Ao longo dos últimos quatro anos o ministro, e também rentista, Paulo Guedes não se cansou de anunciar, a cada espasmo do PIB, que a economia brasileira estava “bombando” ou até mesmo “voando”, conforme sugeriu da última vez que abordou o tema, em 28 de setembro, já na véspera do primeiro turno das eleições. “Nós voltamos em V. Eu acho que a economia está voando. Ela está vindo com força”, afirmou em painel do V Fórum Nacional do Comércio.
Estatísticas divulgadas nesta sexta-feira (1) pelo IBGE registram uma evolução de 0,4% do PIB no terceiro trimestre deste ano em relação ao anterior, o que ficou abaixo das previsões do mercado e significa uma desaceleração do ritmo de recuperação. Como das outras vezes, os números mostram que o comportamento real da economia vai na contramão dos prognósticos e avaliações do ministro bolsonarista.
Retrocesos
Sob o governo Bolsonaro, a economia nacional, que já andava mal das pernas no governo golpista de Michel Temer, retrocedeu ainda mais. Dados do FMI indicam que o Brasil deve registrar um crescimento médio do PIB em torno de 1% entre 2019 e 2022, resultado bem inferior ao que deve ser alcançado por um grupo de 24 países emergentes e também entre 19 nações da América Latina e do Caribe e que caracteriza um tímido voo de galinha.
Para efeito de comparação, durante o governo Lula, o Brasil chegou a crescer 7,5% (em 2010) e a taxa média anual foi de 4,1%. Entre 1930 a 1980, período em que ocorreu a industrialização do país, a economia nacional avanço em média cerca de 7% ao ano.
A renda media dos brasileiros e brasileiras declinou no governo da extrema direita, o endividamento das famílias explodiu, assim como a pobreza e a desigualdade social, a precaraização avançou no mercado de trabalho, a desindustrialização acelerou e o Brasil voltou com muita força e pouca vergonha ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas, chegando em 2022 com mais de 100 milhões de pessoas padecendo a insegurança familiar e 33,1 milhões passando fome, conforme pesquisa da Oxfam.
A culpa de Guedes
O desastre não deve ser atribuído exclusivamente à pandemia do novo coronavírus e à crise econômica da ordem capitalista mundial, que têm caráter objetivo. Assim como o negacionismo criminoso de Jair Bolsonaro potencializou a letalidade da doença, a política ultraneoliberal comandada por Guedes adicionou lenha à fogueira da crise.
O entreguismo descarado de patrimônio público, o congelamento e achatamento dos salários dos servidores, o fim da política de valorização do salário mínimo, a política de preços da energia e dos combustíveis, a dramática redução dos investimentos e das despesas públicas e outros ingredientes da receita neoliberal imposta pelo Ministério da Economia podem ter agradado muito aos ricos e insaciáveis monopólios capitalistas, mas agravaram os dilemas nacionais e a penúria do nosso povo.
O enfraquecimento do mercado interno alimenta a estagnação e impede uma recuperação mais robusta e sustentável da produção. A estagnação econômica e as contradições sociais decorrentes são o atestado da falência da política econômica neoliberal defendida e aplicada por Paulo Guedes, cujos delírios sobre o estado de saúde da economia brasileira não são mais que subterfúgios grotescos para mascarar a realidade diante de plateias de empresários bolsonaristas tão ávidos por lucros fáceis quanto carentes de senso crítico.
Descartado nos EUA
Expressão dos interesses das oligarquias financeiras, o neoliberalismo não produz bons frutos, a não ser para ricos rentistas. O balanço de seus efeitos é tão flagrantemente negativo que hoje está desmoralizado em todo o mundo e foi descartado até nos EUA, onde tanto o governo anterior quanto o atual, visando reverter a decadência do império e conter a vertiginosa ascensão da China, recorreram a políticas de reidustrialização baseadas num agressivo protecionismo e em investimentos bilionários do Estado, em contraste com o hoje desacreditado Consenso de Washington.
Entre os grandes desafios com que vai se defrontar o novo governo Lula destaca-se o da recuperação da economia, uma pré-condição para a realização de um novo projeto de desenvolvimento nacional com melhor distribuição da renda e menos desigualdades e injustiças. O primeiro passo para enfrentá-lo é a mudança da política econômica e o resgate do papel do Estado na busca e promoção de um crescimento robusto e sustentável da economia nacional.
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