sexta-feira, 8 de abril de 2022

A Conclat e a agenda dos trabalhadores

Editorial do site Vermelho:
 

Com o lema “Empregos, Direitos, Democracia e Vida”, nove centrais sindicais brasileiras realizaram, nesta quinta-feira (7), a terceira edição da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – Conclat 2022. Do encontro em São Paulo resultou a Pauta da Classe Trabalhadora – um documento em que o movimento sindical traça um diagnóstico dos desafios atuais do Brasil e propõe uma plataforma de ações e lutas para om próximo período.

As edições anteriores da Conclat se deram em ambientes distintos. Na primeira, em 1981, na Praia Grande (SP), o sindicalismo estava em período de ascenso, embora o Brasil ainda vivesse os derradeiros anos da ditadura militar. A abertura “lenta, segura e gradual”, com a anistia e a volta do pluripartidarismo, dava margem para a redemocratização do País, não sem solavancos, haja vista episódios como a morte do operário Santo Dias e o atentado no Riocentro. Datam daquele momento, entre outros marcos, a reorganização da UNE e da Ubes, a fundação da Conam e o debate em torno da criação de uma central sindical que unificasse a luta dos trabalhadores.

A segunda edição, em 2010, com a participação de cinco centrais sindicais, ocorreu em São Paulo, no último ano do governo Lula. Bandeiras de lutas dos trabalhadores, como a legalização das próprias centrais e a política de valorização do salário mínimo, haviam saído do papel. O desemprego elevado – um fantasma dos anos 1990 – tinha ficado para trás. Mas o movimento sindical apostava que era possível avançar nas mudanças. Assim, os 30 mil participantes da 2ª Conclat aprovaram a Agenda da Classe Trabalhadora, com 250 propostas para o País.

A Conclat 2022 ocorre num momento em que, a despeito da correlação de forças desfavorável para o movimento sindical, a unidade das centrais se fortaleceu. É um período de defensiva e resistência. A crise econômica, a operação Lava Jato, o golpe de 2016, as reformas ultraliberais e a ascensão do bolsonarismo são retrocessos recentes que precarizaram profundamente o mundo do trabalho e ressuscitaram o drama do desemprego. Para o sindicalismo, uma medida em especial, a reforma trabalhista de 2017, golpeou uma de suas principais fontes de financiamento – a contribuição sindical.

Mesmo com tantas adversidades, as centrais puseram de lado suas diferenças ideológicas, políticas e sindicais para apostar na unidade de ação. Uma unidade que tem como ponto central a luta contra o governo de destruição de Jair Bolsonaro, bem como a urgência de se reconstruir o Brasil após um ciclo de perda de empregos e direitos, redução da renda do trabalhador, inflação e carestia, aumento da fome e da pobreza, entre outras mazelas.

As centrais convergem também na compreensão de que uma plataforma de lutas estritamente sindical não basta para mudar esse cenário. O presidente que substituir Bolsonaro, seja ele qual for, terá margem estreita para grandes mudanças – e terá de fazer escolhas. Daí a premência das eleições 2022 nessa conjuntura. Se o governo continuar a privilegiar o mercado – com uma política de privatizações, reformas conservadoras, juros altos, etc. –, não haverá contrapartida alguma para os trabalhadores. Essa conta não fecha.

Por isso, propostas ousadas aprovadas na Conclat 2022 – como a revogação da reforma trabalhista, uma nova política de valorização do salário mínimo, a reindustrialização da economia e a retomada das obras paradas – requerem um novo projeto para o Brasil. É preciso estimular investimento, gerar crescimento e promover o desenvolvimento. Só um novo paradigma político e econômico pode tirar o País da barbárie e da desesperança.

Na Pauta da Classe Trabalhadora, as centrais deixam clara essa mensagem. “Afirmamos nossa esperança na mudança da trajetória do desenvolvimento econômico e socioambiental do Brasil”, aponta o documento. “Consideramos central colocar a geração de emprego de qualidade, o crescimento dos salários, a promoção da proteção trabalhista, previdenciária e social para todos e para todas as formas de ocupação laboral, a valorização dos sindicatos e da negociação coletiva como elementos estratégicos do projeto nacional de desenvolvimento.”

A primeira batalha foi vencida. Com Pauta da Classe Trabalhadora em mãos, o movimento sindical ganha força e credibilidade para o debate eleitoral de 2022. “Essa obra coletiva será difundida por meio da mobilização para apresentar essas propostas da classe trabalhadora às bases sindicais em todo o país e em todas as categorias. Tarefa essencial será também entregá-la aos candidatos e candidatas aos legislativos e executivos estaduais e federal”, indicam as centrais.

A celebração do Dia do Trabalhador de 2022 – que deve consistir em mais um 1º de Maio Unitário – será importante atividade para dialogar com a classe política, em especial os candidatos. Que deles se busque o compromisso para, nesta encruzilhada histórica, não trair os trabalhadores.

Vale ressaltar o papel da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) tanto na proposição quanto na viabilização da Conclat. A entidade fundada em 2007 e presidida por Adilson Araújo se destaca, uma vez mais, pela audácia e pela defesa permanente da unidade do movimento sindical. “A unidade é nossa força e nosso caminho para elevar a consciência e o protagonismo da classe trabalhadora na grande política nacional”, afirmou Adilson, em sua fala na Conclat 2022. Nunca será demais valorizá-la e fortalecê-la.”

Unidas, as centrais e as demais entidades sindicais podem ajudar, decisivamente, a derrubar Bolsonaro, a reconstruir o Brasil e a fazer história. O exemplo da Conclat 2022 é inspirador.

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