Por Pedro Carrano
Os dados sobre as greves em determinado período, suas motivações, pautas, números absolutos e números de horas paralisadas por segmentos, configuram-se como importantes informações para aferição da disposição da classe trabalhadora para as lutas – nos seguintes segmentos da classe: na iniciativa privada com contratação formal, no serviço público e nas empresas estatais.
É também um dado para aferir a capacidade de mobilização dos trabalhadores em determinada conjuntura, em sua relação entre suas demandas imediatas e as lutas econômicas, concluindo daí a compreensão se o momento é de possibilidades ofensivas ou defensivas dos trabalhadores.
Obviamente, o número de greves não é o único índice a ser levado em conta para análise da correlação de forças em dado período. Porém, é fato que as lutas econômicas, caso de uma greve, a depender de seu processo, do aporte organizativo das organizações de esquerda, do nível de enfrentamento e reação do Estado ou da patronal, são um momento importante para a elevação da consciência na direção de uma consciência geral sobre os problemas que todos os trabalhadores enfrentam.
Os estudos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) recentemente têm apontado que, desde o ano de 2016, o número de mobilizações paredistas têm diminuído. O que, na prática, sabemos que responde:
a) Políticas dos governos Temer e Bolsonaro de ataques contra os direitos trabalhistas;
b) Ao alto índice de desemprego e pouca oferta de vagas no mercado, o que dificulta a realização de greves, desencoraja aqueles que ainda têm a mínima garantia de trabalho;
c) A análise dos resultados gerais em um semestre ou em um ano sempre aponta tendências vinculadas ao atual momento da política e da economia do país. E o atual período, como o próprio estudo do Dieese aponta, é de degradação das condições de vida e desalento dos trabalhadores.
Uma análise dos dados deste ano aponta para o baixo número de 366 greves no primeiro semestre de 2021, com queda na esfera privada, mas que ainda se mantém à frente dos números dos trabalhadores do setor público. Os dados atuais mostram que, na esfera privada por exemplo, o momento é nitidamente de defensiva, com 95% das negociações salariais tendo caráter defensivo e de manutenção de direitos.
Segmentos importantes
Entre os temas relevantes desse semestre, apontadas pelo estudo do Dieese, cabe ressaltar o vínculo de uma série de lutas com o desmonte de Bolsonaro promovido a toque de caixa nas empresas estatais (Petrobras, Eletrobras, Correios principalmente). Nas empresas públicas, inclusive, 48% das greves foram marcadas por protestos políticos, justamente devido a ataques e desmontes dessa estrutura importante para o país.
O semestre também foi marcado pelas reivindicações, diante da crise sanitária, por melhores condições de trabalho, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), entre outras demandas – o que pode ser ilustrado pelo exemplo das lutas dos professores municipais de São Paulo, aponta o Dieese. Destaque também para as movimentações no período de eletricitários e de trabalhadores rodoviários, com número de horas paralisadas, ao passo que a tendência geral é de greves bastante curtas, de um dia no máximo.
Como explica trecho do estudo: “Trabalhadores da esfera privada, das empresas estatais e do funcionalismo público cruzam os braços e, demonstrando sua situação de particular exposição ao vírus, cobram sua reclassificação entre as ‘categorias prioritárias’ na distribuição dos imunizantes e a aceleração dos planos de vacinação – o que também pode ser associado ao movimento, ainda que pouco expressivo em maio”.
Conjuntura complexa
Nesta conjuntura complexa, com sinalizações permanentes de golpe por parte do governo Bolsonaro, desgaste das instituições e dos poderes formais da república, agravamento da crise e dificuldade de generalização dos protestos, o radar da luta da esquerda deve estar sempre aceso e render todo o apoio necessário, na parte de estrutura, apoio, comunicação e formação, a esses movimentos paredistas.
O Dieese, pela primeira vez em décadas em que acompanhamos esta série, aponta o que nomeia de “greves de desalento”. De acordo com o Departamento, são “mobilizações sem esperança”, bastante sintomáticas, em todo caso, das terceirizações e precarizações dos serviços: “Encampadas principalmente pelos trabalhadores menos qualificados, empregados por empresas prestadoras de serviços terceirizados, exigem a regularização dos salários que, há meses em atraso, também deixam a impressão que, em caso de dispensa ou fechamento da empresa, as verbas rescisórias tampouco serão pagas”.
No fundo, estamos diante de um país sem perspectiva de futuro com o governo Bolsonaro, o que precisa ser urgentemente revertido.
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