indústria e da Fiesp dos patos amarelos, esta reforma foi um dos motores do golpe de 2016, que derrubou Dilma e prendeu Lula, para a Lava Jato entregar o poder a Bolsonaro, rifar a Amazônia e o pré-sal, sob as bençãos do amigo Trump.
Para completar o massacre dos trabalhadores, falta pouco para ser aprovada no Senado a Reforma da Previdência, que vai tornar ainda mais difícil a sobrevivência dos aposentados.
Sem nenhuma iniciativa à vista do governo para minorar este grande drama social, onde a carteira de trabalho assinada virou uma raridade, sem nenhuma confiança dos investidores nacionais e estrangeiros, os contingentes de brasileiros colocados à margem do mercado se viram como podem para colocar comida na mesa da família.
Neste ritmo, daqui a pouco, vai ter mais gente vendendo do que comprando comida…
Em 55 anos de trabalho, aposentado pelo INSS há quase vinte, hoje com três salários mínimos, nunca havia visto nada parecido em todas as crises econômicas anteriores, que não foram poucas.
No inicio dos anos 80 do século passado, quando o desemprego estava se agravando, os editores da Folha me pediram para fazer uma reportagem com alguma família em que ninguém tinha emprego.
Passei o dia na casa de uma dessas famílias, no extremo da zona leste, acho que em Sapopemba.
Mais do que a minha matéria, foi a foto de Jorge Araújo, até hoje meu parceiro de trabalho na Folha, retratando o casal e os filhos em volta da mesa vazia sem pratos nem comida, que mobilizou uma fantástica reação de solidariedade.
Vieram tantas cestas de comida, roupas e ofertas de emprego, que o salão da igreja ficou lotado e as doações foram distribuídas aos vizinhos na mesma situação.
Parece que os leitores conseguiram traduzir em gestos de solidariedade os números frios do IBGE, que hoje já não sensibilizam mais ninguém. Nem os editores, nem os repórteres.
Os governos federal e estaduais, o Congresso Nacional e os demais poderes têm outras preocupações.
Vivemos num clima de salve-se quem puder, meu pirão primeiro, de absoluta anomia social, com os políticos só de olho nas próximas eleições.
Mino Carta, um dos meus grandes mestres na profissão, resumiu tudo em seu editorial desta semana na Carta Capital, sob o título “O Suicídio do Brasil”.
É exatamente disso que se trata, como ele escreveu no final do seu artigo, sobre a situação “criada por um bando de dementes levados ao poder pelo próprio Brasil”:
“A demência no caso é resultado de delírios alucinados que encontram ecos na chamada classe média brasileira jamais bafejada pelos valores da civilização em um país dos mais desiguais e ignorantes do mundo e agora, graças a Bolsonaro, encaminhado inexoravelmente para o suicídio, máxima negação de si mesmo”.
No mesmo dia em que saiu a revista, na sexta-feira, ficamos sabendo que o procurador-geral Rodrigo Janot queria matar a bala o ministro Gilmar Mendes, do STF, e se suicidar em seguida.
Só faltava isso neste circo de horrores sem fim, comandado pelos “salvadores da pátria” da Lava Jato de Moro, Janot e Dallagnol, num país dividido entre os que já perderam o emprego com carteira assinada e os que têm medo de perdê-lo.
Estamos num mato sem cachorro.
E vida que segue.
Muita gente se esquece disso. Naquele ano, teve início a Operação Lava Jato.
Brasil 2019: ruas inteiras em São Paulo e no Rio, as maiores cidades do país com lojas fechadas, fábricas e armazéns abandonados, filas intermináveis de brasileiros desesperados que madrugam em busca de uma vaga de emprego, calçadas tomadas por camelôs e vendedores de comida, a uberização avançando em todos os setores da economia.
Neste cenário de fim de feira, o mais assustador retrato da grande tragédia brasileira após o golpe de 2016 foi divulgado pelo IBGE, sem muito destaque na mídia, como se fosse algo normal, coisas da vida.
Num país de 208 milhões de habitantes, apenas a metade da população brasileira tem ainda algum tipo de trabalho remunerado.
Com carteira assinada e direitos trabalhistas, restaram somente 33 milhões.
