Charge: Pelicano |
Diante da miríade de “institutos” de pesquisa surgida nos últimos anos, decidi prestar atenção apenas no Datafolha e no Ipec (criado por ex-sócios do extinto Ibope).
Seja porque fazem pesquisa presencial, e não por telefone, ou porque têm tradição e um nome a zelar no mercado (o que não quer dizer, claro, que não cometam erros), vejo as duas pesquisas como as mais confiáveis.
No levantamento do Ipec divulgado nesta terça-feira (14), que ouviu 2002 pessoas entre os dias 11 e 13 de dezembro, Lula exibe uma musculatura eleitoral impressionante.
Nos dois cenários testados – um incluindo todos os possíveis candidatos, no qual chega a 48% contra 21 de Bolsonaro e outro apenas com ele, Bolsonaro, Moro, Ciro e Dória, onde Lula marca 49% e Bolsonaro 22% - chamam a atenção alguns dados captados pelo Ipec.
Abre parênteses. Os candidatos da chamada terceira via, Moro, Ciro e Dória, pontuam como nanicos (6%, 5% e 2%, respectivamente, no primeiro cenário, e 8%, 5% e 3%, no segundo) e vão sendo emparedados por Lula, que carrega nos seis índices de intenção de voto parcela importante do eleitorado mais vinculado ao centro político. Outro detalhe: nem a luta pela vacina, carro-chefe da campanha de Dória, tem ajudado o governador de São Paulo, pois fala mais alto a reprovação dos paulistas ao seu governo. Fecha parênteses.
Além de sua já conhecida força no Nordeste (63%) e entre os mais pobres (57% entre quem tem renda familiar até um salário mínimos, 55% na periferia dos grandes centros urbanos e 55% no universo de eleitores com o ensino fundamental), Lula lidera numericamente, embora empatado tecnicamente, no segmento com renda acima de cinco salários mínimos (32% contra 30% de Bolsonaro).
Outra constatação que corrobora o avanço de Lula nos estratos médios da população é sua liderança entre os mais escolarizados, com curso superior – 40 % versus 25% de Bolsonaro.
Em relação aos segmentos religiosos, Lula aprece empatado com Bolsonaro entre os evangélicos, algo digno de nota e que parecia improvável até há algum tempo, e dispara na preferência do voto católico alcançando 54%.
Também no quesito rejeição as notícias não poderiam ser melhores para o ex-presidente Lula. Enquanto 28% dizem que não votariam nele de jeito nenhum, 55% se negam a considerar qualquer possibilidade de votar em Bolsonaro.
Por óbvio, se a eleição fosse hoje, Lula seria eleito no primeiro turno. Mas não é. Muita água ainda vai correr por debaixo da ponte. E insisto: os setores democráticos e progressistas da sociedade enfrentarão a eleição mais difícil da história.
Não custa lembrar que a direita e a extrema direita não hesitarão em usar mais uma vez seu arsenal de armas sujas e golpes abaixo da linha da cintura. E o poder de fogo deles não é nada desprezível.
Do outro lado, teremos uma trincheira formada por milicianos, polícias, militares, agronegócio, grupos de mídia, fundamentalismo religioso e mercado financeiro.
Contudo, a lembrança do povo de um tempo em que seus filhos cursavam universidade, era possível comprar uma casa, viajar de avião, adquirir um carrinho, conseguir um emprego, comer picanha e tomar café da manhã, almoçar e jantar tem grande chance de se impor.
E nunca foi tão atual o slogan da campanha de Lula, em 2006, quando se reelegeu presidente da República: “É Lula de novo com a força do povo.”
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