Por André Curvello
Os ataques a escolas no Brasil são uma triste realidade. Desde o ano 2000, quase 40 estudantes e professores foram mortos e mais de 70 ficaram feridos em ataques ocorridos em estabelecimentos de ensino em todo o país.
Esse fenômeno, que antes era visto principalmente em outros países, como nos Estados Unidos, agora se multiplica por aqui.
A imprensa tem dado grande espaço para a questão, abordando vários aspectos, como as motivações dos perpetrantes, seu perfil psicológico e social, e a segurança nos estabelecimentos de ensino.
No entanto, muitas vezes a mídia negligencia o debate sobre sua própria responsabilidade e, porque não dizer, sobre sua participação no incentivo aos ataques. Estudos mostram que a repetição constante de notícias sobre violência fomenta a própria violência, mas a imprensa parece relutante em lidar com esse tema.
Após o ataque ocorrido recentemente em São Paulo, quando uma professora foi morta por um aluno, escolas de todo o Brasil receberam milhares de ameaças de ataques ou suspeitas de possíveis planos de novos atentados. Obviamente, a exposição midiática exaustiva desses episódios fomenta na cabeça dos alucinados novos planos diabólicos.
É importante lembrar que os crimes cometidos nas escolas geralmente têm o ódio como motivação. Parte da nossa sociedade, graças ao legado sombrio da administração federal que foi derrotada no ano passado, cultua a violência e o armamentismo como instrumentos para impor suas ideologias retrógradas.
Nesse ambiente doentio, grupos se organizam sub-repticiamente para praticar massacres no ambiente escolar. Na lógica dessas mentes distorcidas, o assassino ganha destaque entre seus pares, mesmo que seja abatido pela polícia ou vá para a prisão. Ao divulgar dados que identifiquem os assassinos, a imprensa contribui para que essas pessoas conquistem reconhecimento no seio do seu bando, o que pode estimular novos ataques.
Mas há avanços em curso. Recentemente, o Grupo Globo anunciou uma mudança em seu protocolo de cobertura da violência, não mais revelando a identidade dos responsáveis pelos ataques. E, ouvido pelo portal UOL sobre a ação contra crianças, em uma creche em Blumenau (SC), o psicanalista Christian Dunker disse: “Vejo uma coisa diferente nesse caso no que diz respeito à imprensa. Houve baixa exposição da imagem do sujeito e não se revelou o nome exato dele. Isso já é efeito de uma tomada de consciência de que muitos desses agressores entram em um ato violento esperando o reconhecimento dos seus pares. Lá dentro da internet serão chamados de 'santos', 'heróis', e serão glorificados”.
Na Bahia, a situação alarmante não é diferente da de outros estados, com a espetacularização da violência sendo repetida exaustivamente nos jornais, blogs e emissoras de rádio e televisão. O medo é entregue diariamente em nossas casas, fruto da busca insana pelo crescimento da audiência e do número de cliques.
O jornalismo deve ser feito com responsabilidade social, e insistir na fórmula folhetinesca que favorece a perpetuação do pânico entre a população não deveria ser o papel da mídia.
O momento é propício a uma reavaliação da contribuição que a imprensa quer de fato dar à sociedade. Ela não pode ser um balcão em que a vida humana é negociada.
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