Por Eric Nepomuceno, no site Brasil-247:
Dia desses li o título de uma notícia aqui no 247 dizendo ‘Bolsonaro quebra o decoro, chama Lula de ‘nove dedos’ e espalha fake news’. E fiquei pensando no que tinha lido.
A primeira dúvida: para que algo quebre ou seja quebrado, é preciso que esse algo exista.
A menos, claro, quando se dá um uso metafórico à expressão: ‘rompeu um sonho’, ‘destroçou a esperança’.
‘Quebra de decoro?’. Não era o caso.
O decoro presidencial pode ser definido de forma sintética: ter atitudes e um comportamento compatíveis com a importância do cargo. Mentir compulsivamente, por exemplo, ou se expressar de maneira grosseira, dando mostras de descontrole emocional – no mínimo, emocional – é romper, quebrar, o decoro presidencial.
Pois Jair Messias Bolsonaro, desde seus tempos de deputado, jamais deu um único e miserável sinal de que tenha alguma ideia, por mais remota que seja, do significado da palavra ‘decoro’.
E como depois que assumiu a presidência da República em momento algum Jair Messias emitiu sinal algum de que tenha ideia do cargo que ocupa – muito mais que como presidente ele atua sem parar como forte candidato a ditador tresloucado –, eu não sei se cabe, no seu caso, o uso da expressão ‘decoro presidencial’.
Para concluir, uma sugestão: como não existe, ao menos que eu saiba, ‘decoro ditatorial’ ou ‘decoro demencial’, melhor deixar a expressão de lado.
Senão, vejamos: em momento algum de sua longa trajetória na Câmara Jair Messias deu sinais de sequer entender o que se espera de um deputado. Decoro parlamentar, então, nem pensar.
Basta recordar que, além de ofender colegas mulheres (‘não te estupro porque você não merece’, por exemplo), defender a ditadura e ser um crítico peculiar das torturas institucionalizadas a partir de dezembro de 1968 e do nefasto AI-5 (‘não devia ter acontecido tortura: eles deviam é ter matado logo uns 30 mil, a começar pelo Fernando Henrique Cardoso’) e defender seu direito a usar como bem entendesse a verba parlamentar de auxilio-residência (sendo proprietário de imóvel em Brasília, recebia a tal verba, atitude absolutamente indecorosa, que usava para – em suas palavras – ‘comer gente’), Jair Messias esbanjou robustas mostras de que sua grosseria primária desconhece limites.
A lista é longa e nutrida de absurdos como esses. Depois da posse, não melhorou nada: ao contrário, o poder, que ele imagina ser infinito, abriu espaço para explosões de bestialógicos.
Quanto a isso que se convencionou chamar de ‘fake news’ – expressão que me irrita profundamente, pois suaviza o que seria correto: chamar de mentiras, deslavadas mentiras –, ninguém seria capaz de superar a produção de Jair Messias e a tropa comandada pelo mais hidrófobo de seus filhos hidrófobos, o vereador Carlos.
Jair Messias mente numa sequência assombrosa, diz o que lhe dá no amianto (‘telha’ seria demasiada generosidade com ele) e volta atrás como se nada, numa formidável cátedra de cinismo.
Quem se esquece – e menciono aqui um único, porém muito expressivo exemplo – de que, logo depois da vitória de Alberto Fernández nas eleições presidenciais argentinas, Jair Bolsonaro afirmou que a L’Oreal, a Honda e a MWM (fábrica de motores) tinham anunciado que sairiam daquele país para se instalar no Brasil?
Desmentido de imediato pelas três empresas, pediu desculpas em voz baixa e saiu de fininho, com a naturalidade típica dos que acham que mentir e respirar são atividades essenciais para a vida humana.
Outra mostra de seu ‘decoro presidencial’: logo depois de falar no plenário da ONU aquela amazônica sequência de asneiras e aberrações, Jair Messias ficou num corredor esperando a passagem de seu mito-mor, Donald Trump. Queria porque queria uma foto constatando, uma vez mais, os profundos laços de amizade entre os dois.
Pois bem: Trump chegou, foi recebido por um revelador ‘I love you’, os dois apertaram as mãos, a foto foi feita.
Tempo conseguido por Jair Messias ao lado de Donald depois de meia hora de espera: exatos 17 segundos.
Não, definitivamente não se pode falar em ‘quebra de decoro’.
Jair Messias é um absurdo ambulante, e porta-se, verdade seja dita, de maneira absolutamente coerente com tudo que fez na vida: uma aberração atrás da outra, e assim vai levando o país ao fundo sem fim de um poço sem fundo.
Será que este país se tornou tão indecoroso quanto seu presidente, ou está apenas e temporariamente adormecido, anestesiado?
