Editorial do site Vermelho:
A violência pró-Donald Trump nos Estados Unidos para forçar a derrubada do resultado das eleições de 3 de novembro, vencidas pelo democrata Joe Biden, foi um ato típico da extrema direita. Alerta para a formação de uma tendência política completamente desprovida de compromissos democráticos, mesmo em regimes com limitações, do ponto da representatividade da sociedade, como é o caso do sistema norte-americano.
O novo governo dos Estados Unidos terá de enfrentar essa tendência, uma vez que ela expressa setores da população que assumiram os métodos da extrema direita para se comportar politicamente. E a violência é o principal deles. A base para esse comportamento é a incitação da intolerância, em diversos aspectos, pelos capitães dessa corrente política e ideológica, que nos Estados Unidos tem em Donald Trump o principal guia inspirador.
O recurso à violência decorre da impossibilidade de mediação das ideias dessa corrente com outras representações da sociedade. Para impor os seus propósitos, essa expressão política e ideológica precisa do aniquilamento dos oponentes. De outra forma, não há como estabelecer um sistema de governo capaz de reger a sociedade pelo obscurantismo, pela negação da ciência, pela intolerância com a diversidade social. Sobra, no final das contas, o recurso à violência para coibir contestações.
Os fatos nos Estados Unidos são a tradução desses métodos. Aceitar o resultado daquele sistema eleitoral significaria assumir que a facção trumpista foi derrotada também ideologicamente. A tentativa de empastelar o resultado foi, também, uma forma de demonstrar que esse será o método que estará presente como forma de oposição da extrema direita ao governo Biden. A vitória dos democratas no Legislativo reforça, nessa facção, o recurso à violência como forma de manifestação.
É importante destacar que esse tipo de comportamento de extrema direita não é novidade. Ele ganha impulso com a promessa de resolver os problemas complexos das crises geradas pelas contradições do capitalismo, valendo-se da difusão de obscurantismos para propagar a violência. A promessa de soluções fáceis para problemas complexos atrai setores da sociedade, constantemente doutrinados pelos aparelhos ideológicos, entre eles, atualmente, o submundo das redes sociais.
São fatos recorrentes na história. Há muitos exemplos, entre eles o mais conhecido, a ascensão do nazifascismo nos anos 1930 na Alemanha. Também é fundamental registrar que em todos eles o saldo foram grandes tragédias. No Brasil, essa modalidade de regime de extrema direita provocou as tragédias do Estado Novo, instaurado em 1937, e da ditadura militar, de 1964.
A profusão dessa corrente pelo mundo afora decorre de mais uma grave crise do capitalismo. Por toda parte, as mazelas sociais criam um ambiente propício para as pregações autoritárias, com manipulações dos valores da civilização como pretexto para a imposição de métodos violentos. O Brasil é um caso típico. O presidente da República, Jair Bolsonaro, repete aqui o comportamento de Trump, manifestando, quase diariamente, ameaças ao Estado Democrático de Direito.
Essa realidade impõe o desafio de interpretar esse comportamento da extrema direita para buscar meios de enfrentá-lo. E isso implica não subestimá-lo porque as condições objetivas para a sua proliferação são de difícil solução nos marcos do sistema capitalista. Combatê-lo exige engenho e arte, amplitude e flexibilidade tática, e, substancialmente, entender suas causas e consequências.
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