Quase 40 milhões vivem hoje de bicos, ou seja, são enquadrados como “trabalhadores por conta própria” ou “informais”, sem nenhum direito, sem férias, sem 13º, sem plano de saúde, sem nenhuma segurança.
No último trimestre, houve recorde de trabalhadores subutilizados, que fazem menos horas do que gostariam: 7,2 milhões de pessoas.
E outros 12,6 milhões continuam sem trabalho nenhum, desempregados crônicos, os desalentados que sobrevivem da caridade ou puxando carrocinhas de ferro-velho pelas ruas onde dormem.
Diante deste quadro tétrico, não houve nenhuma reação do governo federal ou do Congresso Nacional, onde as excelências e os maganos vivem em outra realidade, com todas as mordomias e privilégios assegurados.
É esse o resultado em branco e preto, nu e cru, sem fantasias, da Reforma Trabalhista, implantada pelo governo Michel Temer, e que prossegue no atual governo para retirar os direitos que ainda restavam.
Elaborada nos gabinetes dos patrões da Confederação Nacional da Indústria e da Fiesp dos patos amarelos, esta reforma foi um dos motores do golpe de 2016, que derrubou Dilma e prendeu Lula, para a Lava Jato entregar o poder a Bolsonaro, rifar a Amazônia e o pré-sal, sob as bençãos do amigo Trump.
Para completar o massacre dos trabalhadores, falta pouco para ser aprovada no Senado a Reforma da Previdência, que vai tornar ainda mais difícil a sobrevivência dos aposentados.
Sem nenhuma iniciativa à vista do governo para minorar este grande drama social, onde a carteira de trabalho assinada virou uma raridade, sem nenhuma confiança dos investidores nacionais e estrangeiros, os contingentes de brasileiros colocados à margem do mercado se viram como podem para colocar comida na mesa da família.
Neste ritmo, daqui a pouco, vai ter mais gente vendendo do que comprando comida…
Em 55 anos de trabalho, aposentado pelo INSS há quase vinte, hoje com três salários mínimos, nunca havia visto nada parecido em todas as crises econômicas anteriores, que não foram poucas.
No inicio dos anos 80 do século passado, quando o desemprego estava se agravando, os editores da Folha me pediram para fazer uma reportagem com alguma família em que ninguém tinha emprego.
Passei o dia na casa de uma dessas famílias, no extremo da zona leste, acho que em Sapopemba.
Mais do que a minha matéria, foi a foto de Jorge Araújo, até hoje meu parceiro de trabalho na Folha, retratando o casal e os filhos em volta da mesa vazia sem pratos nem comida, que mobilizou uma fantástica reação de solidariedade.
Vieram tantas cestas de comida, roupas e ofertas de emprego, que o salão da igreja ficou lotado e as doações foram distribuídas aos vizinhos na mesma situação.
Parece que os leitores conseguiram traduzir em gestos de solidariedade os números frios do IBGE, que hoje já não sensibilizam mais ninguém. Nem os editores, nem os repórteres.
Os governos federal e estaduais, o Congresso Nacional e os demais poderes têm outras preocupações.
Vivemos num clima de salve-se quem puder, meu pirão primeiro, de absoluta anomia social, com os políticos só de olho nas próximas eleições.
Mino Carta, um dos meus grandes mestres na profissão, resumiu tudo em seu editorial desta semana na Carta Capital, sob o título “O Suicídio do Brasil”.
É exatamente disso que se trata, como ele escreveu no final do seu artigo, sobre a situação “criada por um bando de dementes levados ao poder pelo próprio Brasil”:
“A demência no caso é resultado de delírios alucinados que encontram ecos na chamada classe média brasileira jamais bafejada pelos valores da civilização em um país dos mais desiguais e ignorantes do mundo e agora, graças a Bolsonaro, encaminhado inexoravelmente para o suicídio, máxima negação de si mesmo”.
No mesmo dia em que saiu a revista, na sexta-feira, ficamos sabendo que o procurador-geral Rodrigo Janot queria matar a bala o ministro Gilmar Mendes, do STF, e se suicidar em seguida.
Só faltava isso neste circo de horrores sem fim, comandado pelos “salvadores da pátria” da Lava Jato de Moro, Janot e Dallagnol, num país dividido entre os que já perderam o emprego com carteira assinada e os que têm medo de perdê-lo.
Estamos num mato sem cachorro.
E vida que segue.
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