Confesso que essa dúvida volta e meia me atormenta.
Dia desses li o título de uma notícia aqui no 247 dizendo ‘Bolsonaro quebra o decoro, chama Lula de ‘nove dedos’ e espalha fake news’. E fiquei pensando no que tinha lido.
A primeira dúvida: para que algo quebre ou seja quebrado, é preciso que esse algo exista.
A menos, claro, quando se dá um uso metafórico à expressão: ‘rompeu um sonho’, ‘destroçou a esperança’.
‘Quebra de decoro?’. Não era o caso.
O decoro presidencial pode ser definido de forma sintética: ter atitudes e um comportamento compatíveis com a importância do cargo. Mentir compulsivamente, por exemplo, ou se expressar de maneira grosseira, dando mostras de descontrole emocional – no mínimo, emocional – é romper, quebrar, o decoro presidencial.
Pois Jair Messias Bolsonaro, desde seus tempos de deputado, jamais deu um único e miserável sinal de que tenha alguma ideia, por mais remota que seja, do significado da palavra ‘decoro’.
E como depois que assumiu a presidência da República em momento algum Jair Messias emitiu sinal algum de que tenha ideia do cargo que ocupa – muito mais que como presidente ele atua sem parar como forte candidato a ditador tresloucado –, eu não sei se cabe, no seu caso, o uso da expressão ‘decoro presidencial’.
Para concluir, uma sugestão: como não existe, ao menos que eu saiba, ‘decoro ditatorial’ ou ‘decoro demencial’, melhor deixar a expressão de lado.
Senão, vejamos: em momento algum de sua longa trajetória na Câmara Jair Messias deu sinais de sequer entender o que se espera de um deputado. Decoro parlamentar, então, nem pensar.
Basta recordar que, além de ofender colegas mulheres (‘não te estupro porque você não merece’, por exemplo), defender a ditadura e ser um crítico peculiar das torturas institucionalizadas a partir de dezembro de 1968 e do nefasto AI-5 (‘não devia ter acontecido tortura: eles deviam é ter matado logo uns 30 mil, a começar pelo Fernando Henrique Cardoso’) e defender seu direito a usar como bem entendesse a verba parlamentar de auxilio-residência (sendo proprietário de imóvel em Brasília, recebia a tal verba, atitude absolutamente indecorosa, que usava para – em suas palavras – ‘comer gente’), Jair Messias esbanjou robustas mostras de que sua grosseria primária desconhece limites.
A lista é longa e nutrida de absurdos como esses. Depois da posse, não melhorou nada: ao contrário, o poder, que ele imagina ser infinito, abriu espaço para explosões de bestialógicos.
Quanto a isso que se convencionou chamar de ‘fake news’ – expressão que me irrita profundamente, pois suaviza o que seria correto: chamar de mentiras, deslavadas mentiras –, ninguém seria capaz de superar a produção de Jair Messias e a tropa comandada pelo mais hidrófobo de seus filhos hidrófobos, o vereador Carlos.
Jair Messias mente numa sequência assombrosa, diz o que lhe dá no amianto (‘telha’ seria demasiada generosidade com ele) e volta atrás como se nada, numa formidável cátedra de cinismo.
Quem se esquece – e menciono aqui um único, porém muito expressivo exemplo – de que, logo depois da vitória de Alberto Fernández nas eleições presidenciais argentinas, Jair Bolsonaro afirmou que a L’Oreal, a Honda e a MWM (fábrica de motores) tinham anunciado que sairiam daquele país para se instalar no Brasil?
Desmentido de imediato pelas três empresas, pediu desculpas em voz baixa e saiu de fininho, com a naturalidade típica dos que acham que mentir e respirar são atividades essenciais para a vida humana.
Outra mostra de seu ‘decoro presidencial’: logo depois de falar no plenário da ONU aquela amazônica sequência de asneiras e aberrações, Jair Messias ficou num corredor esperando a passagem de seu mito-mor, Donald Trump. Queria porque queria uma foto constatando, uma vez mais, os profundos laços de amizade entre os dois.
Pois bem: Trump chegou, foi recebido por um revelador ‘I love you’, os dois apertaram as mãos, a foto foi feita.
Tempo conseguido por Jair Messias ao lado de Donald depois de meia hora de espera: exatos 17 segundos.
Não, definitivamente não se pode falar em ‘quebra de decoro’.
Jair Messias é um absurdo ambulante, e porta-se, verdade seja dita, de maneira absolutamente coerente com tudo que fez na vida: uma aberração atrás da outra, e assim vai levando o país ao fundo sem fim de um poço sem fundo.
Será que este país se tornou tão indecoroso quanto seu presidente, ou está apenas e temporariamente adormecido, anestesiado?
Confesso que essa dúvida volta e meia me atormenta.
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