Reproduzo artigo de Maurício Caleiro, publicado no blog “Cinema e outras artes”:
Ontem fiz minha inscrição para o I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Alimento uma ansiedade boa em relação ao evento e estou com grande expectativa – creio que será mais do que uma oportunidade de conhecer e confraternizar com outros blogueiros e entusiastas das novas comunicações, mas um evento histórico.
Só o fato de se realizar tal encontro, com uma programação de três dias e reunindo centenas de pessoas, já merece ser saudado como uma prova a mais de que, definitivamente, há uma nova força a se contrapor aos jornalões e grandes corporações midiáticas, com suas manipulações a favor do capital e de seus próprios interesses empresariais.
Desafios e conquistas
É evidente, no entanto, que se trata de uma luta de Davi e Golias. Talvez não nos encontremos mais em uma fase meramente embrionária da comunicação alternativa via web, mas, sendo realista, ainda são incipientes as bases materiais, legais e institucionais que permitiriam a constituição de um sustentáculo à atividade blogueira a médio e longo prazo. Muito precisaremos caminhar para nos consolidar como força capaz de vencer a longa luta da blogosfera por viabilização profissional, segurança jurídica, capacidade de se manter infesa ao poder do grande capital e de resistir contra as tentativas de intimidação e censura, entre outros desafios.
Assim como muitos têm afirmado, tenho a impressão de que o Encontro será o primeiro passo concreto e abrangente para a concepção de ações articuladas para começar a enfrentar de forma objetiva tais demandas. O incansável jornalista Altamiro Borges, dono de um dos melhores blogs de política do pedaço, acrescenta, em entrevista ao site Vermeho, a oportunidade para atacar uma questão premente da blogosfera: “o blog produz muita opinião e pouco conteúdo informativo. Para Miro, trata-se de uma ótima oportunidade para a articulação de uma agência de notícias".
Festa e confraternização
Como se não bastasse a oportunidade de nos unirmos e agir para a melhoria da blogosfera, teremos uma festa de abertura ao som de chorinho, com um grupo comandado por ninguém menos do que Luís Nassif (ao bandolim), com canjas de quem entende do riscado (infelizmente, não é o meu caso...).
Quem está querendo ir e não sabe como fazer para se inscrever, arrumar hotel e passagens em conta, etc., é só clicar no banner grandão lá encima ou aqui, que a minha grande amiga @Maria_Fro (a.k.a. Conceição Oliveira) explica tudim procê, como se diz aqui em Minas!
Miro, Nassif e Frô fazem parte da comissão de organização do evento, que conta ainda com as presenças do prezado Diego Casaes, de Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Eduardo Guimarães e Luiz Carlos Azenha - todos, desnecessário dizer, de parabéns pela capacidade, persistência e raça para viabilizar o encontro.
Pauta variada
Azenha, aliás, em post sobre suas perspectivas quanto ao encontro, observou, de forma realista e na contramão de análises mais derramadas, que “a blogosfera é muito diversa e é difícil encontrar dois blogueiros que concordem absolutamente sobre um único tema. Por isso, quem imagina que os 200 blogueiros já inscritos vão se submeter a algum tipo de controle, de comando centralizado ou de “ordens superiores” decididamente não conhece a blogosfera”. Para ele, os pontos fundamentais seriam: interação entre blogueiros, troca de informações e de ensinamentos visando aprimorar os blogs, discussão sobre “a viabilidade comercial da blogosfera” e debate acerca das “as ameaças já existentes à blogosfera”.
De minha parte, insisto – pois já abordei o tema aqui - na importância da constituição de um sistema permanente de defesa jurídica para a blogosfera. Não se trata, a meu ver, de mais um tema entre outros de igual importância, mas de uma necessidade premente, pois têm sido recorrentes – e em intervalos cada vez menores - os processos contra blogueiros, uns poucos por descuido próprio (e aí faltou orientação legal sobre que cuidados tomar para exercer jornalismo sem infringir a lei), mas uma maioria como forma de intimidar e calar o escriba.
Que, um dia, tais estratégias venham a tomar a forma de uma ação articulada visando censurar e desarticular a blogosfera - através de uma enxurrada de processos e com as armas do poder econômico - é mera questão de tempo. Arrisco dizer que isso só não aconteceu nas eleições em curso porque, para os agentes do grande capital capazes de financiar tal empreitada, o naufrágio da candidatura da direita se evidenciou muito cedo – muito antes do que as pesquisas eleitorais o detectassem.
A hora é essa!
Essas e outras questões serão certamente debatidas nos três dias de encontro e, ainda que muita polêmica e até algumas discussões devam ocorrer, estou certo de que sairemos de São Paulo mais fortes e com projetos concretos para o aperfeiçoamento e fortalização da blogosfera, que nestas eleições têm mostrado seu tremendo potencial como força de comunicação interativa e livre de interesses corporativos.
Quem ainda não se decidiu, esta é a hora (inscrições só até dia 13/08)!
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domingo, 8 de agosto de 2010
A mídia e o escândalo Lula
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:
Quem olhasse para o Brasil através da imprensa, não conseguiria entender a popularidade do Lula. Foi o que constatou o ex-presidente português Mario Soares, que a essa dicotomia soma a projeção internacional extraordinária do Lula e do Brasil no governo atual e não conseguia entender como a imprensa brasileira não reflete, nem essa imagem internacional, nem o formidável e inédito apoio interno do Lula.
Acontece que Lula não se subordinou ao que as elites tradicionais acreditavam reservar para ele: que fosse eternamente um opositor denuncista, sem capacidade de agregar, de fazer alianças, se construir uma força hegemônica no país. Ficaria ali, isolado, rejeitado, até mesmo como prova da existência de uma oposição – incapaz de deixar de sê-lo.
Quando Lula contornou isso, constituiu um arco de alianças majoritário e triunfou, lhe reservavam o fracasso: ataque especulativo, fuga de capitais, onda de reivindicações, descontrole inflacionário, que levasse a população a suplicar pela volta dos tucanos-pefelistas, enterrando definitivamente a esquerda no Brasil por vinte anos.
Lula contornou esse problema. Aí o medo era de que permanecesse muito tempo, se consolidasse. Reservaram-lhe então o papel de “presidente corrupto”, vitima de campanhas orquestradas pela mídia privada – como em 1964 -, a partir de movimentos como o “Cansei”. Ou o derrubariam por impeachment ou supunham que ele pudesse capitular, não se candidatando de novo, ou que fosse, sangrado pela oposição, ser derrotado nas eleições de 2006. Tinham lhe reservado o destino do presidente solitário no poder, isolado do povo, rejeitado pelos “formadores de opinião”, vitima de mais um desses movimentos que escolhem cores para exibir repudio a governos antidemocráticos e antipopulares.
Lula superou esses obstáculos, conquistou popularidade que nenhum governante tinha conseguido, o povo o apóia. Mas nenhum espaço da mídia expressa esse sentimento popular – o mais difundido no país. O povo não ouve discursos do Lula na televisão, nem no rádio, nem os pode ler nos jornais. Lula não pode falar ao povo, sem a intermediação da mídia privada, que escolhe o que deseja fazer chegar à população. Nunca publica um discurso integral do presidente da republica mais popular que o Brasil já teve. Ao contrário, se opõem frenética e sistematicamente a ele, conquistando e expressando os 3% da população que o rejeita, contra os 82% que o apóiam.
Talvez nada reflita melhor a distância e a contraposição entre os dois países que convivem, um ao lado do outro. Revela como, apesar da moderação do seu governo, sua imagem, sua trajetória, o que ele representa para o povo brasileiro, é algo inassimilável para as elites tradicionais. Essa mesma elite que tinha uma imensa e variada equipe de apologetas de Collor e de FHC, não tolera o fracasso deles e o sucesso nacional e internacional, político e de massas, de um imigrante nordestino, que perdeu um dedo na máquina, como torneiro mecânico, dirigente sindical e um Partido dos Trabalhadores, que não aceitou a capitulação ou a derrota.
Lula é o melhor fenômeno para entender o que é o Brasil hoje, em todas as posições da estrutura social, em todas as dimensões da nossa história. Quase se pode dizer: diga-me o que você acha do Lula e eu te direi quem és.
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Quem olhasse para o Brasil através da imprensa, não conseguiria entender a popularidade do Lula. Foi o que constatou o ex-presidente português Mario Soares, que a essa dicotomia soma a projeção internacional extraordinária do Lula e do Brasil no governo atual e não conseguia entender como a imprensa brasileira não reflete, nem essa imagem internacional, nem o formidável e inédito apoio interno do Lula.
Acontece que Lula não se subordinou ao que as elites tradicionais acreditavam reservar para ele: que fosse eternamente um opositor denuncista, sem capacidade de agregar, de fazer alianças, se construir uma força hegemônica no país. Ficaria ali, isolado, rejeitado, até mesmo como prova da existência de uma oposição – incapaz de deixar de sê-lo.
Quando Lula contornou isso, constituiu um arco de alianças majoritário e triunfou, lhe reservavam o fracasso: ataque especulativo, fuga de capitais, onda de reivindicações, descontrole inflacionário, que levasse a população a suplicar pela volta dos tucanos-pefelistas, enterrando definitivamente a esquerda no Brasil por vinte anos.
Lula contornou esse problema. Aí o medo era de que permanecesse muito tempo, se consolidasse. Reservaram-lhe então o papel de “presidente corrupto”, vitima de campanhas orquestradas pela mídia privada – como em 1964 -, a partir de movimentos como o “Cansei”. Ou o derrubariam por impeachment ou supunham que ele pudesse capitular, não se candidatando de novo, ou que fosse, sangrado pela oposição, ser derrotado nas eleições de 2006. Tinham lhe reservado o destino do presidente solitário no poder, isolado do povo, rejeitado pelos “formadores de opinião”, vitima de mais um desses movimentos que escolhem cores para exibir repudio a governos antidemocráticos e antipopulares.
Lula superou esses obstáculos, conquistou popularidade que nenhum governante tinha conseguido, o povo o apóia. Mas nenhum espaço da mídia expressa esse sentimento popular – o mais difundido no país. O povo não ouve discursos do Lula na televisão, nem no rádio, nem os pode ler nos jornais. Lula não pode falar ao povo, sem a intermediação da mídia privada, que escolhe o que deseja fazer chegar à população. Nunca publica um discurso integral do presidente da republica mais popular que o Brasil já teve. Ao contrário, se opõem frenética e sistematicamente a ele, conquistando e expressando os 3% da população que o rejeita, contra os 82% que o apóiam.
Talvez nada reflita melhor a distância e a contraposição entre os dois países que convivem, um ao lado do outro. Revela como, apesar da moderação do seu governo, sua imagem, sua trajetória, o que ele representa para o povo brasileiro, é algo inassimilável para as elites tradicionais. Essa mesma elite que tinha uma imensa e variada equipe de apologetas de Collor e de FHC, não tolera o fracasso deles e o sucesso nacional e internacional, político e de massas, de um imigrante nordestino, que perdeu um dedo na máquina, como torneiro mecânico, dirigente sindical e um Partido dos Trabalhadores, que não aceitou a capitulação ou a derrota.
Lula é o melhor fenômeno para entender o que é o Brasil hoje, em todas as posições da estrutura social, em todas as dimensões da nossa história. Quase se pode dizer: diga-me o que você acha do Lula e eu te direi quem és.
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A revista Veja e a mídia neofascista
Reproduzo excelente artigo de Tulio Muniz, publicado no Observatório da Imprensa:
Saiu na sexta-feira (30/7) a última pesquisa do Ibope sobre as eleições presidenciais, demonstrando o óbvio: Dilma Rousseff já tem vantagem sobre José Serra para além da margem de erro. Entretanto, será o suficiente para desmontar a miragem que o Datafolha vem criando com seus resultados únicos e originais, contestando todos os demais institutos? Mas, além disso, será suficiente para barrar de vez algo de novo, e de preocupante, em gestação na chamada grande imprensa? Algo que não soa bem ao contexto democrático de um país que passou boa parte do último século sob regimes ditatoriais (de 1930 a 1945 e de 1964 a 1985).
Penso, notadamente, na última edição de Veja, com manchetes do tipo "Índio acerta o alvo", repercutindo a insistência dos candidatos do PSDB, José Serra e Índio da Costa, em centrar fogo na suposta "relação" do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A intenção explícita é tentar ligar o PT com o tráfico de drogas, notadamente no Rio de Janeiro. Índio chegou a dizer em entrevistas que "todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso". Assim como tentaram antes, quando Serra "denunciou" que a relação entre governos de Brasil e Bolívia "facilitaria" o tráfico. Mirando em "alvos" como esses, não compreendem o porquê da queda nas pesquisas?
De fato, parece que os tucanos e a mídia a eles aliada (quase toda a "grande" mídia) estão a perder o senso de realidade. Mas, ainda pior é estarem a forjar um discurso de matiz claramente fascista, e é essa a novidade nefasta. Fascista porque, diferente de outras ocasiões passadas em que carregou contra o governo Lula ou contra Dilma (o "dossiê" da "guerrilheira" na Folha, por exemplo), Veja e afins conclamam uma recusa ao processo democrático ao legitimar miragens como o conluio Farc-PT. Pois ainda há quem acredite nesses veículos informativos, por mais que tenha decrescido sua credibilidade.
Mentalidade pode crescer após as eleições
Em eleições anteriores, o discurso do "medo" já foi adotado, mas por protagonistas da disputa eleitoral, como Regina Duarte, em 2002, ou o presidente da Fiesp, em 1989, que prenunciou o abandono do Brasil pelos empresários caso Lula vencesse. Agora quem irradia o discurso é um conjunto reunindo boa parte da mídia, e não só um veículo isolado, como fez a Veja em 1989 com o "Brizula", quando uma hipotética aliança Brizola-Lula teria potencial para vencer.
O fascismo enquanto discurso de massa adotado por meios de comunicação de circulação nacional jamais emergiu com tamanha recorrência como vemos agora acontecer. E isso quando partidos assumidamente fascistas ascendem aos governos de vários países europeus (Holanda, Hungria, Itália etc). E mesmo em países onde residem governos de centro-esquerda, como Portugal e Espanha, se passa o que Boaventura Santos chama de "fascismo social" que, resumidamente, é quando o próprio Estado despromove conquistas sociais importantes, como direito universal à saúde, educação, subsídios-desemprego etc.
Convém lembrar que, cá no Brasil, persiste uma certa mentalidade de classe média que se refere a programas sociais europeus como "conquistas históricas" (e são, por mais agonizantes que estejam), mas encara congêneres como o Bolsa Família como "assistencialismo", "demagogia". Essa "classe média" certamente é o que a mídia neofascista quer espoletar e jogar contra o governo e sua candidata. Uma coisa é reconhecer que, por ora, tal estratégia não surte efeito, mas outra é dizer que tal mentalidade não é latente e que não pode vir a crescer após as eleições, seja quem for o vencedor.
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Saiu na sexta-feira (30/7) a última pesquisa do Ibope sobre as eleições presidenciais, demonstrando o óbvio: Dilma Rousseff já tem vantagem sobre José Serra para além da margem de erro. Entretanto, será o suficiente para desmontar a miragem que o Datafolha vem criando com seus resultados únicos e originais, contestando todos os demais institutos? Mas, além disso, será suficiente para barrar de vez algo de novo, e de preocupante, em gestação na chamada grande imprensa? Algo que não soa bem ao contexto democrático de um país que passou boa parte do último século sob regimes ditatoriais (de 1930 a 1945 e de 1964 a 1985).
Penso, notadamente, na última edição de Veja, com manchetes do tipo "Índio acerta o alvo", repercutindo a insistência dos candidatos do PSDB, José Serra e Índio da Costa, em centrar fogo na suposta "relação" do PT com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A intenção explícita é tentar ligar o PT com o tráfico de drogas, notadamente no Rio de Janeiro. Índio chegou a dizer em entrevistas que "todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior. Não tenho dúvida nenhuma disso". Assim como tentaram antes, quando Serra "denunciou" que a relação entre governos de Brasil e Bolívia "facilitaria" o tráfico. Mirando em "alvos" como esses, não compreendem o porquê da queda nas pesquisas?
De fato, parece que os tucanos e a mídia a eles aliada (quase toda a "grande" mídia) estão a perder o senso de realidade. Mas, ainda pior é estarem a forjar um discurso de matiz claramente fascista, e é essa a novidade nefasta. Fascista porque, diferente de outras ocasiões passadas em que carregou contra o governo Lula ou contra Dilma (o "dossiê" da "guerrilheira" na Folha, por exemplo), Veja e afins conclamam uma recusa ao processo democrático ao legitimar miragens como o conluio Farc-PT. Pois ainda há quem acredite nesses veículos informativos, por mais que tenha decrescido sua credibilidade.
Mentalidade pode crescer após as eleições
Em eleições anteriores, o discurso do "medo" já foi adotado, mas por protagonistas da disputa eleitoral, como Regina Duarte, em 2002, ou o presidente da Fiesp, em 1989, que prenunciou o abandono do Brasil pelos empresários caso Lula vencesse. Agora quem irradia o discurso é um conjunto reunindo boa parte da mídia, e não só um veículo isolado, como fez a Veja em 1989 com o "Brizula", quando uma hipotética aliança Brizola-Lula teria potencial para vencer.
O fascismo enquanto discurso de massa adotado por meios de comunicação de circulação nacional jamais emergiu com tamanha recorrência como vemos agora acontecer. E isso quando partidos assumidamente fascistas ascendem aos governos de vários países europeus (Holanda, Hungria, Itália etc). E mesmo em países onde residem governos de centro-esquerda, como Portugal e Espanha, se passa o que Boaventura Santos chama de "fascismo social" que, resumidamente, é quando o próprio Estado despromove conquistas sociais importantes, como direito universal à saúde, educação, subsídios-desemprego etc.
Convém lembrar que, cá no Brasil, persiste uma certa mentalidade de classe média que se refere a programas sociais europeus como "conquistas históricas" (e são, por mais agonizantes que estejam), mas encara congêneres como o Bolsa Família como "assistencialismo", "demagogia". Essa "classe média" certamente é o que a mídia neofascista quer espoletar e jogar contra o governo e sua candidata. Uma coisa é reconhecer que, por ora, tal estratégia não surte efeito, mas outra é dizer que tal mentalidade não é latente e que não pode vir a crescer após as eleições, seja quem for o vencedor.
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Serra e a geopolítica do crepúsculo
Reproduzo artigo de Gilson Caroni Filho, publicado no sítio Carta Maior:
Fala-se que a política externa de um país é a expressão de sua política interna, da dinâmica de forças sociais que expressam um projeto de inserção no cenário mundial. Se for assim, como devem ser vistas as críticas de setores neoliberais que, em sintonia com a retórica de britânicos e estadunidenses, classificam-na como desastrosa, “sem uma avaliação adequada de nossas possibilidades e reais interesses"? A questão é importante, pois revela que, em uma eventual vitória da oposição na eleição de outubro, o Brasil sofrerá um processo de continuidade nessa área. Um lamentável retorno a teses e conceitos de uma geopolítica de vice-reinado.
As declarações de ex-chanceleres do governo FHC denunciam, com toda a clareza possível, a natureza e orientação da subalternidade planejada. Seríamos reduzidos a uma máquina de segurança mercadológica dos produtos exportáveis, relegando a meras cerimônias aspectos substantivos que, nos últimos oito anos, passaram a refletir um país democrático e maduro.
A integração regional soberana daria lugar ao antigo alinhamento com o capitalismo central, recolocando o país no segundo plano do jogo internacional das nações. As diretrizes e os meios de ação desse retrocesso são esboçados no discurso de José Serra e na linha editorial das corporações midiáticas que lhe dão sustentação.
O objetivo é continuar silenciando inspirações e práticas brilhantes que têm origem no pensamento altivo de Araujo Castro e San Thiago Dantas, entre outros. O Itamaraty, como lugar ideal de formulação e execução de políticas soberanas não é compatível com o ideário mercantil dos velhos sedimentos estamentais.
Convém lembrar a história do Brasil, em particular, sua independência. A ruptura dos laços com a metrópole portuguesa, sob o bafejo do capital inglês, não redundou na criação de um Estado nacional de corte burguês. Antes, permitiu que uma oligarquia fundiária e escravocrata articulasse um tipo de dominação senhorial que impôs à emergente sociedade brasileira uma superestrutura política, liquidada apenas no século XX.
A estratégia das nossas elites, desde então, operou no sentido de frustrar a democratização social, realizando a exclusão do povo da cena pública. A construção do Estado Nacional, entre nós, realizou-se sistematicamente com o controle e a manipulação, pelo alto, da intervenção popular. Mesmo as mais notáveis inflexões no processo de constituição e desenvolvimento desse Estado não conseguiram reverter essa tendência. Aliás, todas as vezes em que a ameaça de reversão se fez sentir, como em 1964, as classes dominantes não hesitaram em recorrer à violência.
É por tudo isso que o discurso da direita deve merecer uma atenção especial. Mais do que nunca é preciso motivar a reflexão e a análise de todos. A integridade e a soberania nacional só se fundem em um Estado que expresse os interesses da maioria dos seus cidadãos. Ainda recente e inconclusa, a superação das mais sérias patologias de nossa formação histórica tem sido pedagógica. Aprendemos, em pouco tempo, que a independência de um país só pode se fundamentar na legitimidade do seu regime político e na participação social dos setores organizados.
A política externa multilateralista do governo Lula, por afirmar interesses nacionais, amplia áreas de atrito com grandes potências. Por isso mesmo é alvo da "retórica do medo", por parte dos que advogam o retorno do alinhamento incondicional com os Estados Unidos, Europa e Japão.
Como os caminhos da política externa são indissociáveis dos rumos das opções internas, ficam claras as marcas constitutivas das frações de classe que apóia a candidatura de José Serra: subalternidade nas relações internacionais e retomada, no âmbito interno, de políticas excludentes. Nas frestas de velhos pactos coloniais, o retrocesso sempre se apresenta como crepúsculo e destino.
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Fala-se que a política externa de um país é a expressão de sua política interna, da dinâmica de forças sociais que expressam um projeto de inserção no cenário mundial. Se for assim, como devem ser vistas as críticas de setores neoliberais que, em sintonia com a retórica de britânicos e estadunidenses, classificam-na como desastrosa, “sem uma avaliação adequada de nossas possibilidades e reais interesses"? A questão é importante, pois revela que, em uma eventual vitória da oposição na eleição de outubro, o Brasil sofrerá um processo de continuidade nessa área. Um lamentável retorno a teses e conceitos de uma geopolítica de vice-reinado.
As declarações de ex-chanceleres do governo FHC denunciam, com toda a clareza possível, a natureza e orientação da subalternidade planejada. Seríamos reduzidos a uma máquina de segurança mercadológica dos produtos exportáveis, relegando a meras cerimônias aspectos substantivos que, nos últimos oito anos, passaram a refletir um país democrático e maduro.
