Tributo Marielle Franco, Mary Cagnin, 2018 |
Quem mandou matar Marielle? Ou, dito de outra forma, quem contratou o vizinho do Bolsonaro para assassinar Marielle?
Com a abertura do inquérito da Polícia Federal, esta pergunta finalmente poderá ser respondida. O Brasil finalmente poderá conhecer quem contratou o vizinho do Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra para assassinar a vereadora Marielle Franco/PSOL e seu motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018.
O crime ocorreu no primeiro mês da intervenção federal no Rio de Janeiro decretada pelo usurpador Michel Temer por “sugestão” dos militares, em especial os conspiradores Villas Bôas e Sérgio Etchegoyen. O general Braga Netto foi nomeado interventor federal e o general Richard Nunes, atual comandante do Comando Militar do Nordeste, o secretário de segurança pública.
Em três semanas o assassinato da Marielle e do Anderson completará cinco anos sem que se saiba, até o momento, a motivação do crime e quem são os mandantes e/ou contratantes desta execução meticulosamente planejada.
O crime foi preparado com notável sofisticação e profissionalismo para que seus executores e mandantes nunca fossem descobertos. Um plano arquitetado por profissionais com conhecimentos avançados em inteligência policial/militar, especializados no sistema de monitoramento da vigilância eletrônica da cidade do Rio e no manejo de armas de alta precisão.
A investigação do crime sofreu interferências políticas e foi propositalmente tumultuada. Além do vai-e-vem da investigação, investigadores da Polícia Civil e do Ministério Público do RJ foram “inexplicavelmente” afastados do caso, atravancando a apuração do caso.
Como, no entanto, não existe crime perfeito, por mais próxima da perfeição que tenha sido sua preparação, dois implicados no atentado foram identificados: os ex-policiais militares Ronnie Lessa e seu comparsa Élcio Queiroz, que atuou como motorista. A identidade da terceira pessoa presente no carro usado no crime ainda está por ser esclarecida.
Na época do crime, por coincidência [ou por obra do acaso], o matador de aluguel Ronnie Lessa era vizinho de Jair e Carlos Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra. Viviam a cerca de 70 passos de distância.
A imprensa inclusive noticiou que Renan Bolsonaro, o “zero4” do clã miliciano, namorou a filha do Ronnie Lessa.
O crime é repleto de acontecimentos estranhos. Como, por exemplo, a presença de Carlos Bolsonaro no Vivendas da Barra entre as 14 e 17 horas do dia 14 de março de 2018, quando Ronnie Lessa e Élcio Queiroz ultimavam os preparativos do assassinato de Marielle; concretizado algumas horas depois. Isso leva ao questionamento se Carlos era o terceiro passageiro do Cobalt Prata mortal.
Apesar de estar na casa do Bolsonaro e de supostamente ter atendido o interfone para autorizar o ingresso de Élcio Queiroz no condomínio, Carlos teria falsamente usado como álibi que naquele dia e horário estava presente em sessão na Câmara de Vereadores do Rio.
O porteiro do Vivendas da Barra, Alberto Jorge Ferreira Mateus, que atendeu o pedido de Élcio para acessar a casa do “Seu Jair”, foi transformado num personagem enigmático. Primeiro, obrigaram-no a mudar a versão sobre a gravação da conversa via interfone na portaria. Em seguida, ele sumiu. Ou foi providencialmente sumido.
Meses depois, a imprensa descobriu que o porteiro foi “instalado”, coincidentemente, no bairro Gardênia Azul, zona oeste do Rio, área controlada pelo Escritório do Crime, a organização criminosa integrada por Ronnie Lessa e pelo finado Adriano da Nóbrega, outro gângster muito reverenciado pelo clã miliciano.
Há, enfim, um último aspecto: Ronnie Lessa é suspeito de envolvimento com o tráfico internacional de armas. Em imóvel de responsabilidade dele no centro do Rio foram encontrados 117 fuzis.
Por isso tudo, a retomada da investigação do assassinato da Marielle é um imperativo ético; é uma exigência democrática incontornável.
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