Por Luiz Gonzaga Belluzzo, na revista CartaCapital:
Os trancos e barrancos do comportamento de Jair Bolsonaro despertam suposições as mais divergentes, quando não disparatadas, a respeito dos verdadeiros propósitos – ou falta deles – do ocupante da Presidência.
Peço licença ao caro leitor de CartaCapital para juntar meus trapos a essa farândola midiática de opiniões.
Talvez seja injusto, ademais imprudente, separar os times: os que pretextam loucura e os que imaginam uma estratégia.
Louco ou estrategista? A leitura obsessiva de alguns autores irreverentes instigou minha resistência a oposições binárias. Isto ou aquilo?
Prefiro a forma “isto e aquilo”.
É a estratégia da loucura, o desvario finalista e inconsciente de um certo tipo de gente que deambula nos espaços sociais criados pela sociedade capitalista de massa.
No livro The Mass Psychology of Fascism, Willem Reich assegura que a mentalidade fascista é a mentalidade do “homenzinho”: escravizado, anseia por autoridade e, ao mesmo tempo, é rebelde.
Não é coincidência que todos os ditadores fascistas tenham surgido no meio reacionário do homenzinho.
O magnata industrial e o senhor feudal exploram esse fenômeno social para seus propósitos, depois de terem evoluído em um quadro geral de supressão dos impulsos de vida.
A civilização mecanicista e despótica colhe do homenzinho humilhado apenas o que semeou nas massas de seres humanos subjugados, ao longo dos séculos, lançando o desgraçado nos caminhos do misticismo, do militarismo e do automatismo.
Diria um outro irreverente: “Eles não sabem, mas fazem”.
Para ilustrar os passos dos que caminham nas trevas da autoincompreensão, vou recordar o apólogo dos peixinhos que apresentei nesta coluna.
Em palestra aos estudantes do Kenyon College, o escritor americano David Foster Wallace começou sua exposição com um apólogo:
“Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz: Bom dia, meninos. Como está a água? Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta: Água? Que diabo é isso?”.
Wallace explica:
“O ponto central da história dos peixes ensina que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida…
Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para ser captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras ‘virtudes’.
Essa não é uma questão de virtude – trata-se de optar por tentar alterar minha configuração-padrão original, impressa nos meus circuitos.
Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser”.
Essa camada de homenzinhos, como os peixinhos mergulhados em seu egocentrismo, não consegue reconhecer o ambiente social em que vive.
Por isso, exerce seus desejos, medos e anseios em aras de agressividade contra os demais.
Bolsonaro não tem empatia, sua personalidade de homem humilhado e fracassado exige o confronto permanente com tudo e com todos.
Com a cabeça no travesseiro ele sofre as dores do sentimento de inferioridade cevado nos baixios de sua ignorância.
A insistência em contradizer as orientações da ciência só encontra paralelo na resistência de alguns economistas liberais em aceitar a necessidade de uma intervenção restauradora do Estado para religar os circuitos monetários, preservando a vida dos trabalhadores e a sobrevivência dos empreendimentos privados ameaçadas pela disrupção.
Em vez de comandar ações efetivas para contrabalançar os danos sociais e econômicos da pandemia, o presidente-homenzinho dedica-se a pressionar pela abertura de fábricas, lojas e outras atividades, ignorando o risco de as mortes se avolumarem. Sua inumanidade se expressou na frase: “70% vão ser contaminados. Eles estão com medo”.
Sua alma foi exposta em carne viva no episódio da demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta.
O presidente do Brasil sentiu-se humilhado diante do protagonismo do ministro e diminuído diante da argumentação científica do seu auxiliar.
O homenzinho-presidente (ou presidente-homenzinho?) apareceu horas depois da demissão exibindo uma estampa de Jesus Cristo.
O cristianismo de Bolsonaro e de seus asseclas-pastores é o cristianismo utilitarista.
Utilizar a imagem de Cristo para fazer propaganda política ou surrupiar grana dos que têm pouco é uma infâmia.
