terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Djokovic, o número 1 do negacionismo

Charge e montagem: Christi
Por Simão Zygband, no site Construir Resistência:


Quando a gente pensa que a estupidez do negacionismo prosperava apenas em solo brasileiro, liderado pelo excrementíssimo senhor presidente da Repúblicas, não é que também vem de fora, desta vez incorporado em um atleta de projeção mundial, o sérvio Novak Djokovic, o número 1 do Tênis, um péssimo exemplo de alguém que se tornou símbolo na negação das vacinas contra a Covid-19?

Djokovic teve que encarar a humilhação de ser deportado da Austrália, país onde queria entrar sem ser vacinado, para participar do Australian Open, onde disputaria a oportunidade de obter seu 21° título de Grand Slam, e se tornar o maior campeão do Tênis de todos os tempos. O sérvio é o maior ganhador da competição de Melbourne, com 9 títulos. Se não se vacinar, poderá também ser impedido de participar do torneio de Roland Garros, na França.

O que causa espanto é que até atitudes estúpidas como a de Djokovic possui adeptos entre brasileiros. Veja estas pérolas pinçadas no facebook, lugar que deu a oportunidade de expor suas “brilhantes ideias” àqueles que entendem de tudo e são donos da verdade, principalmente aos que acham ser símbolo da “liberdade” portar armas ou não tomar vacinas.

Veja o que disse um destes “sábios”, no arroubo de sua sabedoria: “Estes órgãos (Anvisa), que agora querem a nossa “salvação”, nos enfiando goela abaixo um experimento laboratorial mau acabado. Isso sim é uma tirania!”, vociferou ele.

Veja o que disse outro arauto da sabedoria, este pertencente ao clã que desgoverna o país: “Se vencesse o Grand Slam de Melbourne, o sérvio Novak Djokovic bateria Roger Federer e se tornaria o maior campeão de todos os tempos. Optou pela liberdade e hoje se torna um líder mundial nesta área”, falou o “genial” deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro.

Vacina mata atletas

A verdade é que a pandemia criou vários tipos de negacionismos. É o sujeito que não quer tomar vacinas, os que as tomaram e acham que podem tudo, os que insistem em andar sem máscaras, os que não se preocupam em passar álcool gel e manter o distanciamento social. Fui olhado torto na festa familiar de Natal, por exemplo, pois evitei beijos e cumprimentos efusivos de contato, me distanciei de propósito na hora da ceia. Lógico que fui tratado como um louco. Mas não me arrependo.

Vejo muita gente dizer que pegou Covid, mesmo depois da terceira dose e que não retirou a máscara em nenhum momento. Mas, com certeza, em algum momento, houve uma normal desatenção do tipo pegou em dinheiro ou deu o cartão de crédito para terceiros, na hora de pagar uma conta, e não passou álcool gel depois disso.

De fato, virei o chato da Covid. Não quero pegar esta desgraça mesmo que não vá me matar. Mas só a aflição de a contrair não me parece uma boa. Ela se manifesta, em geral, por febre, dores do corpo e garganta inflamada. Mas nem por isso eu quero passar, se eu conseguir.

Os negacionistas que defenderam o sérvio Novak se apegam em uma tese de que a vacina (sic) matou atletas pelo mundo. É um pouco a fantástica tese inventada pelo decepcionante Djokovic para não se vacinar.

Sobre o tema, a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) publicou uma esclarecedora nota:

”Tem sido frequente, nas últimas semanas de dezembro de 2021 e nestes primeiros dias de 2022, por parte da população e também pela mídia, o questionamento sobre um eventual aumento no número de mortes súbitas (MS), em praticantes de esportes, e uma possível associação com o uso de vacinas imunizantes contra a SARS-COV2, particularmente as vacinas que usam a tecnologia do RNA mensageiro (m-RNA). Dados atuais, tanto da literatura científica quanto de informações em veículos não científicos, revelam, até este momento:

1) Embora existam relatos, em publicações científicas, levantando a possibilidade de associação entre MS e vacinas contra a SARS-COV2, estes são muito raros e insuficientes para sustentar uma consistente relação de causalidade.

2) Há relatos de casos de miocardite (“inflamação do músculo cardíaco”) após a imunização com vacinas do tipo m-RNA. Estas miocardites, em geral, são leves, com evolução benigna. A maior série foi reportada em Israel, com mais de 5 milhões de pessoas que receberam 2 doses destas vacinas, onde se encontrou aproximadamente 24 casos de miocardite por milhão de pessoas, ou seja, apenas 0,0024% do total de vacinados.

3) A miocardite é uma complicação que ocorre também em decorrência da própria infecção por SARS-COV2 e, de acordo com estatísticas disponíveis, em percentuais maiores de incidência, variando, por exemplo, entre 1 a 3%, em atletas. Desta forma, não se vacinar não deve ser considerada uma opção adequada para se evitar o risco de desenvolver miocardite.

4) Nos veículos não-científicos, por vezes, ocorre má interpretação dos fatos, seja por inserirem nas estatísticas de MS atletas que não morreram, seja por relatarem eventos de MS em atletas que não foram vacinados, ou por não terem o rigor científico adequado, o que pode gerar confusão e conclusões equivocadas, especialmente para o público leigo.

Desta forma, a SBMEE orienta a população que não há nenhuma evidência científica mostrando qualquer tipo de elevação no número de casos de MS em atletas, acima dos índices habituais. Adicionalmente, não há nenhum dado que mostre uma associação entre vacinas contra a SARS-COV2 e MS em atletas ou em praticantes de atividades físicas intensas e/ou frequentes”.

Desnecessárias demais ponderações.

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