Por André Barrocal, no sítio Carta Maior:
Os partidos adversários do governo começaram, nesta segunda-feira (23/05), a colher assinaturas de deputados e senadores com o objetivo de criar uma CPI para investigar o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, cuja evolução patrimonial nos últimos quatro anos levanta suspeitas de enriquecimento ilícito. Nesta terça-feira (24/05), depois de ter fracassado na Câmara, a oposição tentará obrigar Palocci a comparecer ao Senado para explicar a fortuna.
A ordem da presidenta Dilma Rousseff aos aliados continua sendo “barrar toda e qualquer investida contra o ministro”. Mas o caso agravou-se de maneira inesperada por Dilma e Palocci, e jogar as fichas na permanência do chefe da Casa Civil é hoje uma aposta de alto risco. A troca dele pode ser o desfecho de um processo que já impõe mudanças à rotina do governo, expõe falhas em estratégias adotadas pelo Palácio do Planalto e força uma repactuação da relação presidencial com partidos a parlamentares aliados que terá impacto nos rumos da gestão Dilma.
Um sinal da alteração de hábitos do governo foi a publicação, nesta segunda-feira (23/05), de medida provisória (MP) que corta impostos para quem fabricar tablets (uma espécie de laptop em formato de livro) no Brasil. O governo negocia desde o início do ano a instalação de uma empresa chinesa (Foxxconn) no país, para fabricar o equipamento, mas a benesse fiscal foi apressada para que a imprensa tenha uma notícia positiva.
A viagem de Dilma a Salvador na véspera, um domingo, mesmo sem estar 100% recuperada de uma pneumonia, para assistir a uma beatificação, também foi um movimento planejado para virar notícia pelo menos simpática à presidenta.
Pouco afeita a aparições públicas e com antipatia por entrevistas de ministros e auxiliares deles, a presidenta reconhece, hoje, que o enfrentamento político do constrangimento causado por Palocci depende, em boa medida, de o governo produzir notícias com mais frequência.
“Não existe uma agenda clara do governo, e a Dilma e o Palocci são culpados por isso. O espaço político acaba sendo ocupado por fatos como esse”, diz Fabiano Guilherme Santos, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Jogo duro
A discrição natural de Dilma foi aproveitada pelo chefe da Casa Civil para se fortalecer, tomando à frente das relações com o Congresso e os partidos. Com aval da presidenta, Palocci vinha adotando uma estratégia de “jogo duro” com aliados que ele mesmo acredita estar na origem da notícia de que comprou apartamento de R$ 6,6 milhões, multiplicando seu patrimônio por vinte.
O ministro evitava abrir o gabinete a políticos em busca de nomeações de apadrinhados para cargos públicos, inclusive do seu partido, o PT. Para impedir a reação dos ignorados, decidiu que o governo tentaria só precisar do Congresso em votações de grandes temas estruturais, como a reforma política.
“A Dilma tem um deficiência importante, que é a pouca penetração junto ao PT e ao Congresso. Ela é um milagre do Lula. O Palocci supria essa deficiência. Mas, com ele enfraquecido, alguma repactuação [da presidenta] com os aliados vai ser necessária”, afirma o cientista político Fabio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fogo amigo e novas relações
Nos bastidores, Dilma e Palocci acham que o episódio nasceu exatamente para que haja repactuação com aliados, mesmo que depois tenha adquirido uma dinâmica própria alimentada pelo interesse natural dos adversários de desgastar o governo e por jornalistas atrás de notícias. O ministro, aliás, surpreendeu-se com o tamanho do noticiário a seu respeito, pois achava que sua convivência amistosa com os veículos de comunicação desestimularia-os de dar tanto espaço ao caso.
Três dias depois de ter sido publicada a primeira reportagem contra Palocci, a presidenta recebeu, para um almoço no Palácio da Alvorada, o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Nem bem havia assumido o comando do partido, no início de maio, Falcão já declarava que sua primeira tarefa seria negociar 104 indicações petistas para cargos no governo. A lista dos apadrinhados fora enviada a Palocci, que a deixara engavetada.
Maior partido governista ao lado do PT, o PMDB tinha insatisfação semelhante. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), só conseguiu falar uma vez com Dilma até agora, ao pegar carona numa audiência da governadora do seu estado, Rosalba Ciarlini, com a presidenta, em fevereiro. Sem conseguir ser atendido por Palocci, o PMDB vinha recorrendo ao vice-presidente, Michel Temer, que é peemedebista, para tentar emplacar seus pleitos.
“A Dilma vai ter que se dedicar muito mais à política propriamente dita, em vez de delegar isso. Sendo ou não do seu perfil, ela não pode ficar eternamente dependente do Palocci e do Temer”, afirma o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, mesmo que não tenha começado como “fogo amigo”, o caso já permite que “amigos” tirem proveito. “O poder é extremamente atraente, não existe vácuo. Com o Palocci fraco, os adversários dele dentro e fora do governo tentarão ocupar esse espaço.”
A luta para ocupar o espaço decorrente do enfraquecimento do chefe da Casa Civil - com ou sem ele no cargo - será determinante para os rumos que o governo Dilma Rousseff terá daqui para frente.