Um insulto e um desrespeito aos princípios de amor e compaixão ensinados pelo filho do Homem aos homens filhos de Deus.
Peço licença ao caro leitor de CartaCapital para juntar meus trapos a essa farândola midiática de opiniões.
Talvez seja injusto, ademais imprudente, separar os times: os que pretextam loucura e os que imaginam uma estratégia.
Louco ou estrategista? A leitura obsessiva de alguns autores irreverentes instigou minha resistência a oposições binárias. Isto ou aquilo?
Prefiro a forma “isto e aquilo”.
É a estratégia da loucura, o desvario finalista e inconsciente de um certo tipo de gente que deambula nos espaços sociais criados pela sociedade capitalista de massa.
No livro The Mass Psychology of Fascism, Willem Reich assegura que a mentalidade fascista é a mentalidade do “homenzinho”: escravizado, anseia por autoridade e, ao mesmo tempo, é rebelde.
Não é coincidência que todos os ditadores fascistas tenham surgido no meio reacionário do homenzinho.
O magnata industrial e o senhor feudal exploram esse fenômeno social para seus propósitos, depois de terem evoluído em um quadro geral de supressão dos impulsos de vida.
A civilização mecanicista e despótica colhe do homenzinho humilhado apenas o que semeou nas massas de seres humanos subjugados, ao longo dos séculos, lançando o desgraçado nos caminhos do misticismo, do militarismo e do automatismo.
Diria um outro irreverente: “Eles não sabem, mas fazem”.
Para ilustrar os passos dos que caminham nas trevas da autoincompreensão, vou recordar o apólogo dos peixinhos que apresentei nesta coluna.
Em palestra aos estudantes do Kenyon College, o escritor americano David Foster Wallace começou sua exposição com um apólogo:
“Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz: Bom dia, meninos. Como está a água? Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta: Água? Que diabo é isso?”.
Wallace explica:
“O ponto central da história dos peixes ensina que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida…
Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para ser captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras ‘virtudes’.
Essa não é uma questão de virtude – trata-se de optar por tentar alterar minha configuração-padrão original, impressa nos meus circuitos.
Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser”.
Essa camada de homenzinhos, como os peixinhos mergulhados em seu egocentrismo, não consegue reconhecer o ambiente social em que vive.
Por isso, exerce seus desejos, medos e anseios em aras de agressividade contra os demais.
Bolsonaro não tem empatia, sua personalidade de homem humilhado e fracassado exige o confronto permanente com tudo e com todos.
Com a cabeça no travesseiro ele sofre as dores do sentimento de inferioridade cevado nos baixios de sua ignorância.
A insistência em contradizer as orientações da ciência só encontra paralelo na resistência de alguns economistas liberais em aceitar a necessidade de uma intervenção restauradora do Estado para religar os circuitos monetários, preservando a vida dos trabalhadores e a sobrevivência dos empreendimentos privados ameaçadas pela disrupção.
Em vez de comandar ações efetivas para contrabalançar os danos sociais e econômicos da pandemia, o presidente-homenzinho dedica-se a pressionar pela abertura de fábricas, lojas e outras atividades, ignorando o risco de as mortes se avolumarem. Sua inumanidade se expressou na frase: “70% vão ser contaminados. Eles estão com medo”.
Sua alma foi exposta em carne viva no episódio da demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta.
O presidente do Brasil sentiu-se humilhado diante do protagonismo do ministro e diminuído diante da argumentação científica do seu auxiliar.
O homenzinho-presidente (ou presidente-homenzinho?) apareceu horas depois da demissão exibindo uma estampa de Jesus Cristo.
O cristianismo de Bolsonaro e de seus asseclas-pastores é o cristianismo utilitarista.
Utilizar a imagem de Cristo para fazer propaganda política ou surrupiar grana dos que têm pouco é uma infâmia.
Um insulto e um desrespeito aos princípios de amor e compaixão ensinados pelo filho do Homem aos homens filhos de Deus.
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