Charge: Gerard Alsteens |
A candidatura presidencial de Donald Trump para a eleição de novembro de 2024 nos Estados Unidos ainda é uma incógnita. Enredado em processos judiciais e investigações policiais, ele poderá até disputar a eleição preso ou, no extremo, ver cassado o direito de concorrer.
Na hipótese de Trump disputar o pleito, a vitória dele é uma possibilidade bastante concreta de acontecer. Seria um resultado péssimo não só para a metade final do mandato do presidente Lula, mas para a sobrevivência da democracia brasileira.
Em entrevista em junho passado, o atual chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, afirmou que “Nós, o Exército, nunca quisemos dar nenhum golpe”.
E arrematou, com um atrevimento que pode ser considerado como advertência: “Tanto não quisemos, que não demos”.
O general deixou subentendido, portanto, que quando os generais quiserem, golpearão a democracia. Eles estão sempre à espreita, exercitando as “aproximações sucessivas”, aguardando as oportunidades favoráveis.
Na realidade, a tentativa de golpe fracassou não porque as cúpulas das Forças Armadas foram magnânimas e legalistas e “não quiseram” perpetrá-lo, como disse o general Sant’Ana Soares. O fracasso deveu-se a vários fatores – e, dentre eles, foi significativa a contrariedade da Administração Biden.
É conhecido o papel determinante do Departamento de Estado dos EUA e do Pentágono na contenção do golpismo das cúpulas fardadas, que não aceitaram a eleição do Lula.
No texto demonstrando que as cúpulas militares só abortaram o plano de golpe por falta de apoio dos EUA, estão descritas as inúmeras pressões da CIA, Departamento de Estado, assessoria de segurança da Casa Branca, Pentágono e Embaixada sobre os comandantes militares brasileiros e setores do establishment.
Hoje está totalmente desvelado o papel oculto dos militares por trás dos panos. Está claro, por exemplo, que Bolsonaro serviu como um Cavalo de Tróia para viabilizar o projeto secreto da cúpula militar.
Bolsonaro foi “o homem que as cúpulas das Forças Armadas escolheram [em 2014] para que ele se fosse convertido no presidente do Brasil”, como já demonstrara o jornalista argentino Marcelo Falak em reportagem de 7 outubro de 2018 que se mostrou visionária.
São os militares da alta cúpula, de fato, e não Bolsonaro e alguns delinquentes fardados tomados como bodes expiatórios, os principais responsáveis pelos eventos críticos desta trágica e interminável conjuntura de instabilidade política e social do país.
O acordão entre governo, oposição, instituições, CPI e Congresso para safar os comandos militares e se contentar só com a punição daqueles personagens já descartados por eles por “perda de utilidade” – como Bolsonaro e outros da súcia – é, neste sentido, um equívoco histórico que poderá trazer consequências gravíssimas num horizonte de tempo próximo.
Essa é a melhor oportunidade histórica que a sociedade civil e o poder político têm diante de si para enfrentar o problema do militar e sua incompatibilidade congênita com a democracia brasileira. Essa janela de oportunidade não pode ser desperdiçada.
A ilusão ingênua no simulacro de legalismo das cúpulas militares poderá cobrar um preço fatal da democracia dentro de dois anos, caso Trump seja eleito nos EUA.
É urgente e impostergável, neste sentido, a necessidade de mudança de postura da sociedade civil, do governo Lula, do Congresso e das instituições a respeito da ameaça que o militar representa para a democracia.
É necessário um amplo entendimento democrático nacional, de natureza suprapartidária, aberto e abrangente, que integre todos setores na discussão sobre a inadiável reforma militar que prepare as Forças Armadas para cuidarem da defesa nacional, que é sua única atribuição.
O livro do professor Manuel Domingos Neto – O que fazer com o militar – é um trabalho exaustivo competente, que oferece uma contribuição relevante para esta tarefa democrática de importância vital.
O Brasil precisa de Forças Armadas preparadas para guerrear pela defensa do país, não para agredir o próprio povo brasileiro, tido como o inimigo interno a ser aniquilado.
A hipótese de Donald Trump presidente dos EUA é assombrosa para o futuro da democracia brasileira, que continua seriamente ameaçada pelos militares.
