Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Uma das coisas bonitas da democracia é que, adequadamente institucionalizada, ela oferece oportunidades para o eleitorado rever suas decisões. Os indivíduos sabem que podem errar e é preciso que o sistema lhes permita corrigir votos que considerem equivocados, seja pelo motivo que for.
A realização de eleições periódicas, de preferência próximas umas das outras, é o caminho mais comum para que essas reconsiderações sejam possíveis. Há também uma crescente tendência internacional de buscar soluções que abreviem o prazo para consertar equívocos. Muitos discutem a adoção de alguma forma de voto de referendo ou confirmação, como o chamado recall eleitoral, mediante o qual os eleitores podem retirar o mandato concedido a alguém que os decepcione de maneira grave.
Enquanto inovações como esta não chegam ao Brasil, resta-nos o bom e velho calendário eleitoral, que prevê uma eleição a cada dois anos, uma para cargos de nível nacional e estadual, outra para o nível municipal. Pela natureza do que está em disputa, não se pode dizer que umas funcionem exatamente como revisões das outras, pois é claro que são eleições diferentes, com agendas e estratégias de campanha distintas. Mas a conexão entre os votos dados em ambas pode ser forte, a depender do momento.
Estamos no meio do biênio entre a última e a próxima. Daqui a um ano, os eleitores que vão votar serão os mesmos, mas a eleição é outra. Suas decisões serão completamente dissociadas daquelas que tomaram em 2018?
Não há respostas prontas para perguntas desse tipo, nem no Brasil nem em outros países. Algo parece ocorrer, no entanto, em nossa experiência: em momentos políticos “normais”, de previsibilidade e baixa taxa de conflito, as eleições municipais tendem a ser menos influenciadas pelo ambiente nacional, assim como pelas eleições gerais que as antecedem e sucedem. Vice-versa, o oposto: em épocas de imprevisibilidade e conflito, o eleitorado tende a se utilizar das eleições locais para manifestar-se a respeito de questões nacionais.
A considerar as disputas municipais desde a volta das eleições para presidente, algumas se encaixam no padrão que poderíamos julgar “normal”: em 1996, 2004, 2008 e 2012, os eleitores votaram, predominantemente, pensando em suas cidades. Outras, no entanto, se “nacionalizaram”: as de 1992, 2000 e 2016.
Tudo indica que a próxima será semelhante a essas. Como elas, a de 2020 vai ocorrer em um quadro de impopularidade e forte desgaste da imagem do governo. Mas os casos de Fernando Henrique Cardoso, em 2000, e da eleição de 2016 são diferentes. Para o tucano, que saiu delas derrotado, não se pode dizer que a eleição municipal de “meio período” do segundo mandato tenha sido propriamente um referendo. Quanto àquela de 2016, foi sui generis, tendo ocorrido um mês depois do golpe que depôs Dilma Rousseff do poder. A de 1992, enfrentada por Collor no apagar das luzes de seu governo, é que se assemelha a esta que Bolsonaro vai encarar.
É impossível calcular como estará a imagem do capitão daqui a 12 meses, mas uma coisa é certa: até lá, ele e sua turma continuarão a fazer as habituais besteiras, enquanto os resultados práticos de seu governo continuarão ausentes. Em outubro de 2020, Bolsonaro será Bolsonaro, em condições piores que as atuais, pois a desculpa do pouco tempo será menos eficaz que hoje. Difícil dizer se terá chegado ao ponto em que Collor estava em 1992. A Câmara aprovou o início do processo de impeachment na segunda-feira 29 de setembro, e a eleição aconteceu no sábado 3 de outubro. Hoje, ninguém diria, com certeza, que Bolsonaro repetirá Collor nesse particular.
Antes da queda de Collor, a maioria dos eleitores havia, porém, decidido seu voto. E, quando as urnas se abriram, o retrato que mostraram era do anti-Collor: a esquerda venceu em 12 capitais, candidatos progressistas do PSDB e do PMDB em outras cinco. Na direita, o principal vitorioso, Paulo Maluf, fizera campanha contra o presidente. De uma forma geral, o eleitorado brasileiro preferiu candidatos conhecidos, depois de se frustrar com a ideia de renovação. O fracasso do “novo” à direita levou o eleitorado à esquerda e à busca de experiência e bom senso.
Do jeito que vamos, Bolsonaro, em 2020, tem tudo para ser parecido com Collor em 1992. O eleitorado o vê com a mesma mistura de insatisfação e decepção com que via o antecessor. Aquele durou dois anos e meio. E, quanto a Bolsonaro, por quanto tempo teremos de aguentá-lo?