A integração regional soberana daria lugar ao antigo alinhamento com o capitalismo central, recolocando o país no segundo plano do jogo internacional das nações. As diretrizes e os meios de ação desse retrocesso são esboçados no discurso de José Serra e na linha editorial das corporações midiáticas que lhe dão sustentação.
O objetivo é continuar silenciando inspirações e práticas brilhantes que têm origem no pensamento altivo de Araujo Castro e San Thiago Dantas, entre outros. O Itamaraty, como lugar ideal de formulação e execução de políticas soberanas não é compatível com o ideário mercantil dos velhos sedimentos estamentais.
Convém lembrar a história do Brasil, em particular, sua independência. A ruptura dos laços com a metrópole portuguesa, sob o bafejo do capital inglês, não redundou na criação de um Estado nacional de corte burguês. Antes, permitiu que uma oligarquia fundiária e escravocrata articulasse um tipo de dominação senhorial que impôs à emergente sociedade brasileira uma superestrutura política, liquidada apenas no século XX.
A estratégia das nossas elites, desde então, operou no sentido de frustrar a democratização social, realizando a exclusão do povo da cena pública. A construção do Estado Nacional, entre nós, realizou-se sistematicamente com o controle e a manipulação, pelo alto, da intervenção popular. Mesmo as mais notáveis inflexões no processo de constituição e desenvolvimento desse Estado não conseguiram reverter essa tendência. Aliás, todas as vezes em que a ameaça de reversão se fez sentir, como em 1964, as classes dominantes não hesitaram em recorrer à violência.
É por tudo isso que o discurso da direita deve merecer uma atenção especial. Mais do que nunca é preciso motivar a reflexão e a análise de todos. A integridade e a soberania nacional só se fundem em um Estado que expresse os interesses da maioria dos seus cidadãos. Ainda recente e inconclusa, a superação das mais sérias patologias de nossa formação histórica tem sido pedagógica. Aprendemos, em pouco tempo, que a independência de um país só pode se fundamentar na legitimidade do seu regime político e na participação social dos setores organizados.
A política externa multilateralista do governo Lula, por afirmar interesses nacionais, amplia áreas de atrito com grandes potências. Por isso mesmo é alvo da "retórica do medo", por parte dos que advogam o retorno do alinhamento incondicional com os Estados Unidos, Europa e Japão.
Como os caminhos da política externa são indissociáveis dos rumos das opções internas, ficam claras as marcas constitutivas das frações de classe que apóia a candidatura de José Serra: subalternidade nas relações internacionais e retomada, no âmbito interno, de políticas excludentes. Nas frestas de velhos pactos coloniais, o retrocesso sempre se apresenta como crepúsculo e destino.
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O dia em que a ‘Veja’ sumiu
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no blog Cidadania:
Sábado, 7 de agosto de 2010, 8h30m. Desjejuo e vou à banca de jornal da esquina para começar a cumprir promessa que fiz aos meus leitores de reproduzir para eles o direito de resposta que o PT conseguiu na Justiça Eleitoral contra a revista “Veja” por esta ter endossado acusação sem provas de Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Índio afirmou que o partido adversário é ligado ao “narcotráfico”.
Às nove horas da manhã, a Veja ainda não havia chegado à banca de jornal da “loja de conveniência” do posto de gasolina da esquina da rua em que resido. Vale anotar que resido na região urbana do país que concentra o maior coeficiente de leitores da Veja por quilômetro quadrado, pois minha residência fica a três quadras da avenida Paulista.
Como a banca de jornais e revistas que fica na tal “loja de conveniência” não é exatamente uma banca de jornal decidi andar uma quadra mais, até a banca de fato na próxima esquina. “A Veja ainda não chegou; está atrasada”, disse-me a senhora oriental de óculos.
Aqui embaixo, a algumas quadras da avenida Paulista, as revistas e jornais chegam mesmo mais tarde, mas na Avenida deveria conseguir um exemplar da Veja porque a região em que resido é onde as distribuidoras de jornais e revistas primeiro despejam publicações do mundo inteiro. Decido radicalizar, portanto. Irei a uma das bancas mais sortidas do país.
Fica na esquina da Alameda Santos com a Doutor Rafael de Barros, no bairro do Paraíso, onde resido. Pode-se comprar jornais e revistas do mundo inteiro, ali. Das publicações nacionais, então, nem se fala. Há de tudo. É uma particularidade desta região devido a ela receber intenso turismo de negócios oriundo dos quatro cantos da Terra. Trata-se da região mais cosmopolita do Brasil.
Já eram 10h45m de sábado e nada da Veja nas bancas. Já percorrera umas 14 bancas de jornal. Aquela mais sortida, que mencionei acima, informou-me que a revista costuma chegar às 9 horas, mas, neste sábado, recebera a visita de um motoqueiro dizendo que a entrega da revista iria “atrasar”.
Volto para casa porque a minha senhora me comunicara que desejava ir fazer compras comigo, para variar, de forma que decidi esperar um pouco mais para relatar a caça à Veja, que só acabou aportando a uma banca ao lado da estação Paraíso do metrô por volta das 12h17m. O vendedor da banca me informou que chegara havia “meia hora”, mas que não recebera visita nenhuma avisando do atraso.
Segundo informações do Portal Vermelho, “Por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou, na noite desta quinta-feira (5), o recurso da revista Veja contra decisão do próprio TSE que, na segunda-feira (2), assegurou direito de resposta para o PT e sua candidata a presidente da República, Dilma Rousseff. O TSE entendeu que a publicação extrapolou o limite da informação ao publicar a matéria ‘Indio acertou o alvo’”.
Folheei avidamente a revista em busca do direito de resposta do PT e do que a revista diria sobre o fato. Após uma avalanche de publicidade, fui encontrar a nota na página 80, duas páginas depois do centro da revista.
A redação da nota do PT que encontrei foi a aprovada pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral depois de este ter rejeitado redação inicial. Foi publicada no centro de uma página em branco, contendo uma margem delineada em traço preto e, no canto inferior esquerdo, a seguinte legenda: 80 / 11 de agosto, 2010 / VEJA
Abaixo, o teor da nota “Direito de Resposta” que o PT obrigou a Veja na Justiça a publicar em sua edição impressa de número 2177, duas semanas após a divulgação ilegal de acusação ao PT de ser um partido de traficantes.
Ao reproduzir declarações de candidato a vice-presidente, a revista endossa e amplifica ofensas ao PT que foram objeto de sanção da Justiça Eleitoral ao PSDB.
Em defesa de sua honra, de seus dirigentes, filiados e militantes, e em respeito à população brasileira, que tem o direito de ser cofrretamente informada, o Partido dos Trabalhadores vem desfazer inverdades publicadas pela revista Veja, na Edição 2.175.
O PT é um partido político democrático, registrado desde 1980 no Tribunal Superior Eleitoral, que defende a Constituição e cumpre rigorosamente a lei.
O PT condena o terrorismo, repudia a violência, pratica e defende a via democrática para a solução de conflitos.
As relações do PT com partidos políticos de diversos outros países são pautadas pela busca da cooperação entre os povos e pela construção da paz mundial.
O repúdio ao narcotráfico, que corrói a juventude, atemoriza a população e corrompe a sociedade, é parte constitutiva do ideário e da prática do PT desde a fundação do partido.
O PT combate com firmeza o narcotráfico e o crime organizado, por meio de sua representação no Poder Legislativo, de suas administrações municipais, estaduais e, especialmente, na Presidência da República.
Ao longo de sua existência, o PT demonstrou que não transige com o crime nem se relaciona com o narcotráfico. Afirmar o contrário, como fez a revista Veja, é transigir com a verdade.
Veja comenta a nota na página ao lado, de número 81, com foto do plenário do Tribunal Superior Eleitoral. A matéria vai até a página 82. O título é “A resposta do direito”. No texto, a revista tenta atribuir alguma inconstitucionalidade à decisão da Justiça Eleitoral, previsivelmente tentando caracterizar como censura o direito que o PT exerceu de dar a sua versão sobre uma acusação sem provas que lhe foi feita.
Em seguida, Veja enumera os membros do TSE que votaram desta ou daquela forma e reproduz o que chama de “repercussão”, que nada mais é do que uma seleção de juristas e advogados amigos escalados para sustentar o ponto de vista que a Justiça Eleitoral rejeitou ao dar razão à queixa do PT, como não poderia deixar de ser diante de ataque tão baixo.
O que resta dos fatos que relatei é que julgo que a Justiça Eleitoral deveria auditar a distribuição da edição de número 2.177 da revista Veja, datada previamente, na capa da publicação, como sendo de 11 de agosto, apesar de ter chegado às bancas quatro dias antes, o que é uma estratégia para tornar a revista “atual” fraudulentamente, pois as informações ali contidas já terão envelhecido na data anunciada.
Não deveria haver motivo para a distribuição da revista se atrasar, haja vista que a decisão do TSE sobre o recurso da Veja aconteceu na quinta-feira. Os vendedores das bancas de jornal com os quais conversei durante a via crúcis que fiz para encontrar publicação pela qual despendi exorbitantes R$ 8,90, disseram-me que não se lembravam de a entrega dessa revista ter se atrasado assim anteriormente…
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Sábado, 7 de agosto de 2010, 8h30m. Desjejuo e vou à banca de jornal da esquina para começar a cumprir promessa que fiz aos meus leitores de reproduzir para eles o direito de resposta que o PT conseguiu na Justiça Eleitoral contra a revista “Veja” por esta ter endossado acusação sem provas de Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Índio afirmou que o partido adversário é ligado ao “narcotráfico”.
Às nove horas da manhã, a Veja ainda não havia chegado à banca de jornal da “loja de conveniência” do posto de gasolina da esquina da rua em que resido. Vale anotar que resido na região urbana do país que concentra o maior coeficiente de leitores da Veja por quilômetro quadrado, pois minha residência fica a três quadras da avenida Paulista.
Como a banca de jornais e revistas que fica na tal “loja de conveniência” não é exatamente uma banca de jornal decidi andar uma quadra mais, até a banca de fato na próxima esquina. “A Veja ainda não chegou; está atrasada”, disse-me a senhora oriental de óculos.
Aqui embaixo, a algumas quadras da avenida Paulista, as revistas e jornais chegam mesmo mais tarde, mas na Avenida deveria conseguir um exemplar da Veja porque a região em que resido é onde as distribuidoras de jornais e revistas primeiro despejam publicações do mundo inteiro. Decido radicalizar, portanto. Irei a uma das bancas mais sortidas do país.
Fica na esquina da Alameda Santos com a Doutor Rafael de Barros, no bairro do Paraíso, onde resido. Pode-se comprar jornais e revistas do mundo inteiro, ali. Das publicações nacionais, então, nem se fala. Há de tudo. É uma particularidade desta região devido a ela receber intenso turismo de negócios oriundo dos quatro cantos da Terra. Trata-se da região mais cosmopolita do Brasil.
Já eram 10h45m de sábado e nada da Veja nas bancas. Já percorrera umas 14 bancas de jornal. Aquela mais sortida, que mencionei acima, informou-me que a revista costuma chegar às 9 horas, mas, neste sábado, recebera a visita de um motoqueiro dizendo que a entrega da revista iria “atrasar”.
Volto para casa porque a minha senhora me comunicara que desejava ir fazer compras comigo, para variar, de forma que decidi esperar um pouco mais para relatar a caça à Veja, que só acabou aportando a uma banca ao lado da estação Paraíso do metrô por volta das 12h17m. O vendedor da banca me informou que chegara havia “meia hora”, mas que não recebera visita nenhuma avisando do atraso.
Segundo informações do Portal Vermelho, “Por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou, na noite desta quinta-feira (5), o recurso da revista Veja contra decisão do próprio TSE que, na segunda-feira (2), assegurou direito de resposta para o PT e sua candidata a presidente da República, Dilma Rousseff. O TSE entendeu que a publicação extrapolou o limite da informação ao publicar a matéria ‘Indio acertou o alvo’”.
Folheei avidamente a revista em busca do direito de resposta do PT e do que a revista diria sobre o fato. Após uma avalanche de publicidade, fui encontrar a nota na página 80, duas páginas depois do centro da revista.
A redação da nota do PT que encontrei foi a aprovada pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral depois de este ter rejeitado redação inicial. Foi publicada no centro de uma página em branco, contendo uma margem delineada em traço preto e, no canto inferior esquerdo, a seguinte legenda: 80 / 11 de agosto, 2010 / VEJA
Abaixo, o teor da nota “Direito de Resposta” que o PT obrigou a Veja na Justiça a publicar em sua edição impressa de número 2177, duas semanas após a divulgação ilegal de acusação ao PT de ser um partido de traficantes.
Ao reproduzir declarações de candidato a vice-presidente, a revista endossa e amplifica ofensas ao PT que foram objeto de sanção da Justiça Eleitoral ao PSDB.
Em defesa de sua honra, de seus dirigentes, filiados e militantes, e em respeito à população brasileira, que tem o direito de ser cofrretamente informada, o Partido dos Trabalhadores vem desfazer inverdades publicadas pela revista Veja, na Edição 2.175.
O PT é um partido político democrático, registrado desde 1980 no Tribunal Superior Eleitoral, que defende a Constituição e cumpre rigorosamente a lei.
O PT condena o terrorismo, repudia a violência, pratica e defende a via democrática para a solução de conflitos.
As relações do PT com partidos políticos de diversos outros países são pautadas pela busca da cooperação entre os povos e pela construção da paz mundial.
O repúdio ao narcotráfico, que corrói a juventude, atemoriza a população e corrompe a sociedade, é parte constitutiva do ideário e da prática do PT desde a fundação do partido.
O PT combate com firmeza o narcotráfico e o crime organizado, por meio de sua representação no Poder Legislativo, de suas administrações municipais, estaduais e, especialmente, na Presidência da República.
Ao longo de sua existência, o PT demonstrou que não transige com o crime nem se relaciona com o narcotráfico. Afirmar o contrário, como fez a revista Veja, é transigir com a verdade.
Veja comenta a nota na página ao lado, de número 81, com foto do plenário do Tribunal Superior Eleitoral. A matéria vai até a página 82. O título é “A resposta do direito”. No texto, a revista tenta atribuir alguma inconstitucionalidade à decisão da Justiça Eleitoral, previsivelmente tentando caracterizar como censura o direito que o PT exerceu de dar a sua versão sobre uma acusação sem provas que lhe foi feita.
Em seguida, Veja enumera os membros do TSE que votaram desta ou daquela forma e reproduz o que chama de “repercussão”, que nada mais é do que uma seleção de juristas e advogados amigos escalados para sustentar o ponto de vista que a Justiça Eleitoral rejeitou ao dar razão à queixa do PT, como não poderia deixar de ser diante de ataque tão baixo.
O que resta dos fatos que relatei é que julgo que a Justiça Eleitoral deveria auditar a distribuição da edição de número 2.177 da revista Veja, datada previamente, na capa da publicação, como sendo de 11 de agosto, apesar de ter chegado às bancas quatro dias antes, o que é uma estratégia para tornar a revista “atual” fraudulentamente, pois as informações ali contidas já terão envelhecido na data anunciada.
Não deveria haver motivo para a distribuição da revista se atrasar, haja vista que a decisão do TSE sobre o recurso da Veja aconteceu na quinta-feira. Os vendedores das bancas de jornal com os quais conversei durante a via crúcis que fiz para encontrar publicação pela qual despendi exorbitantes R$ 8,90, disseram-me que não se lembravam de a entrega dessa revista ter se atrasado assim anteriormente…
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A FLIP consagra a cultura do espetáculo
Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:
A Festa Literária Internacional de Paraty, que realiza sua oitava edição entre 4 e 8 de agosto, transformou-se em acontecimento marcante da vida cultural brasileira. Considerada um dos principais festivais mundiais do gênero, atrai milhares de participantes, atenção da imprensa e convidados ilustres. Nas devidas proporções, é um pequeno Woodstock das letras, que anualmente toma de assalto a aprazível cidade fluminense.
Apesar dos perrengues, pois a infraestrutura do município-sede costuma sucumbir ao excesso de visitantes, a diversão é garantida. Quem gosta de livros e ideias tem a chance de conviver com uma penca de bons autores e usufruir de opiniões sobre os mais diversos assuntos. Não é todo dia, afinal, que intelectuais renomados descem à planície e transitam entre o distinto público.
Mas há outras abordagens possíveis sobre a FLIP, além do entretenimento. Uma delas, quase irresistível, é comparar atividades nas quais essa intelectualidade antes se envolvia com seu papel atual, na era do avassalador predomínio da indústria cultural. A acareação talvez seja ilustrativa da reviravolta de sua função social após a crise dos projetos-mundo, no poente da Guerra Fria.
Escritores e artistas normalmente se reuniam, até então, para se posicionar diante de situações que alarmavam a sociedade e afetavam o mundo da cultura. Suas ferramentas eram congressos, simpósios e conferências que articulavam os intelectuais como agente coletivo. Os produtos dessas iniciativas - resoluções, manifestos ou declarações - buscavam a comunicação com outros setores sociais. O objetivo era utilizar talento e prestígio para construir vontades públicas.
Os exemplos brasileiros mais conhecidos, nesta lógica, foram o I Congresso Brasileiro de Escritores (1945) e as diversas reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência durante os anos 70. Mas são inúmeros os eventos que, durante décadas, expressavam o esforço autônomo da intelectualidade para forjar conexões com a sociedade, vertebrados por entidades representativas.
Marketing como ciência
Mesmo movimentos de ordem estética, como a Semana de Arte Moderna (1922), cuja estrutura era semelhante a um festival, faziam parte do reposicionamento político-cultural e procuravam um discurso criativo que se fundisse a determinados programas de país. Esse também foi o caso dos Centros Populares de Cultura, do Cinema Novo e do Tropicalismo, para falarmos de outras experiências notórias.
A intelectualidade e os artistas eram, como hoje, produtores de bens culturais, inseridos no mercado e concentrados em conseguir o ganha-pão através da comercialização de suas obras. Mas a esfera de cidadania, política ou estética, era razoavelmente protegida contra o assédio das razões mercantis, graças a uma rede de instituições estatais, partidárias e associativas que respaldava a cultura orgânica.
No entanto, o predomínio das ideias liberais, chancelado com o colapso do socialismo no Leste Europeu, foi limando essa blindagem e criando as condições para que o mercado estendesse seus tentáculos sobre espaços outrora salvaguardados. Apenas deveriam sobreviver criações que pudessem ser transformadas em mercadoria rentável, submetidas à lógica do espetáculo e regidas pelas normas do marketing, a principal ciência social dos novos tempos.
Darwinismo cultural
Ainda que diversas organizações, ligadas à arte e à ciência, continuem a promover encontros relevantes, essas realizações são cada vez menos divulgadas pela imprensa. O jornalismo cultural, aos poucos, também terminou capturado pelos interesses empresariais, que demandam aval midiático para acelerar a rotação de seus estoques.
O ímpeto dessa mudança mergulhou artistas e intelectuais em uma espécie de darwinismo cultural, marcado pelo medo de sucumbir em um ambiente no qual somente os escolhidos pelo mercado poderiam sobreviver. A competição e o individualismo derivados desse temor acomodatício acabaram por minar formas coletivas de organização e a própria integração da intelectualidade ao processo histórico.
Assim chegamos à FLIP. No lugar de entidades do ramo, o comando cabe a uma organização não-governamental alimentada com recursos de editoras e seus patrocinadores. Os escritores, de protagonistas, viraram atração. Cada autor ou cada patota em seu quadrado, opiniões e inspirações são exibidas à assistência, e acaba por aí a sinergia com os plebeus.
Casamata do liberalismo
Tudo é bem pensado. Não há estandes emporcalhando as ruas de Paraty. O festival é como um showroom a céu aberto: os produtores e suas obras podem ser vistos, ouvidos e tocados, mas não comprados. O mercado toma conta da cultura, porém preserva seu verniz de forma elegante, de tal sorte que os diletos visitantes não se sintam consumidores, mas personagens.
O simbólico dessa edição da FLIP talvez esteja no convite a Fernando Henrique Cardoso para fazer a palestra de abertura. Um dos maiores intelectuais da história brasileira, antigo cardeal do pensamento crítico, havia antes se convertido em presidente da República para fazer reformas pleiteadas por forças de mercado. Na feira de Paraty, colocou sua biografia e inteligência a serviço da indústria cultural.
O país vive mudanças econômicas, sociais e até políticas de relevância. A duras penas, a soberania pública tenta recuperar o terreno perdido ao espaço privado nos anos 90. Mas o mundo da cultura, cujo centro de gravidade deslocou-se para o eixo formado por empresas e mídia, aparece ironicamente como casamata de um liberalismo agonizante. Ainda que, nas calçadas paratienses, esse conservadorismo moderno transborde de charme, beleza e erudição.
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A Festa Literária Internacional de Paraty, que realiza sua oitava edição entre 4 e 8 de agosto, transformou-se em acontecimento marcante da vida cultural brasileira. Considerada um dos principais festivais mundiais do gênero, atrai milhares de participantes, atenção da imprensa e convidados ilustres. Nas devidas proporções, é um pequeno Woodstock das letras, que anualmente toma de assalto a aprazível cidade fluminense.
Apesar dos perrengues, pois a infraestrutura do município-sede costuma sucumbir ao excesso de visitantes, a diversão é garantida. Quem gosta de livros e ideias tem a chance de conviver com uma penca de bons autores e usufruir de opiniões sobre os mais diversos assuntos. Não é todo dia, afinal, que intelectuais renomados descem à planície e transitam entre o distinto público.
Mas há outras abordagens possíveis sobre a FLIP, além do entretenimento. Uma delas, quase irresistível, é comparar atividades nas quais essa intelectualidade antes se envolvia com seu papel atual, na era do avassalador predomínio da indústria cultural. A acareação talvez seja ilustrativa da reviravolta de sua função social após a crise dos projetos-mundo, no poente da Guerra Fria.
Escritores e artistas normalmente se reuniam, até então, para se posicionar diante de situações que alarmavam a sociedade e afetavam o mundo da cultura. Suas ferramentas eram congressos, simpósios e conferências que articulavam os intelectuais como agente coletivo. Os produtos dessas iniciativas - resoluções, manifestos ou declarações - buscavam a comunicação com outros setores sociais. O objetivo era utilizar talento e prestígio para construir vontades públicas.
Os exemplos brasileiros mais conhecidos, nesta lógica, foram o I Congresso Brasileiro de Escritores (1945) e as diversas reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência durante os anos 70. Mas são inúmeros os eventos que, durante décadas, expressavam o esforço autônomo da intelectualidade para forjar conexões com a sociedade, vertebrados por entidades representativas.
