Por Antonio Lassance, no site Carta Maior:
Boris Johnson e Jeremy Corbyn são responsáveis por algo muito importante na política britânica: que a distinção entre esquerda e direita fique clara e cristalina.
É uma pena que parte desse esclarecimento seja obra de um político de extrema direita.
Diferenças nítidas entre esquerda, centro e direita sempre foram um elemento distintivo importante do sistema político britânico.
Nublar essas diferenças claras de programa entre os partidos do espectro político, entretanto, foi um dos legados mais relevantes e perversos deixados pelo ex-primeiro-ministro Tony Blair.
É de se lamentar que partidos que deveriam estar à esquerda se proponham a fazer políticas de centro direita como se fossem suas próprias, ao invés de rechaçá-las - sem prejuízo de que governos de coalizão façam concessões pontuais.
Por óbvio que possa parecer, mas não custa repetir, seria bom se a direita fosse direita; se o centro fosse centro; se a esquerda fosse esquerda; e que os extremismos fossem apenas pontos fora da curva, e não representantes da maioria.
As pessoas no Reino Unido vão talvez experimentar um grande desastre com o Brexit. A ver. Mas elas estão seguras de que querem experimentar esse suicídio.
A partir de agora, o Reino Unido estará cada vez menos unido, cada vez mais antipático e xenófobo, menos amigável, mais protecionista, mais caro, menos criativo, mais tacanho, mais tosco, menos inteligente, menos tolerante.
O Reino Unido pode nunca mais voltar a ser o mesmo, principalmente se a ascensão de Johnson levar a uma pressão pela saída da Escócia, que quer permanecer na União Europeia e tem, desde muito tempo, desavenças cada vez mais abertas com o centro londrino.
O Reino Unido tem um retrospecto nada feliz sobre como lida com conflitos separatistas, e os escoceses podem ser tratados com a mesma agressividade com que historicamente se confrontou o desejo de independência de parte dos irlandeses.
Aliás, uma coisa pode realimentar a outra, levando a conflitos intensos e a uma escalada autoritária que interessa a Johnson.
De todo modo, o fato é que a mãe do liberalismo está muito menos liberal do que já foi. E isso deveria ser visto como uma grande derrota, não eventual, mas histórica, do centro liberal do mundo inteiro, que hoje faz cara de paisagem para o resultado eleitoral britânico - talvez o centro liberal europeu esteja um pouco mais preocupado. Os liberais democratas tiveram uma votação pouco expressiva.
Mais importante, a consolidação de Johnson significa uma derrota talvez estrutural do grupo moderado do Partido Conservador. O Partido ficará de pileque com o extremismo da festa de Johnson. A ressaca do Brexit dirá em que medida isso pode ser revertido.
Foi uma derrota da esquerda? Sem dúvida. Mas a eleição pró Brexit e pró Johnson foi uma derrota do centro liberal, tanto no partido Conservador quanto no Liberal Democrático.
Churchill, nos anos 30 do século passado, viu a ascensão do nazismo como um remédio amargo, mas necessário, para conter o comunismo na Alemanha. Depois, provou desse veneno.
Seria bom se alguma leitura retrospectiva da época de Blair e de Churchill inspirasse, à esquerda e ao centro, uma leitura mais prospectiva do que está para acontecer no Reino Desunido de Boris Johnson.
Boris Johnson e Jeremy Corbyn são responsáveis por algo muito importante na política britânica: que a distinção entre esquerda e direita fique clara e cristalina.
É uma pena que parte desse esclarecimento seja obra de um político de extrema direita.
Diferenças nítidas entre esquerda, centro e direita sempre foram um elemento distintivo importante do sistema político britânico.
Nublar essas diferenças claras de programa entre os partidos do espectro político, entretanto, foi um dos legados mais relevantes e perversos deixados pelo ex-primeiro-ministro Tony Blair.
É de se lamentar que partidos que deveriam estar à esquerda se proponham a fazer políticas de centro direita como se fossem suas próprias, ao invés de rechaçá-las - sem prejuízo de que governos de coalizão façam concessões pontuais.
Por óbvio que possa parecer, mas não custa repetir, seria bom se a direita fosse direita; se o centro fosse centro; se a esquerda fosse esquerda; e que os extremismos fossem apenas pontos fora da curva, e não representantes da maioria.
As pessoas no Reino Unido vão talvez experimentar um grande desastre com o Brexit. A ver. Mas elas estão seguras de que querem experimentar esse suicídio.
A partir de agora, o Reino Unido estará cada vez menos unido, cada vez mais antipático e xenófobo, menos amigável, mais protecionista, mais caro, menos criativo, mais tacanho, mais tosco, menos inteligente, menos tolerante.
O Reino Unido pode nunca mais voltar a ser o mesmo, principalmente se a ascensão de Johnson levar a uma pressão pela saída da Escócia, que quer permanecer na União Europeia e tem, desde muito tempo, desavenças cada vez mais abertas com o centro londrino.
O Reino Unido tem um retrospecto nada feliz sobre como lida com conflitos separatistas, e os escoceses podem ser tratados com a mesma agressividade com que historicamente se confrontou o desejo de independência de parte dos irlandeses.
Aliás, uma coisa pode realimentar a outra, levando a conflitos intensos e a uma escalada autoritária que interessa a Johnson.
De todo modo, o fato é que a mãe do liberalismo está muito menos liberal do que já foi. E isso deveria ser visto como uma grande derrota, não eventual, mas histórica, do centro liberal do mundo inteiro, que hoje faz cara de paisagem para o resultado eleitoral britânico - talvez o centro liberal europeu esteja um pouco mais preocupado. Os liberais democratas tiveram uma votação pouco expressiva.
Mais importante, a consolidação de Johnson significa uma derrota talvez estrutural do grupo moderado do Partido Conservador. O Partido ficará de pileque com o extremismo da festa de Johnson. A ressaca do Brexit dirá em que medida isso pode ser revertido.
Foi uma derrota da esquerda? Sem dúvida. Mas a eleição pró Brexit e pró Johnson foi uma derrota do centro liberal, tanto no partido Conservador quanto no Liberal Democrático.
Churchill, nos anos 30 do século passado, viu a ascensão do nazismo como um remédio amargo, mas necessário, para conter o comunismo na Alemanha. Depois, provou desse veneno.
Seria bom se alguma leitura retrospectiva da época de Blair e de Churchill inspirasse, à esquerda e ao centro, uma leitura mais prospectiva do que está para acontecer no Reino Desunido de Boris Johnson.
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