Brasília, 8/3/22. Foto: Mídia NINJA |
É com a marca da unidade, da amplitude e da luta que brasileiras e brasileiros saem às ruas, nesta terça-feira (8), para celebrar o 8 de Março. O diálogo entre as diversas entidades feministas do País e os movimentos sociais culminou numa agenda nacionalizada e unificada, com um lema comum: “Pela vida das mulheres – Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”.
Aliar as pautas históricas às batalhas conjunturais é uma tradição no Dia Internacional das Mulheres. Com o 8 de Março de 2022, não poderia ter sido diferente. É preciso denunciar e combater o machismo, a violência doméstica e outras formas de opressão contra a mulher, a baixa representação feminina na política, entre outros pontos seculares.
Mas uma nação como o Brasil, que está sob a pandemia de Covid-19, a crise econômica e o governo Jair Bolsonaro, penaliza ainda mais as mulheres, agravando uma situação estrutural já dramática para as brasileiras. É como se este 8 de Março – talvez o último a ser realizado durante a sombria era da extrema-direita no Planalto – assumisse, em especial, a missão de levar adiante esse grande anseio nacional por um Brasil pós-pandemia e pós-Bolsonaro.
Equilibrando tudo isso, a Articulação Nacional de Mulheres Bolsonaro Nunca Mais, a CMB (Confederação das Mulheres do Brasil), a UBM (União Brasileira de Mulheres), a MMM (Marcha Mundial de Mulheres) e outras entidades feministas lançaram um manifesto nacional unitário. O documento é apoiado por representações dos movimentos comunitário, sindical, juvenil, antirracista e LGBTTQIA+, além de partidos de esquerda (PCdoB, PT, PSB e PCB).
“Ao longo da história, nós, mulheres trabalhadoras, sempre estivemos na linha de frente das lutas populares por direitos e por melhores condições de vida”, aponta o manifesto. “Carregamos o fardo de toda exploração capitalista, patriarcal e racista que nos oprime enquanto mulheres responsáveis pelas famílias, negras, indígenas, quilombolas, LGBTs, jovens, idosas e com deficiência (PcDs), nos campos, nas águas, florestas e cidades.”
Ante os 652.418 óbitos já contabilizados pela pandemia no País, a inflação e a carestia que tragam a renda da população e os mais de três anos de governo de destruição e morte, as entidades destacam o caráter estratégico das eleições presidenciais de 2022. À esperança de superar a crise sanitária, soma-se a mobilização para derrotar o bolsonarismo.
“A luta pela derrubada de Bolsonaro do poder é uma luta necessariamente feminista, anti-imperialista, anticapitalista, democrática, antirracista e anti-LGBTQIA+fóbica”, indica o manifesto. “É uma luta em defesa da vida das mulheres, contra a fome, a carestia, a violência, pela saúde, pelos nossos direitos sexuais, direitos reprodutivos e pela justiça reprodutiva. É uma luta em defesa do SUS e dos serviços públicos, gratuitos e de qualidade. É uma luta com a maioria que tem sofrido com a fome, com a perda de seus entes queridos, com a violência e com o desemprego.”
A possibilidade de ampliar a “bancada feminina” no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas do País também é outra prioridade deste ano. Conforme o Mapa das Mulheres na Política 2019, publicado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pela UIP (União Interparlamentar), o Brasil ocupa, lamentavelmente, o 134º lugar (entre 193 países) no ranking de representatividade parlamentar feminina. Num Senado com 81 cadeiras, as mulheres estão somente em 12. Das 513 vagas na Câmara dos deputados, elas ocupam 77. Para nossa vergonha, a taxa de representatividade das mulheres no Congresso brasileiro (15%) é metade do índice médio na América Latina (31%).
O caso da Assembleia Legislativa de São Paulo é um exemplo dos muitos desafios das mulheres na política. Em dezembro de 2020, durante uma sessão no plenário da Casa, a deputada estadual Isa Penna (PSOL) foi assediada pelo também deputado Fernando Cury (então filiado ao Cidadania), a quem ela acusou de importunação sexual – câmeras internas registraram o momento em que ele a apalpou nos seios. Apesar das imagens estarrecedoras, Cury sofreu punições brandas de seus colegas.
Na ocasião, a colunista Isabela Del Monde, do UOL, listou o histórico de parlamentares que integravam a Comissão de Ética e estavam responsáveis por julgar o caso: “Um já foi apontado por violência doméstica e intimidação de colega deputada; outro votou pela punição de Isa Penna por ter recitado um poema em homenagem a trabalhadoras sexuais; o terceiro é pastor evangélico, quer impedir que se fale de gênero nas escolas e teve suas contas das eleições de 2018 reprovadas; já o quarto responde a três ações na Justiça de São Paulo por improbidade administrativa; e o último já foi investigado por nada mais nada menos que tortura!”. Resultado: todos eles saíram em defesa do assediador, não da assediada.
Agora, em pleno mês das mulheres, o também deputado paulista Arthur do Val, o “Mamãe Falei” (Podemos), é acusado de turismo sexual e quebra de decoro parlamentar após dizer que as ucranianas, hoje em busca de refúgio da guerra, “são fáceis porque são pobres”. Detalhe: o parlamentar, um dos líderes do ultraliberal MBL (Movimento Brasil Livre), viajou a Ucrânia – provavelmente com recursos públicos – para um suposto comboio humanitário. Alvo generalizado de críticas, ele renunciou à pré-candidatura a governador, é alvo de um processo de expulsão de seu partido e sofre vários pedidos de cassação do mandato parlamentar. É pouco. Que a campanha pela cassação seja um marco dessa virada no pensamento misógino que domina os parlamentos do Brasil.
E que, de resto, a data de hoje seja a última celebração do Dia Internacional da Mulher sob um governo que afronta diuturnamente a vida dos brasileiros e, em especial, das brasileiras. Precisamos de menos Bolsonaros, menos Curys e menos Arthurs na política. A luta é o caminho para a emancipação – e para “um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome”. Viva o 8 de Março!
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