Marketing como ciência
Mesmo movimentos de ordem estética, como a Semana de Arte Moderna (1922), cuja estrutura era semelhante a um festival, faziam parte do reposicionamento político-cultural e procuravam um discurso criativo que se fundisse a determinados programas de país. Esse também foi o caso dos Centros Populares de Cultura, do Cinema Novo e do Tropicalismo, para falarmos de outras experiências notórias.
A intelectualidade e os artistas eram, como hoje, produtores de bens culturais, inseridos no mercado e concentrados em conseguir o ganha-pão através da comercialização de suas obras. Mas a esfera de cidadania, política ou estética, era razoavelmente protegida contra o assédio das razões mercantis, graças a uma rede de instituições estatais, partidárias e associativas que respaldava a cultura orgânica.
No entanto, o predomínio das ideias liberais, chancelado com o colapso do socialismo no Leste Europeu, foi limando essa blindagem e criando as condições para que o mercado estendesse seus tentáculos sobre espaços outrora salvaguardados. Apenas deveriam sobreviver criações que pudessem ser transformadas em mercadoria rentável, submetidas à lógica do espetáculo e regidas pelas normas do marketing, a principal ciência social dos novos tempos.
Darwinismo cultural
Ainda que diversas organizações, ligadas à arte e à ciência, continuem a promover encontros relevantes, essas realizações são cada vez menos divulgadas pela imprensa. O jornalismo cultural, aos poucos, também terminou capturado pelos interesses empresariais, que demandam aval midiático para acelerar a rotação de seus estoques.
O ímpeto dessa mudança mergulhou artistas e intelectuais em uma espécie de darwinismo cultural, marcado pelo medo de sucumbir em um ambiente no qual somente os escolhidos pelo mercado poderiam sobreviver. A competição e o individualismo derivados desse temor acomodatício acabaram por minar formas coletivas de organização e a própria integração da intelectualidade ao processo histórico.
Assim chegamos à FLIP. No lugar de entidades do ramo, o comando cabe a uma organização não-governamental alimentada com recursos de editoras e seus patrocinadores. Os escritores, de protagonistas, viraram atração. Cada autor ou cada patota em seu quadrado, opiniões e inspirações são exibidas à assistência, e acaba por aí a sinergia com os plebeus.
Casamata do liberalismo
Tudo é bem pensado. Não há estandes emporcalhando as ruas de Paraty. O festival é como um showroom a céu aberto: os produtores e suas obras podem ser vistos, ouvidos e tocados, mas não comprados. O mercado toma conta da cultura, porém preserva seu verniz de forma elegante, de tal sorte que os diletos visitantes não se sintam consumidores, mas personagens.
O simbólico dessa edição da FLIP talvez esteja no convite a Fernando Henrique Cardoso para fazer a palestra de abertura. Um dos maiores intelectuais da história brasileira, antigo cardeal do pensamento crítico, havia antes se convertido em presidente da República para fazer reformas pleiteadas por forças de mercado. Na feira de Paraty, colocou sua biografia e inteligência a serviço da indústria cultural.
O país vive mudanças econômicas, sociais e até políticas de relevância. A duras penas, a soberania pública tenta recuperar o terreno perdido ao espaço privado nos anos 90. Mas o mundo da cultura, cujo centro de gravidade deslocou-se para o eixo formado por empresas e mídia, aparece ironicamente como casamata de um liberalismo agonizante. Ainda que, nas calçadas paratienses, esse conservadorismo moderno transborde de charme, beleza e erudição.
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Serra: obscurantismo e hipocrisia
Reproduzo artigo do professor João Quartim de Moraes, publicado no sítio Vermelho:
Comparecendo no dia 1º de maio passado a uma reunião de evangélicos, José Serra exibiu a dimensão teológica de sua Cruzada contra a fumaça. “A pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim é uma pessoa sem Deus. Sabe que ele está ali, mas não o procura”. Não era muito conhecido esse pendor místico do candidato da direita à presidência. Seria sincero ou isso não passaria de mais uma de suas charlatanices reacionárias? Ele diz saber que Deus está ali. Ali onde? Nos lugares que freqüenta? Entre os ricaços que o apóiam? Na Bolsa de Valores? Na Daslu, tão ligada a seu parceiro Alquimim? Quem souber diga onde fica.
Mas o pior é a comparação do fumante ao ateu, que suscitou réplica indignada da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea): “Ou ele (Serra) não acredita nisso e estava jogando para a platéia, ou ele acredita, o que é pior ainda. Como você vai esperar uma declaração tão flagrantemente preconceituosa de um candidato? [...] Esse tipo de comportamento é inadmissível em qualquer cidadão civilizado, quanto mais de um pretendente ao cargo mais alto da nação. O contexto sugere que Serra teria feito esse tipo de declaração para satisfazer uma platéia que ele aparentemente imaginava ser tão preconceituosa quanto ele, o que é ainda mais embaraçoso”.
Os fundamentalistas mais fanáticos sustentam a mesma tese de Serra: quem não “vê” Deus é um doente. A diferença é que os fanáticos pensam o que dizem, ao passo que o candidato da direita diz o que pensa lhe render votos. Se imagina mesmo ver Deus em cada esquina, é assunto irrelevante: o foro íntimo e os delírios místicos são assuntos estritamente privados. Já a carência de cultura republicana do candidato da direita, que discrimina cidadãos por suas convicções, é uma tara política extremamente preocupante.
A caminhada dos “tucanos” rumo a Deus tem uma curiosa história, que remonta aos tempos em que eles ainda estavam no PMDB. Em 12 de dezembro de 1985, FH Cardoso, disputando a prefeitura de São Paulo, travou com o “comunicador” ultra-reacionário Bóris Casoy o seguinte diálogo na TV:
Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
Cardoso - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
Cardoso - Perdão, foi num almoço sobre este mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não.
Cardoso - É uma pergunta típica de alguém que quer levar uma questão íntima para o público...
Entende-se o embaraço do entrevistado. Festejado sociólogo, exibindo imagem de pensador avançado, FH Cardoso não queria nem perder prestígio diante dos intelectuais de espírito crítico, nem perder os votos dos fiéis a Deus. Daí sua cômica perplexidade diante da pergunta do jornalista provocador. Mas no ano e na campanha seguinte (para o Senado, dessa vez), tratou de abrir espaço para Deus em sua plataforma: “Ateísmo é coisa ultrapassada. Existe o infinito, o amor, o mistério. Não há nenhuma razão para ser contra a idéia de Deus”. Peregrinou ao santuário de Aparecida, onde rezou (em latim, segundo a imprensa) um padre-nosso, explicando que “crença é uma coisa que se guarda no coração, o que vale é a prática”. Como brinde ganhou uma imagem da Padroeira do Brasil benzida pelo arcebispo d. Geraldo Penido, um dos mais reacionários do clero brasileiro. A miraculosa conversão provavelmente ajudou-o a conquistar a segunda vaga para o Senado. Brasília vale bem uma missa!
Vimos que a religião de Serra é mais agressiva: está mais para Casoy do que para FHC. O ateu deve ser tratado como um fumante e reciprocamente o fumante deve ser tratado como um ateu. A Cruzada contra a fumaça empreendida pelo chefe da tucanagem quando governador de São Paulo deturpou um objetivo justo (impedir que o não fumante seja constrangido a engolir a fumaça alheia) com o carimbo da intolerância. A lei contra os fumantes que ele fez aprovar na Assembléia Legislativa de São Paulo pelo método do rolo compressor é digna das cruzadas fundamentalistas contra o álcool que conduziram à “lei seca” nos Estados Unidos. Ela leva a atos de estupidez pura e simples. Por exemplo, nos aeroportos paulistas os leões de chácara do governador proíbem os fumantes de ficarem embaixo da marquise que cobre parcialmente a calçada. Se chover, que fumem na chuva.
Não se vê isso em nenhum país europeu onde a segurança do cidadão é de fato levada a sério. Lá pode-se fumar não somente embaixo de toldos, mas também em terraços de bares e restaurantes. Grandes aeroportos, como os de Amsterdã, Frankfurt, Paris, etc. mantêm áreas para fumantes, em vez de empurrá-los para o meio-fio. Estariam menos preocupados com saúde pública do que a tucanagem? Se a preocupação de Serra e parceiros do consórcio PSDEMB fosse mesmo garantir a saúde e a vida, teriam mostrado algum empenho sério em proteger os pedestres dos atropelamentos, que voltaram a aumentar na cidade e no Estado de São Paulo. Cigarro pode provocar câncer ou infarto, ao longo de algumas décadas, mas atropelamento aleija ou mata instantaneamente. (Sem esquecer que a fumaça dos caminhões e automóveis que entopem a Marginal impermeabilizada por Serra também é muito cancerígena e agride mais os pulmões do que a fumaça dos cigarros).
Algumas cidades de nosso país, Brasília, por exemplo, tomaram medidas para impor respeito ao Código de Trânsito, coibir os motoristas mais truculentos e preservar a integridade física dos que andam a pé. O fato muito preocupante de que na megalópolis paulistana a barbárie motorizada siga prosperando mostra o fracasso da política de saúde pública do governo do PSDEMB, frente bicéfala da direita.
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Comparecendo no dia 1º de maio passado a uma reunião de evangélicos, José Serra exibiu a dimensão teológica de sua Cruzada contra a fumaça. “A pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim é uma pessoa sem Deus. Sabe que ele está ali, mas não o procura”. Não era muito conhecido esse pendor místico do candidato da direita à presidência. Seria sincero ou isso não passaria de mais uma de suas charlatanices reacionárias? Ele diz saber que Deus está ali. Ali onde? Nos lugares que freqüenta? Entre os ricaços que o apóiam? Na Bolsa de Valores? Na Daslu, tão ligada a seu parceiro Alquimim? Quem souber diga onde fica.
Mas o pior é a comparação do fumante ao ateu, que suscitou réplica indignada da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea): “Ou ele (Serra) não acredita nisso e estava jogando para a platéia, ou ele acredita, o que é pior ainda. Como você vai esperar uma declaração tão flagrantemente preconceituosa de um candidato? [...] Esse tipo de comportamento é inadmissível em qualquer cidadão civilizado, quanto mais de um pretendente ao cargo mais alto da nação. O contexto sugere que Serra teria feito esse tipo de declaração para satisfazer uma platéia que ele aparentemente imaginava ser tão preconceituosa quanto ele, o que é ainda mais embaraçoso”.
Os fundamentalistas mais fanáticos sustentam a mesma tese de Serra: quem não “vê” Deus é um doente. A diferença é que os fanáticos pensam o que dizem, ao passo que o candidato da direita diz o que pensa lhe render votos. Se imagina mesmo ver Deus em cada esquina, é assunto irrelevante: o foro íntimo e os delírios místicos são assuntos estritamente privados. Já a carência de cultura republicana do candidato da direita, que discrimina cidadãos por suas convicções, é uma tara política extremamente preocupante.
A caminhada dos “tucanos” rumo a Deus tem uma curiosa história, que remonta aos tempos em que eles ainda estavam no PMDB. Em 12 de dezembro de 1985, FH Cardoso, disputando a prefeitura de São Paulo, travou com o “comunicador” ultra-reacionário Bóris Casoy o seguinte diálogo na TV:
Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
Cardoso - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
Cardoso - Perdão, foi num almoço sobre este mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não.
Cardoso - É uma pergunta típica de alguém que quer levar uma questão íntima para o público...
Entende-se o embaraço do entrevistado. Festejado sociólogo, exibindo imagem de pensador avançado, FH Cardoso não queria nem perder prestígio diante dos intelectuais de espírito crítico, nem perder os votos dos fiéis a Deus. Daí sua cômica perplexidade diante da pergunta do jornalista provocador. Mas no ano e na campanha seguinte (para o Senado, dessa vez), tratou de abrir espaço para Deus em sua plataforma: “Ateísmo é coisa ultrapassada. Existe o infinito, o amor, o mistério. Não há nenhuma razão para ser contra a idéia de Deus”. Peregrinou ao santuário de Aparecida, onde rezou (em latim, segundo a imprensa) um padre-nosso, explicando que “crença é uma coisa que se guarda no coração, o que vale é a prática”. Como brinde ganhou uma imagem da Padroeira do Brasil benzida pelo arcebispo d. Geraldo Penido, um dos mais reacionários do clero brasileiro. A miraculosa conversão provavelmente ajudou-o a conquistar a segunda vaga para o Senado. Brasília vale bem uma missa!
Vimos que a religião de Serra é mais agressiva: está mais para Casoy do que para FHC. O ateu deve ser tratado como um fumante e reciprocamente o fumante deve ser tratado como um ateu. A Cruzada contra a fumaça empreendida pelo chefe da tucanagem quando governador de São Paulo deturpou um objetivo justo (impedir que o não fumante seja constrangido a engolir a fumaça alheia) com o carimbo da intolerância. A lei contra os fumantes que ele fez aprovar na Assembléia Legislativa de São Paulo pelo método do rolo compressor é digna das cruzadas fundamentalistas contra o álcool que conduziram à “lei seca” nos Estados Unidos. Ela leva a atos de estupidez pura e simples. Por exemplo, nos aeroportos paulistas os leões de chácara do governador proíbem os fumantes de ficarem embaixo da marquise que cobre parcialmente a calçada. Se chover, que fumem na chuva.
Não se vê isso em nenhum país europeu onde a segurança do cidadão é de fato levada a sério. Lá pode-se fumar não somente embaixo de toldos, mas também em terraços de bares e restaurantes. Grandes aeroportos, como os de Amsterdã, Frankfurt, Paris, etc. mantêm áreas para fumantes, em vez de empurrá-los para o meio-fio. Estariam menos preocupados com saúde pública do que a tucanagem? Se a preocupação de Serra e parceiros do consórcio PSDEMB fosse mesmo garantir a saúde e a vida, teriam mostrado algum empenho sério em proteger os pedestres dos atropelamentos, que voltaram a aumentar na cidade e no Estado de São Paulo. Cigarro pode provocar câncer ou infarto, ao longo de algumas décadas, mas atropelamento aleija ou mata instantaneamente. (Sem esquecer que a fumaça dos caminhões e automóveis que entopem a Marginal impermeabilizada por Serra também é muito cancerígena e agride mais os pulmões do que a fumaça dos cigarros).
Algumas cidades de nosso país, Brasília, por exemplo, tomaram medidas para impor respeito ao Código de Trânsito, coibir os motoristas mais truculentos e preservar a integridade física dos que andam a pé. O fato muito preocupante de que na megalópolis paulistana a barbárie motorizada siga prosperando mostra o fracasso da política de saúde pública do governo do PSDEMB, frente bicéfala da direita.
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sábado, 7 de agosto de 2010
Serra faz campanha em Washington?
Reproduzo excelente artigo de Mark Weisbrot, co-diretor do Centro para Pesquisa Política e Econômica e colunista do jornal britânico Guardian, publicado na Folha:
O que José Serra está tentando fazer? Em sua campanha pela Presidência do Brasil, ele acusou a Bolívia de cumplicidade no tráfico de drogas e criticou Lula por tentar mediar a disputa entre Washington e o Irã, e por recusar (em companhia da maioria dos demais países sul-americanos) reconhecimento ao governo de Honduras, “eleito” sob uma ditadura.
Por algum tempo ele optou por não aderir à campanha internacional de Washington contra a Venezuela, mas agora Serra e seu candidato a vice, Indio da Costa, também adentraram aquele pútrido pântano, alegando que a Venezuela “abriga” as Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), o principal grupo guerrilheiro que combate o governo da Colômbia.
Que conste: a despeito de uma década de alegações, Washington ainda não conseguiu apresentar publicamente um traço de prova de que o governo de Chávez de fato apoie as Farc.
A única “prova” de que existe em domínio público vem de laptops e outros equipamentos de computação supostamente capturados pelas Forças Armadas colombianas em sua incursão ao território do Equador em março de 2008.
Blogueiros de direita como Reinaldo Azevedo repetem o mito de mídia de que a Interpol teria confirmado a autenticidade desses arquivos supostamente capturados, mas um relatório da Interpol nega enfaticamente essa possibilidade. Tudo que temos é a palavra das Forças Armadas colombianas -organização que sabidamente assassinou centenas de adolescentes inocentes e os vestiu como guerrilheiros.
Será que Serra realmente deseja que o Brasil compre brigas com todos os seus vizinhos a fim de se colocar desafiadoramente do lado errado da história? E isso apenas para se tornar o maior aliado direitista de Washington? Sim, caso Serra não tenha percebido, os Estados Unidos, sob o governo Obama como sob o governo Bush, só têm governos de direita como aliados no hemisfério: Canadá, Panamá, Colômbia, Chile, México. Existe um motivo para isso: a política norte-americana com relação à América Latina não mudou sob Obama.
Mesmo de um ponto de vista puramente maquiavélico - deixando de lado qualquer ideia de fazer da região ou do mundo um lugar melhor -, a estratégia “Serra Palin” faz pouco sentido. O Brasil tinha boas relações com Bush e pode ter boas relações com Obama sem incorrer nessa espécie desonrosa de servidão.
O Brasil não é El Salvador, país cujo governo vive sob chantagem por ameaças de enviar de volta ao seu território os milhares de emigrantes salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos. E nem El Salvador tomou a estrada que Serra está percorrendo.
Não é apenas na Venezuela e na Bolívia que os Estados Unidos investem dezenas de milhões de dólares para adquirir influência política. Em 2005, como reportou este jornal, os Estados Unidos bancaram um esforço para mudar a lei brasileira de maneira a reforçar a oposição ao Partido dos Trabalhadores.
Washington tem grande interesse no resultado da eleição deste ano porque procura reverter as mudanças que tornaram a América Latina, no passado o “quintal” dos Estados Unidos, mais independente que nunca em sua história. José Serra está fazendo com que esse interesse cresça a cada dia.
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O que José Serra está tentando fazer? Em sua campanha pela Presidência do Brasil, ele acusou a Bolívia de cumplicidade no tráfico de drogas e criticou Lula por tentar mediar a disputa entre Washington e o Irã, e por recusar (em companhia da maioria dos demais países sul-americanos) reconhecimento ao governo de Honduras, “eleito” sob uma ditadura.
Por algum tempo ele optou por não aderir à campanha internacional de Washington contra a Venezuela, mas agora Serra e seu candidato a vice, Indio da Costa, também adentraram aquele pútrido pântano, alegando que a Venezuela “abriga” as Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), o principal grupo guerrilheiro que combate o governo da Colômbia.
Que conste: a despeito de uma década de alegações, Washington ainda não conseguiu apresentar publicamente um traço de prova de que o governo de Chávez de fato apoie as Farc.
A única “prova” de que existe em domínio público vem de laptops e outros equipamentos de computação supostamente capturados pelas Forças Armadas colombianas em sua incursão ao território do Equador em março de 2008.
Blogueiros de direita como Reinaldo Azevedo repetem o mito de mídia de que a Interpol teria confirmado a autenticidade desses arquivos supostamente capturados, mas um relatório da Interpol nega enfaticamente essa possibilidade. Tudo que temos é a palavra das Forças Armadas colombianas -organização que sabidamente assassinou centenas de adolescentes inocentes e os vestiu como guerrilheiros.
Será que Serra realmente deseja que o Brasil compre brigas com todos os seus vizinhos a fim de se colocar desafiadoramente do lado errado da história? E isso apenas para se tornar o maior aliado direitista de Washington? Sim, caso Serra não tenha percebido, os Estados Unidos, sob o governo Obama como sob o governo Bush, só têm governos de direita como aliados no hemisfério: Canadá, Panamá, Colômbia, Chile, México. Existe um motivo para isso: a política norte-americana com relação à América Latina não mudou sob Obama.
Mesmo de um ponto de vista puramente maquiavélico - deixando de lado qualquer ideia de fazer da região ou do mundo um lugar melhor -, a estratégia “Serra Palin” faz pouco sentido. O Brasil tinha boas relações com Bush e pode ter boas relações com Obama sem incorrer nessa espécie desonrosa de servidão.
O Brasil não é El Salvador, país cujo governo vive sob chantagem por ameaças de enviar de volta ao seu território os milhares de emigrantes salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos. E nem El Salvador tomou a estrada que Serra está percorrendo.
Não é apenas na Venezuela e na Bolívia que os Estados Unidos investem dezenas de milhões de dólares para adquirir influência política. Em 2005, como reportou este jornal, os Estados Unidos bancaram um esforço para mudar a lei brasileira de maneira a reforçar a oposição ao Partido dos Trabalhadores.
Washington tem grande interesse no resultado da eleição deste ano porque procura reverter as mudanças que tornaram a América Latina, no passado o “quintal” dos Estados Unidos, mais independente que nunca em sua história. José Serra está fazendo com que esse interesse cresça a cada dia.
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A necessidade de uma bancada de esquerda
Reproduzo artigo de Maria Cristina Fernandes, publicado no jornal no Valor Econômico:
Ao deixar o Planalto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desalojará do poder o movimento sindical. É muito pequena a chance de o sindicalismo manter com o eleito, seja qual for, a interlocução e o peso alcançados neste governo. Nas duas candidaturas de oposição o afastamento é explicitado pelas alianças partidárias e programáticas que os sustentam. Na campanha petista o estranhamento vai desde os desacertos em torno do programa de governo do partido à ausência de qualquer interlocutor do movimento entre seus estrategistas.
Ao longo de sua carreira no serviço público, Dilma Rousseff, apesar de egressa do trabalhismo, nunca se aproximou do movimento sindical. Como ministra da Casa Civil, foram encontros majoritariamente empresariais que pautaram sua agenda apesar da tentativa das centrais de marcar presença. Como candidata, trata com desenvoltura da abertura de capital de estatais como a Infraero e os Correios, tema que, nas campanhas presidenciais de Lula, os sindicatos fizeram de cavalo de batalha contra tucanos inertes à estratégia da mistificação.
Esse afastamento é uma sinalização de que, no próximo governo, a retomada de propostas como a desoneração da folha ou a reforma da Previdência encontrará menos resistências internas, ainda que seja cedo para supor que a divisão de cadeiras no Congresso lhe seja favorável.
Ao se iniciar, este governo tinha ambas as propostas entre suas prioridades. Chegou a propor, sem sucesso, o fim da multa de 40% do FGTS, mas conseguiu aprovar mudanças tão ou mais significativas que as do governo anterior na Previdência, como a cobrança dos inativos, a instituição do redutor do benefício e a elevação da idade mínima.
A pauta foi suspensa com o mensalão, cujo enfrentamento levou o governo a convocar as centrais sindicais para a comissão de frente. Só seria retomada em 2007 com a apresentação pelo Executivo do projeto que institui a previdência complementar para o funcionalismo.
Pela proposta, todo servidor que ingresse no setor público depois da aprovação da lei teria direito a um teto previdenciário equivalente ao da iniciativa privada (hoje R$ 3,4 mil). Quem quisesse ganhar mais que contribua com um fundo de pensão. O projeto parte do pressuposto de que o Estado não deve ser onerado pelas aposentadorias mais altas.
