João Amoêdo. Foto: divulgação |
O empresário João Amoêdo, um dos fundadores do já envelhecido Novo, anunciou nesta sexta-feira (25) a sua desfiliação da sigla. “Hoje, com muito pesar, me desfilio do partido que fundei, financiei e para o qual trabalhei desde 2010”, postou em suas redes sociais. Desiludido, ele ainda afirmou que a legenda não existe mais, criticou a aproximação de seus dirigentes com o golpista Jair Bolsonaro e admitiu que o partido “foi sendo desfigurado e se distanciou da sua concepção original”.
"O Novo atual descumpre o próprio estatuto, aparelha a sua Comissão de Ética para calar filiados, faz coligações apenas por interesses eleitorais, idolatra mandatários, não reconhece os erros, ataca os Poderes constituídos da República e estimula ações contra a democracia”, afirmou na postagem.
De imediato, a direção da legenda divulgou nota em que “lamenta profundamente as declarações graves e infundadas” do fundador e ex-presidente do Novo. “Infelizmente, por atitudes e palavras como essas, ele se afastou cada vez mais dos princípios, das ideias e das pessoas do partido”.
Voto contra o fascismo
Na prática, a relação conflituosa só se agravou nas últimas semanas. Em 27 de outubro, João Amoêdo foi suspenso da legenda após declarar voto em Lula no segundo turno das eleições presidenciais. Após ficar em quinto lugar na disputa presidencial em 2018 e apoiar Jair Bolsonaro no segundo turno, o ricaço disse que se arrependeu da escolha. No pleito deste ano, ele anunciou que anularia o voto, mas depois decidiu apoiar Lula, apesar de avesso às esquerdas, por temer a postura fascista do atual presidente.
Quando da sua suspensão, o empresário até tentou reagir. Ele entrou na Procuradoria-Geral Eleitoral com notícia-crime contra a atual direção da sigla. Agora, porém, ele desistiu da ação por avaliar que o partido não tem mais retorno e acabou. De fato, o Novo envelheceu rapidamente. Nas eleições deste ano, a legenda não atingiu a cláusula de barreira, o dispositivo que estabelece percentual mínimo de votos e de deputados eleitos para manter o acesso à propaganda partidária e ao fundo eleitoral.
A bancada da Câmara Federal eleita para assumir em 2023 despencou dos atuais oito deputados para três e só cinco candidatos da sigla venceram disputas legislativas estaduais – menos da metade dos 12 eleitos há quatro anos. A maior vitória da legenda em 2022 foi a reeleição do governador bolsonarista Romeu Zema, em Minas Gerais. Mas já há boatos de que ele deixará em breve o decadente partido.
Fernando Holiday, ex-MBL, a primeira baixa
Durante algum tempo, o Novo foi uma aposta de parte da cloaca burguesa nativa. Nas eleições deste ano, a sigla foi uma das que mais recebeu grana de ricaços. Reportagem da Folha de 3 de outubro, por exemplo, mostrou que “o volume de doações de grandes empresários para os candidatos a deputado federal pelo Novo foi grande, mas muitos deles não conseguiram se eleger”. Entre os milionários doadores, a matéria cita Salim Mattar, dono da Localiza, Jayme Garfinkel, controlador do Grupo Porto Seguro, Jorge Gerdau (produtor de aço), Godoy Bueno (saúde privada) e Luís Stuhlberger (corretora).
João Amoêdo não é o primeiro a se desfiliar da sigla após o fiasco nas eleições. O vereador paulistano Fernando Holiday, fundador e ex-dirigente do Movimento Brasil Livre (MBL), abandonou o barco logo após o primeiro turno. Em mensagem enviada aos filiados do Novo, ele anunciou que se filiaria ao Republicanos, partido do “bispo” Edir Macedo, e declarou voto em Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. “Infelizmente não vejo mais o Novo com uma instituição possível”, viável.
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