Os partidos adversários do governo começaram, nesta segunda-feira (23/05), a colher assinaturas de deputados e senadores com o objetivo de criar uma CPI para investigar o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, cuja evolução patrimonial nos últimos quatro anos levanta suspeitas de enriquecimento ilícito. Nesta terça-feira (24/05), depois de ter fracassado na Câmara, a oposição tentará obrigar Palocci a comparecer ao Senado para explicar a fortuna.
A ordem da presidenta Dilma Rousseff aos aliados continua sendo “barrar toda e qualquer investida contra o ministro”. Mas o caso agravou-se de maneira inesperada por Dilma e Palocci, e jogar as fichas na permanência do chefe da Casa Civil é hoje uma aposta de alto risco. A troca dele pode ser o desfecho de um processo que já impõe mudanças à rotina do governo, expõe falhas em estratégias adotadas pelo Palácio do Planalto e força uma repactuação da relação presidencial com partidos a parlamentares aliados que terá impacto nos rumos da gestão Dilma.
Um sinal da alteração de hábitos do governo foi a publicação, nesta segunda-feira (23/05), de medida provisória (MP) que corta impostos para quem fabricar tablets (uma espécie de laptop em formato de livro) no Brasil. O governo negocia desde o início do ano a instalação de uma empresa chinesa (Foxxconn) no país, para fabricar o equipamento, mas a benesse fiscal foi apressada para que a imprensa tenha uma notícia positiva.
A viagem de Dilma a Salvador na véspera, um domingo, mesmo sem estar 100% recuperada de uma pneumonia, para assistir a uma beatificação, também foi um movimento planejado para virar notícia pelo menos simpática à presidenta.
Pouco afeita a aparições públicas e com antipatia por entrevistas de ministros e auxiliares deles, a presidenta reconhece, hoje, que o enfrentamento político do constrangimento causado por Palocci depende, em boa medida, de o governo produzir notícias com mais frequência.
“Não existe uma agenda clara do governo, e a Dilma e o Palocci são culpados por isso. O espaço político acaba sendo ocupado por fatos como esse”, diz Fabiano Guilherme Santos, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Jogo duro
A discrição natural de Dilma foi aproveitada pelo chefe da Casa Civil para se fortalecer, tomando à frente das relações com o Congresso e os partidos. Com aval da presidenta, Palocci vinha adotando uma estratégia de “jogo duro” com aliados que ele mesmo acredita estar na origem da notícia de que comprou apartamento de R$ 6,6 milhões, multiplicando seu patrimônio por vinte.
O ministro evitava abrir o gabinete a políticos em busca de nomeações de apadrinhados para cargos públicos, inclusive do seu partido, o PT. Para impedir a reação dos ignorados, decidiu que o governo tentaria só precisar do Congresso em votações de grandes temas estruturais, como a reforma política.
“A Dilma tem um deficiência importante, que é a pouca penetração junto ao PT e ao Congresso. Ela é um milagre do Lula. O Palocci supria essa deficiência. Mas, com ele enfraquecido, alguma repactuação [da presidenta] com os aliados vai ser necessária”, afirma o cientista político Fabio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fogo amigo e novas relações
Nos bastidores, Dilma e Palocci acham que o episódio nasceu exatamente para que haja repactuação com aliados, mesmo que depois tenha adquirido uma dinâmica própria alimentada pelo interesse natural dos adversários de desgastar o governo e por jornalistas atrás de notícias. O ministro, aliás, surpreendeu-se com o tamanho do noticiário a seu respeito, pois achava que sua convivência amistosa com os veículos de comunicação desestimularia-os de dar tanto espaço ao caso.
Três dias depois de ter sido publicada a primeira reportagem contra Palocci, a presidenta recebeu, para um almoço no Palácio da Alvorada, o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Nem bem havia assumido o comando do partido, no início de maio, Falcão já declarava que sua primeira tarefa seria negociar 104 indicações petistas para cargos no governo. A lista dos apadrinhados fora enviada a Palocci, que a deixara engavetada.
Maior partido governista ao lado do PT, o PMDB tinha insatisfação semelhante. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), só conseguiu falar uma vez com Dilma até agora, ao pegar carona numa audiência da governadora do seu estado, Rosalba Ciarlini, com a presidenta, em fevereiro. Sem conseguir ser atendido por Palocci, o PMDB vinha recorrendo ao vice-presidente, Michel Temer, que é peemedebista, para tentar emplacar seus pleitos.
“A Dilma vai ter que se dedicar muito mais à política propriamente dita, em vez de delegar isso. Sendo ou não do seu perfil, ela não pode ficar eternamente dependente do Palocci e do Temer”, afirma o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, mesmo que não tenha começado como “fogo amigo”, o caso já permite que “amigos” tirem proveito. “O poder é extremamente atraente, não existe vácuo. Com o Palocci fraco, os adversários dele dentro e fora do governo tentarão ocupar esse espaço.”
A luta para ocupar o espaço decorrente do enfraquecimento do chefe da Casa Civil - com ou sem ele no cargo - será determinante para os rumos que o governo Dilma Rousseff terá daqui para frente.
0 comentários:
Postar um comentário