Em mesa de debates durante o 10º encontro da Associação Brasileira de Ciência Política que acontece esta semana no Recife a professora da USP Marta Arretche mostrou como as desigualdades no mercado de trabalho são a principal agenda social que este governo deixou inacabada.
Ao longo do governo Lula programas sociais como o Bolsa Família permitiram acesso milhões a conta bancária e a um mínimo de consumo. O crescimento da economia elevou o nível de emprego a patamares históricos. Mas na população em idade de trabalhar não são poucas as diferenças no acesso à cidadania.
Um fosso separa o trabalhador informal de um celetista com férias e repouso semanal remunerado, vale transporte, seguro desemprego e contribuição previdenciária do empregador e de um estatutário que tem estabilidade, licença, direito à greve paga pelo erário e aposentadoria acima do teto do INSS.
Marta Arretche reconheceu que a legislação é insuficiente para explicar disparidades aprofundadas ao longo de ciclos econômicos que sempre contaram com grandes exércitos de reserva de mão-de-obra. Da mesma forma, o pleno emprego na Europa tem que considerar as levas de imigrantes que deixaram o continente nos últimos séculos e as baixas ocorridas com a Segunda Guerra Mundial. Mas em lugar algum do mundo a redução das desigualdades foi alcançada sem mudanças legais.
Listou os três governos europeus mais bem sucedidos na promoção de reformas que diminuíram essas desigualdades nos anos 1990 e em todos identificou em comum uma coalizão parlamentar de esquerda. Na França de Lionel Jospin a coalizão reuniu socialistas, comunistas e verdes, na Itália de Dini a reforma aprovada pela aliança de esquerda foi a mesma que havia derrubado o primeiro governo Berlusconi e, na Holanda, a entrada do partido trabalhista no governo foi condicionada ao apoio às mudanças.
Marta credita a paralisia das reformas em parte às incertezas em relação à viabilidade eleitoral da bancada do PT na disputa pós-mensalão. Na eleição de 2006 as pesquisas indicavam que o grau de identificação com a legenda tinha sofrido um baque, mas isso não impediu que o partido fizesse uma bancada maior.
As mudanças ocorridas na bancada do PT em 2006 – a redução de parlamentares da região centro-sul ligados a bandeiras sindicais e o aumento na proporção de cadeiras do Norte e Nordeste conquistadas pela associação com programas sociais e emendas parlamentares – devem se intensificar na eleição de outubro.
O novo perfil da bancada do PT pode indicar uma maior permeabilidade às propostas de redução das desigualdades no mercado de trabalho. Além da previdência complementar dos servidores há uma infinidade de projetos que foram contidos no Congresso, como a criação das fundações estatais, a limitação do gasto com pessoal e a regulamentação do direito de greve.
Entre os sindicalistas, a aposta é outra. Como não haveria no mercado eleitoral proposta que afugente o de capitais, restaria ao partido radicalizar ao lado das bandeiras do movimento. De acordo com essa tese, isso não teria sido possível no governo Lula pelo compromisso com a Carta aos Brasileiros. O PT não poderia afugentar os mercados que o presidente, a muito custo, havia acalmado. Desta vez, não há fios desencapados na sucessão, o que liberaria o PT a agir em favor das teses que o movimento acredita serem de esquerda.
Se a tese parece razoável num cenário de vitória tucana, as chances de que vingue num eventual governo Dilma estão diretamente associadas à crença de que Lula continue bancando o movimento mesmo longe do Planalto. A pergunta que fica é por que Lula, se estivesse interessado na permanência da hegemonia sindical, teria escolhido uma candidata que não soma meia dúzia de horas de assembleia.
Sindicalistas e empresários passaram a travar uma batalha pela prioridade das reformas trabalhista e sindical. O mensalão jogou Lula no colo de sua base social e as centrais acabaram descolando seu reconhecimento legal. O crescimento acelerado da economia e a fartura do crédito aquietaram o patronato.
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Ao deixar o Planalto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desalojará do poder o movimento sindical. É muito pequena a chance de o sindicalismo manter com o eleito, seja qual for, a interlocução e o peso alcançados neste governo. Nas duas candidaturas de oposição o afastamento é explicitado pelas alianças partidárias e programáticas que os sustentam. Na campanha petista o estranhamento vai desde os desacertos em torno do programa de governo do partido à ausência de qualquer interlocutor do movimento entre seus estrategistas.
Ao longo de sua carreira no serviço público, Dilma Rousseff, apesar de egressa do trabalhismo, nunca se aproximou do movimento sindical. Como ministra da Casa Civil, foram encontros majoritariamente empresariais que pautaram sua agenda apesar da tentativa das centrais de marcar presença. Como candidata, trata com desenvoltura da abertura de capital de estatais como a Infraero e os Correios, tema que, nas campanhas presidenciais de Lula, os sindicatos fizeram de cavalo de batalha contra tucanos inertes à estratégia da mistificação.
Esse afastamento é uma sinalização de que, no próximo governo, a retomada de propostas como a desoneração da folha ou a reforma da Previdência encontrará menos resistências internas, ainda que seja cedo para supor que a divisão de cadeiras no Congresso lhe seja favorável.
Ao se iniciar, este governo tinha ambas as propostas entre suas prioridades. Chegou a propor, sem sucesso, o fim da multa de 40% do FGTS, mas conseguiu aprovar mudanças tão ou mais significativas que as do governo anterior na Previdência, como a cobrança dos inativos, a instituição do redutor do benefício e a elevação da idade mínima.
A pauta foi suspensa com o mensalão, cujo enfrentamento levou o governo a convocar as centrais sindicais para a comissão de frente. Só seria retomada em 2007 com a apresentação pelo Executivo do projeto que institui a previdência complementar para o funcionalismo.
Pela proposta, todo servidor que ingresse no setor público depois da aprovação da lei teria direito a um teto previdenciário equivalente ao da iniciativa privada (hoje R$ 3,4 mil). Quem quisesse ganhar mais que contribua com um fundo de pensão. O projeto parte do pressuposto de que o Estado não deve ser onerado pelas aposentadorias mais altas.
Em mesa de debates durante o 10º encontro da Associação Brasileira de Ciência Política que acontece esta semana no Recife a professora da USP Marta Arretche mostrou como as desigualdades no mercado de trabalho são a principal agenda social que este governo deixou inacabada.
Ao longo do governo Lula programas sociais como o Bolsa Família permitiram acesso milhões a conta bancária e a um mínimo de consumo. O crescimento da economia elevou o nível de emprego a patamares históricos. Mas na população em idade de trabalhar não são poucas as diferenças no acesso à cidadania.
Um fosso separa o trabalhador informal de um celetista com férias e repouso semanal remunerado, vale transporte, seguro desemprego e contribuição previdenciária do empregador e de um estatutário que tem estabilidade, licença, direito à greve paga pelo erário e aposentadoria acima do teto do INSS.
Marta Arretche reconheceu que a legislação é insuficiente para explicar disparidades aprofundadas ao longo de ciclos econômicos que sempre contaram com grandes exércitos de reserva de mão-de-obra. Da mesma forma, o pleno emprego na Europa tem que considerar as levas de imigrantes que deixaram o continente nos últimos séculos e as baixas ocorridas com a Segunda Guerra Mundial. Mas em lugar algum do mundo a redução das desigualdades foi alcançada sem mudanças legais.
Listou os três governos europeus mais bem sucedidos na promoção de reformas que diminuíram essas desigualdades nos anos 1990 e em todos identificou em comum uma coalizão parlamentar de esquerda. Na França de Lionel Jospin a coalizão reuniu socialistas, comunistas e verdes, na Itália de Dini a reforma aprovada pela aliança de esquerda foi a mesma que havia derrubado o primeiro governo Berlusconi e, na Holanda, a entrada do partido trabalhista no governo foi condicionada ao apoio às mudanças.
Marta credita a paralisia das reformas em parte às incertezas em relação à viabilidade eleitoral da bancada do PT na disputa pós-mensalão. Na eleição de 2006 as pesquisas indicavam que o grau de identificação com a legenda tinha sofrido um baque, mas isso não impediu que o partido fizesse uma bancada maior.
As mudanças ocorridas na bancada do PT em 2006 – a redução de parlamentares da região centro-sul ligados a bandeiras sindicais e o aumento na proporção de cadeiras do Norte e Nordeste conquistadas pela associação com programas sociais e emendas parlamentares – devem se intensificar na eleição de outubro.
O novo perfil da bancada do PT pode indicar uma maior permeabilidade às propostas de redução das desigualdades no mercado de trabalho. Além da previdência complementar dos servidores há uma infinidade de projetos que foram contidos no Congresso, como a criação das fundações estatais, a limitação do gasto com pessoal e a regulamentação do direito de greve.
Entre os sindicalistas, a aposta é outra. Como não haveria no mercado eleitoral proposta que afugente o de capitais, restaria ao partido radicalizar ao lado das bandeiras do movimento. De acordo com essa tese, isso não teria sido possível no governo Lula pelo compromisso com a Carta aos Brasileiros. O PT não poderia afugentar os mercados que o presidente, a muito custo, havia acalmado. Desta vez, não há fios desencapados na sucessão, o que liberaria o PT a agir em favor das teses que o movimento acredita serem de esquerda.
Se a tese parece razoável num cenário de vitória tucana, as chances de que vingue num eventual governo Dilma estão diretamente associadas à crença de que Lula continue bancando o movimento mesmo longe do Planalto. A pergunta que fica é por que Lula, se estivesse interessado na permanência da hegemonia sindical, teria escolhido uma candidata que não soma meia dúzia de horas de assembleia.
Sindicalistas e empresários passaram a travar uma batalha pela prioridade das reformas trabalhista e sindical. O mensalão jogou Lula no colo de sua base social e as centrais acabaram descolando seu reconhecimento legal. O crescimento acelerado da economia e a fartura do crédito aquietaram o patronato.
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O PT e a "blindagem" da mídia aos tucanos
Reproduzo matéria de Anselmo Massad, publicada na Rede Brasil Atual:
Ativistas e lideranças do PT de São Paulo defenderam, em encontro na noite de quinta-feira (5) no centro da capital, ações para acabar com o que chamaram de blindagem da mídia aos governos do PSDB. Para eles, os meios de comunicação do estado são os principais responsáveis pela continuidade tucana no Palácio dos Bandeirantes.
O encontro buscava detalhar propostas de políticas de comunicação para um eventual governo de Aloízio Mercadante, candidato da legenda em São Paulo. Para Aparecido Luiz da Silva, o Cidão, secretário de Comunicação do PT-SP, um dos caminhos seria adotar um modelo de distribuição de anúncios do setor público semelhante ao empregado na gestão federal. "Precisaríamos dividir o bloco publicitário com os veículos menores, do interior e democratizar a comunicação, para não passar quatro anos de raiva com a mídia falando mal da gente", sugeriu.
Para Paulo Salvador, diretor da Editora Atitude, que produz a Rede Brasil Atual, a Revista do Brasil, a Rádio e os jornais Brasil Atual, é preciso superar um patamar de ingenuidade. "A ideia de que uma boa assessoria de imprensa resolve já se mostrou equivocada, porque a mídia é destrutiva em relação às construções sociais. Não podemos acreditar que vamos mudar o país e o estado com essa mídia que não tem apreço sequer à verdade e aos fatos", criticou.
"É necessária uma tomada de consciência de que a comunicação é estratégica", insistiu. Salvador usou a articulação de 60 sindicatos em torno dos projetos de comunicação a que representa como um exemplo dessa prioridade.
"Após oito anos de governo Lula, deveríamos estar democratizando a comunicação", criticou Joaquim Palhares, diretor da agência Carta Maior. "Na América Latina, o que se vê (em termos de democracia nos meios de comunicação) é ainda pior, o que nos coloca em uma posição de fragilidade da soberania dos povos", avalia. Ele considera que sem avançar na pluralidade da mídia, "perde-se tudo em cinco anos de governo de direita", por não terem sido estabelecidas raízes das transformações junto à população.
Palhares mostrou que todos os veículos da mídia conservadora, os maiores grupos, dependem de verba publicitária do setor público. Por isso, ele defendeu que, em uma eventual gestão de Mercadante, 20% dos recursos publicitários do estado sejam destinados a criar um fundo para projetos de comunicação escolhidos por meio de editais públicos.
Essas e outras propostas colhidas no encontro, realizado instantes antes do início do primeiro debate entre os presidenciávies, poderão ser incorporadas ao programa de governo petista em São Paulo.
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Ativistas e lideranças do PT de São Paulo defenderam, em encontro na noite de quinta-feira (5) no centro da capital, ações para acabar com o que chamaram de blindagem da mídia aos governos do PSDB. Para eles, os meios de comunicação do estado são os principais responsáveis pela continuidade tucana no Palácio dos Bandeirantes.
O encontro buscava detalhar propostas de políticas de comunicação para um eventual governo de Aloízio Mercadante, candidato da legenda em São Paulo. Para Aparecido Luiz da Silva, o Cidão, secretário de Comunicação do PT-SP, um dos caminhos seria adotar um modelo de distribuição de anúncios do setor público semelhante ao empregado na gestão federal. "Precisaríamos dividir o bloco publicitário com os veículos menores, do interior e democratizar a comunicação, para não passar quatro anos de raiva com a mídia falando mal da gente", sugeriu.
Para Paulo Salvador, diretor da Editora Atitude, que produz a Rede Brasil Atual, a Revista do Brasil, a Rádio e os jornais Brasil Atual, é preciso superar um patamar de ingenuidade. "A ideia de que uma boa assessoria de imprensa resolve já se mostrou equivocada, porque a mídia é destrutiva em relação às construções sociais. Não podemos acreditar que vamos mudar o país e o estado com essa mídia que não tem apreço sequer à verdade e aos fatos", criticou.
"É necessária uma tomada de consciência de que a comunicação é estratégica", insistiu. Salvador usou a articulação de 60 sindicatos em torno dos projetos de comunicação a que representa como um exemplo dessa prioridade.
"Após oito anos de governo Lula, deveríamos estar democratizando a comunicação", criticou Joaquim Palhares, diretor da agência Carta Maior. "Na América Latina, o que se vê (em termos de democracia nos meios de comunicação) é ainda pior, o que nos coloca em uma posição de fragilidade da soberania dos povos", avalia. Ele considera que sem avançar na pluralidade da mídia, "perde-se tudo em cinco anos de governo de direita", por não terem sido estabelecidas raízes das transformações junto à população.
Palhares mostrou que todos os veículos da mídia conservadora, os maiores grupos, dependem de verba publicitária do setor público. Por isso, ele defendeu que, em uma eventual gestão de Mercadante, 20% dos recursos publicitários do estado sejam destinados a criar um fundo para projetos de comunicação escolhidos por meio de editais públicos.
Essas e outras propostas colhidas no encontro, realizado instantes antes do início do primeiro debate entre os presidenciávies, poderão ser incorporadas ao programa de governo petista em São Paulo.
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Blogosfera: A turma da Kombi faz a hora
Reproduzo artigo de Lula Miranda, publicado no sítio Carta Maior:
O texto que segue versa sobre o poder da internet [mais precisamente da chamada “blogosfera”] na modificação do paradigma da comunicação e da mídia no país, e, como conseqüência ou instância última, na transformação da sociedade. É um “corte”. Apesar de longo [peço-lhe desculpas de antemão por ser demasiado prolixo] esse artigo é um pequeno-grande capítulo dessa história. O título, para aqueles que ainda não perceberam, alude a certa frase de um certo ex-presidente da Suprema Corte do país, e também àquela antiga canção de protesto “Para não dizer que não falei de flores” mais conhecida como “Caminhando e Cantando”. A alusão a essa canção, por sua vez, pretende remeter àqueles tempos em que alguns jovens “idealistas” sonhavam mudar o Brasil. A tal “turma da Kombi” seria, na visão dos “reacionários”, o povo da blogosfera que, agora, “faz a hora, não espera acontecer”.
A comunicação no Brasil está mudando. Graças à internet. O Brasil está mudando. Graças ao bafejar dos ventos mudancistas soprados por uns tais “militantes da utopia”, por aqueles que desejam e combatem, desde sempre, seja enfrentando a sordidez da real política seja navegando/militando na blogosfera, por uma democracia plena e, mais ainda, desejosos que este país seja, de fato, um país de/para todos os brasileiros.
[Contextualizando: a atmosfera que se respirava na época ou a “ambiência”. Vivia-se a retomada da anima esquerdista, incorporava-se o espírito das reuniões do Fórum Social Mundial que nos ensinava que “um outro mundo era possível”. Se um outro mundo era possível, então uma nova comunicação também era possível e, mais que isso, necessária. Diversas reuniões e conferências sobre comunicação “pipocavam” por todo o país]
Os blogs, no começo utilizados por alguns como uma espécie de singelo diário eletrônico ou virtual, evoluiu, amadureceu bastante [mas ainda não o suficiente] e se transformou, nos dias que correm, em vital instrumento de comunicação e combate aos humores do “mercadismo” e à grande mídia oligopolista, que, sabemos, era pretensa detentora do monopólio da verdade. Ou seja: a versão deles dos fatos [e da história] era a que prevalecia, posto que apenas veiculava-se essa versão “única”, apenas essa única maneira de ver o mundo tinha espaço. Hoje, não mais. Graças ao poder da participação do cidadão. Graças à força da cidadania.
“Cidadania.com” era, a propósito, o nome de um desses blogs precursores. Pilotado por um comerciante, um cidadão comum que, inconformado com as manipulações e inverdades publicadas diuturnamente pelos grandes jornais, resolvera ir à luta e “botar a boca no trombone”. Esse homem comum foi, decerto, a princípio, utilizado/manietado como um “inocente útil” pelos colunistas e editores desses “jornalões”. Mas, quando passou obstinadamente a buscar “a verdade”, tal qual um Quixote redivivo, foi logo descartado e rotulado de “louco” por esses mesmos colunistas e editores que antes lhe davam guarida e paparicavam. O espírito ali já se revelava outro: o homem comum, o leitor, buscava participar da tessitura da realidade, da notícia. Quem sabe faz a hora. O homem ordinário desejava ser extraordinário.
Eduardo Guimarães [este é o nome desse personagem], talvez após constatar que a solução para aquele problema que lhe incomodava deveras [e a muitos como ele] não passava somente pelo estratagema, digamos, bem intencionado, mas talvez ingênuo, de melhorar o jornalismo praticado pelos grandes veículos/grupos de comunicação utilizando-se tão-somente de esporádicas manifestações nos espaços dedicados aos leitores, teve então a idéia de criar um movimento agrupando aqueles que, como ele, se sentiam sem vez e voz, incomodados com o “duplipensar” e a “novilíngua” daquela imprensa que, desde sempre – agora, enfim, ele comprovara – esteve a serviço dos chamados “donos do poder”. Guimarães [e muitos com ele] naquele instante apreendeu a lição. Nascia então o MSM – Movimento dos Sem Mídia.
E foi exatamente esse mesmo MSM que, a despeito das suas fragilidades e insuficiências, dentre as várias ações que realizou, empreendeu uma que marcou, de modo indelével, definitivo a história dessas eleições de 2010. O movimento, agora uma ONG, entrou com uma representação na Procuradoria Geral Eleitoral (PGE) ajuizando a abertura de um processo em que solicita auditoria, fiscalização e acompanhamento das pesquisas realizadas por todos os institutos, pois havia fortes indícios de manipulação nessas sondagens [as principais suspeitas recaíam sobre DataFolha e Ibope]. O inquérito foi aberto e o processo instaurado (Nº 4559.2010-33). A Polícia Federal está investigando. Daí em diante, as empresas de pesquisas, e também o PIG, colocaram as barbas de molho. Não dava mais para mexer nos dados, dar uns 10 ou 12 pontos de vantagem ao candidato da oposição de direita e dizer-lhe: “Vai que a gente garante!”. Esse “empurrãozinho” fraudulento o conduziria direto ao abismo.
Porém, nessa breve história que lhes conto aqui existem outros, vários protagonistas e precursores. E é essa exatamente a principal característica da “blogosfera”: o chamado “protagonismo cidadão”. Leitores e articulistas-militantes se envolvem numa quase-perfeita sintonia. As notícias e opiniões são comentadas e, muitas vezes, contestadas em tempo real. Os comentários postados são, algumas das vezes, mais ricos e esclarecedores que os próprios artigos ou “posts” originais. Os leitores são agentes ativos do debate nacional, não mais passivos.
Para assomo de alguns “puristas”, alguns jornalistas egressos da grande mídia também se engajaram nessa intrincada, árdua e aparentemente inglória tarefa de construir e trilhar os caminhos de uma nova comunicação. Antes, você deve se lembrar, esse mister, esse ofício era atribuído à chamada imprensa alternativa. Surgem, porém, nomes de “celebridades” proscritas da grande mídia como “o impagável” Paulo Henrique Amorim e “o mineiríssimo” Luis Nassif, bem como nomes mais ou menos célebres como Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna, dentre outros.
Nassif tatuou a ferro e fogo seu nome nessa história quando publicou em seu blog o “Dossiê Veja”, onde revela os bastidores sombrios e pútridos desse semanário e da grande imprensa em geral – em decorrência disso responde hoje a inúmeros processos com custos (ou seriam custas?) de difícil mensuração. Atravessou para o lado de cá e queimou as caravelas que poderiam conduzir-lhe de volta. Nassif comeu o pão que o diabo amassou. Hoje pilota uma das mais instigantes e competentes experiências em jornalismo colaborativo na blogosfera.
Paulo Henrique Amorim, com seu jeito bonachão e galhofeiro de “bom carioca” foi intrépido e arriscou: deu vez e voz ao valente e “ínclito” delegado Protógenes Queiroz em sua luta contra o “banqueiro bandido” [nas palavras deste último]. Bateu de frente com gigantes das telecomunicações e foi “saído” do portal IG. É dele a “tirada”: “O supremo presidente do Supremo, Gilmar Dantas – como diria o Noblat”. Paulo Henrique também responde a inúmeros processos na Justiça. É inegável a importante contribuição que esses “traidores” da grande imprensa, por assim dizer [com o auxílio da ferina ironia do destino], deram à causa desses aqui chamados “militantes da utopia” ou, como querem alguns, dessa “turma que não enche uma Kombi”.
A estes se somam, como disse, outros, vários, diversos personagens anônimos [já nem tão anônimos assim] e protagonistas nesse “levante” dos “utopistas”. Ouso citar alguns só para cometer o pecado de me esquecer de muitos.
São importantes personagens dessa nova comunicação veículos como Carta Maior, Caros Amigos [faço aqui uma referência e reverência ao saudoso Sergio de Souza], Revista Carta Capital, ConversaAfiada, Nassif OnLine, Vi o Mundo, Escrevinhador, Blog da Cidadania, Vermelho.org.br [e o blog do Miro], Revista Fórum [revista, site e blog capitaneado por Renato Rovai], Revista do Brasil [alô, alô, Paulo Donizette!], RS Urgente, Abunda Canalha, Amigos do Presidente Lula [alô, alô, Helena Stephanowitz!], Óleo do Diabo, Cloaca News, Tijolaço [blog do jovem e valente deputado Brizola Neto - como o nome “entrega”, neto do saudoso e valoroso Leonel Brizola].