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Na hipótese de Trump disputar o pleito, a vitória dele é uma possibilidade bastante concreta de acontecer. Seria um resultado péssimo não só para a metade final do mandato do presidente Lula, mas para a sobrevivência da democracia brasileira.
Em entrevista em junho passado, o atual chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, afirmou que “Nós, o Exército, nunca quisemos dar nenhum golpe”.
E arrematou, com um atrevimento que pode ser considerado como advertência: “Tanto não quisemos, que não demos”.
O general deixou subentendido, portanto, que quando os generais quiserem, golpearão a democracia. Eles estão sempre à espreita, exercitando as “aproximações sucessivas”, aguardando as oportunidades favoráveis.
Na realidade, a tentativa de golpe fracassou não porque as cúpulas das Forças Armadas foram magnânimas e legalistas e “não quiseram” perpetrá-lo, como disse o general Sant’Ana Soares. O fracasso deveu-se a vários fatores – e, dentre eles, foi significativa a contrariedade da Administração Biden.
É conhecido o papel determinante do Departamento de Estado dos EUA e do Pentágono na contenção do golpismo das cúpulas fardadas, que não aceitaram a eleição do Lula.
No texto demonstrando que as cúpulas militares só abortaram o plano de golpe por falta de apoio dos EUA, estão descritas as inúmeras pressões da CIA, Departamento de Estado, assessoria de segurança da Casa Branca, Pentágono e Embaixada sobre os comandantes militares brasileiros e setores do establishment.
Hoje está totalmente desvelado o papel oculto dos militares por trás dos panos. Está claro, por exemplo, que Bolsonaro serviu como um Cavalo de Tróia para viabilizar o projeto secreto da cúpula militar.
Bolsonaro foi “o homem que as cúpulas das Forças Armadas escolheram [em 2014] para que ele se fosse convertido no presidente do Brasil”, como já demonstrara o jornalista argentino Marcelo Falak em reportagem de 7 outubro de 2018 que se mostrou visionária.
São os militares da alta cúpula, de fato, e não Bolsonaro e alguns delinquentes fardados tomados como bodes expiatórios, os principais responsáveis pelos eventos críticos desta trágica e interminável conjuntura de instabilidade política e social do país.
O acordão entre governo, oposição, instituições, CPI e Congresso para safar os comandos militares e se contentar só com a punição daqueles personagens já descartados por eles por “perda de utilidade” – como Bolsonaro e outros da súcia – é, neste sentido, um equívoco histórico que poderá trazer consequências gravíssimas num horizonte de tempo próximo.
Essa é a melhor oportunidade histórica que a sociedade civil e o poder político têm diante de si para enfrentar o problema do militar e sua incompatibilidade congênita com a democracia brasileira. Essa janela de oportunidade não pode ser desperdiçada.
A ilusão ingênua no simulacro de legalismo das cúpulas militares poderá cobrar um preço fatal da democracia dentro de dois anos, caso Trump seja eleito nos EUA.
É urgente e impostergável, neste sentido, a necessidade de mudança de postura da sociedade civil, do governo Lula, do Congresso e das instituições a respeito da ameaça que o militar representa para a democracia.
É necessário um amplo entendimento democrático nacional, de natureza suprapartidária, aberto e abrangente, que integre todos setores na discussão sobre a inadiável reforma militar que prepare as Forças Armadas para cuidarem da defesa nacional, que é sua única atribuição.
O livro do professor Manuel Domingos Neto – O que fazer com o militar – é um trabalho exaustivo competente, que oferece uma contribuição relevante para esta tarefa democrática de importância vital.
O Brasil precisa de Forças Armadas preparadas para guerrear pela defensa do país, não para agredir o próprio povo brasileiro, tido como o inimigo interno a ser aniquilado.
A hipótese de Donald Trump presidente dos EUA é assombrosa para o futuro da democracia brasileira, que continua seriamente ameaçada pelos militares.
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Serviço: o livro O que fazer com o militar – anotações para uma nova defesa nacional, de autoria do professor Manuel Domingos Neto, será lançado em Porto Alegre às 19 horas desta 2ª feira, 9 de outubro, no Sindicato dos Bancários [Av. General Câmara, 424, Centro].
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