A realização de eleições periódicas, de preferência próximas umas das outras, é o caminho mais comum para que essas reconsiderações sejam possíveis. Há também uma crescente tendência internacional de buscar soluções que abreviem o prazo para consertar equívocos. Muitos discutem a adoção de alguma forma de voto de referendo ou confirmação, como o chamado recall eleitoral, mediante o qual os eleitores podem retirar o mandato concedido a alguém que os decepcione de maneira grave.
Enquanto inovações como esta não chegam ao Brasil, resta-nos o bom e velho calendário eleitoral, que prevê uma eleição a cada dois anos, uma para cargos de nível nacional e estadual, outra para o nível municipal. Pela natureza do que está em disputa, não se pode dizer que umas funcionem exatamente como revisões das outras, pois é claro que são eleições diferentes, com agendas e estratégias de campanha distintas. Mas a conexão entre os votos dados em ambas pode ser forte, a depender do momento.
Estamos no meio do biênio entre a última e a próxima. Daqui a um ano, os eleitores que vão votar serão os mesmos, mas a eleição é outra. Suas decisões serão completamente dissociadas daquelas que tomaram em 2018?
Não há respostas prontas para perguntas desse tipo, nem no Brasil nem em outros países. Algo parece ocorrer, no entanto, em nossa experiência: em momentos políticos “normais”, de previsibilidade e baixa taxa de conflito, as eleições municipais tendem a ser menos influenciadas pelo ambiente nacional, assim como pelas eleições gerais que as antecedem e sucedem. Vice-versa, o oposto: em épocas de imprevisibilidade e conflito, o eleitorado tende a se utilizar das eleições locais para manifestar-se a respeito de questões nacionais.
A considerar as disputas municipais desde a volta das eleições para presidente, algumas se encaixam no padrão que poderíamos julgar “normal”: em 1996, 2004, 2008 e 2012, os eleitores votaram, predominantemente, pensando em suas cidades. Outras, no entanto, se “nacionalizaram”: as de 1992, 2000 e 2016.
Tudo indica que a próxima será semelhante a essas. Como elas, a de 2020 vai ocorrer em um quadro de impopularidade e forte desgaste da imagem do governo. Mas os casos de Fernando Henrique Cardoso, em 2000, e da eleição de 2016 são diferentes. Para o tucano, que saiu delas derrotado, não se pode dizer que a eleição municipal de “meio período” do segundo mandato tenha sido propriamente um referendo. Quanto àquela de 2016, foi sui generis, tendo ocorrido um mês depois do golpe que depôs Dilma Rousseff do poder. A de 1992, enfrentada por Collor no apagar das luzes de seu governo, é que se assemelha a esta que Bolsonaro vai encarar.
É impossível calcular como estará a imagem do capitão daqui a 12 meses, mas uma coisa é certa: até lá, ele e sua turma continuarão a fazer as habituais besteiras, enquanto os resultados práticos de seu governo continuarão ausentes. Em outubro de 2020, Bolsonaro será Bolsonaro, em condições piores que as atuais, pois a desculpa do pouco tempo será menos eficaz que hoje. Difícil dizer se terá chegado ao ponto em que Collor estava em 1992. A Câmara aprovou o início do processo de impeachment na segunda-feira 29 de setembro, e a eleição aconteceu no sábado 3 de outubro. Hoje, ninguém diria, com certeza, que Bolsonaro repetirá Collor nesse particular.
Antes da queda de Collor, a maioria dos eleitores havia, porém, decidido seu voto. E, quando as urnas se abriram, o retrato que mostraram era do anti-Collor: a esquerda venceu em 12 capitais, candidatos progressistas do PSDB e do PMDB em outras cinco. Na direita, o principal vitorioso, Paulo Maluf, fizera campanha contra o presidente. De uma forma geral, o eleitorado brasileiro preferiu candidatos conhecidos, depois de se frustrar com a ideia de renovação. O fracasso do “novo” à direita levou o eleitorado à esquerda e à busca de experiência e bom senso.
Do jeito que vamos, Bolsonaro, em 2020, tem tudo para ser parecido com Collor em 1992. O eleitorado o vê com a mesma mistura de insatisfação e decepção com que via o antecessor. Aquele durou dois anos e meio. E, quanto a Bolsonaro, por quanto tempo teremos de aguentá-lo?
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