Não tenho aqui a pretensão de contar toda essa grande história em toda sua magnitude e dimensão; de enumerar/citar todos os seus mais importantes feitos, fatos e personagens – pois são muitos os seus aguerridos combatentes. Tampouco tenho a pretensão de mostrar a melhor visão ou enfoque desse rico movimento, essa onda que hoje se levanta diante de nossas retinas já tão fatigadas cristalizando o tal “quem sabe faz a hora acontecer”.
Trata-se apenas, como disse, de um “corte”, um “primeiro capítulo” de uma obra em construção. Mais um olhar, mais uma palavra semeada que, característica inerente a essa nova comunicação libertária, soma-se à sua visão e palavra, prezado leitor-cidadão, e se espalha. Enredo que se enreda rede adentro, mundo afora, por intermédio da internet e da blogosfera.
Não mais a serviço de um único tutor ou “dono”, seja esse “dono” uma empresa, um “coroné”, um partido ou uma determinada oligarquia. Sempre a serviço da “causa”. Qual seja: uma comunicação revolucionária, democrática e um Brasil para todos.
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O texto que segue versa sobre o poder da internet [mais precisamente da chamada “blogosfera”] na modificação do paradigma da comunicação e da mídia no país, e, como conseqüência ou instância última, na transformação da sociedade. É um “corte”. Apesar de longo [peço-lhe desculpas de antemão por ser demasiado prolixo] esse artigo é um pequeno-grande capítulo dessa história. O título, para aqueles que ainda não perceberam, alude a certa frase de um certo ex-presidente da Suprema Corte do país, e também àquela antiga canção de protesto “Para não dizer que não falei de flores” mais conhecida como “Caminhando e Cantando”. A alusão a essa canção, por sua vez, pretende remeter àqueles tempos em que alguns jovens “idealistas” sonhavam mudar o Brasil. A tal “turma da Kombi” seria, na visão dos “reacionários”, o povo da blogosfera que, agora, “faz a hora, não espera acontecer”.
A comunicação no Brasil está mudando. Graças à internet. O Brasil está mudando. Graças ao bafejar dos ventos mudancistas soprados por uns tais “militantes da utopia”, por aqueles que desejam e combatem, desde sempre, seja enfrentando a sordidez da real política seja navegando/militando na blogosfera, por uma democracia plena e, mais ainda, desejosos que este país seja, de fato, um país de/para todos os brasileiros.
[Contextualizando: a atmosfera que se respirava na época ou a “ambiência”. Vivia-se a retomada da anima esquerdista, incorporava-se o espírito das reuniões do Fórum Social Mundial que nos ensinava que “um outro mundo era possível”. Se um outro mundo era possível, então uma nova comunicação também era possível e, mais que isso, necessária. Diversas reuniões e conferências sobre comunicação “pipocavam” por todo o país]
Os blogs, no começo utilizados por alguns como uma espécie de singelo diário eletrônico ou virtual, evoluiu, amadureceu bastante [mas ainda não o suficiente] e se transformou, nos dias que correm, em vital instrumento de comunicação e combate aos humores do “mercadismo” e à grande mídia oligopolista, que, sabemos, era pretensa detentora do monopólio da verdade. Ou seja: a versão deles dos fatos [e da história] era a que prevalecia, posto que apenas veiculava-se essa versão “única”, apenas essa única maneira de ver o mundo tinha espaço. Hoje, não mais. Graças ao poder da participação do cidadão. Graças à força da cidadania.
“Cidadania.com” era, a propósito, o nome de um desses blogs precursores. Pilotado por um comerciante, um cidadão comum que, inconformado com as manipulações e inverdades publicadas diuturnamente pelos grandes jornais, resolvera ir à luta e “botar a boca no trombone”. Esse homem comum foi, decerto, a princípio, utilizado/manietado como um “inocente útil” pelos colunistas e editores desses “jornalões”. Mas, quando passou obstinadamente a buscar “a verdade”, tal qual um Quixote redivivo, foi logo descartado e rotulado de “louco” por esses mesmos colunistas e editores que antes lhe davam guarida e paparicavam. O espírito ali já se revelava outro: o homem comum, o leitor, buscava participar da tessitura da realidade, da notícia. Quem sabe faz a hora. O homem ordinário desejava ser extraordinário.
Eduardo Guimarães [este é o nome desse personagem], talvez após constatar que a solução para aquele problema que lhe incomodava deveras [e a muitos como ele] não passava somente pelo estratagema, digamos, bem intencionado, mas talvez ingênuo, de melhorar o jornalismo praticado pelos grandes veículos/grupos de comunicação utilizando-se tão-somente de esporádicas manifestações nos espaços dedicados aos leitores, teve então a idéia de criar um movimento agrupando aqueles que, como ele, se sentiam sem vez e voz, incomodados com o “duplipensar” e a “novilíngua” daquela imprensa que, desde sempre – agora, enfim, ele comprovara – esteve a serviço dos chamados “donos do poder”. Guimarães [e muitos com ele] naquele instante apreendeu a lição. Nascia então o MSM – Movimento dos Sem Mídia.
E foi exatamente esse mesmo MSM que, a despeito das suas fragilidades e insuficiências, dentre as várias ações que realizou, empreendeu uma que marcou, de modo indelével, definitivo a história dessas eleições de 2010. O movimento, agora uma ONG, entrou com uma representação na Procuradoria Geral Eleitoral (PGE) ajuizando a abertura de um processo em que solicita auditoria, fiscalização e acompanhamento das pesquisas realizadas por todos os institutos, pois havia fortes indícios de manipulação nessas sondagens [as principais suspeitas recaíam sobre DataFolha e Ibope]. O inquérito foi aberto e o processo instaurado (Nº 4559.2010-33). A Polícia Federal está investigando. Daí em diante, as empresas de pesquisas, e também o PIG, colocaram as barbas de molho. Não dava mais para mexer nos dados, dar uns 10 ou 12 pontos de vantagem ao candidato da oposição de direita e dizer-lhe: “Vai que a gente garante!”. Esse “empurrãozinho” fraudulento o conduziria direto ao abismo.
Porém, nessa breve história que lhes conto aqui existem outros, vários protagonistas e precursores. E é essa exatamente a principal característica da “blogosfera”: o chamado “protagonismo cidadão”. Leitores e articulistas-militantes se envolvem numa quase-perfeita sintonia. As notícias e opiniões são comentadas e, muitas vezes, contestadas em tempo real. Os comentários postados são, algumas das vezes, mais ricos e esclarecedores que os próprios artigos ou “posts” originais. Os leitores são agentes ativos do debate nacional, não mais passivos.
Para assomo de alguns “puristas”, alguns jornalistas egressos da grande mídia também se engajaram nessa intrincada, árdua e aparentemente inglória tarefa de construir e trilhar os caminhos de uma nova comunicação. Antes, você deve se lembrar, esse mister, esse ofício era atribuído à chamada imprensa alternativa. Surgem, porém, nomes de “celebridades” proscritas da grande mídia como “o impagável” Paulo Henrique Amorim e “o mineiríssimo” Luis Nassif, bem como nomes mais ou menos célebres como Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna, dentre outros.
Nassif tatuou a ferro e fogo seu nome nessa história quando publicou em seu blog o “Dossiê Veja”, onde revela os bastidores sombrios e pútridos desse semanário e da grande imprensa em geral – em decorrência disso responde hoje a inúmeros processos com custos (ou seriam custas?) de difícil mensuração. Atravessou para o lado de cá e queimou as caravelas que poderiam conduzir-lhe de volta. Nassif comeu o pão que o diabo amassou. Hoje pilota uma das mais instigantes e competentes experiências em jornalismo colaborativo na blogosfera.
Paulo Henrique Amorim, com seu jeito bonachão e galhofeiro de “bom carioca” foi intrépido e arriscou: deu vez e voz ao valente e “ínclito” delegado Protógenes Queiroz em sua luta contra o “banqueiro bandido” [nas palavras deste último]. Bateu de frente com gigantes das telecomunicações e foi “saído” do portal IG. É dele a “tirada”: “O supremo presidente do Supremo, Gilmar Dantas – como diria o Noblat”. Paulo Henrique também responde a inúmeros processos na Justiça. É inegável a importante contribuição que esses “traidores” da grande imprensa, por assim dizer [com o auxílio da ferina ironia do destino], deram à causa desses aqui chamados “militantes da utopia” ou, como querem alguns, dessa “turma que não enche uma Kombi”.
A estes se somam, como disse, outros, vários, diversos personagens anônimos [já nem tão anônimos assim] e protagonistas nesse “levante” dos “utopistas”. Ouso citar alguns só para cometer o pecado de me esquecer de muitos.
São importantes personagens dessa nova comunicação veículos como Carta Maior, Caros Amigos [faço aqui uma referência e reverência ao saudoso Sergio de Souza], Revista Carta Capital, ConversaAfiada, Nassif OnLine, Vi o Mundo, Escrevinhador, Blog da Cidadania, Vermelho.org.br [e o blog do Miro], Revista Fórum [revista, site e blog capitaneado por Renato Rovai], Revista do Brasil [alô, alô, Paulo Donizette!], RS Urgente, Abunda Canalha, Amigos do Presidente Lula [alô, alô, Helena Stephanowitz!], Óleo do Diabo, Cloaca News, Tijolaço [blog do jovem e valente deputado Brizola Neto - como o nome “entrega”, neto do saudoso e valoroso Leonel Brizola].
Não tenho aqui a pretensão de contar toda essa grande história em toda sua magnitude e dimensão; de enumerar/citar todos os seus mais importantes feitos, fatos e personagens – pois são muitos os seus aguerridos combatentes. Tampouco tenho a pretensão de mostrar a melhor visão ou enfoque desse rico movimento, essa onda que hoje se levanta diante de nossas retinas já tão fatigadas cristalizando o tal “quem sabe faz a hora acontecer”.
Trata-se apenas, como disse, de um “corte”, um “primeiro capítulo” de uma obra em construção. Mais um olhar, mais uma palavra semeada que, característica inerente a essa nova comunicação libertária, soma-se à sua visão e palavra, prezado leitor-cidadão, e se espalha. Enredo que se enreda rede adentro, mundo afora, por intermédio da internet e da blogosfera.
Não mais a serviço de um único tutor ou “dono”, seja esse “dono” uma empresa, um “coroné”, um partido ou uma determinada oligarquia. Sempre a serviço da “causa”. Qual seja: uma comunicação revolucionária, democrática e um Brasil para todos.
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“A mídia é concentrada e de direita”
Reproduzo entrevista concedida ao jornalista Osvaldo Bertolino, publicada no sítio da Fundação Maurício Grabois:
Nesta entrevista ao Grabois.org, o jornalista, secretário de Mídia do PCdoB e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé Altamiro Borges comenta o papel da mídia na formação do Brasil. Para ele, há duas tendências na mídia que não se revertem a não ser com rupturas. Uma é concentração e a outra a maior capacidade de manipulação. “Cada vez mais ela é concentrada e cada vez com posições mais à direita”, diz. Segundo Altamiro Borges, a mídia alternativa tem o papel de fazer a disputa com setores formadores de opinião. Mas não ganha eleição. “O que ganha a eleição são as mudanças no Brasil”, afirma.
O que é o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé. O que é?
A ideia é fruto dos dois últimos anos, 2008 e 2009, em que o debate sobre democratização da comunicação ganhou certo impulso, principalmente no ano passado com a convocação da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Essa era uma reivindicação antiga dos movimentos sociais. No interior do governo havia quem era contra. Havia forte pressão das empresas de comunicação para não se realizar a Conferência. Mas ela saiu. Foi convocada em janeiro, depois de anunciada no Fórum Social Mundial de Belém (FSM) em Belém, Pará, pelo presidente Lula anunciou. Para surpresa de muita gente, saiu. Isso fez com que o debate sobre comunicação ganhasse outra dimensão no Brasil.
O Barão de Itararé é fruto desse movimento. Aglutinou muita gente, trouxe à tona muitos que inclusive estão na chamada grande imprensa e que tem uma posição crítica. Muitas entidades do movimento social se inseriram nessa batalha. O Centro não nasceu do nada. Nasceu dessa luta pela democratização da comunicação, casada evidentemente com sua antítese — que é o desmascaramento da mídia hegemônica. Conforme vai caindo a ficha do que representa essa mídia, a luta pela democratização da comunicação cresce.
A ideia do Barão de Itararé, primeiro, é essa homenagem a um grande jornalista brasileiro, Aparício Fernando Brinkerhoff Torelly, um gaúcho que fez toda a sua história no Rio de Janeiro. Foi inclusive foi vereador do Partido Comunista do Brasil, o PCB, no Rio de Janeiro. Era um jornalista muito crítico. Ele foi o jornalista que fez a primeira imprensa alternativa no Brasil — tirando a imprensa sindical, anarquista e comunista. A primeira imprensa alternativa não partidária e nem sindical no Brasil, como o jornal A Manha, o Almanhaque.
Outra característica dele foi a irreverência, a ironia. O Barão é considerado o pai do humorismo no Brasil. Por isso, resolvemos fazer uma homenagem a essa figura, cujas idéias casam com o período que estamos vivendo. Esse movimento de sites, blogs é muito irreverente. A ideia do Barão é agregar essas pessoas, os vários movimentos sociais, agregar as entidades que lutam pela democratização da comunicação, as várias publicações, sites, revistas, jornais que têm um papel contra-hegemônico. E agregar pessoas que têm tido um papel importante na denúncia dessa mídia golpista. Pessoas como Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Leandro Fortes, Maria Inês Nassif, Luis Carlos Azenha, Rodrigo Viana etc.
São pessoas que têm tido uma contribuição muito grande para estimular o senso crítico, um jornalismo mais crítico. O Barão procura agregar tudo isso. Para quê? Basicamente para quatro coisas: contribuir para o fortalecimento da luta pela democratização da comunicação; contribuir para o fortalecimento das mídias alternativas já existentes ou por existir - como blogs, sites, rádios comunitárias, TVs comunitárias, TVs públicas etc. -; e ajudar na formação dessa galera. Aprendo com ela, pois não há teoria pronta para isso. No intercâmbio vamos construir uma formação, desde o jornalista que está na faculdade — que está sendo formado para ser William Bonner e Fátima Bernardes da vida, mas que poderia ter um senso crítico maior — até a pessoa que está fazendo radiodifusão comunitária, jornal sindical, jornal de bairro.
A idéia é ajudar na pesquisa, no estudo, tentar entender mais o que ocorre com a mídia não apenas no sentido do reativo. Essa mídia que está aí é a nossa crítica, mas estudar principalmente o que está pintando de novo, porque há muita coisa nova. Alguns autores até chamam de nova mídia. Então, tentar entender o que está acontecendo e potencializar isso.
Você diria que o Barão é resultado dessa ressaca da mídia dominante, depois daquela investida feroz, golpista contra o governo Lula?
Para mim, ele é resultado de duas coisas. Do desmascaramento e da ressaca dessa mídia que está aí, com sua overdose de manipulação e golpismo, de preconceito, de pensamento único. E é resultado não apenas da constatação, não apenas da ressaca, mas da reação a essa overdose. É resultado da crítica e do movimento. Da crítica a essa mídia que está aí e do movimento que vem sendo feito principalmente nesse último período por democratização da comunicação no Brasil. A meu ver, são essas duas coisas.
Você acha que a mídia, depois dessa invertida na tentativa frustrada de golpe contra o governo Lula, tem força nestas eleições?
A meu ver, tem. Para mim, a mídia perdeu força. Hoje ela é mais vulnerável. Mais vulnerável basicamente por três razões. Primeiro pela própria mudança tecnológica. O velho Marx tinha razão, porque quando as forças produtivas se mexem outras coisas se movem. O fato de haver alterações profundas na base tecnológica da comunicação, como a internet, fragilizou essa mídia. Vê-se uma queda de tiragem de jornais. Isso não apenas no Brasil.
No Brasil chama a atenção o fato de a Folha de S.Paulo, que na década de 1980 tinha uma tiragem de 1.000.000 /1.100 milhão exemplares aos domingos, hoje ter 300 mil. É um negócio impressionante. O mesmo se dá com o Estadão, com O Globo, com o Correio Brasiliense. Porque houve uma migração dessa mídia impressa para a mídia virtual, para a internet. Isso ocorre não só a mídia impressa. Mesmo a televisão está perdendo audiência. Esse é um fenômeno que se verifica nos Estados Unidos, na Europa, e começa a se verificar no Brasil. As pessoas estão saindo da TV, que é uma coisa unidirecional: o sujeito está lá, sentado no sofá, e ouve todas as abobrinhas ditas. A pessoa é passiva. Já a internet que é mais interativa. A pessoa pode escrever, colocar o filme dela, a foto.
Acho que na crise dessa mídia tradicional tem como primeira razão a questão tecnológica. A segunda é a crise de credibilidade – que Emir Sader chama de crise moral –, porque essa mídia vem se desgastando no Brasil e no mundo. Veja nos EUA, onde se destacou a capacidade de manipulação da mídia na preparação da invasão do Iraque. Tudo o que se disse sobre armas químicas e bacteriológicas era papo furado, era mentira do Bush que a mídia amplificou. O único jornal que reconheceu isso foi o The New York Times — embora timidamente.
Fico imaginando na Venezuela, onde houve um golpe que foi orquestrado pela mídia. O próprio Chávez chama de golpe midiático. Aquele povo não acredita muito na mídia, não chora de amores pela RCTV, que teve a outorga cancelada recentemente. E nem pela Globovisión, com seu dono metido em corrupção. Outro exemplo é a Bolívia, onde quase 90% das notícias na campanha eleitoral, na vitória de Morales, foram contra ele. Ou no Brasil. Há uma crise de credibilidade.
Acho que um terceiro fator é o crescimento de uma consciência crítica, que se materializa até em mudanças legislativas. Têm ocorrido mudanças importantes na Venezuela, no Uruguai, na Argentina, na Nicarágua, em El Salvador, Equador, na Bolívia etc. Portanto, começa a ter não só perda de credibilidade, mas começa a se pensar em alternativas. Políticas públicas, regulamentação. Por isso, acho que essa mídia está em crise. Mas não acho que essa crise tire o poder da mídia. Ela ainda tem ainda muita capacidade de interferir na sociedade.
Há a tese de que acabou-se aquela história da pedra na lagoa que bate e se expande. As redes estariam superando esse efeito. Mas não superam a TV Globo. A TV Globo tem um poder monstruoso. Pegue pela Copa. Nas ruas o povo repete a argumentação da Globo. O Dunga – e olha que eu não gosto do Dunga, acho um técnico retranqueiro – é o vilão e a Globo, coitadinha, a vítima. A televisão ainda tem um papel fenomenal. Os jornais têm um papel fenomenal. A revista Veja, com 1 milhão de exemplares para a classe média, faz a cabeça. Acho que a mídia está mais vulnerável, mas não significa que ela perdeu o seu papel.
Existe uma pesquisa do Vox Populi que mostra que, em 2006, se não fosse o papel da Globo a eleição teria sido decidida no primeiro turno. Aquela onda que a Globo fez nos dois últimos dias, com os tais dos aloprados com pacotes de dinheiro, fez com que 6% do eleitorado se movessem. Foi o que garantiu o segundo turno. Por isso, acho que ela ainda tem muito poder. Às vezes o pessoal brinca que a mídia está na UTI. Nada, a mídia para ir para a UTI ainda vai demorar um bocado.
Você vê um componente ideológico nesses movimentos, baseado no fato de que o sistema norte-americano vai mais para a direita e desperta seu contraponto?
Gramsci, uma figura interessante, ao estudar mais essas chamadas sociedades complexas do Ocidente, como ficou a terminologia, estudou a questão da luta ideológica, o papel da hegemonia. E Gramsci, já nas décadas de 1920 e 1930, disse que quando as instituições da burguesia entram em crise a imprensa – não era a mídia – ocupa o papel do partido da classe dominante, ocupa o papel do partido do capital. Hoje, as instituições burguesas estão com dificuldades de administrar esse mundo cada vez mais sob a hegemonia do capital financeiro, cada vez mais desregulado. Há uma crise dessas instituições e a imprensa passa a ocupar o papel mais proeminente na sociedade.
Não quer dizer que ela não ocupasse isso no passado. Ela já ocupava. Se pegarmos a história do Brasil, o papel da imprensa foi decisivo. Veja o papel do Estadão na época de Canudos. Peguemos fatos mais recentes, de 60 anos para cá – no governo Getúlio Vargas, por exmplo, no governo do Juscelino Kubitschek. Ou o fato dramático que foi o golpe de 1964. Quem ajudou a preparar o golpe de 1964 foi a imprensa. Inclusive, certos chavões ditos hoje são mesmos daquela época. Eles não têm nem criatividade para mudá-los. A história de república sindical que a revista Época recentemente usou tem as mesmas terminologias.
Há um estudo impressionante de um pesquisador da Fundação Getúlio Vargas sobre o papel que a imprensa teve na Constituinte. Como ela foi moldando a Constituinte. Lembremos o papel que a imprensa teve na campanha das diretas, na eleição de Collor. Acho que cada vez mais ela vai por uma confluência, porque adquiriu maior poder econômico. O o setor de comunicação e de telecomunicação é um dos setores que mais cresce na economia mundial. Isso decorre da fragilidade, da crise vivida pelo capital. A mpidia passa a ocupar o papel de partido do capital de forma mais proeminente. E o partido do capital, na situação do mundo atual, tem uma marca reacionária muito forte.
O capital vai contra a humanidade. Esse sistema é contra a humanidade. Portanto, para se expressar a hegemonia desse sistema é preciso ter uma atitude cada vez mais reacionária. Há duas tendências na mídia que não se revertem a não ser com rupturas. Uma é concentração e a outra a maior capacidade de manipulação. São duas tendências: concentração e direitização. Cada vez mais ela é concentrada e cada vez com posições mais à direita. Lógico, com contradições. Não dá para ter uma visão também fechada, totalmente blocada.
No Brasil já temos uma concentração histórica. Você falou do golpe de 1964. No pós-golpe de 1964 começou a montagem desses grupos poderosos...
Já havia concentração antes. Porque temos problemas na legislação brasileira e na tradição brasileira. Na Europa, por exemplo, principalmente no pós-Segunda Guerra Mundial, enfrentou-se o papel que a imprensa teve no surgimento do nazi-fascismo. Estudou-se uma forma de democratizar a comunicação, de quebrar aqueles monopólios que foram incentivadores ou cúmplices do nazi-fascismo. Surgiu então a rede pública, como a BBC de Londres, que vem da resistência ao nazi-fascismo. Surgem também TVs públicas na França, na Itália. Mesmo nos EUA há uma rede pública com certa força.
No Brasil, nunca tivemos uma rede pública. Getúlio tenta montar uma, por meio da Rádio Nacional, mas não prosperou. Esse é um problema da mídia brasileira, só há o setor privado. Agora é que estão começando os primeiros passos da montagem de uma rede pública com a da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Então.
Um segundo problema é que nunca houve regulamentação desse setor no Brasil. Há regulamentação nessa área de mídia em várias partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, o órgão regulamentador é forte — existem mais de 100 cassações e outorgas de TV e rádio por desrespeito à lei, à Constituição. No Brasil, sem nenhuma regulamentação o início da concentração começou cedo. O caso mais famoso é o de Assis Chateaubriand com os Diários Associados. Foi um baita império midiático. Com vários jornais, depois rádios. A biografia dele escrita pelo Fernando Morais é muito interessante. Ele era um chantagista, um mercenário da mídia.
A Globo, esse império, foi construída com o apoio da ditadura militar. Esse império só existiu por causa da ditadura militar, que permitou acordos lesivos, acordos contrários à legislação. O nascimento da TV Globo em aliança com uma empresa estadunidense, a Time Life, era proibido mas foi permitido. A Globo cresceu à sombra do regime militar. Aí é que ela se transforma num grande império. Hoje é isso, há sete famílias que dominam a mídia brasileira. É um negócio impressionante. São sete famílias.
Como essas famílias se realcionavam com o Estado? Temos exemplos mais recentes, como o caso das famosas concessões do ex-ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (ACM).
A isso o professor Vinicius Lima chama de coronelismo eletrônico. Há o coronelismo do campo brasileiro e o coronelismo eletrônico. Tudo numa relação de promiscuidade, patrimonialismo com Estado, concessões, apoios. Então, vão sendo constituídos esses grandes grupos por meio de negociatas políticas. E essas grandes empresas passaram a ter um papel no Estado brasileiro. Basta pegar os ministros de Comunicação e, então, pode-se ver quem são. São pessoas vinculadas a essa área, que conta com muito poder. E aí funciona esse mecanismo de coronelismo, de troca de favores, de patriomonialismo.
É uma relação de promiscuidade muito grande. E desrespeitosa inclusive em relação à Constituição e às leis. Porque a legislação brasileira é taxativa: detentor de cargo público não pode ter meios de comunicação. Muito simples, coloca-se um fantasma, coloca-se um parente, mas continua tendo. Não era o ACM o dono da TV Bahia, mas a mulher dele. A mesma coisa com relação ao Sarney. Não é ele, mas o filho dele. E por aí vai. Vai sendo montado todo um esquema de promiscuidade pública e privada, de patrimonialismo mesmo. O que dá uma grande força a esses grupos.
O Luis Nassif usou o termo gangsterismo ao se referir a Otávio Frias, da Folha. Depois dessa ofensiva golpista alguns veículos até recuaram porque se desmoralizaram, mas a Folha e a Veja se mantêm na ofensiva. Você vê aí também gangsterismo?
Acho que são grupos com oscilações em determinados períodos históricos. Por exemplo, a Folha apoiou o golpe, apoiou o setor linha dura da ditadura na época do velho Frias. Não só apoiou escrevendo, chamando de terroristas, justificando assassinatos, como ajudou na logística –, cedeu carros de transporte de jornal para o serviço de repressão.
Quando ela percebe que o regime militar estava se fragilizando e não servia mais, teve uma oscilação ao desemmpenhar papel importantíssimo na luta pelas Diretas. Não dá para desconhecer isso. Lembra daquela capa histórica da campanha das Diretas na Catedral da Sé? A Folha quase foi um jornal da campanha das Diretas. A burguesia é muito hábil, tem flexibilidade. Às vezes a esquerda tem dificuldade de se flexibilizar, a direita se flexibiliza.
A Veja já foi o contrário. Ela nasce como uma revista de oposição. Com Mino Carta e outras figuras como Raimundo Pereira e Pedro de Oliveira. A Veja nasceu como uma revista de resistência. Depois vai se amoldando. Mas acho que ela nunca perdem o seu referencial de classe. Eles têm referencial de classe. Às vezes nós não temos muito. Eles têm. Eles não se iludem. Eles têm um projeto.
Acho que no caso do governo Lula, essa turma tem muito referencial de classe. Percebe o seguinte: no governo Lula, mesmo não enfrentando os problemas estruturais do país, eles batem sem dó. A Veja não perde o referencial de classe. Ela percebe que isso é um processo que pode, em perspectiva, colocar em perigo os seus projetos de classe. O Nassif fala isso porque ele sentiu na carne. Ele fala: com o governo Lula esse setor muda, assume a posição de gangster mesmo. Aí não tem mais conversa, é uma posição de classe. O governo Lula é um perigo.
Estão com mais medo ainda da Dilma. Eles têm mais medo dela porque falam, com faz o Jabbour, que Lula pelo menos é um conciliador que conseguiu afastar os “bolcheviques” e “jacobinos”. Já a Dilma talvez não consiga. Então, esse setor tem muito medo disso. É um problema de classe. Assume uma posição de gangster mesmo. Não tem conversa e vai para metralhar. Acho que a Folha e o Estadão têm demonstrado isso.
A meu ver, outros são mais hábeis, mas também na hora do vamos ver eles se juntam. A Globo sabe pressionar, obter determinadas benesses e dar uma recuadinha para depois pressionar novamente. O episódio da Petrobras é ótimo nesse sentido. A Globo obrigou os partidos de direita a entrar na CPI. Os tucanos e os demos não tinham muito interesse em entrar na briga contra a Petrobras. Quem pautou a direita para entrar na CPI foi a mídia.
Quando essa mesma mídia conseguiu o que queria — basta ver o número de anúncios como aumentou —, a mídia tirou o time de campo. Tanto é que o Rodrigo Maia (presidente do DEM) reclamou: “Nos deixaram pendurados”. É deixou mesmo. A mídia tem uma componente pragmática, mercenária, muito forte. Isso ela aprendeu com Chateaubriand. Aí não é gangsterismo, é algo de jogador de carteado.
A TV Globo parecia que tinha adotado um comportamento mais neutro em 2004, 2005, até 2006. Na hora de dar o bote, quem forçou o segundo turno foi a rede Globo. Não foi a Veja ou a Folha. Então, acho que essa turma não perde a oportunidade. A Maria Inês Nassif, do jornal Valor Econômico, diz isso na dissertação de mestrado dela: o governo Lula forçou um posicionamento mais explícito dessa mídia. Alguns, de forma gangsterista outros de forma mais habilidosa. Mas, a meu ver, no conjunto é um projeto de classe.
Como você vê a ação desse conjunto na campanha eleitoral?
Acho que a mídia alternativa não ganha eleição. Não foi a internet que ganhou as eleições em 2006. E não será a internet, pelo lado progressista, que vai ganhar as eleições de 2010. O que ganha a eleição são as mudanças no Brasil. O que ganha, mais do que a internet, é o Bolsa Família, o Luz para Todos, é o país crescendo, o salário-mínimo valorizado, o emprego.
Não foi a internet, nem blogs e sites progressistas que evitaram a manipulação da mídia e que garantiram a reeleição de Lula em 2006. Acho que aí seria muita presunção de nossa parte. Até porque a internet atinge uma parte pequena da população. Atinge 22%, 23%. A mídia alternativa, a meu ver, tem o papel de fazer a disputa com setores formadores de opinião. Ela tem o papel de municiar o debate de ideias. Ela consegue às vezes reverter determinadas coisas. Veja um episódio recente que, em minha opinião, foi extremamente educativo, sintomático: aquela história do clipping de 45 anos da TV Globo. Aquilo foi impressionante.
Ela fez um clipping e, por mera coincidência, era a cara do PSDB. Era o slogan de campanha do PSDB: O Brasil pode mais. Com a cor azul do PSDB e, por acaso, 45 anos, o número da legenda do PSDB. Houve um bombardeio na internet, rapidamente eles sondaram o TSE, perceberam que ia dar processo e recuaram. Se não houvesse aquela gritaria na internet, possivelmente a campanha durasse um pouco mais. A tendência é de que cada vez mais cresça esse papel. Porque a mídia se democratiza à medida que a sociedade se democratiza.
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Nesta entrevista ao Grabois.org, o jornalista, secretário de Mídia do PCdoB e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé Altamiro Borges comenta o papel da mídia na formação do Brasil. Para ele, há duas tendências na mídia que não se revertem a não ser com rupturas. Uma é concentração e a outra a maior capacidade de manipulação. “Cada vez mais ela é concentrada e cada vez com posições mais à direita”, diz. Segundo Altamiro Borges, a mídia alternativa tem o papel de fazer a disputa com setores formadores de opinião. Mas não ganha eleição. “O que ganha a eleição são as mudanças no Brasil”, afirma.
O que é o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé. O que é?
A ideia é fruto dos dois últimos anos, 2008 e 2009, em que o debate sobre democratização da comunicação ganhou certo impulso, principalmente no ano passado com a convocação da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Essa era uma reivindicação antiga dos movimentos sociais. No interior do governo havia quem era contra. Havia forte pressão das empresas de comunicação para não se realizar a Conferência. Mas ela saiu. Foi convocada em janeiro, depois de anunciada no Fórum Social Mundial de Belém (FSM) em Belém, Pará, pelo presidente Lula anunciou. Para surpresa de muita gente, saiu. Isso fez com que o debate sobre comunicação ganhasse outra dimensão no Brasil.
O Barão de Itararé é fruto desse movimento. Aglutinou muita gente, trouxe à tona muitos que inclusive estão na chamada grande imprensa e que tem uma posição crítica. Muitas entidades do movimento social se inseriram nessa batalha. O Centro não nasceu do nada. Nasceu dessa luta pela democratização da comunicação, casada evidentemente com sua antítese — que é o desmascaramento da mídia hegemônica. Conforme vai caindo a ficha do que representa essa mídia, a luta pela democratização da comunicação cresce.
A ideia do Barão de Itararé, primeiro, é essa homenagem a um grande jornalista brasileiro, Aparício Fernando Brinkerhoff Torelly, um gaúcho que fez toda a sua história no Rio de Janeiro. Foi inclusive foi vereador do Partido Comunista do Brasil, o PCB, no Rio de Janeiro. Era um jornalista muito crítico. Ele foi o jornalista que fez a primeira imprensa alternativa no Brasil — tirando a imprensa sindical, anarquista e comunista. A primeira imprensa alternativa não partidária e nem sindical no Brasil, como o jornal A Manha, o Almanhaque.
Outra característica dele foi a irreverência, a ironia. O Barão é considerado o pai do humorismo no Brasil. Por isso, resolvemos fazer uma homenagem a essa figura, cujas idéias casam com o período que estamos vivendo. Esse movimento de sites, blogs é muito irreverente. A ideia do Barão é agregar essas pessoas, os vários movimentos sociais, agregar as entidades que lutam pela democratização da comunicação, as várias publicações, sites, revistas, jornais que têm um papel contra-hegemônico. E agregar pessoas que têm tido um papel importante na denúncia dessa mídia golpista. Pessoas como Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Leandro Fortes, Maria Inês Nassif, Luis Carlos Azenha, Rodrigo Viana etc.
São pessoas que têm tido uma contribuição muito grande para estimular o senso crítico, um jornalismo mais crítico. O Barão procura agregar tudo isso. Para quê? Basicamente para quatro coisas: contribuir para o fortalecimento da luta pela democratização da comunicação; contribuir para o fortalecimento das mídias alternativas já existentes ou por existir - como blogs, sites, rádios comunitárias, TVs comunitárias, TVs públicas etc. -; e ajudar na formação dessa galera. Aprendo com ela, pois não há teoria pronta para isso. No intercâmbio vamos construir uma formação, desde o jornalista que está na faculdade — que está sendo formado para ser William Bonner e Fátima Bernardes da vida, mas que poderia ter um senso crítico maior — até a pessoa que está fazendo radiodifusão comunitária, jornal sindical, jornal de bairro.
A idéia é ajudar na pesquisa, no estudo, tentar entender mais o que ocorre com a mídia não apenas no sentido do reativo. Essa mídia que está aí é a nossa crítica, mas estudar principalmente o que está pintando de novo, porque há muita coisa nova. Alguns autores até chamam de nova mídia. Então, tentar entender o que está acontecendo e potencializar isso.
Você diria que o Barão é resultado dessa ressaca da mídia dominante, depois daquela investida feroz, golpista contra o governo Lula?
Para mim, ele é resultado de duas coisas. Do desmascaramento e da ressaca dessa mídia que está aí, com sua overdose de manipulação e golpismo, de preconceito, de pensamento único. E é resultado não apenas da constatação, não apenas da ressaca, mas da reação a essa overdose. É resultado da crítica e do movimento. Da crítica a essa mídia que está aí e do movimento que vem sendo feito principalmente nesse último período por democratização da comunicação no Brasil. A meu ver, são essas duas coisas.
Você acha que a mídia, depois dessa invertida na tentativa frustrada de golpe contra o governo Lula, tem força nestas eleições?
A meu ver, tem. Para mim, a mídia perdeu força. Hoje ela é mais vulnerável. Mais vulnerável basicamente por três razões. Primeiro pela própria mudança tecnológica. O velho Marx tinha razão, porque quando as forças produtivas se mexem outras coisas se movem. O fato de haver alterações profundas na base tecnológica da comunicação, como a internet, fragilizou essa mídia. Vê-se uma queda de tiragem de jornais. Isso não apenas no Brasil.
No Brasil chama a atenção o fato de a Folha de S.Paulo, que na década de 1980 tinha uma tiragem de 1.000.000 /1.100 milhão exemplares aos domingos, hoje ter 300 mil. É um negócio impressionante. O mesmo se dá com o Estadão, com O Globo, com o Correio Brasiliense. Porque houve uma migração dessa mídia impressa para a mídia virtual, para a internet. Isso ocorre não só a mídia impressa. Mesmo a televisão está perdendo audiência. Esse é um fenômeno que se verifica nos Estados Unidos, na Europa, e começa a se verificar no Brasil. As pessoas estão saindo da TV, que é uma coisa unidirecional: o sujeito está lá, sentado no sofá, e ouve todas as abobrinhas ditas. A pessoa é passiva. Já a internet que é mais interativa. A pessoa pode escrever, colocar o filme dela, a foto.
Acho que na crise dessa mídia tradicional tem como primeira razão a questão tecnológica. A segunda é a crise de credibilidade – que Emir Sader chama de crise moral –, porque essa mídia vem se desgastando no Brasil e no mundo. Veja nos EUA, onde se destacou a capacidade de manipulação da mídia na preparação da invasão do Iraque. Tudo o que se disse sobre armas químicas e bacteriológicas era papo furado, era mentira do Bush que a mídia amplificou. O único jornal que reconheceu isso foi o The New York Times — embora timidamente.
Fico imaginando na Venezuela, onde houve um golpe que foi orquestrado pela mídia. O próprio Chávez chama de golpe midiático. Aquele povo não acredita muito na mídia, não chora de amores pela RCTV, que teve a outorga cancelada recentemente. E nem pela Globovisión, com seu dono metido em corrupção. Outro exemplo é a Bolívia, onde quase 90% das notícias na campanha eleitoral, na vitória de Morales, foram contra ele. Ou no Brasil. Há uma crise de credibilidade.
Acho que um terceiro fator é o crescimento de uma consciência crítica, que se materializa até em mudanças legislativas. Têm ocorrido mudanças importantes na Venezuela, no Uruguai, na Argentina, na Nicarágua, em El Salvador, Equador, na Bolívia etc. Portanto, começa a ter não só perda de credibilidade, mas começa a se pensar em alternativas. Políticas públicas, regulamentação. Por isso, acho que essa mídia está em crise. Mas não acho que essa crise tire o poder da mídia. Ela ainda tem ainda muita capacidade de interferir na sociedade.
Há a tese de que acabou-se aquela história da pedra na lagoa que bate e se expande. As redes estariam superando esse efeito. Mas não superam a TV Globo. A TV Globo tem um poder monstruoso. Pegue pela Copa. Nas ruas o povo repete a argumentação da Globo. O Dunga – e olha que eu não gosto do Dunga, acho um técnico retranqueiro – é o vilão e a Globo, coitadinha, a vítima. A televisão ainda tem um papel fenomenal. Os jornais têm um papel fenomenal. A revista Veja, com 1 milhão de exemplares para a classe média, faz a cabeça. Acho que a mídia está mais vulnerável, mas não significa que ela perdeu o seu papel.
Existe uma pesquisa do Vox Populi que mostra que, em 2006, se não fosse o papel da Globo a eleição teria sido decidida no primeiro turno. Aquela onda que a Globo fez nos dois últimos dias, com os tais dos aloprados com pacotes de dinheiro, fez com que 6% do eleitorado se movessem. Foi o que garantiu o segundo turno. Por isso, acho que ela ainda tem muito poder. Às vezes o pessoal brinca que a mídia está na UTI. Nada, a mídia para ir para a UTI ainda vai demorar um bocado.
Você vê um componente ideológico nesses movimentos, baseado no fato de que o sistema norte-americano vai mais para a direita e desperta seu contraponto?
Gramsci, uma figura interessante, ao estudar mais essas chamadas sociedades complexas do Ocidente, como ficou a terminologia, estudou a questão da luta ideológica, o papel da hegemonia. E Gramsci, já nas décadas de 1920 e 1930, disse que quando as instituições da burguesia entram em crise a imprensa – não era a mídia – ocupa o papel do partido da classe dominante, ocupa o papel do partido do capital. Hoje, as instituições burguesas estão com dificuldades de administrar esse mundo cada vez mais sob a hegemonia do capital financeiro, cada vez mais desregulado. Há uma crise dessas instituições e a imprensa passa a ocupar o papel mais proeminente na sociedade.
Não quer dizer que ela não ocupasse isso no passado. Ela já ocupava. Se pegarmos a história do Brasil, o papel da imprensa foi decisivo. Veja o papel do Estadão na época de Canudos. Peguemos fatos mais recentes, de 60 anos para cá – no governo Getúlio Vargas, por exmplo, no governo do Juscelino Kubitschek. Ou o fato dramático que foi o golpe de 1964. Quem ajudou a preparar o golpe de 1964 foi a imprensa. Inclusive, certos chavões ditos hoje são mesmos daquela época. Eles não têm nem criatividade para mudá-los. A história de república sindical que a revista Época recentemente usou tem as mesmas terminologias.
Há um estudo impressionante de um pesquisador da Fundação Getúlio Vargas sobre o papel que a imprensa teve na Constituinte. Como ela foi moldando a Constituinte. Lembremos o papel que a imprensa teve na campanha das diretas, na eleição de Collor. Acho que cada vez mais ela vai por uma confluência, porque adquiriu maior poder econômico. O o setor de comunicação e de telecomunicação é um dos setores que mais cresce na economia mundial. Isso decorre da fragilidade, da crise vivida pelo capital. A mpidia passa a ocupar o papel de partido do capital de forma mais proeminente. E o partido do capital, na situação do mundo atual, tem uma marca reacionária muito forte.
O capital vai contra a humanidade. Esse sistema é contra a humanidade. Portanto, para se expressar a hegemonia desse sistema é preciso ter uma atitude cada vez mais reacionária. Há duas tendências na mídia que não se revertem a não ser com rupturas. Uma é concentração e a outra a maior capacidade de manipulação. São duas tendências: concentração e direitização. Cada vez mais ela é concentrada e cada vez com posições mais à direita. Lógico, com contradições. Não dá para ter uma visão também fechada, totalmente blocada.
No Brasil já temos uma concentração histórica. Você falou do golpe de 1964. No pós-golpe de 1964 começou a montagem desses grupos poderosos...
Já havia concentração antes. Porque temos problemas na legislação brasileira e na tradição brasileira. Na Europa, por exemplo, principalmente no pós-Segunda Guerra Mundial, enfrentou-se o papel que a imprensa teve no surgimento do nazi-fascismo. Estudou-se uma forma de democratizar a comunicação, de quebrar aqueles monopólios que foram incentivadores ou cúmplices do nazi-fascismo. Surgiu então a rede pública, como a BBC de Londres, que vem da resistência ao nazi-fascismo. Surgem também TVs públicas na França, na Itália. Mesmo nos EUA há uma rede pública com certa força.
No Brasil, nunca tivemos uma rede pública. Getúlio tenta montar uma, por meio da Rádio Nacional, mas não prosperou. Esse é um problema da mídia brasileira, só há o setor privado. Agora é que estão começando os primeiros passos da montagem de uma rede pública com a da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Então.
Um segundo problema é que nunca houve regulamentação desse setor no Brasil. Há regulamentação nessa área de mídia em várias partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, o órgão regulamentador é forte — existem mais de 100 cassações e outorgas de TV e rádio por desrespeito à lei, à Constituição. No Brasil, sem nenhuma regulamentação o início da concentração começou cedo. O caso mais famoso é o de Assis Chateaubriand com os Diários Associados. Foi um baita império midiático. Com vários jornais, depois rádios. A biografia dele escrita pelo Fernando Morais é muito interessante. Ele era um chantagista, um mercenário da mídia.
A Globo, esse império, foi construída com o apoio da ditadura militar. Esse império só existiu por causa da ditadura militar, que permitou acordos lesivos, acordos contrários à legislação. O nascimento da TV Globo em aliança com uma empresa estadunidense, a Time Life, era proibido mas foi permitido. A Globo cresceu à sombra do regime militar. Aí é que ela se transforma num grande império. Hoje é isso, há sete famílias que dominam a mídia brasileira. É um negócio impressionante. São sete famílias.
Como essas famílias se realcionavam com o Estado? Temos exemplos mais recentes, como o caso das famosas concessões do ex-ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (ACM).
A isso o professor Vinicius Lima chama de coronelismo eletrônico. Há o coronelismo do campo brasileiro e o coronelismo eletrônico. Tudo numa relação de promiscuidade, patrimonialismo com Estado, concessões, apoios. Então, vão sendo constituídos esses grandes grupos por meio de negociatas políticas. E essas grandes empresas passaram a ter um papel no Estado brasileiro. Basta pegar os ministros de Comunicação e, então, pode-se ver quem são. São pessoas vinculadas a essa área, que conta com muito poder. E aí funciona esse mecanismo de coronelismo, de troca de favores, de patriomonialismo.
É uma relação de promiscuidade muito grande. E desrespeitosa inclusive em relação à Constituição e às leis. Porque a legislação brasileira é taxativa: detentor de cargo público não pode ter meios de comunicação. Muito simples, coloca-se um fantasma, coloca-se um parente, mas continua tendo. Não era o ACM o dono da TV Bahia, mas a mulher dele. A mesma coisa com relação ao Sarney. Não é ele, mas o filho dele. E por aí vai. Vai sendo montado todo um esquema de promiscuidade pública e privada, de patrimonialismo mesmo. O que dá uma grande força a esses grupos.
O Luis Nassif usou o termo gangsterismo ao se referir a Otávio Frias, da Folha. Depois dessa ofensiva golpista alguns veículos até recuaram porque se desmoralizaram, mas a Folha e a Veja se mantêm na ofensiva. Você vê aí também gangsterismo?
Acho que são grupos com oscilações em determinados períodos históricos. Por exemplo, a Folha apoiou o golpe, apoiou o setor linha dura da ditadura na época do velho Frias. Não só apoiou escrevendo, chamando de terroristas, justificando assassinatos, como ajudou na logística –, cedeu carros de transporte de jornal para o serviço de repressão.
Quando ela percebe que o regime militar estava se fragilizando e não servia mais, teve uma oscilação ao desemmpenhar papel importantíssimo na luta pelas Diretas. Não dá para desconhecer isso. Lembra daquela capa histórica da campanha das Diretas na Catedral da Sé? A Folha quase foi um jornal da campanha das Diretas. A burguesia é muito hábil, tem flexibilidade. Às vezes a esquerda tem dificuldade de se flexibilizar, a direita se flexibiliza.
A Veja já foi o contrário. Ela nasce como uma revista de oposição. Com Mino Carta e outras figuras como Raimundo Pereira e Pedro de Oliveira. A Veja nasceu como uma revista de resistência. Depois vai se amoldando. Mas acho que ela nunca perdem o seu referencial de classe. Eles têm referencial de classe. Às vezes nós não temos muito. Eles têm. Eles não se iludem. Eles têm um projeto.
Acho que no caso do governo Lula, essa turma tem muito referencial de classe. Percebe o seguinte: no governo Lula, mesmo não enfrentando os problemas estruturais do país, eles batem sem dó. A Veja não perde o referencial de classe. Ela percebe que isso é um processo que pode, em perspectiva, colocar em perigo os seus projetos de classe. O Nassif fala isso porque ele sentiu na carne. Ele fala: com o governo Lula esse setor muda, assume a posição de gangster mesmo. Aí não tem mais conversa, é uma posição de classe. O governo Lula é um perigo.
Estão com mais medo ainda da Dilma. Eles têm mais medo dela porque falam, com faz o Jabbour, que Lula pelo menos é um conciliador que conseguiu afastar os “bolcheviques” e “jacobinos”. Já a Dilma talvez não consiga. Então, esse setor tem muito medo disso. É um problema de classe. Assume uma posição de gangster mesmo. Não tem conversa e vai para metralhar. Acho que a Folha e o Estadão têm demonstrado isso.
A meu ver, outros são mais hábeis, mas também na hora do vamos ver eles se juntam. A Globo sabe pressionar, obter determinadas benesses e dar uma recuadinha para depois pressionar novamente. O episódio da Petrobras é ótimo nesse sentido. A Globo obrigou os partidos de direita a entrar na CPI. Os tucanos e os demos não tinham muito interesse em entrar na briga contra a Petrobras. Quem pautou a direita para entrar na CPI foi a mídia.
Quando essa mesma mídia conseguiu o que queria — basta ver o número de anúncios como aumentou —, a mídia tirou o time de campo. Tanto é que o Rodrigo Maia (presidente do DEM) reclamou: “Nos deixaram pendurados”. É deixou mesmo. A mídia tem uma componente pragmática, mercenária, muito forte. Isso ela aprendeu com Chateaubriand. Aí não é gangsterismo, é algo de jogador de carteado.
A TV Globo parecia que tinha adotado um comportamento mais neutro em 2004, 2005, até 2006. Na hora de dar o bote, quem forçou o segundo turno foi a rede Globo. Não foi a Veja ou a Folha. Então, acho que essa turma não perde a oportunidade. A Maria Inês Nassif, do jornal Valor Econômico, diz isso na dissertação de mestrado dela: o governo Lula forçou um posicionamento mais explícito dessa mídia. Alguns, de forma gangsterista outros de forma mais habilidosa. Mas, a meu ver, no conjunto é um projeto de classe.
Como você vê a ação desse conjunto na campanha eleitoral?
Acho que a mídia alternativa não ganha eleição. Não foi a internet que ganhou as eleições em 2006. E não será a internet, pelo lado progressista, que vai ganhar as eleições de 2010. O que ganha a eleição são as mudanças no Brasil. O que ganha, mais do que a internet, é o Bolsa Família, o Luz para Todos, é o país crescendo, o salário-mínimo valorizado, o emprego.
Não foi a internet, nem blogs e sites progressistas que evitaram a manipulação da mídia e que garantiram a reeleição de Lula em 2006. Acho que aí seria muita presunção de nossa parte. Até porque a internet atinge uma parte pequena da população. Atinge 22%, 23%. A mídia alternativa, a meu ver, tem o papel de fazer a disputa com setores formadores de opinião. Ela tem o papel de municiar o debate de ideias. Ela consegue às vezes reverter determinadas coisas. Veja um episódio recente que, em minha opinião, foi extremamente educativo, sintomático: aquela história do clipping de 45 anos da TV Globo. Aquilo foi impressionante.
Ela fez um clipping e, por mera coincidência, era a cara do PSDB. Era o slogan de campanha do PSDB: O Brasil pode mais. Com a cor azul do PSDB e, por acaso, 45 anos, o número da legenda do PSDB. Houve um bombardeio na internet, rapidamente eles sondaram o TSE, perceberam que ia dar processo e recuaram. Se não houvesse aquela gritaria na internet, possivelmente a campanha durasse um pouco mais. A tendência é de que cada vez mais cresça esse papel. Porque a mídia se democratiza à medida que a sociedade se democratiza.
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Dilma pode ganhar no primeiro turno
Reproduzo artigo de Mauricio Dias, publicado no síto da CartaCapital:
Os três mais importantes institutos de pesquisa do País acertaram os ponteiros: Dilma Rousseff está à frente na corrida presidencial e, mais que isso, projeta a possibilidade de resolver a eleição já no primeiro turno.
Nas últimas duas semanas, a intenção de voto projetada pelo Vox Populi, Ibope e Sensus indica o crescimento da candidata do PT e, por outro lado, mostra a estagnação ou queda nos índices do candidato do PSDB.
A pergunta, então, irrompe contra as vontades estabelecidas: a eleição pode mesmo terminar no primeiro turno com a vitória de Dilma?
O colunista conversou com João Francisco Meira, do Vox Populi, Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, e Ricardo Guedes, do Sensus. Todos responderam “sim”, com maior ou menor ênfase.
Em março, durante reunião da Associação Brasileira de Pesquisas, Meira abalou a estabilidade bem comportada da reunião e anunciou que vários fatores projetavam a possibilidade de a candidata do PT se eleger no primeiro turno.
Ele agora consolida a posição: “Dilma pode ganhar no primeiro turno. Os fatores que informam a decisão do eleitor a favorecem amplamente. Eles existem há longo tempo e estão se consolidando de tal maneira que somente uma mudança radical alteraria isso. São cinco esses fatores: a satisfação da sociedade com a situação econômica; a satisfação com o governo; a admiração pelo presidente da República; a identidade partidária; e o tempo de antena, ou seja, a influência do rádio e da televisão na campanha eleitoral.
Para ele, o favoritismo de Dilma tirou até mesmo a competitividade da eleição.
Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, fala abertamente, pela primeira vez, sobre a possibilidade de a eleição ser decidida em um turno só e a favor de Dilma.
“A eleição pode terminar no primeiro turno. Mas essa resposta só pode ser dada com mais segurança duas semanas após o início do horário eleitoral. Os programas de rádio e televisão, além dos debates, com a repercussão que geram, podem provocar mudanças.
A possibilidade de Dilma vencer no primeiro turno existe. Ela está com todos os indicadores em alta e os resultados de intenção de voto nela no Sudeste são fundamentais para isso.
A virada em Minas, onde ela passou a ter 10 pontos de frente; a diferença de 19 pontos que abriu no Rio e, finalmente, a redução da vantagem que Serra tinha em São Paulo, que já foi de 25 pontos e hoje é de 11 pontos. “Isso pode determinar a vitória dela já no primeiro turno”, afirma Montenegro.
Ricardo Guedes, que divulgou nova pesquisa com Dilma 10 pontos à frente de Serra, diz que a hipótese de a petista vencer no primeiro turno “não pode mais ser desconsiderada”.
Guedes aponta um número fortíssimo da pesquisa nessa direção: ela tem 48,5% dos votos válidos. Muito próximo dos 50% (mais 1 voto) que decretariam a vitória no primeiro turno.
O representante do Sensus não acredita que o rádio e a televisão possam alterar essa tendência. Ao contrário, considera que o horário eleitoral aumentará a possibilidade de Dilma. E explica a razão: “O que hoje os eleitores do Sul e do Norte, do Leste, Oeste e Centro-Oeste conhecem em parte eles conhecerão na totalidade. Eu me refiro aos feitos de uma administração com aprovação extremamente elevada”.
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Os três mais importantes institutos de pesquisa do País acertaram os ponteiros: Dilma Rousseff está à frente na corrida presidencial e, mais que isso, projeta a possibilidade de resolver a eleição já no primeiro turno.
Nas últimas duas semanas, a intenção de voto projetada pelo Vox Populi, Ibope e Sensus indica o crescimento da candidata do PT e, por outro lado, mostra a estagnação ou queda nos índices do candidato do PSDB.
A pergunta, então, irrompe contra as vontades estabelecidas: a eleição pode mesmo terminar no primeiro turno com a vitória de Dilma?
O colunista conversou com João Francisco Meira, do Vox Populi, Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, e Ricardo Guedes, do Sensus. Todos responderam “sim”, com maior ou menor ênfase.
Em março, durante reunião da Associação Brasileira de Pesquisas, Meira abalou a estabilidade bem comportada da reunião e anunciou que vários fatores projetavam a possibilidade de a candidata do PT se eleger no primeiro turno.
Ele agora consolida a posição: “Dilma pode ganhar no primeiro turno. Os fatores que informam a decisão do eleitor a favorecem amplamente. Eles existem há longo tempo e estão se consolidando de tal maneira que somente uma mudança radical alteraria isso. São cinco esses fatores: a satisfação da sociedade com a situação econômica; a satisfação com o governo; a admiração pelo presidente da República; a identidade partidária; e o tempo de antena, ou seja, a influência do rádio e da televisão na campanha eleitoral.
Para ele, o favoritismo de Dilma tirou até mesmo a competitividade da eleição.
Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, fala abertamente, pela primeira vez, sobre a possibilidade de a eleição ser decidida em um turno só e a favor de Dilma.
“A eleição pode terminar no primeiro turno. Mas essa resposta só pode ser dada com mais segurança duas semanas após o início do horário eleitoral. Os programas de rádio e televisão, além dos debates, com a repercussão que geram, podem provocar mudanças.
A possibilidade de Dilma vencer no primeiro turno existe. Ela está com todos os indicadores em alta e os resultados de intenção de voto nela no Sudeste são fundamentais para isso.
A virada em Minas, onde ela passou a ter 10 pontos de frente; a diferença de 19 pontos que abriu no Rio e, finalmente, a redução da vantagem que Serra tinha em São Paulo, que já foi de 25 pontos e hoje é de 11 pontos. “Isso pode determinar a vitória dela já no primeiro turno”, afirma Montenegro.
Ricardo Guedes, que divulgou nova pesquisa com Dilma 10 pontos à frente de Serra, diz que a hipótese de a petista vencer no primeiro turno “não pode mais ser desconsiderada”.
Guedes aponta um número fortíssimo da pesquisa nessa direção: ela tem 48,5% dos votos válidos. Muito próximo dos 50% (mais 1 voto) que decretariam a vitória no primeiro turno.
O representante do Sensus não acredita que o rádio e a televisão possam alterar essa tendência. Ao contrário, considera que o horário eleitoral aumentará a possibilidade de Dilma. E explica a razão: “O que hoje os eleitores do Sul e do Norte, do Leste, Oeste e Centro-Oeste conhecem em parte eles conhecerão na totalidade. Eu me refiro aos feitos de uma administração com aprovação extremamente elevada”.
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Quem venceu o debate da Band?
Reproduzo análise de Cláudio Gonzalez, publicada no sítio Vermelho:
O primeiro debate entre os candidatos às eleições presidenciais de 2010, ocorrido na noite desta quinta-feira (5) na TV Bandeirantes, confirmou um prognóstico feito pelo presidente Lula: o de que a oposição perderia seu último trunfo ao apostar num desempenho ruim da candidata petista Dilma Rousseff. Ao contrário do que previam a oposição e setores da mídia, Dilma, apesar do nervosismo típico de estreante, foi bem, e, assim, ajudou a desmontar mais uma lenda criada pelos oposicionistas.
Primeiro debate entre os quatro principais presidenciáveis teve pouca audiência e não abordou grandes polêmicas, mas serviu para testar cada um dos candidatos. Antes da campanha começar, os adversários da ex-ministra espalhavam, sobretudo em blogs na internet, que Serra iria “estralhaçar” Dilma nos debates. Definitivamente, o tucano não chegou nem perto desse objetivo.
Baixa audiência
O debate da Band é o primeiro de uma série de quatro eventos do mesmo gênero que devem ocorrer na TV aberta. Os outros três debates do primeiro turno devem ser os da RedeTV (12 de setembro), Record (28 de agosto) e Globo (30 de agosto).
Concorrendo com a semifinal da Copa Libertadores, o debate da Bandeirantes patinou na audiência. Durante as mais de duas horas de transmissão do confronto entre os candidatos, a emissora alcançou, no máximo, 5,5 pontos de audiência, empatando em quarto lugar com a Rede TV!. Na média, a audiência do debate ficou bem abaixo disso: 1,8 a 1,9 pontos. A Globo, que transmitiu o jogo entre São Paulo e Inter teve uma média de 36,9 pontos. A média da Record foi de 7,4, segundo levantamento Ibope. Os números consolidados devem ser divulgados na manhã de hoje.
O debate foi mediado pelo jornalista Ricardo Boechat. No total, 210 jornalistas compareceram para cobrir o evento, que também foi transmitido ao vivo pela Rádio Bandeirantes e teve cobertura online em vários portais e redes sociais.
Acompanharam os presidenciáveis no primeiro debate: Indio da Costa (DEM), candidato a vice na chapa de José Serra, Michel Temer (PMDB), vice de Dilma Rousseff, Guilherme Leal (PV), vice de Marina Silva, José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT, Sérgio Guerra, presidente do PSDB; a primeira-dama Marisa Letícia, esposa do presidente Lula; os candidatos paulistas Geraldo Alckmin, Aloísio Mercadante, Aloysio Nunes, Orestes Quércia, Netinho de Paula, Marta Suplicy, e o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, entre outros.
Oportunidade perdida para Serra
Serra entrou no debate com a missão de vencer e comprovar que sua "experiência" faria a diferença. Mas não deu muito certo. Pelo contrário, o tucano mostrou-se perdido em vários momentos, fugiu de polêmicas, não teve coragem de repetir os ataques à sua principal adversária como vinha fazendo dias antes e mostrou menos “conteúdo” do que seus aliados esperavam. A comprovação de que as coisas não foram muito felizes para a oposição pode ser medida pela reação do marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez, que saiu dos estúdios da Band com cara de poucos amigos.
Por mais que seus apoiadores entupam a internet com “avaliações” que tentam desqualificar a oratória de Dilma e enaltecer o “preparo” de Serra, foi o tucano quem protagonizou mais momentos constrangedores durante o debate. Por duas vezes, Serra teve que pedir que repetissem a pergunta para ele, pois não estava prestando atenção. Ficou circulando de um lado para outro (as câmeras não mostraram, mas na internet a informação foi muito enfatizada), esqueceu o que estava dizendo em dois momentos e ao elencar três órgãos do corpo humano que representariam os temas educação, saúde e segurança, escolheu o “intestino” para representar um deles.
Tanto Dilma quanto Serra extrapolaram no tempo de algumas respostas e tiveram o áudio de seus microfones cortados.
Treinamentos melhoraram desempenho de Dilma
Elegante, com uma blusa branca rendada, Dilma chegou sorridente aos estúdios da Band e saiu um pouco apreensiva, mas revelando confiança no próprio desempenho.
A candidata petista entrou no primeiro debate eleitoral de sua vida sem o compromisso de “vencer” o confronto. O comando da campanha esperava dela, apenas, que não cometesse erros graves. E ela cumpriu este objetivo. Não brilhou, como gostariam alguns de seus apoiadores. Atrapalhou-se em algumas respostas, mas certamente saiu do debate maior do que entrou.
Dilma dedicou-se, nos últimos dias, a se preparar para o evento. Revisou informações e números do governo, teve aulas de oratória e, com isso, conseguiu superar sua conhecida dificuldade de falar em público. Quem já teve a oportunidade de ver a performance sofrível de Dilma em eventos públicos pré-campanha sabe que no debate desta quinta-feira a ex-ministra se superou e melhorou bastante. Apesar do nervosismo visível, não deixou pergunta sem resposta, apresentou dados concretos, foi feliz na defesa das conquistas do governo Lula e na demonstração de que continuará sua obra. Transmitiu confiança na determinação de combater a pobreza e fomentar o progresso do Brasil. E, o mais importante, soube explorar bandeiras e temas que são do interesse da maioria dos brasileiros como emprego, direitos sociais, Luz para Todos, defesa do SUS, agricultura familiar.
Nas declarações finais, Dilma fez um discurso bem construído, enfático e levemente emocional, como recomendam os especialistas em marketing político. Lembrou de mencionar o protagonismo das mulheres na política e enalteceu as mudanças promovidas pelo governo Lula.
Plínio acende, Marina apaga
Os outros participantes do debate, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Marina Silva (PV) cumpriram o papel que parece estar destinado a eles nestas eleições: o de coadjuvantes numa disputa plebiscitária entre o campo progressista representado por Dilma e pelo atual governo e o campo da direita, representado por Serra e pela aliança demo-tucana que governou o país durante os dois mandatos de FHC.
Sem ter nada a perder, o candidato do PSOL soltou-se. Logo no início, questionou o isolamento que a mídia promove contra os candidatos de pequenos partidos. Com uma postura despojada e tiradas irônicas, Plínio conseguiu aparecer, agradou ao público jovem que acompanhava o debate pela internet e seu nome acabou alçado ao Trending Topics do Twitter. Plínio foi responsável pelos poucos momentos divertidos do debate, como quando chamou Marina de “ecocapitalista” e José Serra de “hipocondríaco”. Mas se o despojamento trazido por Plínio neste primeiro debate soou como novidade e trouxe alguma graça ao tom morno do encontro, não se pode garantir que nos próximos debates, esta postura continuará agradando. Ela não será mais novidade e se exagerar no tom seu comportamento pode acabar sendo interpretado como grosseiro e arrogante, traços de personalidade que os eleitores rejeitam fortemente. Seja como for, o radicalismo de sua plataforma de governo deve barrar qualquer chance do candidato do PSOL deslanchar nas pesquisas ou mesmo alcançar o patamar conquistado por Heloisa Helena em 2006.
Marina Silva, por sua vez, manteve uma postura acanhada, conciliadora demais –tentando agradar governo e oposição-- o que não permitiu que ela se destacasse no debate. Em alguns momentos, a candidata do PV serviu apenas de ponte para uma tabelinha amistosa com Dilma e Serra e, para surpresa de muitos, Marina acabou travando embate mais ríspido com Plínio, do PSOL, partido que, no início da corrida eleitoral cogitou apoiar a senadora acriana.
Utilizando um discurso muito protocolar, cansativo, e abordando temas de pouco interesse geral, a ex-ministra do Meio Ambiente não empolgou e caso mantenha essa toada será muito difícil para ela alcançar o objetivo de se transformar numa “terceira via” competitiva nestas eleições.
Grandes temas ficaram de fora
A primeira pergunta feita aos candidatos envolvia temas sugeridos pelos eleitores através da internet e versava sobre educação, saúde e segurança. Acabaram sendo os temas principais de todo o debate. Outros pontos agregados a estes e que ganharam algum destaque foram emprego, desenvolvimento industrial e reforma agrária.
“Foi um debate morno que versou sobre temas corriqueiros. As regras engessadas não favoreciam a luta de ideias. Parecia um debate de candidatos a prefeitos. As grandes questões nacionais não apareceram, não houve polêmicas sobre as questões de fundo da sociedade brasileira, não ficaram nitidamente demarcadas as ideais-força da campanha”, opinou José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de Comunicação do PCdoB, após o debate.
SUS x mutirões / APAE x professores / Latifúndio x agricultura familiar
O que mais se aproximou de uma grande polêmica durante o debate foi a discussão travada entre Serra e Dilma a respeito da saúde. Enquanto Dilma reafirmou diversas vezes que irá fortalecer o SUS –bandeira primordial do movimento de Saúde—Serra ficou insistindo na questão dos mutirões de saúde.
O tucano também insistiu bastante no suposto abandono das Apaes pelo governo federal, um tema de interesse restrito. Dilma rebateu o argumento do tucano e ao falar de educação deu ênfase à necessidade de investir nos professores, abrangendo um público bem mais amplo.
A petista também conseguiu encostar o adversário na parede ao tratar da geração de empregos. Mas Dilma perdeu uma ótima oportunidade de desancar Serra quando surgiram no debate os temas privatizações e o legado de FHC. Neste quesito, Serra conseguiu tirar uma casquinha dolorida da campanha adversária ao lembrar que o petista Antonio Palocci, quando foi ministro da Fazenda, “não se cansava de elogiar a política econômica do governo Fernando Henrique”.
Por outro lado, o tucano se embananou ao responder sobre indústria naval e o programa Luz para Todos. Dilma incluiu estes dois assuntos no debate numa tentativa de arrancar de Serra a admissão de que o governo Lula avançou nestes temas. E conseguiu.
Dilma também conseguiu responder bem ao candidato do PSOL e a Serra quando enfatizou a importância da agricultura familiar ao abordar o tema da reforma agrária. Mas, por outro lado, não foi muito feliz ao responder as acusações de Serra sobre aparelhamento do governo e crise nos Correios. A petista poderia, neste momento, ter sido mais objetiva, mais incisiva e mostrar a hipocrisia dos tucanos que nunca deixaram de aparelhar as estruturas governamentais que administraram, além de terem sucateado empresas estratégicas para depois privatizá-las.
Nesta sexta-feira (6), haverá ampla repercussão do debate, com cada opinante tentando puxar a sardinha pro lado de seu candidato. Mas numa avaliação todos terão que concordar: Dilma revelou que não é o poste que a mídia e a oposição pintavam e Serra perdeu a oportunidade de se mostrar como “o mais preparado”.
Além disso, a partir de agora, cai por terra a acusação recorrente de que a candidata de Lula foge do debate. Dilma não fugiu deste, saiu maior do que entrou no primeiro confronto e espera-se que nos próximos debates os temas de maior relevância e polêmica deixem claro para os brasileiros quem é a representante do avanço e quem representa o atraso.
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O primeiro debate entre os candidatos às eleições presidenciais de 2010, ocorrido na noite desta quinta-feira (5) na TV Bandeirantes, confirmou um prognóstico feito pelo presidente Lula: o de que a oposição perderia seu último trunfo ao apostar num desempenho ruim da candidata petista Dilma Rousseff. Ao contrário do que previam a oposição e setores da mídia, Dilma, apesar do nervosismo típico de estreante, foi bem, e, assim, ajudou a desmontar mais uma lenda criada pelos oposicionistas.
Primeiro debate entre os quatro principais presidenciáveis teve pouca audiência e não abordou grandes polêmicas, mas serviu para testar cada um dos candidatos. Antes da campanha começar, os adversários da ex-ministra espalhavam, sobretudo em blogs na internet, que Serra iria “estralhaçar” Dilma nos debates. Definitivamente, o tucano não chegou nem perto desse objetivo.
Baixa audiência
O debate da Band é o primeiro de uma série de quatro eventos do mesmo gênero que devem ocorrer na TV aberta. Os outros três debates do primeiro turno devem ser os da RedeTV (12 de setembro), Record (28 de agosto) e Globo (30 de agosto).
Concorrendo com a semifinal da Copa Libertadores, o debate da Bandeirantes patinou na audiência. Durante as mais de duas horas de transmissão do confronto entre os candidatos, a emissora alcançou, no máximo, 5,5 pontos de audiência, empatando em quarto lugar com a Rede TV!. Na média, a audiência do debate ficou bem abaixo disso: 1,8 a 1,9 pontos. A Globo, que transmitiu o jogo entre São Paulo e Inter teve uma média de 36,9 pontos. A média da Record foi de 7,4, segundo levantamento Ibope. Os números consolidados devem ser divulgados na manhã de hoje.
O debate foi mediado pelo jornalista Ricardo Boechat. No total, 210 jornalistas compareceram para cobrir o evento, que também foi transmitido ao vivo pela Rádio Bandeirantes e teve cobertura online em vários portais e redes sociais.
Acompanharam os presidenciáveis no primeiro debate: Indio da Costa (DEM), candidato a vice na chapa de José Serra, Michel Temer (PMDB), vice de Dilma Rousseff, Guilherme Leal (PV), vice de Marina Silva, José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT, Sérgio Guerra, presidente do PSDB; a primeira-dama Marisa Letícia, esposa do presidente Lula; os candidatos paulistas Geraldo Alckmin, Aloísio Mercadante, Aloysio Nunes, Orestes Quércia, Netinho de Paula, Marta Suplicy, e o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, entre outros.
Oportunidade perdida para Serra
Serra entrou no debate com a missão de vencer e comprovar que sua "experiência" faria a diferença. Mas não deu muito certo. Pelo contrário, o tucano mostrou-se perdido em vários momentos, fugiu de polêmicas, não teve coragem de repetir os ataques à sua principal adversária como vinha fazendo dias antes e mostrou menos “conteúdo” do que seus aliados esperavam. A comprovação de que as coisas não foram muito felizes para a oposição pode ser medida pela reação do marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez, que saiu dos estúdios da Band com cara de poucos amigos.
Por mais que seus apoiadores entupam a internet com “avaliações” que tentam desqualificar a oratória de Dilma e enaltecer o “preparo” de Serra, foi o tucano quem protagonizou mais momentos constrangedores durante o debate. Por duas vezes, Serra teve que pedir que repetissem a pergunta para ele, pois não estava prestando atenção. Ficou circulando de um lado para outro (as câmeras não mostraram, mas na internet a informação foi muito enfatizada), esqueceu o que estava dizendo em dois momentos e ao elencar três órgãos do corpo humano que representariam os temas educação, saúde e segurança, escolheu o “intestino” para representar um deles.
Tanto Dilma quanto Serra extrapolaram no tempo de algumas respostas e tiveram o áudio de seus microfones cortados.
Treinamentos melhoraram desempenho de Dilma
Elegante, com uma blusa branca rendada, Dilma chegou sorridente aos estúdios da Band e saiu um pouco apreensiva, mas revelando confiança no próprio desempenho.
A candidata petista entrou no primeiro debate eleitoral de sua vida sem o compromisso de “vencer” o confronto. O comando da campanha esperava dela, apenas, que não cometesse erros graves. E ela cumpriu este objetivo. Não brilhou, como gostariam alguns de seus apoiadores. Atrapalhou-se em algumas respostas, mas certamente saiu do debate maior do que entrou.
Dilma dedicou-se, nos últimos dias, a se preparar para o evento. Revisou informações e números do governo, teve aulas de oratória e, com isso, conseguiu superar sua conhecida dificuldade de falar em público. Quem já teve a oportunidade de ver a performance sofrível de Dilma em eventos públicos pré-campanha sabe que no debate desta quinta-feira a ex-ministra se superou e melhorou bastante. Apesar do nervosismo visível, não deixou pergunta sem resposta, apresentou dados concretos, foi feliz na defesa das conquistas do governo Lula e na demonstração de que continuará sua obra. Transmitiu confiança na determinação de combater a pobreza e fomentar o progresso do Brasil. E, o mais importante, soube explorar bandeiras e temas que são do interesse da maioria dos brasileiros como emprego, direitos sociais, Luz para Todos, defesa do SUS, agricultura familiar.
Nas declarações finais, Dilma fez um discurso bem construído, enfático e levemente emocional, como recomendam os especialistas em marketing político. Lembrou de mencionar o protagonismo das mulheres na política e enalteceu as mudanças promovidas pelo governo Lula.
Plínio acende, Marina apaga
Os outros participantes do debate, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Marina Silva (PV) cumpriram o papel que parece estar destinado a eles nestas eleições: o de coadjuvantes numa disputa plebiscitária entre o campo progressista representado por Dilma e pelo atual governo e o campo da direita, representado por Serra e pela aliança demo-tucana que governou o país durante os dois mandatos de FHC.
Sem ter nada a perder, o candidato do PSOL soltou-se. Logo no início, questionou o isolamento que a mídia promove contra os candidatos de pequenos partidos. Com uma postura despojada e tiradas irônicas, Plínio conseguiu aparecer, agradou ao público jovem que acompanhava o debate pela internet e seu nome acabou alçado ao Trending Topics do Twitter. Plínio foi responsável pelos poucos momentos divertidos do debate, como quando chamou Marina de “ecocapitalista” e José Serra de “hipocondríaco”. Mas se o despojamento trazido por Plínio neste primeiro debate soou como novidade e trouxe alguma graça ao tom morno do encontro, não se pode garantir que nos próximos debates, esta postura continuará agradando. Ela não será mais novidade e se exagerar no tom seu comportamento pode acabar sendo interpretado como grosseiro e arrogante, traços de personalidade que os eleitores rejeitam fortemente. Seja como for, o radicalismo de sua plataforma de governo deve barrar qualquer chance do candidato do PSOL deslanchar nas pesquisas ou mesmo alcançar o patamar conquistado por Heloisa Helena em 2006.
Marina Silva, por sua vez, manteve uma postura acanhada, conciliadora demais –tentando agradar governo e oposição-- o que não permitiu que ela se destacasse no debate. Em alguns momentos, a candidata do PV serviu apenas de ponte para uma tabelinha amistosa com Dilma e Serra e, para surpresa de muitos, Marina acabou travando embate mais ríspido com Plínio, do PSOL, partido que, no início da corrida eleitoral cogitou apoiar a senadora acriana.
Utilizando um discurso muito protocolar, cansativo, e abordando temas de pouco interesse geral, a ex-ministra do Meio Ambiente não empolgou e caso mantenha essa toada será muito difícil para ela alcançar o objetivo de se transformar numa “terceira via” competitiva nestas eleições.
Grandes temas ficaram de fora
A primeira pergunta feita aos candidatos envolvia temas sugeridos pelos eleitores através da internet e versava sobre educação, saúde e segurança. Acabaram sendo os temas principais de todo o debate. Outros pontos agregados a estes e que ganharam algum destaque foram emprego, desenvolvimento industrial e reforma agrária.
“Foi um debate morno que versou sobre temas corriqueiros. As regras engessadas não favoreciam a luta de ideias. Parecia um debate de candidatos a prefeitos. As grandes questões nacionais não apareceram, não houve polêmicas sobre as questões de fundo da sociedade brasileira, não ficaram nitidamente demarcadas as ideais-força da campanha”, opinou José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de Comunicação do PCdoB, após o debate.
SUS x mutirões / APAE x professores / Latifúndio x agricultura familiar
O que mais se aproximou de uma grande polêmica durante o debate foi a discussão travada entre Serra e Dilma a respeito da saúde. Enquanto Dilma reafirmou diversas vezes que irá fortalecer o SUS –bandeira primordial do movimento de Saúde—Serra ficou insistindo na questão dos mutirões de saúde.
O tucano também insistiu bastante no suposto abandono das Apaes pelo governo federal, um tema de interesse restrito. Dilma rebateu o argumento do tucano e ao falar de educação deu ênfase à necessidade de investir nos professores, abrangendo um público bem mais amplo.
A petista também conseguiu encostar o adversário na parede ao tratar da geração de empregos. Mas Dilma perdeu uma ótima oportunidade de desancar Serra quando surgiram no debate os temas privatizações e o legado de FHC. Neste quesito, Serra conseguiu tirar uma casquinha dolorida da campanha adversária ao lembrar que o petista Antonio Palocci, quando foi ministro da Fazenda, “não se cansava de elogiar a política econômica do governo Fernando Henrique”.
Por outro lado, o tucano se embananou ao responder sobre indústria naval e o programa Luz para Todos. Dilma incluiu estes dois assuntos no debate numa tentativa de arrancar de Serra a admissão de que o governo Lula avançou nestes temas. E conseguiu.
Dilma também conseguiu responder bem ao candidato do PSOL e a Serra quando enfatizou a importância da agricultura familiar ao abordar o tema da reforma agrária. Mas, por outro lado, não foi muito feliz ao responder as acusações de Serra sobre aparelhamento do governo e crise nos Correios. A petista poderia, neste momento, ter sido mais objetiva, mais incisiva e mostrar a hipocrisia dos tucanos que nunca deixaram de aparelhar as estruturas governamentais que administraram, além de terem sucateado empresas estratégicas para depois privatizá-las.
Nesta sexta-feira (6), haverá ampla repercussão do debate, com cada opinante tentando puxar a sardinha pro lado de seu candidato. Mas numa avaliação todos terão que concordar: Dilma revelou que não é o poste que a mídia e a oposição pintavam e Serra perdeu a oportunidade de se mostrar como “o mais preparado”.
Além disso, a partir de agora, cai por terra a acusação recorrente de que a candidata de Lula foge do debate. Dilma não fugiu deste, saiu maior do que entrou no primeiro confronto e espera-se que nos próximos debates os temas de maior relevância e polêmica deixem claro para os brasileiros quem é a representante do avanço e quem representa o atraso.
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Governo financia as serpentes da mídia
Reproduzo entrevista concedida ao jornalista André Cintra e publicada no sítio Vermelho:
Na segunda parte de sua entrevista ao Vermelho, o jornalista Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, critica o boicote do Poder Público ao 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. “Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros”, cobra Miro, que é membro da Comissão Organizadora do Encontro.
“Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída”, afirma. “Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.”
Qual é a expectativa de público para o encontro?
As inscrições estão crescendo. Até a manhã desta segunda-feira (2), já eram 210 inscritos. Trabalhávamos com a ideia de 300 participantes, mas pode ocorrer um bom problema - que é estourar essa estimativa. Até agora, a notícia do encontro saiu nos blogs, e nós nem demos prazos de inscrição. Só agora fechamos uma data-limite, que é 13 de agosto, e brasileiro adora se inscrever no final do prazo.
Segunda coisa: a ideia é atingir a juventude, e só agora é que estão saindo os materiais de divulgação para as faculdades de jornalismo. A UJS (União da Juventude Socialista) se comprometeu a ajudar na panfletagem. O Barão de Itararé também tem o contato de sete faculdades de jornalismo de São Paulo. A Ivana Bentes, diretora de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), deu um toque hoje de que vai fazer esse agito por lá. Aqui em São Paulo, o Dennis Oliveira faz o agito na USP, e o Igor Fuser, na Cásper Líbero.
Além disso tudo, o estudante de jornalismo não precisa pagar nem meia-entrada - só a quinta. O valor da inscrição é de R$ 100, mas a turma foi muito boazinha com os estudantes, que pagam só R$ 20. Como as aulas estão retomando agora, ao mesmo tempo em que saem os banners e o hotsite do Encontro, acho que o público pode passar dos 300 participantes - e aí teremos um bom problema: o local previsto, o Sindicato dos Engenheiros, não comporta 300. Por isso é que já reservamos um outro local.
Por que o foco na juventude, nos estudantes?
É obrigação nossa levar essa discussão para as faculdades — que talvez não estejam muito antenadas com esse debate sobre a democratização das comunicações. A maior parte dos alunos quer se formar para ser William Bonner e Fátima Bernardes. Só que não há espaço para formar mil “Willians” e “Fátimas” por ano - a família Marinho já tem os dois.
Comunicação não é qualquer mercadoria. O jornalismo tem um compromisso ético, com a sociedade, e essa juventude é que vai fazer o jornalismo no futuro. Ou a gente chega às faculdades, ou a Globo vai chegar lá - ela até já tem cursos para isso. É preciso trabalhar com essa moçada, com a formação delas. Muita gente tem vontade e espírito positivo, quer contribuir com a informação, com o bom jornalismo. Precisamos acompanhá-las desde o início.
Quem financia o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas? Como funciona a promoção “Amigos da Blogosfera”?
Como esse encontro não tem o apoio institucional de nenhum governo, tivemos de ir atrás do apoio das entidades da sociedade civil. Criamos a cota de patrocínio - de R$ 3 mil por entidade. Até agora, estamos com 14 cotas — nosso objetivo é atingir 20. O que já temos de apoiadores são entidades sindicais e veículos de comunicação alternativa.
Entre os veículos, temos, por exemplo, Conversa Afiada, Vi o Mundo, Carta Maior, Revista Fórum e Revista do Brasil. Da área sindical, procuramos as seis centrais. Três já compraram cotas - CUT, CTB e CGTB. As outras ficaram de dar resposta. Outras entidades também entraram, como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é ligado à CUT, e a Federação dos Químicos de São Paulo, filiada à Força. Está bastante plural.
Saindo o hotsite do encontro, a ideia é abrir o “Amigos da Blogosfera”, para permitir contribuições individuais. Tem gente que já se inscreveu no Encontro e disse: “Além da minha inscrição, quero dar um a mais, um plus”.
A Comissão Organizadora pretende bancar todos os custos dos participantes?
Temos de garantir uma estrutura para essa turma participar. O objetivo do patrocínio é garantir hospedagem para todo mundo — ninguém vai dormir na sarjeta da Ipiranga com a São João. Queremos garantir também a refeição e, em caso excepcionais, a viagem do blogueiro para São Paulo - caso ele realmente não tenha como bancar essa despesa. Sabemos das dificuldades desse movimento.
Qual é a realidade da maioria dos blogueiros hoje?
A situação do blogueiro é muito complicada. Contam-se nos dedos de uma mão os blogs que já conseguiram uma estrutura de autossustentação. O blogueiro, o grosso deles, é um militante virtual. Mesmo estando com outro emprego ou não estando com emprego nenhum, ele faz desse espaço de expressão uma militância - e não recebe nada.
Pegue o caso do Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania. É um pequeno empresário que se preocupou com a manipulação da mídia e resolveu produzir textos. Além de não ganhar dinheiro com o blog, ele acaba é perdendo. Com o tempo que se dedica para fazer seus belos artigos, ele deixa de fazer negócios. É um ato de heroísmo e coragem. Ele é um puta militante, um baita militante.
Isso é um pouco da realidade. Tem blogueiro que está morando na casa de mãe, porque não tem grana. Tem blogueiro que está cheio de processo nas costas, como o menino de Santa Catarina que denunciou o filho do Sérgio Sirotsky, do grupo RBS, de ter cometido estupro.
Vocês ainda esperam alguma algum apoio do poder público para bancar o encontro?
Esperamos que, na próxima edição - no 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas -, o governo federal tome vergonha e veja que a blogosfera é uma forma de mídia. Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros.
Houve o encontro do Instituto Millenium (o reacionário Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, em São Paulo, no dia 1º de março). É uma entidade que só reúne empresários - o Basile, da Abril; os Marinho, da Globo; a Judith Brito, da Folha... Só estão lá os grandes, e eles têm apoio público. Por que os blogueiros - que também são cidadãos e pagam seus impostos - não podem ter apoio? É um absurdo.
Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída. Mas é que todos eles têm medo desse poder. Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.
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Na segunda parte de sua entrevista ao Vermelho, o jornalista Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, critica o boicote do Poder Público ao 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. “Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros”, cobra Miro, que é membro da Comissão Organizadora do Encontro.
“Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída”, afirma. “Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.”
Qual é a expectativa de público para o encontro?
As inscrições estão crescendo. Até a manhã desta segunda-feira (2), já eram 210 inscritos. Trabalhávamos com a ideia de 300 participantes, mas pode ocorrer um bom problema - que é estourar essa estimativa. Até agora, a notícia do encontro saiu nos blogs, e nós nem demos prazos de inscrição. Só agora fechamos uma data-limite, que é 13 de agosto, e brasileiro adora se inscrever no final do prazo.
Segunda coisa: a ideia é atingir a juventude, e só agora é que estão saindo os materiais de divulgação para as faculdades de jornalismo. A UJS (União da Juventude Socialista) se comprometeu a ajudar na panfletagem. O Barão de Itararé também tem o contato de sete faculdades de jornalismo de São Paulo. A Ivana Bentes, diretora de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), deu um toque hoje de que vai fazer esse agito por lá. Aqui em São Paulo, o Dennis Oliveira faz o agito na USP, e o Igor Fuser, na Cásper Líbero.
Além disso tudo, o estudante de jornalismo não precisa pagar nem meia-entrada - só a quinta. O valor da inscrição é de R$ 100, mas a turma foi muito boazinha com os estudantes, que pagam só R$ 20. Como as aulas estão retomando agora, ao mesmo tempo em que saem os banners e o hotsite do Encontro, acho que o público pode passar dos 300 participantes - e aí teremos um bom problema: o local previsto, o Sindicato dos Engenheiros, não comporta 300. Por isso é que já reservamos um outro local.
Por que o foco na juventude, nos estudantes?
É obrigação nossa levar essa discussão para as faculdades — que talvez não estejam muito antenadas com esse debate sobre a democratização das comunicações. A maior parte dos alunos quer se formar para ser William Bonner e Fátima Bernardes. Só que não há espaço para formar mil “Willians” e “Fátimas” por ano - a família Marinho já tem os dois.
Comunicação não é qualquer mercadoria. O jornalismo tem um compromisso ético, com a sociedade, e essa juventude é que vai fazer o jornalismo no futuro. Ou a gente chega às faculdades, ou a Globo vai chegar lá - ela até já tem cursos para isso. É preciso trabalhar com essa moçada, com a formação delas. Muita gente tem vontade e espírito positivo, quer contribuir com a informação, com o bom jornalismo. Precisamos acompanhá-las desde o início.
Quem financia o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas? Como funciona a promoção “Amigos da Blogosfera”?
Como esse encontro não tem o apoio institucional de nenhum governo, tivemos de ir atrás do apoio das entidades da sociedade civil. Criamos a cota de patrocínio - de R$ 3 mil por entidade. Até agora, estamos com 14 cotas — nosso objetivo é atingir 20. O que já temos de apoiadores são entidades sindicais e veículos de comunicação alternativa.
Entre os veículos, temos, por exemplo, Conversa Afiada, Vi o Mundo, Carta Maior, Revista Fórum e Revista do Brasil. Da área sindical, procuramos as seis centrais. Três já compraram cotas - CUT, CTB e CGTB. As outras ficaram de dar resposta. Outras entidades também entraram, como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é ligado à CUT, e a Federação dos Químicos de São Paulo, filiada à Força. Está bastante plural.
Saindo o hotsite do encontro, a ideia é abrir o “Amigos da Blogosfera”, para permitir contribuições individuais. Tem gente que já se inscreveu no Encontro e disse: “Além da minha inscrição, quero dar um a mais, um plus”.
A Comissão Organizadora pretende bancar todos os custos dos participantes?
Temos de garantir uma estrutura para essa turma participar. O objetivo do patrocínio é garantir hospedagem para todo mundo — ninguém vai dormir na sarjeta da Ipiranga com a São João. Queremos garantir também a refeição e, em caso excepcionais, a viagem do blogueiro para São Paulo - caso ele realmente não tenha como bancar essa despesa. Sabemos das dificuldades desse movimento.
Qual é a realidade da maioria dos blogueiros hoje?
A situação do blogueiro é muito complicada. Contam-se nos dedos de uma mão os blogs que já conseguiram uma estrutura de autossustentação. O blogueiro, o grosso deles, é um militante virtual. Mesmo estando com outro emprego ou não estando com emprego nenhum, ele faz desse espaço de expressão uma militância - e não recebe nada.
Pegue o caso do Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania. É um pequeno empresário que se preocupou com a manipulação da mídia e resolveu produzir textos. Além de não ganhar dinheiro com o blog, ele acaba é perdendo. Com o tempo que se dedica para fazer seus belos artigos, ele deixa de fazer negócios. É um ato de heroísmo e coragem. Ele é um puta militante, um baita militante.
Isso é um pouco da realidade. Tem blogueiro que está morando na casa de mãe, porque não tem grana. Tem blogueiro que está cheio de processo nas costas, como o menino de Santa Catarina que denunciou o filho do Sérgio Sirotsky, do grupo RBS, de ter cometido estupro.
Vocês ainda esperam alguma algum apoio do poder público para bancar o encontro?
Esperamos que, na próxima edição - no 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas -, o governo federal tome vergonha e veja que a blogosfera é uma forma de mídia. Da mesma forma como financia a Veja e a Globo - e geralmente se financiam serpentes -, o governo deve financiar um encontro de blogueiros.
Houve o encontro do Instituto Millenium (o reacionário Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, em São Paulo, no dia 1º de março). É uma entidade que só reúne empresários - o Basile, da Abril; os Marinho, da Globo; a Judith Brito, da Folha... Só estão lá os grandes, e eles têm apoio público. Por que os blogueiros - que também são cidadãos e pagam seus impostos - não podem ter apoio? É um absurdo.
Esperamos que o próximo governo seja mais corajoso e resolva ajudar essa mídia que está sendo construída. Mas é que todos eles têm medo desse poder. Na campanha, todos os candidatos falam e investem em mídias sociais. Na hora de contribuir, fogem de medo.
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